A Nova Geração
Temporada 5

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Dilema militar mostra o potencial de
história ambientada na Academia

Episódio anterior   |   Próximo episódio

Sinopse:

Data Estelar: 45703.9.

A caminho da Academia da Frota Estelar, na Terra, onde Picard deve fazer o discurso de formatura deste ano, a Enterprise é informada de um terrível acidente de vôo envolvendo Wesley Crusher e sua esquadra. Todas as cinco naves envolvidas foram destruídas, mas quatro dos cinco cadetes conseguiram escapar em segurança, fazendo um transporte de emergência. O quinto membro da equipe, entretanto, Joshua Albert, foi morto instantaneamente.

Picard, a dra. Crusher e os demais pais dos cadetes envolvidos acompanham quando a almirante Brand, a superintendente da Academia, começa uma investigação, interrogando os quatro cadetes sobreviventes sobre o vôo fatal. Quando a almirante encontra discrepâncias entre seus depoimentos e o plano de vôo previamente reportado, o líder da esquadra, Nicholas Locarno, decide se manifestar. Ele relutantemente diz ao painel de investigação que Albert entrou em pânico e perdeu o controle de sua nave durante a manobra, o que teria causado o acidente. O pai de Albert, um oficial da Frota Estelar, fica especialmente afetado pelo depoimento.

Como Wesley tinha contato direto com a tripulação da Enterprise, a almirante Brand permitiu que Picard e sua equipe fizessem sua própria investigação do acidente. Enquanto isso, Wesley encontra Locarno e os outros membros do Esquadrão Nova para discutir a audiência. Os três cadetes estão claramente incomodados com a atitude de seu líder de colocar a culpa em Albert quando na verdade não era sua culpa.

Locarno tenta convencê-los de que eles não estão mentindo ao omitir detalhes cruciais que explicariam o que realmente aconteceu, e de que eles precisam continuar com seu plano para salvar suas carreiras. Enfatizando a importância do trabalho de equipe, ele faz com que seu esquadrão se una novamente. Mais tarde, quando a audiência é retomada, Wesley é questionado sobre os dados remanescentes de seu gravador de vôo. Ele e seus colegas ficam chocados quando o painel apresenta evidências, obtidas de um satélite de observação, que claramente contradizem o testemunho de Wesley. Entretanto, apesar de ter sido pego em uma mentira, o rapaz se recusa a explicar.

Abalado pelo que está acontecendo, Wesley sutilmente indica a Beverly que ele está mentindo. Ela compartilha seus sentimentos com Picard, e os dois se unem a Geordi e Data para tentar chegar a uma conclusão. Juntos, eles usam todos os dados recuperados e concluem que, em vez da formação que diziam estar usando, Wesley e seus colegas estavam trabalhando em uma manobra extremamente perigosa, proibida há cem anos pela Frota Estelar.

Picard confronta Wesley e diz ao rapaz que ele e sua tripulação sabem o que aconteceu. Eles sabem que o esquadrão de Wes estava tentando uma manobra espetacular para realizar durante a cerimônia de fim de ano de Academia da Frota. Caso eles tivessem sido bem-sucedidos, Locarno iria se graduar como uma lenda viva.

Infelizmente, sua falha custou a vida de Albert. Picard diz a Wesley que se ele não disser a verdade, o próprio capitão o fará. esley imediatamente se encontra com o resto de sua equipe, mas Locarno novamente os convence a ficarem unidos, lembrando que Picard não tem prova concreta. Na audiência, entretanto, Wesley diz a verdade, incapaz de permitir que o pai de Albert saia acreditando que seu filho era um covarde. Locarno assume toda a culpa e é expulso, e o resto do esquadrão sai com uma punição mais leve --o cancelamento de seu ano escolar.

 

Comentários:

Talvez uma série inteira ambientada na Academia da Frota Estelar realmente não rendesse, mas "The First Duty" prova que ao menos um ou dois episódios feitos por lá podem dar muito pano para a manga. A história é bastante simples, e não envolve muita reflexão filosófica. A discussão se estabelece muito mais no plano moral, e é interessante perceber que trata-se realmente de um dilema, e não de uma falsa problemática. É de fato muito delicado escolher entre seus amigos e a verdade. Tanto é complicado que, nos bastidores de Jornada, a mesma discussão que Locarno e Wesley têm acabou acontecendo.

Ron Moore, um dos dois roteiristas do segmento, achava que Wesley deveria acabar protegendo seus amigos. Michael Piller, então chefe da equipe de roteiristas, achava que o dever final de Wesley seria sempre para com a verdade. Os dois discutiram, discutiram, discutiram, mas quando chegou a hora de decidir como concluir a história, Piller optou por exercer sua autoridade de chefia e ordenou Moore e Shankar a concluírem a história com a versão que vemos na tela.

Se isso não é suficiente para mostrar o grau de dificuldade desse dilema, então certamente a posição de Nick Locarno é. Em princípio, o telespectador tende a achar que o líder do esquadrão é um mero aproveitador, mas quando ele assume toda a culpa, mostra que seu discurso não era nem um pouco falso. Trata-se apenas de uma filosofia diferente.

Essa atitude traz a redenção para o personagem, mostrando-o com um viés muito mais imparcial do que costumamos ver por aí. Ponto para o roteiro. Aliás, o roteiro é o grande forte deste segmento. Sem muita ação ou grandes jogos de câmera, o episódio se sustenta totalmente nos diálogos. De certa forma, em termos de evolução, ele é quase um negativo do episódio anterior, "Cause and Effect", esse sim muito mais dependente da execução.

