Russ Haslage: A visão de um fã engajado

Por Salvador Nogueira  

Russ Haslage, líder da campanha que quer fazer de Excelsior, sob o comando de Hikaru Sulu, a próxima série de Jornada nas Estrelas, cedeu gentilmente ao Trek Brasilis a oportunidade de uma entrevista. Em pauta, nesse material exclusivo, a visão de Russ sobre o atual status do franchise, suas expectativas para o futuro e seus insights exclusivos sobre a campanha. Acompanhe a entrevista na íntegra.


 









 

 

 

 

 

 

 

 

 
TB: Vocês, da campanha Excelsior, dizem que uma série com Sulu e a USS Excelsior restaurariam as raízes de Jornada, trazendo de volta um estilo "Roddenberriano" de texto. Você acredita que Gene apoiaria essa nova série? Por que Excelsior tem tanto a ver com Gene Roddenberry?

Russ: O principal foco da campanha é a filosofia de Roddenberry. A razão pela qual escolhemos Excelsior e Sulu é porque eles estão de alguma forma desenvolvidos, dando-nos mais garantias de que será baseada na filosofia de Roddenberry. Querendo forçar o show a ser produzido ao estilo de Roddenberry, temos uma chance bem melhor de que isso aconteça com algo que já é conhecido e desenvolvido. Se disséssemos à Paramount simplesmente "queremos um show ao estilo de Roddenberry", sem uma planta para o projeto, abriríamos chance para uma grande gama de mudanças e interpretações, possivelmente levando o foco para longe do que buscamos. Destacando Sulu e a Excelsior, damos a eles uma base para elaborarem seu trabalho.


TB: Uma série com Sulu não poderia se desenvolver em algo com nada relacionado a Roddenberry, como o episódio de Voyager "Flashback"? A mágica do velho estilo de Jornada está nos personagens, personificados desta vez por Sulu, ou está nos roteiros? Uma campanha para demitir Rick Berman e Brannon Braga não seria mais apropriada para mudar o estilo atual do franchise?

Russ: Mesmo que essa idéia seja bastante popular entre os fãs, há outros que apreciam as contribuições dos atuais produtores de Jornada. Como "leais a Gene Roddenberry" (como fomos chamados pela TV Guide), nós não queremos criar cisões entre os fãs. Então em vez de enfocar o lado negativo e coisas que separam os fãs, preferimos nos centrar em coisas positivas sobre Gene Roddenberry, o capitão Hikaru Sulu, a USS Excelsior, e isso pode nos manter todos juntos. No fim, eu não acho que uma campanha para demitir Berman e Braga seria capaz de reunir tanto apoio quanto essa campanha irá conseguir. É esperado que Berman ou qualquer força na Paramount montem o staff da produção com aqueles que entendem e retratam o tipo de show idealizado por Roddenberry.


TB: Você acredita que só o Sulu pode carregar uma série nas costas?

Russ: Sim. Apesar do personagem, Hikaru Sulu, nunca ter sido completamente desenvolvido em Jornada, George Takei tem uma enorme presença que manterá os telespectadores em suas poltronas. Claro que, em uma série de TV, esperamos ver um bom elenco de apoio e escritores talentosos.


TB: A última campanha envolvendo Sulu, para ter um livro publicado pela Pocket Books, fracassou. Como você explica isso? Não é um mau indicativo para a campanha pela série?

Russ: A campanha pelo livro não foi organizada pela campanha Excelsior, e nós não fomos capazes de escolher o momento para ela. O desafio foi deixado na nossa porta enquanto estávamos no meio de outras atividades, mas sentimos que tínhamos que apoiá-la ou um resultado muito menor teria desencorajado alguns de nossos membros. Apenas não era a hora certa. O telespectador comum médio de Jornada não necessariamente lê os livros do franchise -- isso requer o fã excepcional.

TB: Como você vê o atual momento de Jornada? Quais os pontos fortes e fracos?

Russ: Uma porção de atores e atrizes são ótimos. Uma parte dos roteiros é muito boa, mas é meio caracterizada por "tapar buracos" às vezes. Sensacionalismo cru tende a ser algumas vezes muito enfatizado. O elemento de ciência normalmente é pobre e algumas das histórias dependem muito mais de tecnobaboseira dita nos últimos dez minutos do que de pessoas trabalhando juntas para encontrar uma solução. O que preocupa a campanha Excelsior, mais do que qualquer outra coisa, é que a visão otimista e única de Gene Roddenberry tornou-se muito obscurecida nos esforços mais recentes.

TB: Você assiste a Voyager? Assistirá à próxima série?

Russ: Admito que sim. Eu acho que Jornada nas Estrelas é como pizza, em que mesmo quando não é tão bom, ainda é muito bom. Eu acho que apesar de quaisquer reclamações que se ouve agora, a maior parte dos fãs dará à próxima série uma chance, qualquer que seja ela. Mas achamos que uma série sobre o capitão Hikaru Sulu e a USS Excelsior é a melhor opção para trazer de volta os fãs mais antigos do show e manter todos os telespectadores assistindo.

TB: O pessoal da campanha gosta de A Nova Geração e Deep Space Nine?

Russ: Mais uma vez, não posso falar por todos os nossos membros, porque todos eles têm diferentes sentimentos sobre a questão. A Nova Geração parece ser a mais popular entre os nossos membros, seguida de perto pela Série Clássica, seguida por Deep Space Nine, Voyager e pela Série Animada. Mas isso pode mudar, conforme outros membros responderem a nossas pesquisas. Eu gostei das duas, mas me encontrei algumas vezes não com o sentimento de esperança dos anos de Roddenberry, mas com um sentimento de depressão ou medo. Isso não é o que Roddenberry queria.

