Prólogo

Se ao fim do jogo as coisas boas chegam a um fim, sempre importante é lembrar o que você deixa para trás.

Timothy Duke pensava nisto enquanto ficava sentado em sua cadeira no Plenário Principal do Conselho da Federação. O grande salão estava vazio no momento, pois a sessão do dia já havia terminado um par de horas antes. Contudo, ele havia decidido voltar ali para aproveitar a imensidão do recinto e o vazio do momento para refletir um pouco.

Ele ficava girando levemente para a esquerda e para a direita a confortável cadeira, enquanto observava o palanque principal, com a mesa principal do Conselho, logo abaixo de um grande brasão da Federação, e à frente dos dois grupos de cadeiras dos embaixadores dos planetas-membros, cada grupo com cerca de 75 assentos, separados por um corredor central. A sua cadeira de representante da Terra ficava à frente do grupo da direita de quem vinha pelo corredor na direção da mesa do Conselho, logo ao lado da do embaixador Vulcano e os demais sistemas fundadores, Alfa Centauri, Andor e Tellar. Havia ainda a área com os assentos das delegações observadoras, ocupadas normalmente pelos embaixadores de várias espécies não-membros da UFP. E, mais acima, estava o balcão com os assentos reservados para o público e a imprensa.

Sem dúvida era um recinto tão belo quanto imponente. Desde sua inauguração, o local havia passado basicamente por modificações cosméticas e atualizações tecnológicas, e assim não era muito diferente daquele no qual ele entrara pela primeira vez em sua vida, várias décadas antes, e algum tempo mais tarde já como Embaixador da Terra.

Mas e quanto à sociedade a que pertencia este recinto? Ah, esta havia passado por muitas mudanças, disto ele não tinha a menor dúvida. Da mesma maneira, ele havia mudado. Isto é o que o levava a pensar em coisas boas e ruins, em começos e finais. Talvez também fosse o fato de haver uma eleição à frente, para dali a cerca de quatro meses, na data estelar 54600.0. E será uma eleição que iria ser travada entre eleitores aliviados e alegres de serem a parte vencedora no pós-guerra, mas também eleitores mais cínicos e endurecidos por todas estas últimas crises enfrentadas pela Federação.

Ainda que este próximo pleito não incluísse o de Presidente da Federação, estas seriam eleições importantes, com 38 dos 150 planetas-membros escolhendo seus Embaixadores no Conselho da Federação, o mais importante dos cargos em disputa, além de diversos cargos locais particulares a cada membro. E a Terra era um destes membros aonde haveria eleições. Portanto, a cadeira onde ele estava sentado neste momento será a que estará em disputa neste planeta. De fato, ele se encontra como membro do Conselho de uma Federação realmente diferente daquela de quinze anos antes, quando ele começou sua carreira de diplomata e membro do governo Federativo, após vários cargos políticos regionais na Terra e no governo regional da Lua.

Não que ele não se sinta confiante em sua possibilidade de reeleição, de modo algum. Contando com o apoio do Presidente Inyo e seu gabinete, e com os bons índices de popularidade que tem mantido, deve ser uma eleição tranqüila. Tem havido muitas críticas recentemente de diversos setores de oposição, mas nada que assuste. Embora ele deva concordar que estes não têm sido tempos fáceis para a Federação ultimamente. Realmente não é tarefa simples governar uma sociedade democrática com quase um trilhão de habitantes de dezenas de espécies diferentes, espalhados por 150 sistemas membros. Sempre há crises para se enfrentar, sejam de natureza científica, econômica, política ou social, e ultimamente um bom número delas ocorreu.

Como as tensões com a União Cardassiana nas últimas duas décadas, por exemplo. Depois de anos de escaramuças com esta espécie, uma frágil paz foi estabelecida ao se demarcar uma Zona Desmilitarizada entre a fronteira da Federação e Cardássia. A fronteira foi redesenhada, e alguns sistemas trocaram de lado. Não foi uma decisão fácil, e ele ainda pode lembrar dos inúmeros compromissos políticos que teve que negociar para que o Conselho aprovasse o tratado. Afinal de contas, havia algumas particularidades de direito interplanetário em jogo. Foi particularmente difícil para eles convencerem os representantes dos sistemas próximos à fronteira Cardassiana, mas no final o grupo dele e Inyo conseguiram uma margem pequena, mas segura. O tratado foi aprovado pelo Conselho e foi ratificado pelos Cardassianos. Com isto, todos esperavam que estes arranjos de umas poucas colônias fossem um preço pequeno a se pagar por uma duradoura paz.

