Série Clássica
Temporada 2

Análise do episódio por
Carlos Santos



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Reciclagem de elementos produz segmento inócuo

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Sinopse:

Data Estelar: 3478.2.

A caminho da Base Estelar 10, a USS Enterprise faz uma parada na colônia de Gamma Hydra IV para reposição de suprimentos. O grupo avançado que é teletransportado ao planeta é composto por Kirk, Spock, McCoy, Scotty, Chekov e a Tenente Galway, e inicialmente não encontram ninguém na base da expedição e o capitão Kirk fica surpreso com este fato, pois havia contatado há pouco o chefe da expedição. Então, Chekov encontra um homem morto em uma das construções da colônia, que aparentemente havia morrido de velhice. No entanto, Spock supõe que aquilo não poderia corresponder com a realidade por que a expedição era composta apenas por pessoas jovens. Surge então um casal de idosos, que se identificam como sendo o chefe da expedição Robert Johnson e sua esposa Elaine, que diziam ter apenas 29 e 27 anos respectivamente, causando choque em Kirk.

Kirk teletransporta o grupo de descida juntamente com os outros colonos que ainda permaneciam vivos à bordo da Enterprise, mas pouco tempo depois estes remanescentes da expedição também morrem de velhice. Kirk coloca Spock, o Comodoro Stocker e uma antiga namorada, a Doutora Janet Wallace, que estavam à caminho da Base Estelar 10, para investigar o caso do abrupto envelhecimento dos componentes da expedição. Segundo Spock, o único evento incomum que havia acontecido recentemente em relação ao planeta, foi a passagem de um cometa.

Então, o Capitão Kirk começa a ter problemas de memória e apresenta sintomas de artrite avançada, ao mesmo tempo que Scotty, McCoy, Spock e a Tenente Galway mostram sinais de envelhecimento. Estes sinais correspondem a uma taxa de envelhecimento de 30 anos por dia, mas curiosamente Chekov não apresenta nenhum sintoma. Spock descobre que a causa do envelhecimento foi a passagem do cometa perto da orbita do planeta Gamma Hydra IV, sendo que este emitia radiação de baixa intensidade. O Comodoro Stocker começa a questionar a condição de Kirk continuar no comando e força Spock a convocar uma audiência extraordinária de competência para retirá-lo do comando. Enquanto isso, a Tenente Galway morre de velhice, enquanto Chekov permanece não afetado.

Na audiência, Kirk é considerado incompetente para continuar no comando e o Comodoro assume a nave. Ele ordena que a USS Enterprise vá diretamente para a Base Estelar 10, passando pela Zona Neutra, ignorando a presença dos Romulanos. Spock, McCoy e Kirk percebem que existe uma diferença entre a experiência deles no planeta e a de Chekov: o russo ficou extremamente assustado quando encontrou o cadáver no planeta. McCoy relembra que algumas pesquisas científicas antigas mostraram que a adrenalina era uma substância potencialmente efetiva para combater os efeitos da radiação, mas foi subseqüentemente abandonada quando a hyronalina foi descoberta.

Spock desenvolve uma fórmula contendo adrenalina, que é testada primeiramente em Kirk. Felizmente, ela se mostra efetiva e Kirk torna-se apto a retornar ao comando da Enterprise, que estava sob ataque dos Romulanos, por causa da equivocada estratégia do Comodoro Stocker em violar a Zona Neutra.
Num brilhante subterfúgio, Kirk transmite uma mensagem criptografada usando o código 2, código este que já havia sido decriptado pelos Romulanos. O Capitão sugere que a Enterprise havia adentrado a Zona Neutra acidentalmente e que ele iria destruir a nave utilizando corbomite recém instalado, que acabará com qualquer forma de matéria num diâmetro de 200.000 km e que a área da explosão terá que ser evitada por quatro anos. Os Romulanos param de atacar a Enterprise e fogem, deixando espaço para que Kirk consiga deixar a Zona Neutra para o espaço da Federação em Dobra 8, pouco depois o Comodoro faz um “mea culpa” e assume que Kirk era o homem certo para comandar a nave enquanto McCoy distribuiu o antídoto para os outros afetados.

 

Comentários:

Certas coisas na televisão são sempre muito difíceis de explicar. Com Jornada não é diferente. Por mais que se tente procurar em “The Deadly Years” uma razão para sua existência, nada parece justificar a realização deste segmento, que parece ter nascido tão somente para tapar um buraco na programação de exibição da série, tamanha é a sua falta de personalidade.

Geralmente os episódios são bons, outros ruins, mas este segmento da Série Clássica é medíocre, a começar pela trama. Uma doença que causa um violento envelhecimento precoce, causado pela radiação emitida pela passagem de um cometa próximo ao planeta Gamma Hydra IV recai sobre o grupo de desembarque da Enterprise. E daí ?

