Série Clássica
Temporada 1

Análise do episódio por
Carlos Santos



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Episódio apresenta a encarnação viva
do espírito de Jornada nas Estrelas

Episódio anterior  |  Próximo episódio

Sinopse:

Data Estelar: 3134.0.

Enquanto a USS Enterprise enfrenta turbulências geradas por um distúrbio temporal que está investigando, uma explosão na ponte fere Sulu. McCoy é chamado para prestar os primeiros socorros e injeta no piloto uma pequena quantidade de um poderoso estimulante. O tratamento dá resultado, mas acidentalmente todo o conteúdo restante da hipospray é injetado em McCoy, que imediatamente enlouquece, agredindo a tripulação e deixando a ponte aos gritos. Antes que fosse capturado ele consegue chegar à sala de transporte e desce ao planeta sobre o qual a nave orbita.

Kirk desce ao planeta liderando um grupo de busca do qual fazem parte Spock, Scott e Uhura, à procura de McCoy. Lá eles se deparam com um artefato alienígena, que segundo Spock é a origem das distorções temporais que eles vinham investigando. Kirk e Spock estabelecem contato com o artefato que ser auto-intitula o “Guardião da Eternidade” e que é supostamente muito antigo e capaz não só de mostrar o passado, mas de permitir a viagem através do tempo. O restante do grupo encontra McCoy, que é imobilizado. Entretanto, em um momento de distração, ele salta através do guardião e some em algum lugar do passado da Terra.

Logo após McCoy passar pelo portal, o grupo perde o contato com a nave. O Guardião então informa que a passagem do médico ao passado fez com que todo o presente de grupo desaparecesse e que apenas a proximidade do portal os manteve sem segurança. Kirk não vê alternativa a não ser tentar retornar ao passado e impedir McCoy de mudá-lo, trazendo de volta o seu futuro. Ele e Spock se lançam então para o passado, tentando rastrear o destino de McCoy baseados nos registros que Spock fizera pouco antes do salto do doutor, deixando ordens aos que ficaram para que tentassem novamente caso os dois falhassem.

Os dois chegam à Terra, na cidade de São Francisco, no ano de 1930, mas logo encontram dificuldades para se misturar à população local. Enquanto roubam algumas roupas são surpreendidos por um policial local, e em vista das dificuldades para explicar não só o roubo como as orelhas de Spock, são obrigados a atacá-lo.

Após conseguirem se desvencilhar da polícia, eles se escondem no porão de um prédio, onde, após trocar de roupas, discutem como agir para encontrar McCoy, que a esta altura ainda não desembarcou no “passado”. Spock não tem como precisar o local e a data da chegada do Doutor uma vez que não há equipamento para recuperar tais informações em seu tricorder, restando aos dois apenas confiar no acaso para achar o amigo. Antes que possam deixar o local, os dois são surpreendidos por uma mulher chamada Edith Keeler. Kirk diz a ela parte da sua história, então Edith oferece trabalho aos dois.

Mais tarde eles descobrem que Keeler é uma espécie de benfeitora que dirige uma missão que tem por objetivo alimentar famintos que não têm trabalho. Edith Keeler é antes de tudo uma sonhadora, mas que tem teorias muito interessantes, praticamente proféticas em relação ao futuro, o que chama a atenção de Kirk.

Edith oferece o aluguel de um quarto aos dois, impressionada com o trabalhado realizado por ambos. Instalados e com um emprego, Spock começa a trabalhar em uma forma de acessar a informação que precisam do tricorder, mas sem muito sucesso, devido à carência de materiais.

Mais tarde, enquanto limpam os refeitórios da missão, Spock vê algumas pessoas usando ferramentas que poderiam ser úteis. A noite eles arrombam o armário onde tais ferramentas são guardadas, mas Edith os surpreende. Kirk a convence a deixar Spock usá-las, mas usa o incidente para tentar ter mais acesso a Kirk, que ainda é um mistério para ela. Enquanto Spock permanece em seu trabalho, Kirk e Keeler saem para um passeio, onde ela tenta extrair mais informações do capitão, sem sequer suspeitar da verdade.

Enquanto isto Spock mantém sua atenção no trabalho de recuperar as informações do tricorder. Ele descobre que Edith Keeler é o “ponto focal do tempo”, o elemento cuja interferência de McCoy irá alterar, alterando também o futuro. Kirk e Spock descobrem que há dois futuros possíveis para a moça. Em um deles Keeler irá morrer em um acidente de trânsito, e no outro ela se transformará em uma pessoa de fama nacional. Eles têm agora que descobrir qual deles é o correto e agir para corrigir o que McCoy teria alterado, só que isto pode significar que Keeler tenha que morrer.

