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O melhor de Voyager ainda está por vir?

É isso. Os trekkers brasileiros já assistiram às três primeiras temporadas de Voyager. Houve quem tenha se apaixonado cegamente pela série, quem apenas teve as expectativas atendidas e, é claro, aqueles que se decepcionaram profundamente com ela. Mas, à medida que os fãs aguardam a exibição do quarto ano, parecem existir algumas dúvidas e questionamentos comuns a todos: do que se trata esse seriado e para onde ele vai?

A primeira temporada foi curta demais, tendo contado com apenas 16 episódios, a maior parte deles ingênuos e superficiais - embora agradassem esteticamente. Na segunda, isso já não era suficiente, o que se refletiu na queda dos números da audiência. Já na virada do segundo para a terceiro ano, a série deu uma grande guinada em termos de valores de produção e propósito de ser. Mas a que vieram essas mudanças? 

As mudanças são importantes para dar um frescor, sobretudo em franquias como a de Jornada. Porém, com a chegada do terceiro ano de Voyager, as pessoas passaram a sintonizar a TV apenas para ver que problema inesperado os personagens enfrentariam, como reagiriam a ele e quais seriam as soluções decorrentes. A idéia passou a ser "o divertimento da hora". Contente com o novo estilo? Então tenho boas notícias: o quarto ano seguirá nessa linha. Não gostou do que acabou de ler? Lamento informá-lo, mas as mudanças vieram para ficar. O fã - seja ele qual for - tem que começar a se acostumar com a idéia de que Voyager virou uma série de ação com episódios que se fecham em si, salvo algumas exceções. 

Antes que eu perca algum leitor, deixe-me dizer tratarei aqui apenas dos pontos altos da temporada inédita, entre eles, o longo arco de histórias envolvendo os Hirogen.

O quarto ano começa com a resolução do excelente e igualmente controverso "Scorpion". Fazendo jus à maldição das continuações, no entanto, "Scorpion, Part II" é incapaz de alcançar o êxito de sua primeira parte. Obviamente o seu ponto alto é a introdução de Jeri Ryan como Seven of Nine no elenco fixo da série. Na história, a tripulação, aliada aos Borgs, se prepara para enfrentar a misteriosa Espécie 8472, mas os conflitos entre a individualidade humana e a coletividade Borg mostram-se mais ameaçadores do que os inimigos em si. 

Faço aqui um parêntese para avisar aos mais ansiosos que Seven está tão bela neste segmento como qualquer outro drone Borg estaria. Ela só se livrará dos implantes cibernéticos no episódio seguinte.

"The Gift" poderia tranqüilamente ser chamado de "Scorpion, Parte III", já que se mantém incrivelmente fiel ao roteiro que o antecede. É aqui que Jennifer Lien dá o seu adeus à série. As habilidades mentais de Kes se desenvolvem ao ponto em que ela não as consegue mais controlar. Temendo pela segurança de seus amigos, a Ocampa decide abandonar a Voyager e, no processo, atira a nave a uma distância de quase 10.000 anos-luz em direção ao quadrante Alfa. "The Gift" costuma ser muito subestimado pelos fãs. É um dos episódios mais bem escritos de Voyager, um dos mais tocantes de Jornada e talvez o que apresente a "morte" mais convincente de um personagem fixo (aqui, nenhuma gosma preta grudou na cara da personagem, nem a sufocou). A atuação de todo o elenco é excepcional e Jeri Ryan deixa uma excelente impressão inicial com sua interpretação da Borg recém-separada da coletividade. Ela é muito mais do que um belo par de... olhos azuis.

Outro grande episódio da temporada é "Year of Hell", no qual a Voyager se aproxima do território dos Krenim, uma raça hostil que domina tecnologia temporal (previamente citada em "Before and After", do terceiro ano).O segmento tem de tudo um pouco e freqüentemente é considerado o melhor de toda a série - embora isso aconteça por motivos distintos: quem gosta de Voyager torce para que a tripulação sobreviva ao verdadeiro inferno a que é submetida; quem não gosta se delicia com as cenas da nave sendo destruída aos poucos. "Year of Hell" é um festival de efeitos especiais e de puro sadismo.