Daí nada. Primeiro é necessário dar ao segmento ao menos um mérito. Embora atualmente a maior preocupação dos cientistas quanto a cometas, asteróides, meteoros e afins seja como evitar que um desses possa se espatifar em nosso planeta, muito pouco ainda se sabe sobre estes. Neste ponto, ao levantar a hipótese de que a passagem deste corpo celeste pela órbita do planeta possa ter criado tal efeito a partir de um resíduo de radiação não detectável, o segmento flerta um pouco com uma das principais características de uma boa série de ficção cientifica, ou seja, o uso do fato cientifico como um dos elementos motivadores de sua existência. Não se pode afirmar que tal cenário seja impossível mesmo hoje, imagine então quarenta anos atrás ?


Mas ao mesmo é frustrante perceber que este questionamento vai esvaecendo até se perder totalmente no vazio da trama sem sal que se segue, mais rápido que a passagem de um cometa. É claro que ninguém esperaria que o episodio se torna-se um tratado sobre astronomia, mas este é apenas mais um dos desperdícios do segmento.

Voltando a vaca fria, temos agora nossos “heróis” envelhecendo rapidamente a bordo da Enterprise, numa luta contra o tempo para encontrar a cura. E daí ? Daí nada de novo. Neste tipo de trama onde o final é obvio – afinal todos sabem que a cura vai ser encontrada – o importante é conseguir explorar os efeitos causados sobre nossos personagens pela “encrenca da semana”, e nisto “The Deadly Years” alcança apenas sucesso parcial.

A parte positiva é a oportunidade dada aos atores de exibir parte do seu talento, quando estes precisam mostrar ao publico os efeitos de seu envelhecimento. Shatner, Nimoy e Kelley conseguem um resultado bastante divertido, porem autêntico, quando precisam envelhecer e a maquiagem de Fred B. Phillips e sua equipe contribui de forma decisiva para isto. Os sinais de envelhecimento inicialmente sutis, demonstrados por um cabelo grisalho, outro ali, vão tomando conta dos personagens de forma muito bem executada, o que somando a performance dos atores consegue um resultado muito eficiente.

Mas fica nisto. Se a parte da “forma” pode ser considerada boa, a parte do “conteúdo” é paupérrima. O envelhecimento precoce de Kirk, Spock e McCoy até poderia abrir uma porta que permitisse algum acréscimo aos personagens, mas faltou um roteiro que pudesse tirar algum proveito disto.

Kirk degenera mentalmente mais rápido que McCoy, e demonstra uma enorme dificuldade em lidar com a diminuição aguda da sua condição física. Este seria um quadro psicologicamente interessante, mas a condução pouco inspirada da situação do capitão da Enterprise jamais explora esta possibilidade com resultado palpável. Ficamos apenas assistindo Shatner desfilar seus trejeitos e reclamando de todo mundo, conseguindo com isto apenas uma caricatura da velhice, mas nada muito inspirado em termos de qualidade dramática.

Temos ainda a descoberta de um antigo relacionamento de Kirk, que pelo demonstrado em tela, parece ter sido bem sério. Mas a conveniente (bela) presença a bordo da doutora Janet Wallace (Sarah Marshall), que por uma graça dos céus é endocrinologista, e que por coincidência havia se casado com um homem bem mais velho após o termino do relacionamento dos dois não ajuda muito ao enredo.

Salta aos olhos o excesso de coincidências, construídas de forma totalmente artificial de forma a se adequar as necessidades do roteiro de propiciar uma dose a mais de drama a historia. Está obvio que não funcionou.

O que deveria ser o grande momento dramático do episodio já nasce com a marca do fracasso, tal absurdo que é a tal “audiência de competência”. Se não já fosse um absurdo total criar um tribunal de inquisição para decidir se o capitão da nave tem ou não condições de permanecer em comando, tal audiência simplesmente faz com que todos os envolvidos na busca da solução do problema parem as suas atividades para participar de tal circo. Não dá.

Tudo isto quando a única saída elegante possível seria que McCoy declara-se Kirk incapaz, e Spock toma se o comando da nave, pois ainda tinha condições de fazê-lo. É obvio que Spock estava em condições de assumir a nave, mesmo que por pouco tempo, e evitar aquela palhaçada.. Ao invés disto Spock cai no “Truque da lógica” de Stocker, o que permite a audiência. Cabe lembrar a presença de Scotty no grupo de desembarque apenas para que ele ficasse doente e não pudesse assumir o comando, como de costume, quando o capitão ou o imediato estiveram ausentes.

Como uma conveniência leva a outra, apesar de estar sofrendo da mesma doença, a “opinião profissional” de McCoy foi aceita na audiência, estabelecendo o precedente,o que demonstra um contra-senso, para ser ameno.

