A Nova Geração
Temporada 6

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Abduções de relatos ufológicos não
fazem muito sucesso no século 24

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Sinopse:

Data Estelar: 46154.2.

A Enterprise está estudando o aglomerado globular Amargosa, um agrupamento estelar que ocupa uma vasta região do espaço. Para acelerar o trabalho de mapeamento, Geordi La Forge propõe uma mudança nos sistemas. Com a aprovação de Riker, ele redireciona a energia do motor de dobra para a grade do defletor principal, e a idéia parece funcionar, aumentando a potência dos sensores.

Após alguns minutos, entretanto, o plano parece dar errado, quando os sensores internos da nave indicam a ocorrência de uma explosão na Área de Carga. Quando Geordi, Data, Riker, Crusher e Worf correm para verificar, eles ficam impressionados ao descobrir que na verdade nada aconteceu. Ao que parece, não houve explosão, apenas uma falha dos sensores causada pelas modificações de Geordi.

Enquanto isso, vários tripulantes começam a experimentar estranhos sintomas. Riker luta contra uma exaustão cada vez pior, embora Beverly Crusher não detecte nada de errado com ele. Worf e Geordi sofrem dores agudas repentinas e ansiedade. Até Data experimenta uma estranha sensação, quando ele parece ter "perdido" uma hora e meia de sua vida, como se elas tivessem passado instantaneamente. Geordi percebe que todos que são afetados tiveram contato com a Área de Carga. Ele ordena uma investigação da causa e logo descobre uma estranha distorção subespacial naquele compartimento.

Data e Geordi relatam a Picard que as modificações feitas pelo engenheiro nos sistemas atraíram um feixe de partículas alienígena que não pode normalmente existir nesse Universo. Mais tarde, Geordi se junta a Worf e Riker para falar sobre as estranhas sensações, que parecem estar relacionadas a um fator comum a todos eles. Conversando com Troi, eles percebem que alguma experiência de seu passado parece estar os afetando. Todos se lembram de uma mesa, fria e dura.

O grupo vai ao holodeck, na esperança de que possam guiar o computador a reconstruir suas memórias por estímulos visuais. Conforme eles vão dando mais e mais detalhes ao computador, vai surgindo um equipamento que mais parece uma sinistra sala de operações.

Data informa a Picard que um nível intenso de tétrions está presente na nave estelar. Ainda mais perturbador, entretanto, é a descoberta do andróide de que ele de fato esteve fisicamente ausente da Enterprise por cerca de 90 minutos. Picard imediatamente pergunta ao computador se há membros da tripulação desaparecidos --há dois, sem relatos de onde eles podem ter ido.

O mistério se intensifica quando Beverly examina Riker e descobre que seu braço foi amputado e cirurgicamente reimplantado. Geordi e Data voltam à Área de Carga, onde os níveis de tétrions estão causando uma ruptura espacial. Mas antes que eles possam investigar mais, Picard e a tripulação descobrem que um dos tripulantes desaparecidos voltou à nave. Eles correm até seus aposentos, onde o homem, agonizando em dor, morre diante deles. Percebendo que ele pode ser o próximo, Riker é voluntário para usar um aparelho sinalizador que ajude a determinar para onde as vítimas estão sendo levadas.

Mais tarde, Riker se encontra em um laboratório alienígena similar ao local recriado no holodeck. A outra tripulante desaparecida, alferes Rager, está passando por algum tipo de experimento médico, obviamente fortemente sedada. Ao mesmo tempo, sobrias criaturas alienígenas tiram seu aparelho sinalizador e tentam sedá-lo, mas Riker apenas finge estar inconsciente (Crusher havia injetado uma substância nele para reagir ao sedativo alienígena).

Enquanto isso, a tripulação da Enterprise usa o aparelho sinalizador para determinar o paradeiro de Riker. Os alienígenas criam uma ruptura naquele ambiente, uma que o pessoal da Enterprise tenta fechar. Conforme os alienígenas tentam compensar pela atividade da Enterprise, Riker consegue pegar Rager e correr pela ruptura, levando-o de volta à nave. Os dois escapam e a ruptura é fechada, mas ainda há a desconfortável possibilidade de que essa força misteriosa volte a atacar no futuro.

 

Comentários:

Não importa por qual ângulo você olhe, "Schisms" é um episódio horrível. Se você é fã de tecnobaboseira, vai se decepcionar --ela está presente às toneladas aqui, mas nunca foi tão mal utilizada. Se você gosta de desenvolvimento de personagens, desapareça, pois este aqui não vai falar nada sobre ninguém. Se você gosta de alienígenas interessantes, nem passe perto, pois não aprendemos absolutamente nada sobre esses aqui. Se você gosta de metáforas e analogias com o mundo real, esqueça --a não ser que você considere plausível que aquela sua noite de sono mal-dormida é fruto de uma abdução por alienígenas.