Pouco tempo depois, McCoy chega ao ano de 1930 ainda sofrendo os efeitos da droga e com fortes alucinações. Sem saber disto, Kirk está cada vez mais envolvido com Keeler. McCoy perambula pelas ruas, tentando saber onde está e, ainda convicto de que está sendo perseguido, acaba não resistindo ao efeito da droga e desmaiando.

De volta à missão, Spock está trabalhando para tentar recuperar informações, consertando o equipamento que ele havia improvisado e queimado em sua última tentativa de descobrir as respostas que precisa.

Pela manhã, McCoy perambula pelas ruas e coincidentemente chega até a missão de Edith Keeler, que ao ver o estado do doutor recolhe-o e o coloca para descansar. Spock, apesar de presente, não vê a chegada dele e ignora que McCoy já esteja tão perto. Logo depois Spock consegue consertar seu equipamento e descobre que, caso Edith Keeler não morra, a Alemanha irá vencer a 2º Guerra Mundial, logo concluem que McCoy a salvará. Kirk se desespera ao saber que terá que impedir McCoy de salvá-la, pois está apaixonado por ela.

Enquanto isto, McCoy vai se recuperando, sob os cuidados de Keeler, e aos poucos vai recobrando a consciência, embora permaneça bastante confuso, principalmente ao notar o local (e a época) onde está. Keeler também está confusa, mas reconhece em McCoy alguma semelhança com os modos de Kirk e Spock. De qualquer forma, McCoy cai no sono novamente.

À noite, Kirk impede um acidente envolvendo Keeler, que tropeça em uma escadaria, sendo repreendido por Spock, que percebe que seu capitão não está convencido a deixar que a moça morra. No dia seguinte, Keeler passa para ver o progresso de McCoy, que está totalmente recuperado e ainda sem saber que Kirk e Spock encontram-se por perto e à sua procura. Ela deixa o doutor e sai para um encontro com Kirk. Eles vão ao cinema, e na saída, enquanto os dois conversam, ela cita a presença de McCoy, deixando Kirk em pânico. Ele deixa Edith na calçada e retorna em busca de Spock, mas exatamente neste momento McCoy sai do prédio da missão e encontra seus dois companheiros.

Edith Keeler, ao ver o grupo reunido, ignora a recomendação de Kirk e põe-se a atravessar a calçada na direção deles. Kirk percebe o que ela está fazendo, mas pára na beira da calçada ao ver que a moça atravessa a rua e que um automóvel vem em sua direção. McCoy também percebe e tenta correr em seu socorro, mas Kirk o impede e Keeler é atropelada, vindo a falecer.

McCoy está transtornado sem entender por que Kirk o impediu, e este sequer consegue olhar na direção da rua. Imediatamente eles retornam ao planeta do Guardião da Eternidade, onde constatam que seu futuro está de volta.


Comentários:

Para muitos o maior episódio da série original, e um dos grandes de toda a franquia (inclusive para alguns o melhor de toda a franquia), pode-se dizer com certeza que este segmento da Série Clássica é tão brilhante quanto a mente de seu criador, o tão talentoso quanto controverso Harlan Ellison. “The City on the Edge of Forever” é uma impressionante peça de dicção cientifica e não ficou na história por acaso. Mostrar por que é nossa tarefa a partir de agora, tarefa tão gratificante quanto pretensiosa. Enfim, vamos a ela.

“The City on the Edge of Forever” começa como um episódio padrão da Série Clássica, onde os primeiros minutos a bordo da ponte da Enterprise fazem a introdução do tema da semana. Porém mesmo em seu inicio já é possível citar a saudável ausência do que se convencionou chamar de tecnobabble. Diferente de outras edições (um didático exemplo negativo é “The Alternative Factor”) aqui não há tempo perdido com a tentativa de gerar explicações complicadas e absurdas, nem sobre teorias e termos técnicos que em nada acrescentam ao conjunto. Pelo contrário, sabemos apenas o que precisamos saber, e o resto é mistério que alimenta o episódio.