Tal ação além de benéfica a saúde dos velhinhos e do segmento, evitaria que a audiência fosse apresentada a um dos mais ineptos oficiais da Frota Estelar, o Comodoro George Stocker (Charles Drake), homem tão sem personalidade quanto o segmento em si. Qualquer fã de Perdidos no Espaço saberia mais sobre os Romulanos do que este senhor, que parece desconhecer totalmente os termos do tratado entre este povo e a Federação. Santa incompetência, Batman ! Tudo isto feito para que nosso esperto capitão, outra vez jovem (miraculosamente) pudesse aparecer no ultimo minuto e salvar o dia.

Alias, o segmento demonstra toda falta de identidade própria o usar o manjado truque da “Corbomite” ou “corbomita”, como queiram, pescado lá de "The Corbomite Maneuver". Até mesmo os efeitos visuais das Aves de Guerra Romulanas foram reaproveitados de “Balance of Terror”.

Sobre o mágico “suco de Adrenalina” que permite a descoberta da cura na ultima hora ™, além de tão frustrante quanto qualquer solução fabricada deste jeito, tem outro efeito nocivo, ao inaugurar a era de recuperações milagrosas em Jornada nas Estrelas. Desculpem, mas apenas pelo dever oficio devo comentar que o fato de descobrir uma a cura para o processo de envelhecimento necessariamente não deveria reverter os efeitos já manifestados pelos nossos bravos oficiais. Mas, fazer o que, se não havia mais tempo, não é verdade ?

Não resta duvida de que “The Deadly Years” nasceu da falta de idéias e da necessidade de cumprir prazos e orçamentos, e se não causa raiva, o segmento não deixa a menor saudade nem mesmo nos fãs mais fundamentalistas.

Luiz Felipe Tavares escreveu um artigo sobre o Terceiro ano da Série clássica, onde diz que “Não há episódios "chatos" na Série Clássica; há episódios ruins, mas nenhum chato.” Particularmente o autor que lhes escreve acredita ter descoberto o primeiro episodio chato da Serie Clássica, talvez tão chato que nem mesmo o colunista do TB tenha se lembrado dele ao escrever o seu artigo defendendo a terceira temporada da Série Clássica. Porém se sobrava algo na terceira temporada que falta em “The Deadly Years” é personalidade.

 

Citações:

Chekov: "Give us some more blood, Chekov”. “The needle won't hurt, Chekov”. “Take off your shirt, Chekov”. “Roll over, Chekov”. “Breathe deeply, Chekov”. «Blood sample, Chekov”. “Marrow sample, Chekov”. “Skin sample, Chekov."
("Dê-nos um pouco mais de sangue, Chekov". "a agulha não ferirá, Chekov". "retire sua camisa, Chekov". "Vire, Chekov". "Respire profundamente, Chekov". "amostra sangue, Chekov". "amostra de medula, Chekov". "amostra de pele, Chekov.")

Dr. Wallace: "The heart is not a logical organ."
("O coração não é um órgão lógico.")

McCoy: "I'm not a magician, Spock, just an old country doctor."
("Eu não sou um mágico, Spock, apenas um velho medico do interior.")

 

Trivia:

Fred B. Phillips trabalhou de forma excelente na maquiagem e nos moldes usados nos personagens neste episodio. Michael Westmore anos depois usaria o trabalho de Phillips para executar a maquiagem de Kelley no primeiro episodio de A Nova Geração.

Nos primeiros rascunhos dos roteiros de Jornada nas Estrelas II – A Ira de Khan, a Doutora Janet Wallace seria escolhida para ser o antigo amor de Kirk. Foi também sugerido que ela seria a mulher apresentada a Kirk por Gary Mitchell anos antes, fato mencionado em "Where No Man Has Gone Before".

Quando Kirk menciona a Corbomite, Chekov dá um sorriso indicando saber do que se tratava, o que justificaria (?) o fato de anos mais, Khan ter reconhecido o oficial em Jornada nas Estrelas II. Walter Koenig ainda não fazia parte do elenco durante os eventos de “Space Seed”.

Sarah Marshall (Janet Wallace) já havia trabalhado com Shatner no seriado The Nurses, coincidentemente em um episodio chamado “A Difference of Years” . Ela e Charles Drake (Stocker) já haviam trabalhado juntos em Daniel Boone.

 

Ficha técnica:

Escrito por David P. Harmon
Direção de Joseph Pevney
Música de Fred Steiner e Sol Kaplan
Exibido em 08 de Dezembro de 1967
Produção: 40

Elenco:

William Shatner
como James Tiberius Kirk
Leonard Nimoy
como Spock
DeForest Kelley
como Leonard H. McCoy
Nichelle Nichols como Uhura
George Takei como Hikaru Sulu



Elenco convidado:

Charles Drake como Commodore Stocker
Sarah Marshall como Dr. Janet Wallace
Majel Barrett como Christine Chapel
Felix Locher como Robert Johnson
Carolyn Nelson como Ordenança Atkins
Laura Wood como Elaine Johnson
Beverly Washburn como Arlene Galway

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Sinopse por Alexandre Bortuluci