A Nova Geração
Temporada 1

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Manifesto de Jornada pelo sufrágio
universal não consegue superar o óbvio

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Sinopse:

Data Estelar: 41636.9.

Procurando sobreviventes de um cargueiro chamado Odin, desaparecido há sete anos, a Enterprise chega a Angel I, uma sociedade matriarcal na qual os homens são considerados uma forma de vida inferior. Riker sente-se deslocado quando Tasha e Troi assumem o contato diplomático, por serem mulheres. 

Os sobreviventes, todos homens, são localizados no planeta, mas recusam-se a voltar. Eles se casaram com mulheres de um grupo de renegados do planeta que discordam do papel submisso do homem naquela sociedade. 

Os renegados são descobertos e condenados à morte. Para salvá-los, Riker está disposto a violar a Primeira Diretriz e levá-los contra a vontade para a Enterprise. Mas a nave está infectada com um vírus alienígena trazido por um mau funcionamento do holodeck, e a doutora Crusher proíbe a volta de qualquer pessoa a bordo.

Para piorar a situação, a Frota Estelar exige a presença da Enterprise nas proximidades da Zona Neutra, pois os Romulanos estariam fazendo uma incursão por lá.

No fim das contas, a médica consegue a cura para a tripulação, e um discurso de Riker sobre a diferença entre revolução e evolução convence Beata, a líder de Angel I, a exilar os rebeldes em vez de sentenciá-los à morte.

 

Comentários:

"Angel One" é uma tentativa desajeitada de pregar a universalidade da igualdade de direitos entre os sexos. Infelizmente, o episódio não passa de um fracasso total.

Não porque sua causa seja injusta, ou porque o tema não permitisse um bom episódio, mas pelo simples fato de que ninguém na produção realmente entendeu a mensagem a ser passada. Colocando em termos simples, em vez de criar uma metáfora inteligente, mostrando um mundo efetivamente guiado pela personalidade feminina, eles apelaram para o óbvio, criando uma civilização à base de mulheres machonas.

Além de transformar a alegoria original do episódio na coisa mais óbvia possível, perderam uma excelente possibilidade de avaliar as reais diferenças entre homens e mulheres. Em vez de espelhar a situação das mulheres na Terra da primeira metade do século 20 para os homens em Angel I, não seria muito mais interessante se os homens fossem oprimidos por conjunturas legitimamente femininas?

Em vez de dizer que os homens não têm direito a voto, por que não dizer que naquela sociedade a política é considerada uma atividade menor, sendo o ambiente local muito mais ditado pela vida familiar?

Em vez de mostrar mulheres violentas e homens oprimidos pela agressividade feminina, por que não mostrar uma civilização em que os esportes competitivos são menos valorizados, e o grande entretenimento local é a reunião de grandes grupos em grande salões para debater os problemas do cotidiano e buscar o conforto de ter a quem falar sobre seus próprios problemas?

Embora seja também algo espinhoso de fazer sem correr o risco de novamente cair sobre estereótipos ou preconceitos, um mundo em que os homens se sentiriam oprimidos por serem mesmo homens, em vez de meramente pseudo-mulheres, certamente seria mais interessante. E ofenderia menos a inteligência do espectador com a apelação ao óbvio.

Além do problema conceitual do episódio, há os problemas de execução. Se em princípio a idéia já não era boa, em termos de roteiro, ficou pior ainda. Tudo se contorce para satisfazer os rumos da história, trazendo diversos absurdos patéticos.

Nesse saco de gatos estão a contaminação de toda a tripulação da Enterprise por um vírus criado pelo holodeck (!), a atitude totalmente anti-ética de Riker ao se envolver romanticamente com a líder do planeta, o comportamento imbecilizado de Tasha e Troi com relação ao comandante, que ficou mais idiota ainda, usando aquele ridículo vestuário local, a estúpida decisão de Ramsey e seus homens de optar pela morte em lugar de um refúgio seguro na Enterprise. Os exemplos pululam.

Por essas e outras, "Angel One" pode ser facilmente considerado um dos piores episódios da complicada primeira temporada da série. Não chega nem a valer uma reprise.

 

Citações:

Worf - "Klingons appreciate strong women."
("Klingons gostam de mulheres fortes.")

Ramsey - "You can't rescue a man from a place that he calls his home."
("Você não pode resgatar um homem de um lugar que ele chama de lar.")

Riker - "No power in the Universe can hope to stop the force of evolution. Be warned. The execution of Mister Ramsey and his followers may elevate them to the status of martyrs. Martyrs cannot be silenced." 
("Nennhum poder no Universo pode esperar parar a força da evolução. Esteja avisada. A execução do sr. Ramsey e seus seguidores pode elevá-los ao status de mártires. Mártires não podem ser calados.")

Trivia:

Neste episódio os Romulanos são citados na série pela primeira vez.

Herman Zimmerman, desenhista de produção da série, inteligentemente utilizou o cenário do laboratório do Dr. Soong mostrado no episódio anterior como outro cenário, mudando apenas algumas coisas.

O diretor deste episódio Michael Rodes, ganhador de quatro prêmios Emmy com a série "Insights", foi o primeiro diretor a dar para Wil Wheaton (Wesley Crusher) um papel principal. Foi em 1981, no programa na rede americana de televisão ABC "After School Special".

 

Ficha técnica:

Escrito por Patrick Barry
Direção de Michael Rhodes
Exibido em 25/01/1988
Produção: 015

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi
Wil Wheaton como Wesley Crusher
Denise Crosby como Natasha "Tasha" Yar

Elenco convidado:

Karen Montgomery como Beata
Sam Hennings como Ramsey
Patricia McPherson como Ariel
Leonard John Crowfoot como Trent

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