Soltem a fumaça branca: Habemus “Iter in Astris”

E que recomeço fantástico para Jornada nas Estrelas este foi, com a estréia dos dois primeiros episódios de Star Trek: Discovery, a mais nova série de Nossa Franquia Favorita. O resultado final que tivemos pela nossa paciência em aguardar quase dois anos inteiros de pré-produção foi uma forte combinação de aromas de A Série Original e Deep Space 9, que resultam em uma série perfeitamente puro-sangue em ser Jornada nas Estrelas, mas com uma roupagem e tom perfeitamente modernos. Alguns spoilers nessa minha pequena e rápida review.

O mais essencial de tudo que me agradou foi ver que isto será claramente uma jornada que foca em pessoas que podemos sentir serem reais, com profundidade. Para algumas destas pessoas, como a Capitão Georgiou, interpretada por Michelle Yeoh, suas “séries de TV” pessoais estavam terminando — é como se esses dois episódios tivessem sido o “series finale” de uma “Star Trek: Shenzhou” que teve sete temporadas. Para outras, a jornada continua, e será interessante acompanharmos esse caminho de todos, em particular para a protagonista, Michael Burnham, interpretada por Sonequa Martin-Green, e o Capitão Gabriel Lorca, por Jason Isaacs, que antecipo será bem na veia de capitães federados como Kirk e Sisko.

Destes dois episódios de estréia, ambos muito bons, eu considerei a segunda parte o episódio que mergulha mais fundo ainda em aspectos pessoais da protagonista. Como seu passado molda sua motivação e escolhas no presente, e como isso pode ter consequências imprevisíveis e que entram em uma espiral descontrolada que a coloca em uma situação atípica para um protagonista de Jornada nas Estrelas logo de cara: suas ações tem sérias consequências negativas, e que não se resolvem fácil não.

Claro, algumas destas sabemos que vão ser revistas pela necessidade de trama, com ela sendo recrutada pelo Capitão Lorca na base dos “Doze Condenados”, depois de vermos uma Frota Estelar ter o rigor necessário para o tipo de ofensa cometida. Outras, acompanharemos ao longo de sua jornada de descobrimento. E algumas, ela jamais vai poder se safar, como ter que carregar para sempre o fato de que viveu os últimos momentos de sua amiga e Capitão em bases nada amigáveis com ela.

No mais, em relação a produção, tudo ali demonstra um cuidado e um engajamento grande com a mitologia de Jornada nas Estrelas. Figurino, direção de arte, design, sons e música, e tudo o mais. Apesar de uma ruptura visual com A Série Original ser inevitável, ainda assim dá para ver uma quantidade incrível de elementos daquela era da cronologia principal que ficaram muito bem encaixados. Cada barulho na ponte garantia um arrepio emotivo. Cada item interessante no fundo garantia uma nota mental de “preciso pausar nisso depois quando rever o episódio.”

A touquinha da roupa EVA que Michael usa, por exemplo — claramente inspirada em materiais de roupas EVA vistas em TOS antes. A trilha sonora teve vários momentos de subidas no tom que lembravam bem a trilha incidental de TOS. E pelo amor de Khaless, a Michael vence um computador na base da conversa. Tem coisa mais A Série Original do que isso? Ela claramente segue a Escola de Pensamento Jim Kirk de Retórica Computacional.

Enfim, é isto. Uma boa retomada em audaciosamente ir para todos nós do fandom e de quem mais estiver disposto a se juntar a nós nessa jornada. Star Trek: Discovery tem tudo para ser um caminho seguro.