Geoff Mandel: o cartógrafo estelar de Jornada

Por Salvador Nogueira

O último trabalho de Geoffrey Mandel foi a assustadora tarefa de determinar a posição de cada sistema estelar importante já mencionado no universo de Jornada nas Estrelas em um mapa da Via Láctea. O resultado de seu trabalho, "Star Trek: Star Charts", está sendo publicado em outubro pela Pocket Books. Pode ser uma missão impossível para alguns, mas Geoff esteve se preparando para isso pelo menos nas últimas duas décadas. Em 1980, ele já estava trabalhando na literatura de Jornada, quando publicou "The Star Trek Maps". Desde então, ele teve a oportunidade de enriquecer seu próprio conhecimento (sem mencionar sua carreira profissional) ao trabalhar como designer de arte em alguns importantes franchises de ficção científica e aventura, como "Arquivo-X", "JAG" e, é claro, Jornada nas Estrelas.

Veja o que ele tem a dizer sobre suas novas "Star Charts", suas experiências de liberdade criativa em Voyager, e seu trabalho em Enterprise na última temporada, que incluiu a não-tão-divertida tarefa de trocar sinais de "4" e de "8" nas paredes, nessa entrevista exclusiva.


 









 

Galeria:
"Conheça mais do trabalho de Geoffrey Mandel"

     
      
  Tela feita para o game
        "Star Trek: Borg"

     
      Projeto de sonda militar similar
        a OVNI, para a série"JAG"

     
        Poster para "Perversions of
        Science", uma série da HBO

     
        Ilustração de Storm, para
        "X-Men"

     
        A mesa da engenharia da
        Enterprise (NCC-1701-E)

       
        Imagem da Astrometria da
        USS Voyager mostra seu
        caminho até a Terra

 

 

 

 

 

 

 

 
Trek Brasilis - Vendo pelo seu currículo, sua relação com Jornada nas Estrelas é tão velha quanto o seu primeiro trabalho listado -- a autoria, como escritor e ilustrador, do livro "The Star Fleet Medical Reference", da Ballantine Books (1977). Que você era um fã desde o começo já fica respondido, mas Jornada nas Estrelas efetivamente motivou e apontou direções para sua carreira e para seus objetivos profissionais ao longo de todos esse anos?

Geoffrey Mandel - Vou começar com uma historinha. Lá em 1979, Doug Drexler e eu éramos provavelmente os dois maiores fãs de Jornada nas Estrelas na cidade de Nova York. Sabíamos que "Jornada nas Estrelas: O Filme" estava sendo filmado, e sabíamos que tínhamos que ser parte dele. Então tiramos férias do trabalho e da escola para voar para Los Angeles e nos esforçar para se infiltrar nos palcos de som da Paramount. Claro, não tínhamos nenhum contato, mal tínhamos um lugar para ficar, e somente por puro chutzpah [termo iídiche cujo significado é algo como 'caradura', 'extrema autoconfiança'] finalmente conseguimos entrar no estúdio, subir as escadas na ponta dos pés até o departamento de arte de Jornada nas Estrelas (ironicamente, a mesma sala onde trabalhei em meus dois anos em Voyager) e falar com alguns dos designers, incluindo Mike Minor e Lee Cole. O que foi para eles provavelmente uma reunião de rotina com dois fanáticos por Jornada foi um momento decisivo em minha carreira, e na de Doug -- nós subitamente descobrimos que havia na verdade um TRABALHO REMUNERADO para pessoas como nós, que gostavam de projetar naves e desenhar pequenos diagramas de pistolas de raios. Posso me lembrar de voltar para casa em Nova York e contar à minha mãe que eu finalmente sabia o que queria fazer da minha vida, e ela deu uma boa risada quando eu disse que era trabalhar em departamentos de arte de ficção científica. Quem possivelmente poderia viver às custas disso?! Então, para responder à sua pergunta, Jornada nas Estrelas foi uma poderosa força motivadora em minha carreira profissional, mesmo que por muitos anos eu não tivesse nada a ver com ela além de assistir a episódios de A Nova Geração.


TB - Seu primeiro envolvimento com a real produção de Jornada nas Estrelas foi em 1994, com Deep Space Nine. Então você se transferiu para a produção de "Space: Above and Beyond", então "JAG", então para o filme "Jornada nas Estrelas: Insurreição", então "Arquivo-X", então "VIP", então de volta a Jornada, com Voyager e Enterprise, e agora você está mudando de novo. Então, diferente de muitos de seus colegas de Jornada no departamento de arte ao longo da última década, você parece se sentir meio desconfortável em se estabelecer num lugar por muito tempo. É isso mesmo?

