Uma entrevista com George Takei

Dando continuidade a sua nova fase como divulgador oficial da franquia, o site Star Trek.com publicou uma entrevista exclusiva com o ator George Takei, o Hikaru Sulu da Série Clássica. O ator falou a respeito de seu passado em Jornada, e de seus novos trabalhos, incluindo um filme com Tom Hanks, uma peça de teatro na Broadway, além de sua vida pessoal.

Estamos agora com quase 45 anos passados (de sua última aparição em Jornada). O que vem a sua mente quando contempla o tempo que passou desde que você pisou primeiramente em um cenário para interpretar Sulu?

“Penso em tanta coisa que aconteceu comigo, com o mundo, com todos nós. Perdemos pessoas como Gene (Gene Roddenberry), Jimmy (Doohan), Majel (Barrett Roddenberry) e De (Kelley). Quando eu estava fazendo Larry Crowne (filme dirigido por Tom Hanks) alguns dos membros da equipe (do filme) vieram até mim e disseram que conheceram Fred Phillips, o homem de maquiagem (que trabalhou com Takei na série original, no primeiro filme, e também em Deep Space Nine). Então eu mantenho na lembrança as pessoas que trabalharam tão estreitamente nesses breves três anos (da série), e que já desapareceram”.

“Mas o incrível é que nós estamos vivendo nesse mundo de ficção científica que foi tão fantástico em 1966. Nossos telefones celulares, nossos computadores, o ônibus espacial e a estação espacial, há tantas coisas que existem hoje que foram fantasia quando começamos a série. E olha a estação espacial. Ela é composta de pessoas que refletem a diversidade do planeta. Na verdade, o que era fantasia política, absolutamente pura fantasia política – russos e americanos trabalhando em conjunto – é uma realidade agora. Na década de 60 estávamos em uma Guerra Fria e que isso teria sido impensável. Mas acho que Gene e sua visão está sendo realizada de fato. Então, nós estamos vivendo nesse mundo de ficção científica de quatro décadas, quatro décadas e meia atrás”.

Conte-nos uma história de Jornada que você nunca disse a ninguém, ou pelo menos aquela que você raramente conta.

“Não acho que exista, para ser honesto. Entre o meu livro (Para as Estrelas: A Autobiografia de George Takei), muitos aspectos de convenções e todas as entrevistas que eu fiz, não creio que haja um fragmento de uma história de Jornada que não tenha sido descoberto”.

OK, mas vamos supor que você tenha uma resposta a esta pergunta: Qual é a maior oportunidade perdida quando se trata de Sulu?

“Desde o começo eu pensei que era uma oportunidade de avanço. Simplesmente ser capaz de interpretar um membro da equipe de liderança, sem sotaque, foi extremamente importante. Assim, muitos asiáticos, naquela época, eram, em primeiro lugar, estereótipos e falavam com um sotaque pesado. Então eu pensei que poderia transformar isso em algo substancial para o personagem. Sugeri que Sulu tivesse uma família com quem ele se conectasse. Sugeri um monte de idéias para desenvolver Sulu, que nunca realmente aconteceu. Foi só depois de eu ter recusado um papel em Star Trek VII: Generations, é que deram todas as minhas linhas para um parente (de Sulu), na qual eu tinha feito lobby, para minha filha (Demora Sulu, imagem à esquerda). Quando a série terminou e os filmes começaram eu estava fazendo lobby para os pais, irmãos, irmãs, amantes, talvez uma mulher (do Sulu), todos eles, mas nada disso aconteceu. Eu queria ver mais o Sulu dimensionado, mas isso não é novidade, eu tenho certeza”.

O que você acha que Sulu estaria fazendo agora? Se formos pelo cânon, vimos ele em uma cadeira de capitão em Star Trek VI: A Terra Desconhecida e Voyager. Se não formos pelo cânon, vimos no filme de fã New Voyages “World Enough and Time…”

“Certo, mas ele voltou em “World Enough and Time”. Ele estava de volta à Enterprise com uma experiência de vida totalmente diferente. Eu gostei porque esse é o tipo de coisa que acontece com as pessoas nas forças armadas. Um jovem de Kansas pode estar voltando do exterior com uma mulher árabe, uma mulher do Iraque ou do Afeganistão. Após a Segunda Guerra Mundial havia tantas noivas de guerra japonesas que vieram atrás e viveram em lugares como a Geórgia. Lembro-me de filmar O Boinas Verdes na Geórgia, e todos os extras foram de noivas de guerra dos soldados japoneses que se encontraram com eles no Japão. Assim, para Sulu ter essa experiência que ele teve em “World Enough and Time”, foi em conformidade com o tipo de vida global ou intergaláctica que as pessoas da Enterprise viviam. Assim, ele traria o enriquecimento de sua vida para o seu serviço na Frota Estelar. E eu acho que poderia ser interessante ainda ver o que ele faria depois de sair da Frota Estelar. Certamente, teria vivido a vida que ele tinha, ele não quis ir em algum tipo de aposentadoria relaxada. Ele continuaria em curso”.