Se os Kazons foram o sustentáculo da série durante as primeiras temporadas, nesta o destaque vai para os Hirogen, uma raça de caçadores nômades, cujo único propósito é perseguir suas vítimas e adornar o anteparo das naves com os restos mortais delas. É grande o número de episódios envolvendo a raça e, surpreendentemente, todos eles são bons. 

A primeira aparição acontece no divertido "Message in a Bottle", em que a tripulação consegue enviar o Doutor para uma nave da Frota localizada no quadrante Alfa, a USS Prometheus, através de um sistema de estações de comunicação alienígenas. O que a tripulação não sabe é que a nave em questão está tomada pelos Romulanos e que o médico-holográfico vai ter que rebolar para completar a sua missão. Mas os esforços valem a pena. Ele volta dizendo que a Frota Estelar já está a par da situação da Voyager e que todos os familiares dos tripulantes estão sendo procurados. 

Em "Hunters", chegam as primeiras cartas de casa. Chakotay e B'Elanna descobrem que a rebelião Maquis foi definitivamente suprimida pelos Cardassianos, que tiveram apoio dos Dominion, e Janeway fica sabendo que seu noivo Mark (visto em Caretaker) está casado e feliz. O fato de a tripulação usar a rede de estações de comunicação irrita os Hirogen, que mostram pela primeira vez a sua belicosidade. Suas naves entram em combate com a Voyager e, no final, a estação é destruída, o que interrompe o elo com a Terra. A guerra entre Hirogens e a Voyager é então declarada.  

"Prey" não segue na mesma linha dos dois episódios anteriores, embora também apresente os Hirogens. Neste segmento, Janeway resgata um caçador ferido esperando que este ato ponha fim às hostilidades entre as raças, mas tudo se complica quando um ser da Espécie 8472 invade a Voyager. O episódio traz diálogos interessantes entre Janeway e Seven. As duas se confrontam o tempo todo e é isso que torna a temporada tão especial. Até então, os fãs esperavam pelo conflito entre Maquis e oficiais da Frota, mas isso nunca realmente aconteceu. O clima a bordo da Voyager sempre foi ameno. Com a chegada de Seven, tudo muda.

Outro episódio de destaque envolvendo os Hirogen é o duplo "The Killing Game", que também costuma ser subestimado pelos trekkers. Talvez seja porque a história se ambienta no holodeck. Talvez seja por trabalhar a Segunda Guerra Mundial. Talvez não. O fato é que são duas horas de entretenimento garantido, mas que não foram tão bem recebidas pelo fandom. Aqui, a Voyager é tomada pelos Hirogen, que implantam dispositivos de supressão das memórias dos tripulantes, programando-os com identidades falsas e colocando-os em cenários brutais nos holodecks. Há momentos impagáveis e pérolas inesquecíveis. 

Os outros vilões de destaque são, naturalmente, os Borgs. Mas a coletividade não dá o ar da graça diretamente. O universo Borg é explorado através de Seven of Nine.

Embora a série traga novas raças, talvez a mudança mais significativa no quarto ano seja a centralização da maior parte das histórias em Seven. Quem pagou o preço, é claro,  foram os outros personagens, que tiveram o seu tempo de tela reduzido. Na verdade, não houve grandes mudanças para Paris, Kim, Chakotay e Neelix, que já eram mal explorados. Mas B'Elanna e Tuvok, leia-se Dawson e Russ, sentiram a chegada da Borg sexy.

Que fique claro que Ryan não pode ser penalizada pelas deficiências de Voyager. Ela tornou a série mais popular é uma boa atriz, embora pudesse ter mostrado seu talento com um figurino diferente. O crescimento de Seven na temporada é consistente, instigante e interessante. A química entre ela e Picardo é inquestionável, e a tensão entre ela e a capitã, forte motivo para acompanhar a série. Seven acabou trazendo para Voyager roteiros interligados e centrados em personagem, algo que não era visto desde o primeiro ano, quando todos os personagens eram novos.

