ESPECIAL: “THE PORTHOS’ LOG”

Os dois episódios retratados neste “log” tem bastante em comum. Ambos são arrastados, tediosos, com tramas INACREDITAVELMENTE pouco imaginativas e recicladas. “Unexpected” ataca com um “high-concept” derivado de um filme RUIM de Arnold Schwarzenegger (que obviamente já não foi o primeiro do gênero) e consegue ser mais previsível e menos sensível que o original. “Terra Nova” recicla essencialmente TUDO. Entre os mais óbvios exemplos temos: “Miri” (incluindo uma referência visual que beira o ridículo), “Ensigns Of Command”, “Nemesis” e principalmente “Friendship One”

Com a total falta de originalidade e mesmo de ambição das premissas dos episódios, a sua única redenção poderia vir na forma de uma execução competente mas mesmo neste departamento a produção da série deixou a desejar. O visual dos Xyrilians e dos Novans é bastante ruim, os atores convidados foram péssimos (além do material fornecido não ajudar em nada), além do fato de que a maioria dos atores regulares de Enterprise continua devendo melhores atuações.

Talvez o problema mais grave, dentre todos os problemas de execução, seja que, de alguma forma, o formato de quatro atos (ao contrários dos cinco atos, comuns a todos as séries modernas de Jornada) de Enterprise, tem tornado os episódios extremamente lentos. Este é primariamente um problema de escrita que a direção e a edição dos episódios podem, no máximo, minimizar.

“Unexpected”

Desliguem os seus cérebros antes de assistir a este episódio. NADA aqui é pra ser levado a sério (por outro lado quase nada aqui tem graça, apesar da presença do “holodeck Xyriliano” ser humor involuntário para uma temporada inteira). Não esperem debates sobre bestialismo, estupro, manipulação de menores, aborto, guarda de filhos, responsabilidades paternas etc. Aparentemente a dupla B&B; acha que a audiência da série não está preparada para nada disto, aparentemente eles acreditam que os espectadores estejam mais interessados em “Engenheiros grávidos com mamilos nos pulsos”.

Como antevi alguns meses atrás (durante a série “Esperando Enterprise”), não se trata de uma real gravidez mas sim de uma espécie de infestação parasítica (e apesar disto ser absolutamente claro, Phlox, o MÉDICO PELO AMOR DE DEUS, dá os parabéns a Trip, só para acertar o tom do resto do episódio). Tal infestação parasítica é assemelhada a uma “gravidez”, pelo roteiro, só para que possamos “brincar com os hormônios de Trip e rir DA CARA DO CAIPIRA PRENHO SÔ!”. É incrível que Trip não tenha perguntado se esta era uma infestação “estilo Alien” em que a prole mata o hospedeiro ao nascer, apesar de tal omissão ser esperada de um típico episódio em que “nada significa coisa alguma”.

Pérolas:

Como diabos Trip vai saber alguma coisa sobre os motores de uma nave alienígena que ele nunca viu antes ? Não seria mais prático e mais seguro se Trip tivesse usado uma roupa de contenção ao invés de passar pelo ciclo de descompressão ? Como diabos estes Xyrilians não sabem sintetizar água ? (esta última vai para a história, como uma das maiores idiotices já apresentadas em um episódio de Jornada)

O visual dos Xyrilians é tão infeliz quanto o dos Sulibans, aqui temos uma variação de um “homem-peixe” de um típico “filme B”, com direito a “comida crescendo nas paredes”, “grama crescendo no chão” e “pedrinhas telepáticas”. A reação de Ah’Len ao saber do resultado do seu “encontro” com Trip – “eu não sabia que isto poderia acontecer com outras espécies” – coloca os Xyrilians facilmente entre os mais estúpidos alienígenas da história de Jornada, ao lado de pérolas como os Pakleds e os “seres batatinha” (do episódio “Tinker, Tenor, Doctor, Spy” de Voyager)

PREQUEL PATROL: a dupla B&B; introduziu um HOLODECK no QUINTO episódio da série (façam as suas apostas para o primeiro episódio envolvendo viagem no tempo) e o “tradutor universal invisível” voltou com força total nas cenas entre Trip e Ah’Len.

A chegada dos Klingons mais caricatos (e mal atuados) da história de Jornada, só serviu para cumprir a “cota de ação da semana”(TM). Fazer da nave deles uma literal “D7” foi outro mal passo dos produtores. O fato destes Klingons se interessarem pelo “holodeck” e não pelo “dispositivo de camuflagem” dos Xyrilians, só faz atestar a limitação das suas faculdades intelectuais. O “eu posso ver a minha casa daqui”, do comandante Klingon, foi idiota, pra dizer o mínimo.