Você terminou a produção do filme Larry Crowne, que é dirigido e estrelado por Tom Hanks. Conte-nos sobre o seu personagem, o professor Ed MATSUTANI.

“MATSUTANI é um professor de economia em uma faculdade comunitária. Eu fiz uma participação especial em outro filme que a empresa de Tom Hanks, Play-Tone, produziu e que foi The Great Buck Howard. No ano passado, Tom telefonou e me pediu para fazer uma leitura em sua sala de conferências. Nós nos reunimos e fizemos uma leitura do script e, em seguida ele teve uma outra leitura em janeiro deste ano. Então, eles anunciaram o elenco, e lá estava eu. Eu tenho uma cena com Julia Roberts e todas minhas cenas são com Tom, que é um dos meus alunos, um dos meus melhores alunos”.

Você e Lea Salonga estão unindo forças para atuarem juntos em um espetáculo da Broadway chamado Fidelidade – A New American Musical. Ouvimos que ainda estão buscando investidores para torná-lo realidade. Como está esse esforço?

“Estamos muito, muito perto. Fizemos uma leitura preliminar em Los Angeles com Lea, eu e cerca de meia dúzia de atores e cantores. Tivemos um monte de pessoas ali reunidas e trabalhamos um pouco mais sobre a peça. Em fevereiro passado encenamos uma outra leitura, desta vez em Nova York, e fomos capazes de obter capital – pela primeira vez – para permitir que fosse gravada. E nós estamos usando esta fita – com exibições em Nova York, Los Angeles, San Francisco e San Jose – como um dispositivo para outros investidores interessados. Reunimos um bom dinheiro e estamos na esperança de arrecadar US $ 2 milhões em outubro. O plano é encenar uma produção na West Coast primeiro e trazê-la para a Broadway em 2012. Então é muito emocionante”.

Ao mesmo tempo que você começou fazer o The Howard Stern Show  você escolheu anunciar publicamente ser homossexual. Casou-se com seu parceiro, Brad Altman. Como isso mudou para você?

“Eu estive fora (da mídia), tranqüilamente, por um longo tempo. Estava indo a bares e tinha amigos gays. Eu era membro de um clube gay, e foi aí que conheci Brad. Mas eu não quis ir a público até 2005, quando eu falei direto com a imprensa após veto do governador Schwarzenegger (do projeto de lei da Califórnia que propôs casamento gay). Então, a Human Rights Campaign, que é uma organização de lobby nacional, me pediu para ir em uma turnê nacional, mostrar a importância das pessoas que ficaram visíveis ao se declararem. Agora, eu não quero ser alguém a induzir outras pessoas porque eu sei o que foi para mim antes de eu falar com a imprensa. Eu acho que sair do armário é uma decisão pessoal que cada pessoa tem a fazer. Então eu lhes digo que não iria induzir ninguém, mas que gostaria de falar sobre os ideais da democracia americana e falar sobre minhas experiências de vida, começando com minha prisão na infância em campos de internamento americano (na época da Segunda Guerra) ou, mais claramente colocado, em campos de concentração americano, e eu relacionaria as cercas de arame farpado legais que aprisionam um outro grupo de americanos agora. E eles concordaram. Então eu fui naquela turnê. Que teve efeito dominó, e eu tive mais e mais pedidos da mídia, dos jornais e da televisão, para entrevistas. E foi uma bola de neve”.

Takei comentou também ao site Salon sobre a possibilidade das pessoas perderem o interesse nas convenções de trekkers com a reimaginação de J. J.Abrams. “Bem, a Paramount está falando sobre ter uma sequência para o filme recente. Tenho de me referir a ele como o recente filme, porque não há nenhum número ou legenda para ele. É simplesmente Star Trek. J.J. (Abrams) realmente reenergizou a franquia com esse fillme – e com o próximo, eu acho que o fã vai continuar a ficar ativo. Nos anos anteriores eu havia previsto que Jornada acabaria desaparecendo, o que provou não ser verdade. Eu desisti de fazer essa previsão, eu apenas vou seguir o fluxo”.

“Estou sempre identificado como o ator que interpretou Hikaru Sulu, mesmo que esteja fazendo algo completamente diferente, ou quando eu estou na mídia falando sobre a igualdade no casamento. Esse é meu cartão de apresentação, ao que parece. Então, eu estou conformado com o fato de que em minha lápide, provavelmente, vão ler “Aqui jaz Hikaru Sulu” em grandes letras em negrito e em letras menores, “AKA George Takei”.

Fonte: TrekMovie e TrekWeb