TB: O que você acha de Ronald D. Moore? Rick Berman? Brannon Braga?

Russ: Não posso falar por todos envolvidos na campanha, mas pessoalmente eu amo o trabalho de Ron Moore. E eu reconheço que Berman trabalhou ao lado de Roddenberry por uns bons anos. Apesar de minhas diferenças com o estilo de Jornada que eles produziram, eu respeito Berman e Braga por terem ajudado a manter Jornada viva todos esses anos.


TB: Quais são os próximos passos na campanha Excelsior?

Russ: Nosso primeiro esforço de cartas (para a série de TV, não o livro) foi um sucesso, então agora estamos voltando ao que somos melhores, e iremos começar uma nova campanha de cartas. Estamos trabalhando em um novo visual para nossa literatura promocional e também em idéias divertidas para as propagandas em revistas. Esperamos introduzir novos ítens colecionáveis de Excelsior também.

TB: Vocês costumam falar com George Takei? Como ele vê esses esforços e suas chances de sucesso?

Russ: O sr. Takei não está envolvido no planejamento ou na execução desta campanha, mas ele nos informou que aprecia o que estamos fazendo e estaria disponível para uma série de televisão. Alguns de nossos membros já tiveram a oportunidade de se encontrar com ele. Assim como os fãs ditaram o futuro de Jornada no passado, o sr. Takei acredita que podemos fazer novamente.


TB: George Takei foi o único ator da Série Clássica a aparecer em uma convenção no Brasil. Naquela ocasião (setembro, 1996), ele já falava sobre uma possível série com Sulu, e chegou a prometer que a série teria um membro da tripulação brasileiro na ponte de comando. Você acha que foi apenas uma promessa no melhor estilo dos políticos?

Russ: Não posso falar pelo sr. Takei ou pelos eventuais produtores da série Excelsior, mas eu suspeito que o sr. Takei fará tudo que puder para fazer valer as promessas que ele faz. Provavelmente isso ficaria mais fácil, no entanto, se os produtores recebessem muitas cartas de fãs no Brasil em apoio ao capitão Hikaru Sulu e a Excelsior. Quando a campanha tiver sucesso, o sr. Takei terá mais poder e chance de influenciar essas decisões.


TB: Você acha que a Paramount novamente produziria duas séries de Jornada ao mesmo tempo?

Russ: Não estamos realmente em posição para especular sobre essas coisas.


TB: Você não acha que o apelo de Jornada foi perdido também pela grande competição entre séries de ficção científica, que não existiam nos anos 80?

Russ: Não, eu acho que isso é uma desculpa. Jornada sempre foi inovadora em ficção científica adulta, mas de algum modo perdeu um pouco dessa característica. Eu acho que quase todo fã de Jornada dirá que a série tem o potencial para ser realmente inovadora.


TB: Quem você acha que está melhor "equipado" para pilotar um projeto com Sulu?

Russ: Bem, não cabe a nós, mas se dependesse de nós, adoraríamos ver Leonard Nimoy envolvido. E gostaríamos de ver Ron Moore voltando como escritor. Patrick Stewart, Brent Spiner, Jonathan Frakes, e outros já admitiram uma devoção especial à Série Clássica e ao estilo de Roddenberry. Eles também seriam ótimas escolhas. Nicholas Meyer seria uma boa escolha. Muitos escritores de novelas baseadas na tripulação original seriam bons escritores para uma nova série que explore os anos entre os filmes e A Nova Geração.


TB: Vocês têm alguma informação sobre o impacto da campanha na Paramount?

Russ: Não ouvimos falar diretamente deles, embora algumas vezes eles se mostrem defensivos sobre nós na mídia.


TB: O que você acha da campanha "Tragam Kirk de Volta"?

Russ: Nós a apoiamos, como fazemos com todas as campanhas de fãs, como a "Reviva Battlestar Galactica". Quaisquer sucessos que uma campanha obtiver pavimentam o caminho para futuros sucessos de campanhas de fãs.


TB: O que você vê para o futuro do franchise?

Russ: Após ajudarmos a trazer Jornada de volta às raízes que a fizeram sensacional em primeiro lugar, eu vejo um grande número de spin-offs futuros de diferentes estilos durante um longo período de tempo. Enquanto eles não fugirem muito do conceito, Jornada sempre voltará. Por enquanto, é hora de levá-la a suas raízes.


TB: Você conhece o Brasil? Alguma mensagem pro pessoal daqui?

Russ: Não tive a oportunidade de visitar, mas conheço alguns captadores da IFT [International Federation of Trekkers, um grupo de fãs de Jornada] no Brasil e, em meu papel como presidente da IFT, estou muito orgulhoso do que eles conseguiram. A cada mês, ouvimos de mais e mais missões de fãs brasileiros para ajudar o próximo. Essa é a filosofia de Roddenberry trabalhando no mundo de hoje. Ir a lugares e ajudar as pessoas é o que Jornada fala, e os fãs do Brasil colocaram essa filosofia pra funcionar no mundo real e devem ser saudadas pelo grande trabalho. Espero um dia viajar para o Brasil e ver as bonitas paisagens e agradecer a esses fãs pessoalmente.

Entrevista realizada em 27 de maio de 2000.