Mandel - Não é sempre escolha sua ir de série a série ou de filme a filme; é simplesmente a forma como a indústria do entretenimento funciona. A maioria dos filmes dura por apenas uns poucos meses, e a maioria das séries de TV não sabe se será renovada após 13 episódios; agora mesmo, estou trabalhando em uma série que pode durar apenas cinco episódios. Jornada nas Estrelas é um pássaro raro, uma série que é garantido que tenha sete temporadas, e, com sorte, leve a outra série de sete anos. As pessoas que trabalham em Jornada na Estrelas sabem que têm uma coisa boa acontecendo, e, como resultado, é uma dureza conseguir um trabalho em Jornada -- você tem que esperar até que alguém morra ou se aposente! Quanto a mim, eu finalmente tive a chance na sexta temporada de Voyager, quando Wendy Drapanas decidiu que era hora de partir, e eu fiquei agarrado a isso nas três temporadas seguintes. Antes disso, eu era meio que um temporário de Jornada, trazido quando eles precisavam de uma pessoa a mais; e, com sorte, vou continuar recebendo uma ligação de Mike Okuda quando eles precisarem de um artista gráfico para o próximo filme ou projeto especial.


TB - Muitos artistas consideram Jornada nas Estrelas algum tipo de "paraíso" em termos criativos. Sternbach pareceu um pouco assim quando eu falei com ele, no ano passado. Você também acha que Jornada abre as portas da criatividade para a criação de equipamentos, naves, painéis, figurinos e designs alienígenas?

Mandel - Embora seja sempre um prazer trabalhar em Jornada se você é um fã, eu não chamaria de paraíso criativo, e eu duvido que Rick Sternbach tenha querido dizer exatamente isso, especialmente após os estressantes últimos meses de Voyager! Como em qualquer série de televisão, Jornada nas Estrelas tem uma hierarquia bastante rígida, com os produtores no topo, os roteiristas e diretores um nível abaixo, o designer de produção abaixo disso, e assim por diante até o diretor de arte, o mestre de props, o decorador de set, o artista de cenários supervisor, até o lugar mais baixo, onde você está. É bem raro quando todas essas pessoas acima de você pensam que você fez algo certinho de primeira, e usualmente é uma questão de negociação até que você tenha convencido todas as pessoas-chave ou tenha ficado sem tempo antes que o episódio seja filmado. Não me entenda mal -- TODOS os filmes e séries de TV são assim, e Jornada é melhor que a maioria. As últimas duas temporadas de Voyager foram um prazer de trabalhar principalmente porque os produtores estavam concentrados na pré-produção de Enterprise, e ninguém realmente se importava com o que eu ou Rick Sternbach ou Tim Earls fazíamos. Nós três todos éramos apaixonados por nosso trabalho e acho que fizemos coisas muito legais durante aquelas duas temporadas em que ninguém estava prestando atenção. Em Enterprise, é uma série novinha em folha, com muito mais pressão, então não houve tanta liberdade.


TB - Uma das principais idéias por trás da nova série, Enterprise, era soprar algum ar fresco para as pessoas envolvidas com o franchise. Os produtores-executivos Rick Berman e Brannon Braga, assim como outras pessoas envolvidas com a série, especialmente no departamento de arte, pareciam revigoradas por esse sentimento no ano passado. Você, em contrapartida, decidiu deixar a série no segundo ano, dizendo estar "criativamente frustrado". Não foi tanta novidade afinal essa volta ao século 22?

Mandel - Minha frustração criativa teve muito pouco a ver com a série, que eu acho que é sensacional -- estou ansioso para ver a segunda temporada sem nenhuma idéia do que vai acontecer. Não há dúvidas de que Enterprise soprou nova vida no franchise Jornada nas Estrelas -- o elenco é espetacular, e Rick e Brannon estão claramente se divertindo, assim como se saindo com alguns ótimos roteiros. Na minha opinião, "Broken Bow", "Dear Doctor" e "Fusion" são episódios tão bons quanto os que vimos antes em Jornada nas Estrelas. Tendo dito isso, eles me trouxeram depois do piloto, e não havia realmente muito para fazer em termos de gráficos -- o estilo da série já estava bem estabelecido. Eu gostei de fazer os gráficos alienígenas esquisitos para "Unexpected" e alguns cenários Vulcanos legais, mas é difícil ficar empolgado quando é para projetar um grande "4" para o compartimento de carga em "Fortunate Son". Aliás, eu na verdade tive de subir uma escada e trocar aquele "4" por um "8" cerca de meia dúzia de vezes, porque eles filmaram as cenas do compartimento de carga fora de ordem!


