Voyager
Temporada 4

Análise do episódio por
Daniel Sasaki



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Chakotay é envolvido em conspiração para lutar em guerra alienígena

Episódio anterior   |   Próximo episódio

Sinopse:

Data Estelar: 51082.4.

Durante uma missão de pesquisa, Chakotay é atacado e tem que efetuar um transporte de emergência antes de perder sua nave auxiliar. Ele chega em um planeta cujos habitantes enfrentam uma guerra brutal e é achado pelos Vori, um grupo de humanóides que lutam contra os sanguinários Kradin. Enquanto procura pelos destroços de sua nave, Chakotay e um jovem soldado são atacados pelos Kradin. O Vori morre.

Voltando ao acampamento, Chakotay e os outros partem para encontrar um grupo ainda maior de soldados, mas, no caminho, descobrem que esse grupo foi massacrado. De repente, os Kradin aparecem e muitos Vori perdem a vida na zona de batalha. Chakotay se fere, mas consegue escapar na escuridão da noite. Finamente, encontra um assentamento civil e desmaia.

Na Voyager, a tripulação descobre que os destroços da nave auxiliar foram encontrados na zona de guerra. A tripulação não pode contatar Chakotay, mas recebe a promessa de um embaixador do planeta de que ele será encontrado e resgatado. Quando o primeiro-oficial acorda, os Vori do assentamento lhe dizem onde encontrará equipamento com o qual poderá se comunicar com os colegas. Na manhã seguinte, ele parte, mas o som de aviões inimigos o faz voltar. Ele vê que os Kradin estão levando os Vori à força. Ao descobrir que o inimigo pretende exterminar os idosos, Chakotay tenta lutar, mas perde. Enquanto isso, Janeway se encontra com o embaixador Kradin, que envia uma unidade militar para acompanhar Tuvok na procura por Chakotay.

Largado na mata para morrer, Chakotay é encontrado por um soldado Vori, que o liberta. Os dois se juntam para lutar contra os Kradin, mas Chakotay se assusta quando um dos inimigos o chama pelo nome. Embora pareça Kradin, o alienígena assegura que, na verdade, é Tuvok. O Vulcano explica que os Vori vinham usando técnicas de controle mental para recrutá-lo para a guerra. Seus encontros com os soldados e os civis eram, na verdade, simulações para ensiná-lo a odiar os Kradin. Embora descubra que, na verdade, os Vori é que são os vilões, Chakotay não consegue deixar de odiar o antigo inimigo facilmente.

 

Comentários:

Este é um episódios de altos e baixos. Há quem o elogie como um todo, mas, para este comentarista, o que vale são alguns momentos isolados de força. Aqui, o inofensivo primeiro-oficial tem seus valores pacifistas desafiados por uma situação extrema. Ele está preso em uma floresta com soldados que lhe contam todos os horrores praticados por seus inimigos.

Vamos à crítica inicial: perde-se outra nave auxiliar. É a terceira em quatro episódios desta temporada. Desnecessário comentar o clichê com o qual se explica a perda. Mas fica a dúvida: será que o fã deve deduzir que a tripulação da Voyager descobriu um meio de construir naves auxiliares do zero?

O ponto alto do roteiro são os personagens Vori. Há histórias convinventes de perdas familiares, atrocidades cometidas pelo inimigo, sofrimento. Há a garota que fala sobre o irmão mais velho. Há o extermínio dos idosos. Há o desprezo pela vida. O telespectador consegue entender por que Chakotay se sensibiliza com a causa Vori e passa a odiar os Kradin. A maior atrocidade dos "nêmeses" parece ser a violação dos cadáveres. A crença dos Vori exige que os mortos sejam deitados com os rostos virados para o chão, para que possam ver o caminho para a vida eterna. Mas o Kradin têm a prática de amarrar os soldados capturados e deixá-los para morrer com o rosto virado para o sol. Pura crueldade.

É interessante a trilha por que segue o tormento emocional de Chakotay. Ele começa a história dizendo aos Vori que a coisa mais difícil que já fez foi matar, mas termina disparando às cegas, na tentativa de eliminar o máximo de Kradin possível. Fica evidente que a Federação não é composta de santos e seres iluminados. Já dizia Odo, em "The Collaborator", de Deep Space Nine, que até as melhores pessoas são capazes de coisas terríveis em situações difíceis. "Nemesis" corrobora a afirmação.

Até mesmo visualmente, os Kradin parecem criaturas feias e hostis. Os Vori, por outro lado, assemelham-se aos humanos. Os roteiristas com certeza conseguiram manipular e surpreender: a história o tempo todo conta a versão dos Vori, que narra os Kradin como os vilões, bestas. O discurso é óbvio, mas funciona: somos mais simpáticos às pessoas com as quais nos assemelhamos e tendemos a odiar o diferente. Pura metáfora do preconceito.

O final do episódio é que mostra, sem pieguice, quão fraca e desorientada essa postura é. Foram os Kradin os únicos a se colocar à disposição da Voyager. Por outro lado, apesar de aparentarem fracos e sofridos, os Vori que Chakotay conheceu e passou a gostar, na verdade, não passam de uma armadilha simulada, projetada para transformá-lo em um matador eficiente. Conforme "Nemesis" demonstra, o ódio é um motivador eficaz para estimular a dedicação e convicção de soldados.

Sem entrar no mérito da questão da Primeira Diretriz, a chave do segmento é a transformação de Chakotay em um homem de ódio. A cena final é muito boa. Mesmo após a revelação da verdade, o primeiro-oficial não consegue olhar o embaixador Kradin nos olhos, nem dirigir-lhe a palavra. É muito mais fácil aprender a odiar do que deixar de odiar.

Enfim, é preciso um certo tempo para digerir a história. Talvez, assisti-la mais de uma vez, pois o ritmo não ajuda muito. Mas, no final, o episódio traz alguns discursos valiosos.

 

Citações:

Janeway - "No evidence of cellular residue on the shuttle wreckage. So, there's a chance Chakotay survived the crash."
("Nenhuma evidência de resíduo celular nos destroços da nave auxiliar. Então, há uma chance de Chakotay ter sobrevivido à queda.")
Paris - "Unfortunately, the wreckage was found inside enemy territory."
("Infelizmente, os destroços foram encontrados dentro do território inimigo.")
Tuvok - "So, there's also a chance he's been captured or killed by the Nemesis."
("Então, também há uma chance de ele ter sido capturado ou morto pelos Nêmesis.")
Paris - "There you go looking on the bright side again, Tuvok." 
("Aí vem você de novo olhando o lado positivo, Tuvok.")

Chakotay - "I wish it were as easy to stop hating, as it was to start."
("Queria que fosse tão fácil deixar de odiar, como o foi começar.")

Trivia:

"Nemesis" é, também, o nome do décimo filme de Jornada no cinema.

Jeri Ryan (Seven) não aparece no episódio porque a produção foi concluída ainda na terceira temporada.

 

Ficha técnica:

Roteiro de Kenneth Biller
Direção de Alexander Singer
Exibido em 24/09/1997
Produção: 072

Elenco:

Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B'Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Ethan Phillips
como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Jeri Ryan
como Seven of Nine
Garrett Wang como Harry Kim

Elenco convidado:

Nathan Anderson como Namon
Booth Colman
como Penno
Pancho Demmings
como Soldado Kradin
Terrance Evans
como Embaixador Treen
Marilyn Fox
como Mulher Vori
Matt E. Levin
como Rafin
Michael Mahonen
como Brone
Meghan Murphy
como Karya
Peter Vogt
como Comandante

Episódio anterior   |   Próximo episódio