A principal característica deste segmento é o drama, e apesar de termos tido alguns episódios muitos bons nenhum deles é tão fortemente marcante neste sentido quanto "The City", onde este elemento é o grande diferencial. Após o incidente de McCoy e da descida ao mesmo ao planeta do qual a Enterprise está em órbita, Spock e Kirk são trazidos à “Cidade à Beira da Eternidade”, título que faz alusão as ruínas encontradas pelo grupo de descida, ruínas incrivelmente antigas, como o próprio tempo. Mas seria esta a única cidade à beira da eternidade?

De qualquer forma é lá que encontraremos o “Guardião da Eternidade”, sozinho por milênios, e assim como a própria eternidade, sem começo e sem fim. Mais uma vez não há explicações, e ele simplesmente existe, como uma força da natureza, esperando. A despeito da forma com a qual é apresentado, o que mais impressiona é a imponência mística que tal entidade alcança meramente com as palavras, sem truques de efeitos especiais mirabolantes, e que seriam inalcançáveis para os padrões da época. Spock, o símbolo máximo do conhecimento tecnológico da avançadíssima Federação dos Planetas é incapaz de sequer supor sua origem e propósito, mas antes que algo mais possa ser dito, McCoy se lança através do portal, e como efeito, o “presente” daquelas pessoas desaparece, deixando-os sozinhos no universo.

Neste ponto o episódio toca em um dos preceitos preferidos de quem gosta de discutir teorias temporais e coisas afins. A teoria de que (se) a hipotética viagem de alguém ao passado poderia mudar este passado de forma tão violenta. Não pretendemos gastar tempo nesta discussão, mas apontar que mais uma vez não há uma palavra de tecnobabble proferida como tentativa de explicar o que não tem explicação. Voltando ao que interessa, devemos concluir que “O Guardião da Eternidade” é um portal, não só para eras passadas, mas para transportar Kirk e Spock para a verdadeira história do segmento, que fará com que nosso capitão se confronte com o seu “Kobayashi Maru” particular. Fim da primeira parte.

Com a chegada de Kirk e McCoy à Nova York de 1930, começa a segunda parte do episódio, e esta parte é recheada de grandes doses do melhor bom humor produzido pela Série Clássica. Desde a chegada da dupla de viajantes do tempo sob os olhos surpresos da população no melhor estilo "Túnel do Tempo", somos brindados com excelentes peças de humor, como a inesquecível cena do Robin “Kirk” Hood sendo pego com as calças literalmente na mão, e se isto já não fosse constrangedor o suficiente para um capitão da Frota Estelar e seu primeiro oficial, os dois ainda são pegos pela polícia. Ao longo do segmento existem diversos momentos de bom humor que conseguem ser inseridos dentro do contexto de episódio sem jamais transformá-lo em algum tipo de comédia pastelão e sobretudo preservando a dignidade dos personagens. O roteiro consegue ser engraçado sem expor os personagens ao ridículo e sem perder o foco de seu tema central. Numa palavra: competência.

Através deste mesmo roteiro Kirk tem a chance de mostrar toda sua sagacidade ao entender que precisa motivar seu primeiro-oficial a ir além das possibilidades, e mexe com os brios do Vulcano Spock para que ele se sinta motivado a transpor a lógica. Kirk age como um verdadeiro líder, que conhece a capacidade de seus homens a sabe como aplicar tal capacidade agindo como um elemento catalisador, e antes de tudo alimentando a esperança ante ao aparentemente impossível. Frase a frase, palavra a palavra, a química entre Shatner e Nimoy funciona de forma soberba, trabalhando junto com o roteiro, agregando valor a cada linha deste, mas Shatner está em plena sintonia com seu personagem e faz aflorar todas as qualidades que se esperam de um grande comandante.

Finalmente somos apresentados a Edith Keeler, o ponto focal no tempo, como mais tarde diria Spock. Mas ela é muito mais que isso. Keeler é a personificação da perfeição espiritual, da bondade que esperamos ver em cada um de nos, da esperança de que dias melhores estão por vir. Ela acredita em ideais de justiça, sinceridade, igualdade e acima de tudo no futuro. Como já foi dito várias vezes, um anjo. Um exagero de utopia? Com certeza sim, mas uma utopia que apresenta com exatidão a essência de tudo o que Jornada nas Estrelas costumava representar, pois mais que uma série de aventuras, Jornada é uma série sobre a redenção da humanidade. Justamente a quimera que fez com que muitos se tornassem fãs de forma tão apaixonada. Neste sentido, se Jornada nas Estrelas tem uma alma, esta alma se chama Edith Keeler.