TB - Minha impressão é a de que algumas coisas na administração mudaram de Voyager para Enterprise, já que a produção da última temporada de Voyager estava quase que indo por inércia e Enterprise precisava ser concebida a partir do zero pelos produtores. Essa mudança de ritmo deve ter se traduzido também na forma como os produtores trabalhavam com os artistas. Como foi isso?

Mandel - Há uma certa ironia no fato de que um novo conceito e um novo elenco que sopram vida no franchise nem sempre se traduzem em tarefas empolgantes para nós no departamento de arte. As pessoas que eu vi se divertindo eram os ilustradores: John Eaves, Doug Drexler e Dave Duncan. Não estou certo de que os artistas gráficos ou os designers de cenários estavam sendo tão desafiados criativamente.


TB - Muitas das pessoas atualmente no departamento de arte de Jornada são entusiastas da série?

Mandel - O absolutamente PIOR modo de conseguir um trabalho em Jornada nas Estrelas é dizer a eles que você é um fã de Jornada nas Estrelas! Quando eles começaram Enterprise, eles tomaram uma decisão consciente de trazer algum sangue novo, e não só os suspeitos de sempre; mas, na prática, significou que fãs como Rick Sternbach, Tim Earls e eu não foram chamados de volta. Entretanto, alguns fãs que tinham trabalhado em DS9 e estavam há algum tempo fora voltaram quando Enterprise começou, então o número total de fãs acabou ficando mais ou menos o mesmo.


TB - Conceber o visual da nova série deve ter sido divertido, dadas as oportunidades de fazer alguns tributos à série original. Esse foi um "bônus" divertido a esse trabalho? Você mesmo chegou a colocar algumas coisinhas em seus trabalhos para Enterprise?

Mandel - Sim, eu amo as referências à série original -- as faixas coloridas nos uniformes que correspondem às das túnicas da Série Clássica, os detalhes no exterior da NX-01 que vêm direto da Enterprise original, e a nave Vulcana que ecoa a Starliner de Matt Jefferies que foi vista no deck de recreação de "O Filme". De minha parte, eu me diverti usando os caracteres Vulcanos legais do robe do Spock em "O Filme" (e alguns bonitos IDICs) nas relíquias de "The Andorian Incident" e na nave Vulcana em "Fusion". Em outros casos, eu provavelmente teria sido até menos fiel à Série Clássica -- por exemplo, eu não teria usado a fonte Amarillo de aparência militar para escrever "ENTERPRISE NX-01" nos shuttlepods, mas eu teria escolhido algo mais contemporâneo, como as que estão no ônibus espacial. Lá em 1967, eles simplesmente não tinham as ferramentas gráficas que temos agora, e, se eles tivessem, certamente as teriam usado.


TB - Muitos fãs criticaram a "nova velha" Enterprise, um conceito claramente baseado no design da Akira. Qual é sua opinião pessoal sobre os esforços de Drexler e Eaves?

Mandel - Eu adoro a NX-01, e acho que as críticas são totalmente sem base. A Akira foi projetada na ILM, não pelo departamento de arte de Jornada nas Estrelas, e, se não fosse pelos vários livros de referência, ninguém nunca teria ouvido falar dela -- você mal a vê em "Primeiro Contato"! E, enquanto a Akira é uma nave meio feia e tem "pernas tortas" em alguns ângulos, a NX-01 é delineada e elegante, e parece bem de quase qualquer ângulo. Estando por perto na época, eu também sei que Doug Drexler e John Eaves fizeram EXATAMENTE o que os produtores pediram a eles: Rick e Braga tinham opiniões bem fortes e sabiam exatamente o que queriam. Houve uma versão anterior da NX-01 com um casco secundário e uma haste dorsal, mas o sentimento geral é o de que ela parecia muito com a Enterprise da Série Clássica.


