A Nova Geração
Temporada 4

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
História usa raça simbionte para propor
um dilema amoroso a Beverly Crusher

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Sinopse:

Data Estelar: 44821.3.

A doutora Beverly Crusher se envolve romanticamente com um embaixador Trill que está sendo levado pela Enterprise para mediar uma disputa no sistema Peliar. Conforme a nave se aproxima de seu destino, Riker é voluntário para conduzir uma nave auxiliar para levar o embaixador, Odan, a Peliar, para encontrar os representantes das luas Alfa e Beta, que estão prontas para entrar em guerra uma com a outra.

Logo após a partida de Riker e Odan, uma nave se aproxima e ataca a nave auxiliar, ferindo mortalmente o embaixador e obrigando Riker a conduzir o veículo de volta à Enterprise. Durante o atendimento médico de emergência, Beverly descobre que há um parasita em seu corpo. Quando ela faz menção de removê-lo, choca-se ao descobrir que Odan é o parasita, e aquele corpo um mero hospedeiro. O parasita, não o corpo, deve ser salvo.

Enquanto Beverly luta para aceitar o fato de que o homem atraente por quem ela se apaixonou é na verdade um pedaço inanimado de tecido, a Enterprise contata os Trills para requisitar um novo hospedeiro para Odan.

Infelizmente, a situação no sistema Peliar não pode esperar e exige a atenção imediata do embaixador. Com isso em mente, Riker se voluntaria para servir como um hospedeiro temporário para Odan, de forma que ele possa completar sua missão.

Beverly consegue transferir o simbionte para o corpo de Riker com sucesso, mas não consegue se acostumar a ver Odan como Riker, assim como é incapaz de se relacionar com ele amorosamente, como antes. Odan tristemente concorda em manter-se afastado se a presença dele causa dor à doutora.

Logo após a transferência, o corpo de Riker começa a sofrer danos severos, induzindo muita dor. Odan prossegue com a reunião de qualquer modo e descobre que o desconforto de Beverly com a noção de que ele ainda existe, dentro de Riker, é compartilhada pelos representantes das luas de Peliar. Eles suspeitam que o estranho cenário possa ser apenas uma farsa elaborada pela Frota Estelar para impor seus próprios interesses na crise de Peliar.

Por sorte, Odan é capaz de convencer o representante de Beta a aceitá-lo e continuar com as negociações, e o representante de Alfa concorda em ter uma resposta dentro de oito horas. No fim do dia, Beverly vai até os aposentos de Odan. Tomada pelo desejo, ela supera as dificuldades de aceitar a dualidade Odan/Riker e se entrega aos braços do amante.

Na manhã seguinte, enquanto se prepara para a mediação, Odan diz a Beverly que a presença dele tornou-se uma ameaça ao corpo de Riker e faz ela promoter que irá removê-lo logo após o encontro. A disputa é resolvida rapidamente, e Odan volta para a enfermaria para ser cirurgicamente removido do corpo de Riker.

A operação é um sucesso, mas a vida de Odan está em risco quando a nave com o novo hospedeiro Trill se atrasa para o encontro. A Enterprise dispara em dobra 9 para interceptar a nave e salvar o embaixador. Quando a situação já está no limite, Worf avisa a doutora que o novo hospedeiro já chegou --na verdade, uma hospedeira.

Após transferir Odan para o corpo da mulher, ela explica que não é capaz de se ajustar às constantes mudanças e incertezas envolvidas neste relacionamento, decidindo por encerrá-lo. Odan aceita sua decisão e, após uma troca de juras de amor, a agora embaixadora retorna a Trill.

 

Comentários:

"The Host" é um episódio que consegue ilustrar muito bem a diferença entre o estilo das primeiras temporadas e o aprimoramento dos anos subseqüentes. Fosse esta uma história do primeiro ano da série, com os mesmos elementos, o enfoque ficaria todo sobre a disputa entre Alfa e Beta (uma analogia clara com o problema contemporâneo do aquecimento global, que é causado majoritariamente pelos EUA e ironicamente será menos sentido por esse país) e toda uma ladainha se desenvolveria em torno dessa disputa, criando um episódio totalmente previsível.