À medida que Kirk e Spock vão se embrenhando na solução de seu problema, nosso capitão vai se envolvendo mais e mais com Keeler, o que se torna um dilema quando eles descobrem que ela deve morrer. Mais uma vez o roteiro se mostra brilhante. Como Spock frisa, Edith está certa em seu modo de ver a vida, entretanto na hora errada. Audaciosamente olhando para o passado, Jornada encontra um ser imensamente avançado, não tecnologicamente mas espiritualmente falando. Entretanto, no maior de todos os paradoxos, este ser precisa deixar de existir para garantir o futuro no qual Edith acredita.

Um cético poderia dizer que neste ponto o episódio aponta para uma tentativa de justificar a inevitabilidade da guerra, uma vez que a atitude de Keeler é considerada a causa de um futuro imperfeito, entretanto eu prefiro ver isto como uma homenagem a pessoas que lutaram por um mundo melhor, sem violência e em nome deste projeto deram suas vidas, gente como Ghandi e Luther King, que morreram em nome de um ideal para muitos além da visão de seu tempo. Se Edith não chega a ser uma mártir na essência da palavra, ela com certeza representa o que significa o sacrifício de um em nome das necessidades de muitos.

Kirk, apaixonado por Edith, se vê frente a um complicadíssimo dilema pessoal. Ele ama Edith, e tudo que ela representa e sente que ela mais do que ninguém merece viver, mas sabe que ela precisa morrer para o futuro que no qual ambos acreditam venha a se tornar real. Ele deve ser o “Guardião da Eternidade” e para isto sacrificar Edith Keeler, e junto com ela o que seu coração quer preservar a qualquer custo. O herói desce ao nível do homem, do ser humano com fraquezas e virtudes que se misturam e se confundem. Ele precisa escolher entre o amor e o dever.

Precisa tomar uma decisão e sua decisão custará milhões de vidas (que ele não conhece) ou uma única vida (que ele ama). Ele hesita, vacila, sofre, e deste sofrimento emerge o verdadeiro herói. O Kirk que retornaria mais tarde à Enterprise seria bem diferente daquele que chegou ao planeta do Guardião da Eternidade, pois como qualquer ser humano ele é não imune às conseqüências de seus próprios atos. O segmento age e reage junto com seus personagens, afetando-os no processo e transformando-os, e como nenhum outro transforma James Kirk em um personagem tridimensional, que como todos nós tem anseios e dúvidas e é, por isso mesmo, crível. E é deste processo que surge um herói de carne e osso, não o homem sem medo, mas o homem que continua apesar do medo, uma faceta de James T. Kirk que só voltaria a ser alcançada em tal profundidade em "Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan".

Mas Kirk não está só. Spock está a seu lado, como sempre esteve e como sempre estará. Entretanto, nunca a participação do Vulcano foi tão relevante em seu papel de apoio a “Jim” como aqui. Spock não está presente somente para ser um banco de dados ambulante ou prover soluções inesperadas e embora em primeira instância ele ocupe (bem) este (necessário) papel, ele exerce outro papel bem mais importante. O Vulcano é na verdade a consciência de Kirk, e terá o papel de guiá-lo pelo caminho correto as ser seguido, para isto sabe que precisa ser firme. Entretanto Spock conhece seu amigo e sabe o que ele está sentindo, e coloca-se antes de tudo como a apoio que sabe que Jim irá precisar quando chegar a hora. Spock é tão firme quanto necessário e tão suave quanto possível, mostrando que os anos de convivência com os humanos fizeram com que ele conhecesse bem senão todos, ao menos um, James Kirk. Embora sua cultura e sua racionalidade deixem claro o que deve ser feito, ele entende e respeita a situação de seu oficial superior e seu amigo.

Ao confessar a seu subordinado, um ser totalmente racional e lógico, sua condição de fragilidade, Kirk se expõe de maneira única a Spock, e este responde não com recriminação, mas oferecendo-lhe toda a solidariedade de que seu amigo precisa, fazendo com que a partir deste momento a ligação de amizade de ambos ficasse ainda mais sedimentada de forma inequívoca em laços extremamente sólidos.

