À espera de Discovery, Sem Fronteiras entretém com consistência

stb-tmp-poster-textless[SEM SPOILERS] Foi uma noite agradável a do último sábado (30/07), que lembrou o clima das antigas convenções da Frota Estelar Brasil realizadas em São Paulo por anos num passado que fica cada vez mais distante. Centenas de fãs uniformizados e caracterizados como os personagens ícones de Star Trek andavam pra lá e pra cá na espera do início da primeira sessão de cinema no Brasil de Star Trek: Sem Fronteiras. Uma das melhores salas da cidade, o IMAX do Shopping Bourbon, na Zona Oeste da capital paulista, por um instante parecia uma estação espacial no século 23. O mesmo se repetia naquele momento no Rio de Janeiro, onde outra sala IMAX exibia o filme neste horário.

Por pressão dos fãs, ou por cronograma próprio já agendado, ainda há controvérsias. Mas o fato é que a Paramount Pictures do Brasil fez bonito com a aguardada pré-estreia. Duas sessões, às 21h30 e meia-noite, em São Paulo e Rio, apresentaram a nova aventura da Kelvin Timeline aos ansiosos trekkers. Com direito a pipoca e refrigerante na faixa e sorteio de itens colecionáveis antes da sessão, havia mais uma surpresa: no final do filme, um pôster oficial de presente para quem esteve lá.

E muitos estiveram. Além de boa parte da equipe paulista do Trek Brasilis, e mais um membro da tripulação que veio de Belém do Pará, diversas caras conhecidas da Frota Estelar Brasil, do Grupo de Ficção Alpha, do podcast Seção 31, do canal de YouTube Diário do Capitão, do fã-clube Star Trekkers, e até mesmo dos veteranos Star Trek Fã Club do Brasil e Trekker´s Club, além dos fãs “avulsos”. Um clima familiar e positivo para assistir Sem Fronteiras.

A turma do TB

Equipe do Trek Brasilis na pré-estreia de Sem Fronteiras: Luiz Felipe Tavares, Leandro Pinto, Salvador Nogueira, Fernando Penteriche e Ralph Pinheiro

E o filme é bom? Sim, é. É concordância que é o melhor dos três que se passam nesse universo alternativo de Star Trek criado por J.J. Abrams, Roberto Orci e Alex Kurtzman em 2009. Tem seus problemas? Um pouco. Roteiro às vezes preguiçoso, vilão com motivação genérica e sem tanta inspiração, mas é em seu todo uma aventura consistente, com ótima caracterização dos personagens clássicos, excepcionais efeitos especiais e música envolvente. Justin Lin fez um trabalho digno, assim como Simon Pegg (Scotty), e Doug Jung, os roteiristas.

Sou fã da série há quase 30 anos, logo é motivo de felicidade ver um filme bem conceituado assim. Se formos pensar, desde 1996, com a estreia de Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato (naquela época ainda se usava “Jornada nas Estrelas”. Hoje em dia é Star Trek e ponto), não tínhamos um episódio cinematográfico tão unânime em sua qualidade. Já são 20 anos com Insurreição, Nêmesis, a reimaginação de 2009, e Além da Escuridão, películas que deixam um sentimento de que alguma coisa não está no lugar (ou muitas coisas). Só que, ao mesmo tempo em que há tranquilidade com Sem Fronteiras, percebo que o filme não me traz aquele interesse de antes.

É que vejo da seguinte maneira, e acho que alguns concordarão. Sem Fronteiras, assim como os dois anteriores, não são efetivamente parte da cronologia de Star Trek que nos importa. Aquela que assistimos e reassistimos há 50 anos, que estudamos e nos preocupamos, que perdemos horas de nossas vidas pesquisando e debatendo. Os filme da Kelvin Timeline são um eco daquilo que é Star Trek. São filmes referenciais, às vezes uma série de homenagens roteirizadas, uma emulação daquele universo original nos fez chegar até aqui.

Ao assistir e aprovar com felicidade Sem Fronteiras, o que queremos é que o conceito de Star Trek continue em evidência no interesse coletivo, e por isso relevamos o fato de a série ter deixado de lado a sua filosofia de raiz pra sair na ação física com a agitação que o público de hoje espera. Sabemos que Star Trek no cinema é um complemento que já teve pontos altos como A Ira de Khan e A Terra Desconhecida, mas que já viu o fundo do poço com A Última Fronteira e Nêmesis. O que importa para nós é a televisão. A televisão com seu universo tradicional, seja com naves ou estações espaciais, e isso sim empolga.

Em janeiro teremos uma nova série, Star Trek Discovery, estreando. Com uma temporada, mesmo de apenas 13 episódios, são justamente 13 horas de tempo para desenvolvimento de uma trama que não precisa, obrigatoriamente, colocar novamente a Terra em perigo ou destruir naves, planetas, e matar personagens para marcar seu espaço dentro de duas horas pagas pelo espectador para se entreter.

Dito tudo isso, vá assistir Star Trek: Sem Fronteiras, pois você vai gostar, afinal, o filme é baseado naquilo que trouxe você até esse texto, ou fez eu escrevê-lo. O amor pelas aventuras criadas por Gene Roddenberry que encantam tantas gerações desde 1966. E que em 2017 voltarão em sua forma original via CBS All Access e Netflix.

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