Mas foi o que aconteceu? Bem sabia ele que não. Na realidade, isto veio a criar um problema adicional. Muitos colonos da Federação se recusaram a serem realocados de suas colônias que repentinamente passaram a estar do lado Cardassiano da ZDM. Acreditando que a Federação os abandonara, muitos deles se juntaram em um grupo chamado Maquis, para defenderem a si mesmos de agressões Cardassianas. Civis, ex-oficiais da Frota Estelar e até mesmo mercenários e todo tipo de escória que se pode encontrar nas fronteiras acabou se juntando às diversas células Maquis. Vários deles estavam lutando pelo direito de viver em paz em suas terras, enquanto outros procuravam uma boa oportunidade de lucro ou mesmo uma boa briga.

As operações das células Maquis logo começaram uma guerrilha contra a presença Cardassiana naquela região, e o movimento Maquis tornou-se rapidamente uma ameaça tanto para os Cardassianos como para nossa própria sociedade. Diversas células de operações passaram a agir com tanta truculência e insanidade quanto os agressores Cardassianos que eles enfrentavam. Todo este conflito viria a se prolongar até o momento em que Cardássia se juntou ao Dominion, e então os Maquis remanescentes foram derrotados ou se voltaram para a Federação, para se render pacificamente. Em vista do tratado com Cardássia ter ruído por completo, um grupo de embaixadores propôs uma anistia irrestrita a todos os ex-maquis, mas ele, tendo o apoio do Comando da Frota, conseguiu revisar este projeto para uma anistia individualizada e gradativa, para que eventuais crimes e excessos de maquis individuais não recebessem o mesmo benefício da anistia para quem de fato a merecia. O Conselho acabou votando por uma versão mista de ambas as propostas, e pouco a pouco os ex-maquis foram sendo recebidos de volta na sociedade. Afinal de contas, pensava o Embaixador, as suas razões ideológicas nunca foram realmente muito profundas. Mesmo os maquis mais apaixonados por suas supostas causas não acreditavam nelas de longa data – eles apenas passaram a pensar daquela forma depois que as políticas federativas, que tanto lhes serviram bem, pararam de servir. Só então eles bolaram algum verniz ideológico para tentar justificar seus atos.

E sim, claro... o Dominion. Talvez um dos mais duros adversários que a Federação enfrentou nos últimos tempos. Graças ao buraco de verme Bajoriano, que deu acesso a uma área do outro lado da galáxia, no quadrante Gama, a Federação conheceu esta organização. Trata-se de um vasto império controlado por uma espécie de seres transmorfos, conhecido como os Fundadores. Eles controlam o Dominion com mão-de-ferro, valendo-se para isto de uma outra espécie, os Vortas, que servem como seus lugar-tenentes na administração do Dominion. Vortas são geneticamente construídos para ter devoção e lealdades divinas aos Fundadores, da mesma maneira que os Jem'Hadars, a espécie que é o braço militar do Dominion. Jem'Hadar são humanóides criados geneticamente com o único e solene propósito de servir como soldados. Eles não precisam dormir, não precisam se alimentar, não têm nenhum tipo de diversão ou qualquer outra atividade que não a de ser os melhores e mais sanguinários soldados possíveis, equipados como uma impressionante tecnologia militar. A única coisa de que precisam é uma droga que consomem, cujo fornecimento é mantido sob controle dos Vortas e Fundadores, para manter os soldados Jem'Hadar sob rígido controle. Além destas espécies, o Dominion também é composto por inúmeras espécies do quadrante Gama, que são mantidas sob o julgo dos Fundadores desde que o Dominion foi fundado, cerca de 10 mil anos terrestres atrás.