Assim como o próprio tempo, o episódio precisa seguir. Finalmente chega a hora em que Edith Keeler deverá completar seu destino. Esta cena é antológica e dispensa qualquer tipo de comentário. E apenas por dever do oficio que devo comentar como mais uma vez o roteiro consegue ser brilhante e rico, pois é irônico notar que foi a reunião dos três amigos, Kirk, Spock e McCoy, que propiciou a condição que levou à morte de Edith Keeler. Não há palavras para descrever a cena onde Kirk impede McCoy de salvá-la, e enquanto o abraça ele não precisa olhar para trás, mais do que isto, ele não quer olhar para trás.

“The City on The Edge of Forever” chega ao seu fim e mais uma vez o universo foi salvo. A cultura de tubos de barro e platinados de zinco foi salva e chegará às estrelas. A depressão e as guerras foram deixadas para trás, conforme Edith previra. James Kirk voltaria a salvar o universo muitas outras vezes, mas jamais o universo de Jornada seria o mesmo após este momento. O que fica? Mais uma vez uma mensagem de fé de que a humanidade poderá um dia superar seus problemas e elevar-se.

Por que “The City...” atingiu tal patamar de sucesso? Por que não é uma episódio sobre viagem temporal simplesmente, mesmo que este seja um elemento fundamental da trama. Mas não passamos nosso tempo debruçados sobre paradoxos temporais frios e insensíveis. Este segmento fala na verdade sobre as coisas que nos motivam e nos dão esperança, sobre fé no futuro e sobre a condição humana. Para isso expõe o ser humano através do que temos de mais genuíno: seus sentimentos. Aqui não há confronto homem x máquina, mas homem versus homem. Ele irá atingir cada um de nós em níveis de intensidade e profundidade diferentes, mas certamente aquele que não se preocupar com detalhes de física quântica e se deixar levar pela verdadeira mensagem sofrerá o impacto mais direto da sua mensagem.

Pequenos reparos poderiam ser feitos ao segmento, como a atuação equivocada de Deforest Kelley e a inexplicável presença de Uhura e Scott no grupo de descida. Mas de forma alguma isso diminui um milésimo que seja a magnitude deste episódio. Roteiro impressionante de Harlan Ellison, uma presença magnífica de Joan Collins, atuação poderosa do sempre criticado (com razão) William Shatner e competentíssima de Nimoy, temperados pela inspirada trilha sonora de Courage e pela direção de Joseph Pevney dão vida a esta edição de Jornada nas Estrelas premiada com o Hugo de 1968, ou talvez os mesmos fluxos temporais que levaram Kirk e Spock ao encontro de McCoy tenham conspirado para transformar este segmento no episodio além da eternidade, referência absoluta para quem quer conhecer Jornada nas Estrelas no que ela tem de mais profundo e atraente.


Citações:

Kirk - "What are you?"
("O que é você?")
Guardião da Eternidade - "I am the Guardian of Forever."
("Sou o Guardião da Eternidade.")
Kirk - "Are you machine or being?"
("Você é máquina ou ser?")
Guardião da Eternidade - "I am both and neither. I am my own beginning, my own ending."
("Eu sou ambos e nenhum. Sou meu próprio princípio, meu próprio fim.")

Spock - "You were saying you'll have no trouble explaining it."
("Você dizia que não teria problemas em explicar.")
Kirk - "My friend is obviously Chinese."
("Meu amigo é obviamente chinês.")

Kirk - "You were actually enjoying my predicament back there. At times, you seem quite human."
("Você estava se divertindo com minha confusão lá atrás. Tem vezes que você é bem humano.")
Spock - "Captain, I hardly believe that insults are within your prerrogative as my commanding officer. "
("Capitão, acho difícil que insultos estejam dentro de sua prerrogativa como meu oficial comandante.")

Edith Keeler - "I don't pretend to tell you how to find happiness and love when every day is a struggle to survive, but I do insist that you do survive because the days and the years ahead are worth living for."
("Não vou fingir dizer a vocês como achar felicidade e amor quando todo dia é uma luta para sobreviver, mas insisto em que sobrevivam, porque os dias e anos à frenet valerão a pena serem vividos.")

Kirk - "Spock ... I believe ... I'm in love with Edith Keeler."
("Spock... Acho... que estou apaixonado por Edith Keeler.")
Spock - "Jim, Edith Keeler must die."
("Jim, Edith Keeler precisa morrer.")

McCoy - "You deliberately stopped me, Jim. I could have saved her. Do you know what you just did?"
("Você deliberadamente me impediu, Jim. Eu poderia tê-lo salvo. Você sabe o que acabou de fazer?")
Spock - "He knows, Doctor. He knows."
("Ele sabe, doutor. Ele sabe.")

