A Nova Geração
Temporada 6

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Worf tem 45 minutos só para ele, mas
não consegue aproveitar a oportunidade

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Sinopse:

Data Estelar: 46579.2.

Ainda preso no campo de concentração Romulano habitado por Klingons e tendo descoberto que seu pai está realmente morto, Worf pergunta a L'Kor e Gi'ral, os Klingons que lideram o grupo, como eles conseguem viver pacificamente como prisioneiros --a maior desgraça que pode acontecer a um guerreiro é ser capturado por seu inimigo.

Eles explicam que, depois que foram capturados, durante o massacre de Khitomer, os Romulanos os impediram de cometer suicídio. Algum tempo depois, os captores viram que seus prisioneiros de nada valiam e decidiram libertá-los. Entretanto, para não desonrar suas famílias, os Klingons optaram por permanecer isolados, alimentando em seus entes queridos a idéia de que eles haviam morrido heroicamente em batalha.

Mais tarde, Worf encontra Tokath, o líder Romulano, e é incapaz de entender por que ele forneceu esse lar pacífico para seus inimigos jurados, os Klingons. Worf descobre que não apenas os Romulanos vivem com os Klingon em harmonia ali, mas que Tokath chegou a se casar com uma mulher Klingon. O Romulano não está disposto a permitir que as idéias de Worf estraguem o ambiente pacífico que eles construíram ali e pede que o Klingon não teste sua tolerância.

Recusando-se a aceitar o modo de vida daquelas pessoas, Worf tenta fugir do complexo, mas é impedido. Ele fica mais surpreso ainda ao descobrir que quem o impediu de fugir foi Toq --um Klingon! Tokath decide então injetar em Worf um transponder que permita que eles monitorem sua posição o tempo todo e designa Toq para vigiá-lo.

Frustrado, Worf controla sua tensão ao executar um exercício antigo de arte marcial Klingon, atraindo a atenção de Toq, Ba'el e dos demais representantes da geração mais nova de Klingons daquele pequeno povoado. 

Worf vê a oportunidade de despertar nos Klingons um interesse por sua herança e cultura, algo que seus pais lhes haviam negado. Ele assume o papel de professor, contando as lendas e costumes com os quais cresceu. COnforme ele o faz, a atração física para com Ba'el fica mais forte. A mãe dela, Gi'ral, logo percebe e tenta desencorajar o relacionamento. Entretanto, justo quando ambos estão se entregando ao que sentiam, Worf vê que ela tem orelhas pontudas --ela é meio-Romulana. Isso faz com que Worf a rejeite, causando mal-estar entre os dois.

Enquanto isso, ele segue ensinando as tradições Klingons. Ele convida Toq para uma caçada. Após alguma argumentação, ele convence as autoridades a permitir que os dois saiam brevemente do complexo. Durante o jantar, Ba'el também ecoa os efeitos das idéias de Worf, ao perguntar a Tokath se ele autorizaria que ela deixasse o planeta, caso desejasse.

A tensão está no auge quando Toq entra na sala, carregando em triunfo um animal que ele matou durante a caçada. Ele agora parece um legítimo guerreiro Klingon e evoca todos a cantarem com ele uma velha canção de batalha. Enquanto todos os Klingons cantam, Tokath é puro descontentamento. Ao que parece, Worf já "contaminou" os Klingons do complexo. 

Tokath volta a confrontar Worf, argumentando que a perda das raízes é um preço pequeno a se pagar pela paz. Mas Worf discorda, e o Romulano dá a ele um ultimato. Ou ele aceita a vida naquela sociedade pacífica, ou será condenado à morte. Obviamente, Worf escolhe a segunda opção. Ba'el oferece a ele ajuda para fugir, mas Worf se recusa, determinado a enfrentar seu destino com honra.

Quando a execução está para acontecer, Toq se posta entre Worf e os executores Romulanos. Ele diz que se Worf vai morrer, ele também o fará. Um por um, os demais Klingons tomam seu lugar à frente de Worf e Toq. Quando a própria filha de Tokath, Ba'el, se junta ao grupo, Gi'ral convence o Romulano a desistir da execução.

Worf promete nunca revelar a localização daquele complexo e levar com ele de volta à Enterprise todos os Klingons que queiram deixar aquele lugar. Ba'el, sabendo que não seria aceita entre os Klingons por seu sangue Romulano, permanece no planeta com seus pais.

Ao voltar à Enterprise, Worf não revela a Picard a existência do campo, mas diz que os Klingons foram resgatados após um acidente com uma nave. O capitão entende que não é verdade, mas aceita manter o segredo de Worf.

 

Comentários:

Se a primeira parte de "Birthright" só era especial em razão da subtrama envolvendo Data e sua nova capacidade de sonhar, na restou para alimentar a conclusão do episódio duplo. Não há qualquer menção aos eventos relacionados ao andróide, nos deixando com a estranha sensação de que aquela história não tinha nada que estar alinhada com a trama de Worf no acampamento Klingon/Romulano.