TB - Quando eu falei com Andrew Probert, ele foi muito crítico com relação às atitudes de Rick Berman, lá em 1988. Ele disse que Berman não entendia ciência e ficção científica e que era incapaz de discutir inteligentemente problemas de design. Era só uma questão de dizer, 'oh, isso não parece bom, isso parece bom', e assim por diante. Outros, como Sternbach, dizem ter tido muita liberdade criativa. Qual a sua opinião pessoal sobre a questão e qual a sua opinião sobre Rick Berman?

Mandel - O sr. Berman pode não ter um forte background em ficção científica, mas o que você precisa para Jornada nas Estrelas é ter um forte background em narrativa, e Rick e Brannon se mostraram capazes nesse respeito. Eu tive pouco contato com o sr. Berman, já que meu trabalho é aprovado (ou reprovado) em um nível mais baixo; apesar disso, eu descobrir que tanto ele quanto Brannon são caras razoáveis que apreciam bom trabalho. Alguns produtores em outras séries (que devem permanecer anônimos) acham que precisam gritar e rebaixar trabalho criativo apenas para mostrar quem é o chefe.


TB - Sendo também escritor, você tentou sugerir algumas idéias para episódios de Jornada ou de outras séries durante esse anos?

Mandel - Sim, eu ofereci histórias para DS9 duas vezes, uma antes de a série ir ao ar e uma vez durante a primeira temporada, e para Voyager também. Com um parceiro de escrita, eu sugeri alguma coisa a Michael Piller, que não poderia ter sido mais legal e mais encorajador. O problema é que eles já ouviram sobre toda idéia de história possível, então quando é a sua vez de fazer a sugestão, é a quarta ou quinta vez para eles. Meu conselho para alguém indo para uma sessão de pitch (sugestão de histórias) seria ir com idéias que REALMENTE são inovadoras; outro caso em que alguém sem um background em Jornada nas Estrelas ou em ficção científica poderia realmente ter uma vantagem.


TB - Você trabalhou também para dois filmes de Jornada, "Generations" (alguns painéis, você menciona em seu currículo) e "Insurreição" (parece que este foi no que você mais trabalhou). Quais são as principais diferenças, para um artista, entre trabalhar para uma série de Jornada ou para um filme de Jornada?

Mandel - Eu era um assistente de produção durante "Generations", e meu trabalho era basicamente fazer o café e entregar as plantas com os designs, então eles foram muito generosos em dar material para eu projetar. Eu acabei fazendo muitos dos gráficos da ave-de-rapina Klingon, que apareceu em DS9 por muitos anos depois, assim como os logotipos futuristas das redes nas câmeras dos repórteres. Também, muitas, muitas páginas do álbum de fotografias de Picard, que nunca chegamos a ver no filme, mas que, se você for ao "Star Trek: The Experience", em Las Vegas, elas estão expostas lá.

Em "Insurreição", eu fui o principal artista de cenário, o que significa que a maioria dos painéis Son'a e os vários PADDs (que o sr. Frakes gentilmente destacou) eram meus. Muitos dos gráficos da Enterprise-E já haviam sido projetados para "Primeiro Contato", mas eu fiz alguns, incluindo as estações de ciência da ponte e a "mesa de bilhar" da engenharia, assim como a coisinha móvel luminosa do turbo-elevador. Mas, para responder à pergunta, a diferença entre trabalhar num filme de Jornada e numa série de TV é (1) você tem mais tempo e dinheiro; (2) você precisa suar nas coisinhas pequenas, ou então você vai ver seu trabalho torto de fita adesiva em uma tela grande com 40 pés de largura [uns 14 ou 15 metros]. Além disso, é basicamente o mesmo grupo de pessoas fazendo os filmes e a série.


TB - "Insurreição" teve alguns designs de arte incríveis, mas sofreu por um roteiro pobre e efeitos especiais ruins. Vocês artistas não se sentem desconfortáveis com o fato de que, não importa quão bom seu trabalho em um projeto seja, algumas coisas na longa corrente entre a concepção e a produção possam por o esforço inteiro a perder?

Mandel - Uma forma melhor de colocar isso seria a de que, quando o roteiro é ótimo, ficamos ainda MAIS empolgados. Um roteiro mais ou menos não muda o fato de que ainda fazemos o melhor trabalho que podemos; algumas vezes são os roteiros não-tão-bons que se tornam os melhores episódios, e vice-versa.