A tripulação da Deep Space Nine, a estação espacial que está instalada na entrada do buraco de verme, foi quem realizou o Primeiro Contato. O Dominion considerava as várias naves vindas do quadrante Alfa através do buraco de verme como uma violação de seu território, e isto obviamente colaborou para que aquele fosse um primeiro contato sem dúvida alguma nada agradável, pois logo se seguiram conflitos com os Jem'Hadars, e mesmo a USS Odissey foi destruída no primeiro encontro formal... uma nave da classe Galaxy, nada menos. Mais de mil vidas perdidas.

Seguiu-se então um período de guerra fria entre os vários poderes do quadrante Alfa e Beta e o Dominion, que se tornou muito interessado em expandir sua influência também para esta parte da galáxia. Isto obviamente tinha muito a ver com a maneira com que os Fundadores viam quaisquer outras espécies de vida "sólidas", não-transmorfas: todos seres inferiores, que não merecem respeito ou confiança. Apesar disto, a tripulação da DS9 podia contar com Odo, um transmorfo que fora encontrado cerca de 30 anos atrás no sistema Bajoriano, e que desde aquela época viveu entre sólidos, fossem eles os Bajorianos ou os Cardassianos, que ocupavam Bajor. Odo conseguiu com o tempo o respeito de ambas as partes em seu trabalho de chefe de segurança da então Terok Nor, como era conhecida a estação espacial durante a ocupação Cardassiana, e mais tarde continuou com o mesmo cargo na agora DS9 sob administração Federativa.

O surgimento da ameaça Dominion sem dúvida alguma mexeu com a balança de poder neste quadrante desde então. Um clima de paranóia e desconfiança se alastrou, com o temor de que Fundadores podiam tomar o lugar de líderes políticos e militares de qualquer espécie. O clima de desconfiança foi tão grande que gerou problemas internos até mesmo na Federação, quando o Almirante Leyton tentou militarizar o controle sob a capital da Federação, após a presença de um Fundador ter sido detectada na Terra. Ele mesmo, bem como seus colegas diplomatas, políticos e outros altos oficiais da Federação, teve que passar por testes de sangue para provar sua identidade. O Conselho foi inundado de protestos dos mais diversos setores da Federação, sobretudo de organizações locais da Terra e da Assembléia Geral, que acusavam o Conselho da Federação de estar tomando as rédeas da crise sem sequer consultar os governadores locais e seus representantes na Assembléia Geral. Sendo o representante do planeta no legislativo da Federação, coube a Duke ser o elo de ligação entre o governo federativo e as lideranças regionais. Ele ainda se lembra das inúmeras reuniões e encontros que teve com diversos presidentes e governadores, para garantir que todas aquelas medidas eram para garantir a segurança do planeta.

Mas uma infiltração de alto nível por parte de um Fundador de fato não tardou a acontecer. Desconfiado de que o governo Cardassiano estava sob controle Dominion através de Fundadores infiltrados, o Império Klingon invadiu a União Cardassiana. Rapidamente a Federação condenou a invasão, e isto acabou resultando no rompimento do Acordo de Khitomer, e nos vimos novamente em guerra contra os Klingons. Isso era exatamente o tipo de coisa que os Fundadores queriam. Uma espécie do quadrante Alfa lutando contra a outra, até que com o tempo todos se destruíssem mutuamente, e o Dominion pudesse fazer seu movimento. Dividir para conquistar. Óbvio, mas eficiente.

Mas, ao contrário do que os Klingons pensavam, não eram os Cardassianos que estavam sofrendo influência Dominion, mas sim os próprios Klingons. Um Fundador havia tomado o lugar do General Martok, e este Fundador acabou conseguindo convencer o Chanceler Gowron a invadir Cardássia, usando o pretexto de eliminar a "infiltração Dominion", quando obviamente o que o falso Martok queria era que uma guerra com a Federação tivesse início. Toda esta trama só foi finalmente descoberta quando um grupo de oficiais da Frota Estelar, acompanhado por Odo, conseguiu se infiltrar em Qo'noS e desmascarar o falso Martok.

Mas o pior ainda estava por vir. Gul Dukat manteve conversações secretas com os Fundadores, e na data estelar 50564.2 Cardássia juntou-se ao Dominion. Uma gigantesca frota Dominion veio através do buraco de verme Bajoriano e rumou para Cardássia, onde Gul Dukat se autodeclarou o líder de toda a União Cardassiana.