Em um apanhado geral  o quarto ano é bom, mas não é ótimo, e isso é frustrante. Embora seja melhor do que as temporadas anteriores, ainda sofre de um problema fundamental da série: a falta de um progresso notável. O quadrante Delta ainda não é um lugar fascinante e é habitado por uma grande quantidade de raças alienígenas-clichês, que servem com o simples propósito de provocar um conflito. Conflitos não nos dizem nada que ainda não saibamos sobre os personagens. O que falta são relacionamentos com espécies pacíficas, ou com outras que ensinem um pouco mais sobre a própria humanidade. E você, o que acha? O melhor de Voyager ainda está por vir?

 

A TEMPORADA, EPISÓDIO A EPISÓDIO

01 - Scorpion, Part II – A tripulação luta ao lado dos Borgs contra a invasão da Espécie 8472, mas a aliança entre a individualidade humana e a coletividade Borg se mostra bastante frágil. Nota: 8,0

02 - The Gift – Janeway começa a integrar Seven of Nine à tripulação depois da separação da coletividade. Enquanto isso, Kes vivencia grande avanço em suas habilidades mentais. Nota: 9,5

03 - Day of Honor – Quando a Voyager é forçada a ejetar o núcleo do reator, Tom e B'Elanna vão buscá-lo com uma nave auxiliar. Mas a dupla é atacada por alienígenas e forçada a se transportar para o espaço apenas com os trajes de sobrevivência. Nota: 5,0

04 - Nemesis – Chakotay se encontra lutando uma sangrenta guerra em um planeta alienígena e descobre que sente ódio mortal contra inimigos que nunca viu antes. Nota: 3,5

05 - Revultion – B'Elanna e o Doutor respondem a um pedido de socorro enviado por um holograma instalado em uma nave alienígena cuja tripulação morreu misteriosamente. Enquanto isso, na Voyager, Harry Kim tenta conhecer melhor Seven of Nine. Nota: 3,0

06 - The Raven – Seven of Nine rouba uma nave auxiliar e foge da Voyager para responder a um sinal vindo da coletividade Borg. Nota: 3,5

07 - Scientific Method – A tripulação começa a sofrer estranhas e letais mutações genéticas e Seven of Nine pode ser a única a bordo com a chave para solucionar o mistério. Nota: 8,0

08 - Year of Hell, Part I – A tripulação da Voyager tem a sua moral e determinação desafiadas quando tenta atravessar o espaço dos Krenim. Nota: 10,0

09 - Year of Hell, Part II – Janeway tenta reparar os danos à Voyager para procurar Tom e Chakotay, que foram raptados pelos Krenim. Nota: 10,0

10 - Random Thoughts – Enquanto a Voyager visita um planeta de telepatas, a tripulação tem de lidar com uma situação delicada envolvendo B'Elanna. Nota: 6,5

11 - Concerning Flight – a capitã Janeway e o holograma de Leonardo da Vinci precisam trabalhar juntos para recuperar o processador do computador da Voyager, que foi roubado por alienígenas. Nota: 4,0

12 - Mortal Coil – Neelix é morto em uma missão avançada, mas Seven consegue ressuscitá-lo com tecnologia Borg, o que faz com que o Talaxiano passe a questionar a sua fé na vida após a morte. Nota: 7,0

13 - Waking Moments – Os tripulantes começam a ter pesadelos ao mesmo tempo e, em todos eles, há um elemento em comum: um misterioso alienígena que pode existir no mundo real. Nota: 3,0

14 - Message in a Bottle – Usando uma rede de comunicações alienígena abandonada, Seven consegue localizar uma nave da Frota no quadrante Alfa e a tripulação envia o Doutor. Acontece que a nave em questão está sob o controle dos Romulanos. Nota: 8,5