TB - Muitos fãs ficaram tristes quando ouviram que os cenários de Voyager iam ser desmontados e destruídos. Por que a Paramount não preservou alguns dos cenários ou até os levou para o "The Experience", em Vegas, em vez de simplesmente destruí-los? Não seriam uma boa adição à atração que você também ajudou a desenvolver?

Mandel - Eu acho que a maioria dos fãs não percebe que os cenários de Voyager poderiam ser reconstruídos do nada em uma semana se houvesse uma necessidade para eles -- todas as plantas existem, e se há uma coisa que a equipe de construção de Jornada sabe fazer, é recriar cenários de episódios anteriores. Como um exemplo, nós reconstruímos a câmara da Rainha Borg do nada não uma, mas duas vezes, enquanto eu trabalhei para Voyager: para "Unimatrix Zero" e então para "Endgame". Seria muito caro manter cenários como aquele montados por meses seguidos só para o caso de você ter a oportunidade de usá-los!

Também, você precisa lembrar que os cenários em si são relativamente finos -- basicamente madeira compensada, dois por quatro, e tinta. Eles não durariam muito em uma atração de tráfego pesado como a "Star Trek: The Experience", e de fato todos os cenários da Enterprise-D em Las Vegas tiveram de ser reprojetados com suportes de aço e materiais "do mundo real". Mesmo os adesivos foram protegidos por coberturas de Plexiglas!




TB - Seu último esforço em Jornada é o livro "Star Trek: Star Charts" (Pocket Books, 2002). A Pocket recentemente decidiu concentrar seu foco em romances de Jornada, reduzindo recursos para livros de referência. Quão difícil foi vender o projeto para eles, e por quanto tempo você trabalhou no livro?

Mandel - Surpreendentemente, acabou sendo bem fácil -- eu fiz uma proposta, com rascunhos em miniatura dos mapas, e o submeti a Margaret Clark [uma das editoras de Jornada na Pocket]. Deve ter ajudado eu ter feito o "The Star Trek Maps" no passado distante e eu estar trabalhando na série na época. Eu sei que ajudou o fato de Mike Okuda ter falado bem de mim.

O livro de verdade levou quase um ano, e se tornou muito intenso quando chegamos ao fim da primeira temporada de Enterprise, quando eu estava lutando com meu trabalho do dia e tentando terminar o livro no prazo dado pela Pocket. Como Margaret pode assegurar, eu atrasei um pouquinho, e fiquei indo e voltando e fazendo mudanças. Eu gostaria de ter podido colocar mais algumas coisas, mas eu me sinto 90% feliz com o que fui capaz de conseguir.




TB - Criar esse novo livro pareceu como voltar ao tempo de "The Star Trek Maps" e "The Star Fleet Medical Reference", feitos numa época em que os livros de Jornada eram muito menos controlados pela Paramount do que o são agora?

Mandel - Eu tive muito pouca interferência da Paramount. Dave Rossi me deu algumas notas muito sensatas -- talvez umas vinte mudanças no total, que eu fiquei feliz em fazer. Andre Bormanis me passou algumas correções técnicas, e Margaret encontrou alguns enganos e inconsistências -- além disso, o livro ficou bem do jeito que eu queria que fosse. Entretanto, nesse livro, assim como nos mapas de 1980, eles não me deixaram mencionar os Kzinti, do episódio animado "The Slaver Weapon". Eu acho que Larry Niven ainda tem os direitos sobre os Kzinti.



TB - Tentar criar cartas estelares de Jornada é provavelmente um dos mais terríveis desafios que alguém poderia querer enfrentar. Embora seja fascinante, todos nós sabemos que algumas coisas (especialmente nas séries posteriores) não se encaixam muito bem. Como você lidou com a distância de Qo'noS à Terra, como vista em "Broken Bow" (ou a "Rigel" que não é Rigel, também de "Broken Bow"), ou com a USS Voyager que vai, vai, vai, mas nunca chega ao quadrante Alfa? E sobre a viagem da Enterprise ao centro da galáxia? Houve coisas de que você quis simplesmente se livrar (ou efetivamente se livrou)?

Mandel - Compre o livro! Eu acho que fiz tão bem quanto podia sob as circunstâncias; eu certamente não fugi de nenhum desses problemas.


TB - Você conhecia o esforço de alguns fãs na tentativa de resolver esses "problemas"?

