Voyager
Temporada 3

Análise do episódio por
Daniel Sasaki



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Memória de Tuvok traz de volta Sulu e 
a Excelsior para um episódio especial

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Sinopse:

Data Estelar: 50126.4

Enquanto a USS Voyager se aproxima de uma nebulosa rica em sirílio, Tuvok começa a ter flashbacks de si mesmo enquanto criança, tentando salvar uma garota caindo de um abismo. O Doutor suspeita que o Vulcano está vivenciando memórias suprimidas, as quais podem vir a causar danos cerebrais permanentes. As técnicas de cura Vulcanas instruem o paciente a fazer um elo mental com alguém em quem confia, para que, juntos, os dois possam trazer a memória suprimida à mente consciente. Por causa de sua longa relação de amizade, Janeway aceita em unir-se a Tuvok.

O elo leva Tuvok e Janeway 80 anos no passado, na primeira missão do Vulcano a bordo da USS Excelsior, comandada por Hikaru Sulu. Sulu serviu sob o legendário Capitão James T. Kirk durante muitos anos, então sua tripulação não se surpreende quando ele tenta ajudar Kirk e outro colega, o doutor McCoy, que estão presos pelo assassinato do Chanceler Klingon. No caminho, a Excelsior passa por uma nebulosa similar àquela encontrada pela Voyager antes de os flashbacks começarem. Mais uma vez, Tuvok vivencia a memória da garota caindo, mas desta vez sofre convulsões.

Na Voyager, o Doutor reanima Tuvok, e Janeway se pergunta o que a menina tem a ver com as vivências na Excelsior. Tudo o que Tuvok se lembra é que os Klingons emboscaram a nave na nebulosa, impedindo que Sulu continuasse em sua missão de resgate.

Novamente em um elo mental, Tuvok revive o ataque Klingon. Ele se lembra que, durante a batalha, ajudou um tripulante chamado Valtane, que morreu em seus braços. Continuando, o Doutor nota que o Vulcano está com os padrões neurais novamente erráticos. Incapaz de interromper o elo mental entre Tuvok e Janeway, expõe o cérebro de Tuvok a  radiação de thoron e acaba descobrindo do que tudo isso se trata. Quando Valtane morreu, um estranho vírus alienígena que carregava migrou para o cérebro de Tuvok, camuflando-se como uma memória suprimida. O Doutor então aumenta a intensidade da radiação e por fim consegue destruir o peculiar vírus, salvando Tuvok e deixando Janeway nostálgica pelos "velhos tempos", quando o espaço ainda era uma grande fronteira.

 

Comentários:

O episódio foi feito com o propósito de comemorar o trigésimo aniversário da primeira transmissão de Jornada. Num apanhado geral, a produção fez um bom trabalho. Talvez ninguém esperasse que toda a seqüência inicial do sexto filme para cinema ("A Terra Desconhecida") fosse recriada com tamanha fidelidade. Pelo menos do ponto de vista da produção. Não só todos os figurantes que estavam na ponte da USS Excelsior foram recrutados, entre eles a veterana Grace Lee Whitney (Janice Rand) e Jeremy Roberts (Valtane), como a ponte da nave foi recriada com incrível esmero. Infelizmente os atores não se esforçaram tanto para reproduzir o tom original, muito relaxados em seus papéis, e a necessidade de recriar as tomadas por outro ângulo que não o visto no cinema acabou excluindo as melhores opções de câmera, já utilizadas quando da produção do filme.

De toda forma, foi uma grande surpresa para os fãs também reviver a ambientação do século 23, os antigos uniformes, o conflito com os Klingons, a velha ponte e poder ver como era o dia-a-dia de uma tripulação da era de Kirk. Como Janeway mesmo disse, era um tempo em que os capitães é que faziam suas regras e não hesitavam em agir contra os preceitos da Frota para auxiliar velhos amigos; os regulamentos pouco importavam, e a tripulação em geral apoiava seu comandante cegamente. Infelizmente nem todo o espírito original pôde ser reproduzido. A estratégia de Sulu para combater os Klingons com o sírilio da nebulosa, por exemplo, parece "tecnobaboseira" demais para caber em um segmento do seriado original. Em momentos como esse surge a inevitável denúncia de que não se trata de um episódio clássico, mas uma obra de Voyager.