Na verdade, tudo se resume a isso mesmo: uma tradicional história de abdução por alienígenas, como nos é contada nos filmes e contos contemporâneos baseados em relatos ufológicos. O problema é que, no universo de Jornada, não basta ser alienígena para ser assustador. E os métodos tradicionalmente usados para abduções são simplistas demais para o povo da Enterprise. Seria preciso elevar a complexidade do processo de rapto enormemente para tornar a história vibrante o suficiente para funcionar nos termos da série futurista.

O resultado dessa necessidade se traduz em catástrofe no roteiro. Ao mandar os alienígenas para uma das "n" dimensões do subespaço e permitir que eles arbitrariamente sequestrem os tripulantes da Enterprise que passaram pela Área de Carga é um remendo capenga para adaptar a história. Isso porque nunca foi estabelecido direito o que é o "subespaço", ou como ele funciona. Em outras palavras, ele pode funcionar aqui do jeito que o roteirista quiser. Ou, dizendo mais diretamente, ele é a conveniência de roteiro por excelência.

Quando as ações e reações de um episódio são determinadas por partículas, feixes, distorções e anomalias que sequer podemos imaginar em que princípios se baseiam, perde todo o sentido tentar acompanhar a história com o objetivo de entendê-la. A audiência fica à margem da "razão" por trás das coisas. Cabe a ela apenas acompanhar para ver como tudo termina. Não existe coisa mais horrível que um episódio pode fazer com um telespectador do que colocá-lo à margem do entendimento. Como ele poderá antecipar o próximo movimento, ou ansiar por uma solução que ele imagina possível, se tudo que existe ali são tétrions e anomalias do subespaço?

Outro resultado de submeter o episódio aos caprichos da tecnobaboseira com o objetivo de alimentar um mistério sem fundamento é o fato de o roteiro ficar com mais furos do que um queijo suíço. Quer exemplos? Como Data pôde ser "apagado" pelos alienígenas, se eles usavam um sedativo para esse fim? Como ele pôde não se "lembrar" do fato de ter ficado desligado por 90 minutos? Ou como Data poderia ter sido arrastado para o ambiente alienígena sem saber, uma vez que ele não dorme, como os outros? Ou por que Riker não sentia o tempo passar durante a noite, se ele de fato a gastava dormindo (ainda que sedado)? Há mais, se continuarmos aqui pensando, mas não é necessário.

Não fosse só pelo fracasso da premissa do episódio, a execução também é terrível. O segmento todo é conduzido em um ritmo super arrastado, que culmina com a terrível sequência da "reconstrução" da mesa de cirurgia no holodeck. Quantos minutos não são jogados fora ali, em algo tão pouco empolgante? A "fuga" de Riker da sala dos alienígenas é igualmente patética, assim como sua simulação de estar sedado. Sorte que os camaradas não resolveram amputar a perna dele, ou ele estaria urrando de dor até agora...

A aparência dos alienígenas é decepcionante, e suas motivações são tão pouco claras quanto as dos alienígenas que, dizem as más línguas, curtem picotar gado e depois atirar a carcaça de volta à Terra.

As únicas cenas que valem alguma coisa são a do barbeiro Mott com Worf e a demonstração de "apreciação" de Riker pela poesia de Data. Pelo menos são os únicos momentos do episódio em que a comédia não é involuntária. De resto, "Schisms" é uma perda de tempo.

 

Citações:

Data - "I noticed that many spectators seemed distracted during my presentation. Was my poetry uninteresting?"
("Eu notei que muitos espectadores pareciam distraídos durante minha apresenção. Minha poesia foi desinteressante?")
Geordi - "Well, it was... very well constructed. Virtual tribute to... form."
("Bem, foi... muito bem construída. Um virtual tributo à... forma."
Data - "Thank you. ...And?"
("Obrigado. ...E?")

Trivia:

É a quarta vez que Lani Chapman reprisa seu papel de alferes Rager. Dessa vez a personagem ganhou um primeiro nome, Sariel.

Ken Thorley retorna com seu Boliano Mott nesse episódio. Mott foi primeiramente visto em "Ensign Ro".


Ficha técnica:

História de Jean Louise Mattjias e Ron Wilkerson
Roteiro de Brannon Braga
Direção de Robert Wiemer

Exibido em 19/10/1992
Produção: 131

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi

Elenco convidado:

Majel Barrett-Roddenberry como a voz do computador
Lanei Chapman como alferes Sariel Rager
Ken Thorley como Mott
Scott T. Trost como tenente Shipley
Angelo McCabe como um tripulante
Angelina Fiordellisi como Kaminer
John Nelson como técnico-médico

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