Alguns anos atrás, Braga ridicularizou um jovem escritor que tentava vender uma história que era essencialmente a de “Unexpected”. O que mudou ? Por que agora a “gravidez-masculina-com-influência-alienígena” pode ser levada a produção ?

Recomendação:

“Terra Nova”

“Terra Nova” é uma das mais lentas, tediosas e chatas horas de TV que eu já vi. O fundo do poço da série até o momento. Archer, principalmente, se apresenta de forma patética com pouca noção do que fazer e Bakula faz o seu pior trabalho até agora na série (PRA LÁ DE OVER!) e o mais trágico é que mais de uma vez tive a impressão que ele achou que estava “abafando”. Archer arriscou a vida de Reed de uma forma bastante irresponsável (sem contar com a dele e a de Phlox) e o mais interessante é que ninguém reclamou.

Para terminar, temos uma cena de ação TOTALMENTE artificial (OBVIAMENTE para satisfazer alguma espécie de quota de ação dos produtores) em que a nave auxiliar é tragada pelo terreno (devido a um deslizamento) e Archer e o filho de Nadet tem que “se unir” para salvar um outro Novan (convenientemente acidentado e justo o outro único Novan com partes faladas no episódio). O curioso é que tal sequência de ação não serve aos propósitos de Archer e é Nadet que (conseguindo se lembrar da época em que tinha 5 anos de idade) é que convence os outros colonos a fazer o reassentamento.

Quando será que Enteprise vai apresentar alguma questão REALMENTE difícil e sem soluções fáceis ? Suponham o seguinte cenário alternativo: se Archer tivesse que escolher entre hipnotizar Nadet (o que seria MUITO fácil devido a profunda ignorância dos Novans), para que ela fizesse exatamente o que acabou fazendo ao final do episódio, ou deixar os Novans para morte certa, o que ele escolheria ? Como ele viveria com a sua escolha ? Eu gostaria muito de saber tais respostas mas parece que tal atitude vai ser bem rara em Enterprise. É uma pena.

Pérolas:

Por que os colonos originais não iriam querer uma segunda leva de colonos ? Como DIABOS os colonos puderam conceber que a terra seria capaz de atacar a colônia devido a tal recusa ? Com que arma a terra atacaria Terra Nova ? (vai um “Trans-Warp-Warhead” ai gente ?) Como os colonos puderam confundir o impacto de um asteróide com uma ataque da terra ? (eles tinham estações de rastreamento operacionais, pois ameaçaram abrir fogo contra quem entrasse em órbita)

Onde foram parar os corpos dos colonos originais ? Como as crianças sobreviveram sozinhas no planeta ? Como as metralhadoras e a munição dos colonos permaneceram funcionais por 70 anos ?

Mas a coisa que mais me choca neste episódio é o fato da terra não ter pedido ajuda humanitária aos Vulcanos, para verificar o estado da colônia. Muitas vidas teriam sido salvas. Não sei se o que incomoda mais neste caso. Se é o INFINITO ORGULHO dos humanos ou é a (deliberadamente) mal explicada noção de que “um preço alto teria que ser pago aos Vulcanos mais tarde” (será que estes Vulcanos de Enteprise são uma mutação dos Vortas é ninguem me avisou nada?). O curioso é que na conversa entre T’Pol e Archer sobre a relocação dos colonos parece haver alguma idéia (mal escrita se foi intencional) de certos paralelos entre a situação envolvendo os humanos e os Novans e os Vulcanos e os humanos (fica a menção mas eu acho que foi não-intencional).

PREQUEL PATROL: é estabelecido neste episódio que 70 anos antes de Enterprise já existia alguma forma de comunicação “instantânea” mais rápida que a velocidade da luz.

O episódio parece um veículo para Mayweather que foi rescrito para Archer. As cenas de abertura e especialmente as de fechamento apontam claramente nesta direção, entretanto Mayweather não fez rigorosamente NADA para “resolver o mistério de Terra Nova” (aliás que mistério chinfrim). O curioso é que Archer durante todo o episódio parece extremamente agitado, nervoso e sem saber muito bem o que fazer, de fato T’Pol e Phlox demonstram seguidamente muito mais lucidez, objetividade e jogo de cintura do que Archer. De fato ele parece muito mais um alferes do que um capitão pra mim.

Como será que eles tiraram a nave auxiliar daquele buraco ? Eu espero que eles tenham tirado é claro.

Recomendação:

(Agradecimentos especiaiso: Ao Alfredo e a toda a Méier-Borg-Net pelo empréstimo dos episódios aqui comentados!)