Estes fatos encorajaram os Klingons a terminar de vez a insana escaramuça deles conosco, que estava sendo mantida em um cessar-fogo desde que o falso Martok e seu plano foram descobertos. Pois, com os reforços Jem'Hadars, os Cardassianos conseguiram expulsar todas as forças Klingons de seus territórios em menos de uma semana, e a frota Klingon em retirada teve que se reagrupar em DS9 para lamber as feridas. O comandante da estação, Capitão Sisko, então conseguiu convencer o Chanceler Gowron a restabelecer o Acordo de Khitomer, e nós aqui no Conselho ratificamos imediatamente. Mais uma vez, o Império Klingon e a Federação de Planetas Unidos tornaram-se aliados.

E então pouco tempo depois a guerra começou. As forças Dominion mantiveram uma pressão fortíssima no início, e sofremos pesadíssimas perdas, que fizeram com que a batalha de Wolf 359 empalidecesse em comparação. Vários territórios da Federação caíram nas mãos Dominion, e até mesmo vários planetas-membros como Betazed foram ocupados. Isto provocou uma onda de refugiados incalculável, e o Departamento do Interior viu-se com a tarefa de ter que alimentar e abrigar milhões de cidadãos federativos, fugidos dos setores ocupados.

Localizar planetas, classe M ou não, que pudessem receber todas estas pessoas não era o principal problema; o principal problema era criar condições habitáveis nestes planetas, não apenas para um grupo de colonos, mas sim para milhares de pessoas de uma vez. A logística que isto demandava era imensurável, e seria um projeto extremamente difícil mesmo em tempo de paz; a Federação estar em guerra somente aumentava um problema já grave. Não foram poucas as noites que ele passou no Conselho, trabalhando para ajudar a gerenciar todo este esforço no front interno.

Além de vários planetas caírem nas mãos do Dominion, eles também conseguiram talvez o mais importante ponto estratégico da guerra, a Deep Space Nine, e conseguiram mantê-la sob seu controle por vários meses. Felizmente, a tripulação da Frota, antes de evacuar a estação, colocou um poderoso campo minado na entrada do buraco de verme, impedindo que o Dominion pudesse conseguir mais reforços do quadrante Gama. Eles conseguiram desativar o campo minado apenas alguns momentos antes da retomada de DS9, mas isto não lhes serviu de nada, pois o Capitão Sisko conseguiu convencer as entidades alienígenas que vivem no buraco de verme a não permitir que nenhuma nave Dominion o cruzasse. Com isto, a frota Dominion que estava vindo para o quadrante Alfa foi simplesmente "apagada da existência" pelos Profetas, que é como os Bajorianos se referem a estas entidades do buraco de verme. Certamente o papel de figura religiosa que Sisko representava para os Bajorianos acabou sendo de suprema importância. Duke não admirava em particular toda esta devoção religiosa dos Bajorianos aos alienígenas do buraco de verme, mas neste caso ele admitia que havia vantagens inegáveis para a Federação de considerar os Profetas ao menos como "aliados" no conflito.

Uma vez retomada DS9, conseguimos bons momentos em tomarmos a iniciativa dos combates, como quando atacamos importantes instalações militares do Dominion e ocupamos o sistema Cardassiano de Chin'toka. Ainda assim, foi importante também que o Império Romulano se juntasse a nós, pois ainda que eles estivessem se mantendo neutros no conflito, tinham com o irritante comportamento de permitir que naves Dominion cruzassem seu território para nos atacar. Realmente foi algo incrível, se pensarmos um pouco. Pela primeira vez, a Federação, os Klingons e os Romulanos eram aliados em uma guerra. Os fatos que levaram os Romulanos a tomar esta iniciativa são ainda incertos e inconclusivos. Sobre esta questão em particular, Duke sempre preferiu seguir o conselho de alguns de seus "informantes", de que era melhor que alguns segredos permanecessem desconhecidos.

Mas o Dominion também estava conseguindo aliados eles próprios. Em um movimento inesperado, ainda que não de todo surpreendente, os Breens se juntaram à causa Dominion. Não muito se conhece sobre esta espécie, e mesmo que as suas forças não fossem particularmente impressionantes, eles possuíam armamento que era devastador contra nossas naves e as dos Romulanos. Isso assegurou ao Dominion várias vitórias, além de ter sido o catalisador de um dos momentos mais dramáticos da guerra. Duke ainda podia lembrar de acordar no meio da noite e presenciar o inimaginável: um ataque à própria capital da Federação, a Terra. A Frota Estelar conseguiu dizimar as forças Breens que realizaram este ataque, mas o efeito moral de algo assim sempre é pesado.