Outra denúncia de que estávamos vendo Voyager foi a falta de apreço para com a cronologia estabelecida previamente em Jornada. Por exemplo, o tenente Valtane morre no fim do episódio, embora tenha sobrevivido em "A Terra Desconhecida" e aparecido na ponte da nave ao final do filme. Ocorreram outras inconsistências quanto a comentários relacionados à questão do acordo Federação/Klingons, a distância temporal entre a explosão de Praxis e o julgamento de Kirk, e sobre a idade e o histórico de Tuvok. Nesse ponto, a série de desmentirá diversas vezes.

Sulu, ou melhor, George Takei, dispensa comentários adicionais. O personagem, apesar de em geral pouco expressivo, sempre foi querido na Série Clássica e teve grande enfoque no último filme da série. Em Voyager, ele não esteve brilhante (aliás, atuações brilhantes não são o forte de Takei), mas cumpriu com sua obrigação de forma competente e serviu para alimentar a nostalgia do episódio. Chegou até a protagonizar momentos interessantes de humor na ponte. Foi interessante ver Tuvok criticando certas ordens do veterano e testemunhar Sulu colocando-o em seu devido lugar. Engraçado também os ciúmes de Janeway com relação ao chá que o vulcano sempre levava ao antigo capitão. Outro ponto bem destacado foi a afeição de Sulu por Kirk e McCoy, que pôde ser sentida com a mesma intensidade das aventuras de outrora.

Infelizmente o brilho se desfaz quando se esquece o fator nostalgia. Em termos de enredo, o episódio se perde em uma história arrastada e pouco produtiva. Toda a história para levar Tuvok ao passado não parece mais que uma desculpa esfarrapada, e a premissa de um vírus que se disfarça de memória não é muito convincente. Agora, passando por cima disso, precisamos reconhecer que os eventos descritos, com todos os seus furos de continuidade, servem para enriquecer ainda mais o background histórico de Jornada VI.

Por outro lado, não é uma missão que o capitão Sulu (e, por consequência, a audiência) vá gostar de lembrar no futuro. A missão de resgate é um fracasso absoluto, que não resulta em nada além de mais um confronto com os Klingons. Felizmente os toques "comemorativos" do episódio perduram mesmo neste momento, quando vemos o capitão Klingon Kang, outro velho conhecido da série original.

Como atrativos, os efeitos especiais do episódios também não podem passar desapercebidos. Foram excelentes, mesmo para os padrões que Voyager já vinha usando. Apesar de muitas cenas terem sido reaproveitadas do sexto filme, como a explosão da lua de Praxis, as seqüências da nebulosa e da batalha foram excepcionais. Uma miniatura da Excelsior foi construída especialmente para "Flashback".

Na história, vê-se um aprofundamento significativo na relação entre Janeway e Tuvok, e entre Tuvok e os humanos. Apesar de atuar apenas como observadora, a capitã tem papel fundamental na trama. Para a personagem, foi uma oportunidade única testemunhar eventos históricos importantes como o episódio que levou à assinatura do Acordo de Khitomer.

A atuação de Tim Russ esteve muito boa no episódio. Até aqui, via-se Tuvok como o mais controlado e típico dos Vulcanos. Chegava a ser entediante às vezes. Ele era desprovido de qualquer traço original ou que o tornasse particular. Mas, em "Flashback", descobre-se que por trás desse controle todo já viveu um rapaz rebelde que olhava os humanos com inferioridade e juízos de valor. Alguém que não aceitava a violação de regras ou ordens baseadas em aspectos emocionais. Vê-se um inexperiente Tuvok que enfrentava um veterano espacial á altura de Sulu.