O ponto fraco do episódio de abertura era justamente a trama de Worf. Ela perde totalmente o sentido a partir do momento em que o Klingon descobre que seu pai está mesmo morto, iniciando uma nova história para a segunda parte. Essa descontinuidade entre as duas partes nem é surpreendente, levando em conta que dois escritores diferentes engendraram cada um dos episódios (Brannon Braga cuidou da primeira parte, e René Echevarria da segunda). Mas é extremamente negativa.

Ademais, a própria narrativa envolvendo Worf e seus colegas Klingons é bem sonolenta. A discussão de princípios que envolve o episódio é até interessante, mas fica ofuscada pelo fato de que o Klingon não teria outra opção: independentemente do que ele pensava a respeito da "solução" de Tokath para estabelecer a convivência pacífica entre Klingons e Romulanos, ele precisaria provocar os Klingons para que eles procurassem suas raízes, para que ele mesmo pudesse escapar dali.

A contraposição de origens e sua perda em nome da paz poderia alimentar um debate interessante, mas acaba perdida na visão imutável de Worf. O Klingon em nenhum momento pára e pensa sobre o que Tokath conseguiu promover e sobre a possibilidade de isso ser de fato positivo. Perde-se uma chance de desenvolver um pouco mais o personagem, fazendo-o reagir sensivelmente àquela situação.

O mais perto que chegamos disso é quando Worf leva um tapa na cara de seu próprio preconceito, ao descobrir que Ba'el é meio-Romulana. Mas até isso acaba perdido em um roteiro que aposta totalmente na inflexibilidade e teimosia do Klingon da Enterprise. Em outros segmentos, como em "The Enemy", esse valor moral diferenciado de Worf jogou tremendamente a favor de seu personagem. Mas aqui, dado que estávamos falando só de Klingons, faltou um pouco de trabalho.

Não que Worf devesse realmente mudar de opinião e apoiar a iniciativa de Tokath. Mas ele deveria ao menos mostrar alguma hesitação, alguma dúvida sobre se ele estava fazendo o certo ou o errado. Com a ausência de dilema moral na cabeça de Worf, vão-se todas as chances de estabelecer um bom drama para a história.

Para completar a desgraça, o enredo é por demais vagaroso, e depende muito do próprio Worf para sobreviver. Deve ter sido a glória (e ao mesmo tempo o esgotamento) para Michael Dorn --ele aparece em pelo menos 90% das cenas do episódio. Sem dúvida, um tour de force. Mas infelizmente o roteiro não conseguiu traduzir em evolução para o personagem todo o tempo de tela que foi dado a ele.

Estando o problema na concepção original da história e em seu roteiro, não havia nada que os atores convidados pudessem fazer para ajudar, embora todos eles tenham feito um bom trabalho em seus respectivos papéis. No fundo, o episódio todo é um enorme marasmo. Não há muitas cenas ou momentos memoráveis para os personagens (ou para a audiência). Talvez a melhor cena seja a dos Klingons cantando, após Toq voltar da caçada.

Tecnicamente, o episódio até é bom, com o trabalho de cenografia qualificado para o complexo Romulano/Klingon (embora aparentando ser pequeno demais para abrigar todos os seus moradores), os belos aparatos Klingons enferrujados e o trabalho discreto e competente do diretor Dan Curry.

Aliás, discrição seria um bom modo de definir "Birthright" --um segmento totalmente esquecível, com sérios problemas de estruturação narrativa e uma grande oportunidade perdida de dar mais substância ao personagem de Worf, tão maltratado nas primeiras temporadas da série.

 

Citações:

Worf - "A place can be safe and still be a prison." 
("Um lugar pode ser seguro e ainda ser uma prisão.")

Worf - "A Klingon does not run away from his battles."
("Um Klingon não foge de suas batalhas.")

Trivia:

Este episódio foi o primeiro e único da série dirigido por Dan Curry, o supervisor de efeitos especiais da Nova Geração. "Fiquei muito feliz pela escolha de Dan, pois sempre gostei muito dele", diz Michael Dorn, o Worf. "É uma pessoa muito interessante e paciente", completa.

No áudio original, em inglês, é possível ouvir um erro de Patrick Stewart ao gravar o diário do capitão. Ele diz que a data estelar é 46759.2 ao invés da correta, 46579.2. A data estelar 46759.2 estaria entre os episódios 146 e 147. "Birthright, Part II" é o episódio 143.

Um mapa estelar que aparece durante o episódio mostra que uma das estrelas do setor em que está a Enterprise tem o nome de "Echevarria", que é o sobrenome do autor do episódio, René Echevarria.


Ficha técnica:

Escrito por René Echevarria
Direção de Dan Curry

Exibido em 01/03/1993
Produção: 143

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi

Elenco convidado:

Sterling Macer, Jr. como Toq
James Cromwell como Jaglom Shrek
Jennifer Gatti como Ba'el
Cristine Rose como Gi'ral
Alan Scarfe como Tokath
Richard Herd como L'kor

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