Contudo, as naves Klingons tinham uma particularidade qualquer que as tornava imunes às armas Breens, e a mesma adaptação pôde ser feita nas naves da Frota Estelar e dos Romulanos depois que uma nave Jem´Hadar com armamento Breen foi capturada e estudada pelo corpo de engenharia da Deep Space Nine. Esta nave Jem´Hadar foi conseguida graças ao esforço de agentes Bajorianos e federativos em colaboração com elementos de um movimento de resistência Cardassiano, que começou a se opor ao Dominion. Esse movimento de resistência era liderado por Gul Damar, que antes era o CinC (comandante-em-chefe) das forças Cardassianas no Dominion.

O ponto decisivo da guerra veio quando o Dominion se viu forçado a fazer uma retirada de todas as suas forças para dentro do território Cardassiano. Eles planejavam montar uma forte defesa ali e ganhar tempo para se rearmar por mais alguns anos e planejar uma nova ofensiva. Mas este plano considerava que as Forças Aliadas ficariam de braços cruzados, aguardando um eventual contra-ataque Dominion, que seria devastador.

Bem, as Forças Aliadas não iriam colaborar com os planos Dominion. Todos concordavam que aquela era a chance que estavam esperando para pôr um fim à guerra, e uma ofensiva final contra Cardássia foi preparada. Vários colegas seus no Conselho protestaram contra a iniciativa da Frota Estelar de ter decidido este movimento final da guerra por si própria, mas ele havia argumentado a favor da Frota afirmando que naquele momento, timing era tudo. Uma oportunidade como aquela de encerrar de uma vez por todas a guerra podia não mais surgir. Centenas e centenas de naves foram juntas em uma maciça frota, que lançou um ataque final às forças Dominion em Cardássia. Para os dois lados, era o tudo ou nada.

A batalha foi feroz e custosa. Nossas forças lutavam bem contra os Jem'Hadars, Breens e Cardassianos, e tiveram ao longo da batalha a providencial ajuda do povo de Cardássia Prime, que se rebelou contra o Dominion e jogou o planeta no caos. A sangrenta reação das forças do Dominion, de começar a exterminar toda a população, fez com que a frota Cardassiana passasse para o lado dos aliados e atacasse as naves do Dominion e dos Breens. O peso da balança ficou a nosso favor e, depois que o Comando Central Cardassiano foi invadido por agentes dos aliados e a Fundadora em comando foi capturada, a batalha estava vencida. Odo conseguiu persuadir a Fundadora a se entregar, e a rendição incondicional das Forças Dominion no quadrante Alfa foi assinada na Deep Space Nine algum tempo depois. A rendição também deixou a União Cardassiana literalmente de joelhos, e certamente não mais uma ameaça para a Federação ou mesmo Bajor, ao menos por um bom tempo. Eles estavam pagando o preço de anos de sua política arrogante e expansionista, cujo ápice fora quando Gul Dukat fez Cardássia se juntar ao Dominion.

Mas agora toda esta guerra estava terminada. O Dominion foi expulso completamente de nosso quadrante, e a União Cardassiana estava agora ocupada pelas Forças Aliadas, e reconstruindo um governo civil. Chega a ser quase irônico. Cardássia se encontra atualmente em uma situação pior do que a em que deixou Bajor. Este fato se agrava mais ainda se levarmos em conta que o Estado Bajoriano é composto de apenas um sistema planetário, enquanto Cardássia é um vasto império. Contudo, se o novo governo de transição da União Cardassiana não conseguir se firmar e realizar uma administração de reconstrução, a coisa pode desandar rapidamente para uma guerra civil e o destroçamento da União Cardassiana.