15 - Hunters – Enquanto as cartas do quadrante Alfa chegam pela rede alienígena, a tripulação toma conhecimento de notícias ruins, ao mesmo tempo em que tem de lidar com os Hirogen. Nota: 8,0

16 - Prey – A tripulação resgata um caçador Hirogen seriamente ferido, que ameaça destruir a Voyager se Janeway ficar entre ele e a sua mais nova caça: um membro da Espécie 8472. Nota: 8,5

17 - Retrospect – Seven of Nine encontra dificuldades em lidar com suas emoções ao vivenciar fashbacks que sugerem que ela foi atacada por um comerciante com quem a Voyager está negociando. Nota: 7,0

18 - The Killing Game, Part I – Depois de terem tomado o controle da Voyager, os Hirogen criam identidades imaginárias para os tripulantes e os colocam em cenários brutais nos holodecks. Nota: 8,0

19 - The Killing Game, Part II – A tripulação precisa pôr um fim às simulações nos holodecks, ao mesmo tempo em que tem de lidar com o controle Hirogen. Nota: 7,5

20 - Vis a Vis – Paris é atacado e deixado para trás por um alienígena que rouba a sua identidade. Nota: 3,0

21 - The Omega Directive – Quando os computadores da Voyager detectam uma substância poderosa e extremamente perigosa, Janeway precisa arriscar tudo para destrui-la. Nota: 6,0

22 - Unforgettable – Chakotay se apaixona por uma misteriosa mulher que diz que já o conheceu antes . Nota: 1,0

23 - Living Witness – O papel da Voyager na História de uma civilização alienígena atravessa 700 anos e, para esse povo, a nave e os tripulantes foram a parte mais terrível de seu passado. Nota: 9,0

24 - Demon – Paris e Kim se transportam para um planeta desolado à procura de deuterium para a Voyager. Nota: 3,5

25 - One – A tripulação é colocada em estasse durante uma viagem de um mês por uma nebulosa, e o controle da Voyager fica nas mãos de Seven e do Doutor. Nota: 7,0

26 - Hope and Fear – Quando um alienígena ajuda Janeway a decodificar uma misteriosa mensagem criptografada recebida da Frota, a tripulação descobre as coordenadas de uma nave experimental secreta que pode levá-la ao quadrante Alfa em questão de meses. Nota: 3,5

 

A TEMPORADA EM NÚMEROS

Título

Rating (audiência)

Transmissão original

Data estelar

 

Scorpion, Part II 6.5 3/9/1997 51003.7
The Gift 5.6 10/9/1997 51008
Day of Honor 4.5 17/9/1997 desconhecida
Nemesis 4.5 24/9/1997 51082.4
Revulsion 5.0 1/10/1997 51186.2
The Raven 4.8 8/10/1997 desconhecida
Scientific Method 4.3 29/10/1997 51244.3
Year of Hell, Part I 4.7 5/11/1997 51268.4
Year of Hell, Part II 5.2 12/11/1997 51425.4
Random Thoughts 4.4 19/11/1997 51367.2
Concerning Flight 4.1 26/11/1997 51386.4
Mortal Coil 3.9 12/17/1997 51449.2
Waking Moments 1/14/1998 51471.3
Message in a Bottle 4.2 1/21/1998 51462
Hunters 3.8 11/2/1998 51501.4
Prey 3.8 18/2/1998 51652.3
Retrospect 4.2 25/2/1998 51658.2
The Killing Game, Part I 4.3 4/3/1998 desconhecida
The Killing Game, Part II 4.3 4/3/1998 51715.2
Vis a Vis 3.1 8/4/1998 51762.4
The Omega Directive 3.7 15/4/1998 51781.2
Unforgettable 3.4 22/4/1998 51813.4
Living Witness 3.9 29/4/1998 desconhecida
Demon 3.8 6/5/1998 desconhecida
One 3.9 13/5/1998 51929.3
Hope and Fear 4.1 20/5/1998 51978.2

 

Daniel Sasaki é co-editor do Trek Brasilis