Mudando o enfoque para os personagens, temos uma bonita história em torno da doutora Crusher, que usa o contexto do sistema Peliar apenas para fazer o enredo avançar, trazendo novos desenvolvimentos para o relacionamento entre Beverly e Odan.

É uma ocasião rara e digna de comemoração: as personagens femininas de A Nova Geração não costumam ter episódios tão bem escritos voltados para si --uma dificuldade crônica que perseguiu os produtores por toda a série. Aqui, o enredo leva Beverly a um nível novo, mostrando um pouco mais da recatada doutora.

A discussão proposta não é trivial, chegando até perto do homossexualismo (ponto que surge quando Odan é transferido para um corpo feminino), embora o tema só esteja sub-entendido na cabeça do espectador, mas não formalizado em nenhum diálogo (seguindo a linha "politicamente correta" que sempre permeou a Nova Geração).

Além disso, há potenciais "confrontos" na Enterprise, quando Crusher conta a Troi seu dilema sobre Riker, e Picard descobre que sua doutora favorita anda saindo com o embaixador Odan. Nesses momentos é que podemos sentir o verdadeiro senso de amizade e companheirismo entre os tripulantes da Enterprise --os barris de pólvora são evitados de forma tão honesta e viva que chegamos realmente a acreditar que o ser humano já está emocionalmente maduro no século 24.

Além do poder da própria história, outro elemento reforça sua capacidade de envolver o espectador --a música. Normalmente utilizada como mero pano de fundo para os episódios, a trilha sonora aqui contraria essa regra, ao estabelecer o tom de muitas das melhores cenas do segmento.

Por fim, vale uma nota sobre a primeira aparição dos Trills --totalmente incoerente com o que depois aprenderíamos sobre essa raça com Jadzia Dax em Deep Space Nine. As razões para as discrepâncias são óbvias: enquanto aqui os Trills são apenas um instrumento para criar o dilema na boa doutora, lá eles são um fim em si mesmo.

Por essa razão, os Trills ganham aspectos muito mais interessantes e coerentes a partir de Deep Space Nine (para não falar de uma maquiagem mais atraente e menos alienígenas). É uma pena que isso destrua um pouco da coerência e unidade dentro do universo fictício de Jornada. Mas como dizem por aí, "é só uma série de televisão"...

 

Citações:

Troi - "Beverly, you are in love."
("Beverly, você está amando.")
Beverly - "Sometimes I wish you weren't so... emphatic."
("Algumas vezes eu gostaria que você não fosse tão... empática.")

Trivia:

Este episódio apresenta os Trills, uma raça de seres que vive em simbiose com outro ser hospedeiro. Em Deep Space Nine, com a presença da Trill Jadzia (depois Ezri) Dax, essa raça seria plenamente desenvolvida para o público. A maquiagem dos Trills foi mudada em DS9, passando de uma testa estranha para agradáveis pintas ao longo da lateral do corpo.

O diretor deste episódio, Marvin V. Rush, é o diretor de fotografia da série desde a terceira temporada. Ele trabalhou na Nova Geração até o episódio 128, "Realm of Fear", do sexto ano, sendo depois substituído por Jonathan West. Segundo Marvin Rush, o maior problema que ele encontrou para dirigir este episódio foi o de disfarçar a gravidez de sete meses de Gates McFadden (Dra. Crusher). James Cleveland McFadden-Talbot nasceu alguns meses depois, no dia 10/06/1991, durante o período de intervalo entre as temporadas.

 

Ficha técnica:

Escrito por Michel Horvat
Direção de Marvin V. Rush

Exibido em 13/05/1991
Produção: 097

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi

Elenco convidado:

Barbara Tarbuck como a governadora Leka Trion
Nicole Orth-Pallavicini como Kareel
Wiliam Newman como Kalin Trose
Patti Yasutake como a enfermeira Alyssa Ogawa
Franc Luz como Odan

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