E talvez haja uma chance também para o Dominion até mesmo mudar todo o seu conceito, com o retorno de Odo para o planeta dos Fundadores, no quadrante Gama. Ele teve um papel fundamental no decorrer de toda a guerra e conseguiu a rendição final da Fundadora. O julgamento dela e de outros criminosos de guerra ainda está em andamento, mas é bastante provável que ela teria sido muito menos colaborativa nisto se Odo não tivesse agido. Isso para não dizer que a vitória final teria sido ainda mais custosa.

Bem, mas tudo isso no final das contas sempre foram questões diplomáticas e políticas, é claro. Muitas raças com diferentes agendas, mas no final são sociedades humanóides com características gerais semelhantes às nossas próprias. A Federação sempre encontrou também outros tipos de problemas que são consideravelmente diferentes, mas também muito importantes. Catástrofes ambientais, anomalias espaciais, encontro com formas de vidas inteligentes bastante diferentes das do tipo humanóide, problemas no contínuo tempo-espaço... a lista é longa. E havia também civilizações com as quais não se podia ter relacionamentos convencionais, como os poderosos seres do contínuo Q e a coletividade Borg.

Ah, sim, o Borg. Desde que esta cibernética espécie foi apresentada para a tripulação da Enterprise por um dos membros do Q, os Borgs têm sido uma constante pedra no sapato de nossa civilização. A sua sociedade funciona como uma colônia de insetos, com bilhões de indivíduos ligados uns aos outros em uma consciência coletiva, cuja intenção principal é assimilar outras espécies à sua própria, na busca de uma perfeição utópica que jamais alcançarão, é claro. Pois, de nosso ponto de vista, não há nada de perfeito em relação aos Borgs. Uma pessoa é assimilada na sua coletividade ao custo de sua individualidade e direitos serem completamente esmagados, e você apenas se tornar uma pequena parte de um todo. Não se pode negociar com eles; não se pode confiar neles; não se pode dar as costas a eles. Eles são quase como uma força da natureza, mas uma que insiste em se virar especificamente contra sociedades avançadas.

Em duas ocasiões diferentes os Borgs tentaram assimilar a Federação, com ataques à Terra. Nas duas ocasiões, conseguimos sobrepujar os ataques, com a intervenção da mesma tripulação da Enterprise que os enfrentou pela primeira vez. Mas, se os relatos daquela nave da Federação perdida no quadrante Delta são precisos, fico até feliz que os Borgs tenham mandado apenas um cubo de cada vez quando fizeram seus ataques... pois toda a Coletividade Borg parece ter recursos inimagináveis, e praticamente todos voltados para a expansão de seus domínios. Realmente eles ainda devem trazer muitos desafios à Federação.

Há sempre diversas outras espécies com quem temos que lidar, mas não são desafios que nossas equipes de diplomatas e a Frota Estelar não possam dar conta. Os Tholianos andavam quietos, da mesma maneira que os Gorns e outras espécies menos poderosas... certamente todos ficaram no aguardo de a Guerra Dominion terminar, e verem qual seria o novo quadro político do quadrante.

Duke se levantou da cadeira, e atravessou parte do hall principal para finalmente parar à beira de uma seqüência de janelas, com a vista da baía de São Francisco, na capital da Federação. Não podemos esquecer nunca que todo tipo de impérios, alianças, coletividades e uniões nos cerca por todos os lados, o único grupo de povos desta região conhecida da galáxia a viver de fato em uma verdadeira democracia. Isto tem que ser mantido e preservado, ele pensou. Temos conseguido fazer isto por mais de duzentos anos, e precisamos estar fortes para agüentarmos muito mais.

A atenção dele foi desviada momentaneamente por um beep, indicando que o padd que segurava displicentemente por este tempo todo finalmente recebeu a informação que havia pedido. Duke ergueu o pequeno dispositivo, lendo a mensagem na pequena tela.

DEVEMOS CONSIDERAR "ALTAMENTE PROVÁVEL" A CANDIDATURA DE STEL.

Ele desviou novamente o olhar para a janela, observando por mais algum tempo o movimento de pessoas ali nas instalações do Conselho, bem como os eventuais shuttles que passavam aqui e ali pela área. Aquilo iria dificultar as coisas pelos próximos meses, mas ele já enfrentara momentos difíceis antes, como aqueles sobre os quais acabou de relembrar.

Sim, seriam difíceis, mas da mesma maneira interessantes.

 

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Earth, D.C.

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Epílogo