Mandel - Sim, claro. Um dos que contribuíram para o livro foi Christian Rühl, que tem de longo o mais detalhado website em cartografia de Jornada nas Estrelas. Christian foi muito gentil em plotar algumas estrelas reais para mim, e sua versão da Federação e dos territórios em volta é basicamente a mesma que eu usei. Também foi de grande ajuda Timo Saloniemi, um fã na Islândia que expandiu sobre o trabalho do Christian. Eu esperava ter uma "versão Beta" dos mapas para os fãs comentarem, mas o cronograma simplesmente ficou maluco demais no último minuto. Além disso, não sei se é possível chegar a um consenso completo -- há muitas coisas no livro que Christian e Timo estão livres para discordar.



TB - Alguma coisa dos velhos "Star Trek Maps" sobrou nessa nova edição?

Mandel - Muito pouco; a Federação e a galáxia mudaram muito dos velhos tempos. Embora Mike Okuda quisesse que eu usasse o máximo possível dos velhos mapas, não era prático -- para começar, as posições verdadeiras das estrelas nos mapas estavam todas um pouco inclinadas, resultado de minha confusão do plano galáctico com o da Terra. Algum dia, eu adoraria fazer um "atlas estelar" como o que veio com os mapas -- uma lista detalhada de sistemas e planetas habitados, com uma curta descrição de cada um. No momento, tenho cerca de 2.000 entradas no meu banco de dados, o que é um bom começo.


TB - Além de cartas estelares, o livro tem alguns mapas detalhados de sistemas estelares, como o de Talos, e as definições das classes planetárias. Como foi resolver isso? Você teve preocupações científicas ao escrever esse material?

Mandel - Eu fui bem longe para manter a ciência o mais acurada possível: muitas das estrelas reais estão posicionadas exatamente onde deveriam, e o mapa da Via Láctea foi pintado por Tim Earls, usando os materiais de referência mais recentes disponíveis. Tendo dito isso, há algumas coisas que simplesmente não parecem plausíveis, dado o atual estado do conhecimento astronômico -- por exemplo, não há aquela quantidade de nebulosas perto da Terra, e se as Badlands estão onde eu digo que estão, elas seria bem visíveis no céu noturno! Também agora sabemos que estrelas como Rigel e Deneb não seriam bons lugares para procurar por vida, embora 40 Eridani e Alfa Centauri ainda sejam bons candidatos. O sistema de classificação planetária era uma das sobras dos "Star Trek Maps", embora eu tenha tido que trocar algumas letras baseado em referências de A Nova Geração e Voyager. Eu também tentei usar os dados de sistemas estelares do "The Worlds of the Federation", de Shane Johnson, onde ele não era completamente contrariado em episódios posteriores. Por sorte, um mapa do grupo estelar Talos havia sido mostrado na tela em "The Cage", então aquele foi um "acéfalo"!


TB - Você de forma bem-humorada menciona em seu currículo, "Writer/Graphic Artist for hire--cheap" ("Escritor/Artista Gráfico para contratar--barato". Algum plano para o futuro próximo?

Mandel - Acho que deveria riscar a parte "barato". Desde o fim da primeira temporada de Enterprise, eu trabalhei com bastante constância: fiz gráficos de vídeo para o filme de Steven Soderbergh e George Clooney "Solaris", então trabalhei na série de TV "24" e no filme "Spider-Man 2". Mais recentemente, trabalhei na série da NBC "Kingpin", que é meio similar ao filme "Traffic". Eu também andei atualizando os painéis de linha do tempo para o "The Experience" em Las Vegas e terminando as revisões do livro "Star Charts". Para falar a verdade, eu estava esperando um tempo de folga, mas tenho trabalhado mais do que nunca!


TB - Você conhece o Brasil? Já esteve em convenções de Jornada? Gostaria de participar de uma no Brasil? Alguma mensagem para os fãs brasileiros?

Mandel - Nunca estive no Brasil, mas sempre tive vontade de ir -- parece um lugar fascinante, grande e diverso -- em alguns sentidos, como os Estados Unidos. Eu já falei em muitas convenções de Jornada (desde o fim dos anos 70, se você pode acreditar nisso), mas nunca em uma fora dos EUA. Claro, ficaria encantado de ir a uma convenção de Jornada no Brasil -- é só convidar!



Entrevista realizada em 14 de setembro de 2002.