Trivia:

Apesar de seu sucesso, este episódio é o “ponto focal” de um desentendimento entre Harlan Ellison, autor do roteiro original, e Gene Roddenberry. Conta a lenda que Ellison, extremamente temperamental, não gostava de ser reescrito por ninguém. Isto fez com que seu roteiro, que foi escrito originalmente na mesma época de “The Cage”, ficasse indo e vindo por meses, pois a cada modificação feita por Roddenberry para adequá-lo às necessidades de uma série de TV, e aos seus ideais, mais utópicos do que os de Ellison, ele reescrevia totalmente o roteiro. No fim a versão que foi gravada continha modificações não aprovadas por ele.

Não bastasse isto, Ellison tinha um pseudônimo, "Cordwainer Bird", que usava para creditar projetos do qual participava, mas que considerava ter sido alterado demais por seus produtores. Quando viu que não teria sucesso em seu cabo-de-guerra com Rodenbbery, quis usar tal pseudônimo para assinar o episódio, só que Gene não permitiu e creditou o seu nome verdadeiro. Ellison tornou-se então seu inimigo mortal e nem mesmo o fato de o episódio ter ganhado o Hugo, ou mesmo após a morte de Gene anos mais tarde, colocou fim à sua ira.

Ainda sobre o tal roteiro de Ellison, nele seria um viciado em drogas que retornaria ao passado e causaria os eventos que iriam alterá-lo. Além disso, Kirk decidiria por salvar Keller e viver com ela no passado da Terra, e caberia a Spock impedi-lo de salvá-la, “consertando” o passado.

Ganhador de sete prêmios Hugo e 3 Nebula, Harlan Ellison também carrega uma longa lista de batalhas judiciais. Outros pseudônimos de Ellison: Nalrah Nosille, Sley Harson, Landon Ellis, Derry Tiger, Price Curtis, Paul Merchant, Lee Archer, E.K. Jarvis e Clyde Mitchell.
Na trilha deste episódio vieram:

Para série animada:

“Yesteryear”. Escrito por Dorothy C. Fontana e que foi ao ar em 15 de Setembro de 1973. Nesta estória, Spock emerge do Guardião da Eternidade para descobrir que a Historia o dava como morto, fato que teria acontecido quando ela era uma criança em Vulcano durante a realização de um teste conhecido como Kahs-wan. Ele viaja então ao ano de 2237 para salvar sua própria vida.

Novelas:

“Yesterday's Son”, por A.C. Crispin

Novela publicada pela Pocket Books em 1983, onde Spock retorna ao 5000 anos na passado do planeta Sarpeidon (“All Your Yesterdays”) para encontrar seu filho, Zar, nascido de sua breve união com Zarabeth.Enquanto isto a Enterprise deve defender o planeta de um ataque Romulano, ou então destruir o Guardião para que este não caia em mãos inimigas. Uma leitura interessante mas sem o mesmo brilho de “The City...".

"Time For Yesterday", por A.C. Crispin

Nesta história alterações no curso normal do tempo fazem com que a Frota Estelar suspeite de algum tipo de mau funcionamento e envia Kirk, Spock e McCoy em uma missão para contactar o Guardião e descobrir o que há de errado. Mais uma vez o trio voltará ao passado e encontrará Zar, o único que parece poder se comunicar com o Guardião. No Brasil foi publicado pela Aleph com o título "O Filho de Spock".

"Imzadi", por Peter David

Durante negociações com uma raça chamada Sindareen, Deanna Troi morre misteriosamente. Um ano depois o comandante Riker planeja uma viagem através do tempo com o objetivo de salvá-la.

 

Ficha técnica:

Escrito por Harlan Ellison
Direção de Joseph Pevney
Exibido em 06/04/1967
Produção: 28

Elenco:

William Shatner
como James Tiberius Kirk
Leonard Nimoy
como Spock
DeForest Kelley
como Leonard H. McCoy
James Doohan como Montgomery Scott
Nichelle Nichols como Uhura
George Takei como Hikaru Sulu



Elenco convidado:

Joan Collins como Edith Keeler
David L. Ross tenente Galloway
John Harmon como Rodent
Hal Baylor como Policial
Bart La Rue vomo a voz do Guardião da Eternidade
John Winston como Chefe Kyle

Episódio anterior  |  Próximo episódio