Aprende-se muito sobre Tuvok. Ele foi designado à Excelsior há cerca de 80 anos, durante os eventos de "A Terra Desconhecida", quando tinha 29. Provavelmente desistiu da Frota aos 30, casou-se aos 36. O fato de tornar-se pai mudou seu modo de pensar, sua atitude com relação aos humanos e à Frota. Retornou ao uniforme provavelmente aos 80, e deve ter pelo menos 100 anos de idade. Foi dito que Tuvok ensinou na Academia durante 14 anos. Então, deve ter retornado à Frota aos 94. Soa até estranho que alguém com tamanha experiência e perícias tenha sido enviado a uma nave tão pequena como a Voyager, com a patente de tenente.

Outro ponto a comentar sobre o episódio é a visão que os oficiais do século 24 têm de seus predecessores. O quadrante Alfa diminuiu de modo significativo por conta dos avanços na tecnologia de dobra, e é politicamente mais estável. Sair para o espaço não é mais tão perigoso como antes. De todas as série de Jornada, Voyager é a que teve a melhor oportunidade de reviver algumas das primeiras experiências da Enterprise original. Estão atravessando espaço totalmente inexplorado e a capitã está liderando essa tripulação basicamente sozinha. Muitos dos luxos do século 24 não estão mais à disposição e essas pessoas estão lutando para sobreviver, trabalhando sozinhos para conseguir voltar para casa. É nessa tópico que Voyager captura mais o espírito da Série Clássica do que A Nova Geração e Deep Space Nine o fazem. 

Para concluir, a conversa entre Janeway e Kim foi uma ótima oportunidade para prestar homenagem à tripulação que começou tudo. É interessante ver como o franchise de Jornada evoluiu em seus trinta anos de existência. Muitos devem ter ficado nostálgicos ao rever a ambientação do século 23, mas, como a demanda do mercado do entretenimento muda, as coisas nunca poderiam voltar a ser como antes. Talvez seja por isso que a concepção de uma série baseada nas aventuras do capitão Sulu na Excelsior nunca tenha saído da mente de alguns fãs...

 

Citações:

Tuvok - "Mr. Neelix, I would prefer not to hear the life history of my breakfast."
("Sr. Neelix, eu preferiria não ouvir a história de vida do meu café da manhã.")

Alferes Tuvok - "That is a most illogical line of reasoning."
("Essa é uma linha de raciocínio bastante ilógica.")
Capitão Sulu - "You better believe it."
("Pode apostar.")

 

Trivia:

int.jpg (476 bytes) George Takei (capitão Sulu) e Grace Lee Whitney (comandante Rand) aparecem como convidados para um episódio que comemorava os trinta anos de Jornada. Nichelle Nichols (Uhura) também havia sido convidada para participar, mas, como seu papel era muito pequeno, a atriz não topou.

int.jpg (476 bytes) Tuvok tinha 29 anos quando embarcou em sua primeira missão pela Frota, e abandonou a carreira no mesmo ano. Seis anos mais tarde, depois de passar pelo ritual do Kolinahr, atravessou o Pon Farr (referência: Série Clássica, "Amok Time"), tomando T'Pel como parceira. Só regressaria à Frota aos 79. Com base nos dados apresentados, o Vulcano teria 109 anos de idade. Porém, no episódio "Fury", do sexto ano de Voyager, Janeway descobre a data de seu aniversário e brinca: "Não falta muito para chegar aos três grandes dígitos, hein?".

int.jpg (476 bytes) Em entrevista na época das filmagens, perguntaram a Tim Russ como ele conseguiu equilibrar o bloco do cathera com os olhos fechados em "Flashback". O ator respondeu: "Com cerca de seis tomadas."

int.jpg (476 bytes) David Stipes (supervisor de efeitos visuais de DS9) comentou a aparição da Excelsior no episódio. "As Excelsiors usadas em Voyager ('Flashback') e Deep Space Nine ('A Call to Arms') não são CGI. É um modelo de 90 cm construído por Greg Jein para 'Flashback'."



Ficha técnica:

Escrito por Brannon Braga
Direção de David Livingston
Exibido em 11/09/1996
Produção: 045

Elenco:

Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B'Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Jennifer Lien como Kes
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Garrett Wang como Harry Kim

Elenco convidado:

George Takei como Hikaru Sulu
Grace Lee Whitney
como Janice Rand
Michael Ansara
como Kang
Jeremy Roberts
como Valtane
Boris Krutonog
como Piloto

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