Folha de S.Paulo
13 de agosto de 2005

Rumo ao infinito investiga a saga da conquista do céu

Ensaio aborda o turismo e a
colonização no espaço e o uso de robôs

FLÁVIO DE CARVALHO SERPA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para que serve a exploração espacial? Um dos principais motivos levantados pelo jornalista Salvador Nogueira, repórter da Folha, em seu primeiro livro, Rumo ao Infinito, é a possibilidade de a humanidade safar-se da extinção como a que vitimou os dinossauros, fritados e depois congelados pelo impacto de um grande meteoro há 60 milhões de anos. Nogueira vai além do final feliz hollywoodiano dos filmes "Impacto Profundo" e "Armagedon". Detonar bombas atômicas em meteoros na rota de colisão com a Terra pode não ser uma idéia tão boa como parece à primeira vista.

Metodicamente o autor arrola outras soluções científica e tecnicamente possíveis, como, por exemplo, pintar de branco um dos lados do meteoro para que a pressão da luz solar desestabilize a órbita do perigoso projétil. OK, Hollywood não filmaria um roteiro com Bruce Willis empunhando uma broxa para caiar pacientemente o pedregulho estelar em vez de arrebentar-se numa explosão gloriosa. Mas a opção, factível, está registrada em Rumo ao Infinito, para os apaixonados por essas minúcias.

Trata-se de uma obra de divulgação da saga da conquista humana do céu, alimentada não só pelos livros mas também por muitas entrevistas e contatos pessoais do autor com cientistas que protagonizam essa história em andamento. Salvador questiona apaixonadamente as argumentações de que a exploração espacial seria um desperdício para um planeta faminto. Ele compara os gastos anuais da exploração espacial com o dinheiro envolvido no futebol, "uma atividade não raro violenta e causadora de mortes". Mas esse pequeno esquerdismo, perdoável na primeira obra de um escritor jovem e empolgado, é fartamente compensado pela discussão de questões importantes.

A iniciativa privada, impulsionada pelo milionário turismo espacial, vai baixar os custos e renovar a tecnologia das viagens espaciais? Os robôs seriam melhor do que os humanos na exploração planetária? É possível construir um ecossistema artificial, uma agricultura espacial capaz de sustentar a vida nas longas viagens de colonização? A humanidade está mesmo fadada a se tornar uma civilização galáctica como em Star Trek?

As respostas a essas questões discutidas por Nogueira convenceram plenamente o tenente-coronel da Força Aérea Brasileira, Marcos César Pontes, que treina desde 1998 na NASA para ser o primeiro astronauta brasileiro. Um dia Pontes estava no terminal de espera do aeroporto internacional de Houston, no Texas, abatido e desanimado com a falta de verbas do governo brasileiro para patrocinar sua viagem à estação espacial internacional. Foi quando começou a ler as provas do Rumo ao infinito. No prefácio que fez para o livro de Salvador, ele confessa ter ficado tão entretido na leitura que quase perdeu o vôo de volta o Brasil. "Aquelas páginas recheadas de energia, otimismo reacenderam minha motivação", testemunha nosso futuro astronauta.

Flávio de Carvalho Serpa é jornalista