Apesar de o roteiro já dar uma tremenda mão, os atores vão muito bem. Talvez a única decepção seja o capitão Vulcano, com aquele ar de falso espertão. Ao contrário de Spock, o ícone Vulcano por excelência, Sotelk não consegue convencer a audiência de que ele de fato representa o melhor da sagacidade de sua espécie. Mas ele tenta, o que acaba ficando pouco convincente.

Os cadetes todos têm atuações brilhantes, inclusive Wesley Crusher, que mostra que, quando bem escrito, pode ser um bom personagem. Wil Wheaton também tem a chance de mostrar um pouco de seu talento, coisa raríssima na série.

Outro momento absolutamente especial e vencedor é o reencontro de Picard com Boothby, o jardineiro da Academia. Embora acabemos aprendendo muito pouco sobre o passado do capitão com aquele senhor, a química entre os dois grandes atores, Stewart e o inesquecível e saudoso Ray Walston, é inacreditável. Quase tão impressionante quanto os toques de continuidade dados ao longo do episódio, como a fama de encrenqueiro do cadete Picard e sua apreciação pelo atletismo.

Do ponto de vista de execução, temos algumas coisas interessantes. As paisagens e cenários da Academia estão bastante desenvoltos, muito melhores que os do Comando da Frota, vistos em "Conspiracy", do primeiro ano. É curioso notar que, em pleno século 24, a porta do alojamento de Wesley Crusher tenha uma maçaneta! Opção estética ou falha de produção?

Em termos de efeitos especiais, a sequência que talvez impressione mais seja a do gravador de vôo da nave de Wesley. Embora não seja muito realista, é um uso impressionante dado a gráficos gerados por computador (CGI), algo que ainda não estava nem perto de atingir o grau de realismo que existe hoje. Mesmo assim, foi uma inovação interessante e que não chegou a comprometer o episódio.

Uma trama bem amarrada, sem falhas de continuidade, drama de primeira qualidade, enfoque bem feito nos personagens e diálogos bem-escritos fazem deste episódio um dos melhores da temporada e possivelmente de toda a série.

 

Citações:

Riker - "When I was at the Academy, we had a Vulcan superintendent who would memorize the personnel files of every single cadet. Knew everything about them. Just like having your parents around all the time."
("Quando eu estava na Academia, eu tinha um superintendente Vulcano que memorizou todos os arquivos pessoais de cada cadete. Sabia tudo sobre eles. Era como ter seus pais por perto o tempo todo.")
Picard - "My superintendent was a Betazoid, full telepath. When he sent for you to his office he didn't have to ask what you've done."
("Meu superintendente era um Betazóide, telepata total. Quando ele mandava você a seu escritório não precisava perguntar o que você havia feito.")
Riker - "You got called to the superintendent's office? That's a story I would like to hear."
("Você foi chamado ao escritório do superintendente? Essa é uma história que eu gostaria de ouvir.")

Trivia:

Wesley Crusher está de volta nesse que é considerado o melhor episódio com o personagem, além de um dos melhores de toda a Nova Geração.

O ator Ray Walston, falecido em 2001, é conhecido do público como o personagem principal da série de 1960 "Meu Marciano Favorito". Neste episódio o veterano ator interpreta Boothby, o jardineiro da Academia da Frota Estelar em São Francisco. Boothby já havia sido citado em dois episódios da Nova Geração, "Final Mission" e "The Game", mas nunca havia aparecido até este episódio.

O primeiro capitão Vulcano da Nova Geração também aparece aqui. É Satelk, interpretado por Richard Fancy.

Ro Laren não é a única Bajoriana na Frota Estelar. Em "The First Duty" conhecemos a cadete Sito Jaxa, outra Bajoriana tentando a sorte na carreira de oficial da Frota. Sito voltará a aparecer em um excelente episódio da sétima temporada, "Lower Decks", onde terá grande importância para a trama.

Robert Duncan McNeill, que mais tarde seria o tenente Tom Paris, de Voyager, participa deste episódio como o cadete de primeira classe Nicholas Locarno. Você vai reparar muitas semelhanças entre este personagem e Paris. Na verdade, os produtores são não aproveitaram Nick Locarno como piloto da USS Voyager pois teriam os mesmos problemas de direitos autorais que tiveram ao tentar introduzir T'Pau em Enterprise. Nos dois casos, foi preferível simplesmente trocar o nome do personagem a pagar royalties aos criadores originais.

Repare no logotipo da bandeira da Academia da Frota Estelar. Lá está escrito "San Francisco/MMCLXI", ou seja, São Francisco/2161, o ano em que a Federação foi fundada. No logotipo pode ser encontrada também a frase em latim "Ex astra, scientia", ou seja, "Das estrelas, conhecimento". A frase foi baseada no slogan presente no logotipo da missão da Apollo 13 que dizia "Ex luna, scientia" ("Da Lua, conhecimento").

"The First Duty" é tão eloquente que chegou a ser exibido várias vezes aos cadetes da Academia do Exército dos EUA.

 

Ficha técnica:

Escrito por Ronald D. Moore & Naren Shankar
Direção de Paul Lynch

Exibido em 30/03/1992
Produção: 119

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi

Elenco convidado:

Ray Walston como Boothby
Robert Duncan McNeill como cadete de 1ª classe Nick Locarno
Ed Lauter como tenente-comandante Albert
Richard Fancy como capitão Vulcano Satelk
Jacqueline Brooks como almirante superintendente Brand
Wil Wheaton como cadete de 3ª classe Wesley Crusher
Walker Brandt como cadete de 2ª classe Jean Hajar
Shannon Fill como cadete de 2ª classe Sito Jaxa
Richard Rothenberg como um cadete

Episódio anterior   |   Próximo episódio