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A hora mais sombria de Sisko!

Com a chegada da edição em DVD da sexta temporada de Deep Space Nine nos Estados Unidos no começo deste mês de novembro, torna-se oportuna uma examinada dos episódios que compõem tal pacote e cuja distribuição (em qualquer forma) em terras brasileiras ainda é incerta (a última temporada da série sai em dezembro deste ano na América, e terá cobertura similar do Trek Brasilis).

Este artigo apresenta um formato deveras simples, se dividindo em uma primeira parte que é dedicada a uma breve visão geral da sexta temporada de DS9 e uma segunda parte mais extensa, que trata da temporada, episódio a episódio (incluindo spoilers!).

 

Breve visão geral da sexta temporada de DS9

A sexta temporada de Deep space Nine é lembrada tipicamente pela maioria de seus fãs tanto por ter sido a mais importante (e mais sombria) temporada do personagem de Ben Sisko quanto como uma temporada que poderia ter sido muito melhor (em planejamento e em execução) do que foi.

A temporada retrata de forma exemplar o personagem do capitão Sisko como figura trágica e central tanto do conflito entre a Federação e o Dominion quanto do inevitável e derradeiro confronto entre os Profetas e os seus eternos inimigos, os Pagh-Wraiths (seu papel como Emissário é tratado de forma cada vez mais direta até o final da série). Sisko é colocado sob imensa pressão em eventos como: seu trágico conflito com os Jem'hadar em "Rocks and Shoals", ter a certeza - dada pelos próprios Profetas - de que nunca encontrará paz como visto em "Sacrifice Of Angels", sua macabra "valsa" com um enlouquecido Dukat (na esteira da morte de sua filha Zyial em "Sacrifice Of Angels") em "Waltz", personificar o enigmático escritor Benny Russel no mágico "Far Beyond the Stars", conspirar com Garak para trazer os Romulanos para o lado da Federação na guerra, no polêmico "In The Pale Moonlight", "bancar Salomão" em "The Reckoning" e finalmente perder o contato com os Profetas e perder Jadzia (a personagem morre e Terry Farrel deixa a série) no final da temporada em "Tears Of The Prophets".

Foi uma grande temporada também para Bashir que encontra um grupo (apelidado pelos fãs de DS9 de "The Jack Pack") de quatro humanos geneticamente aperfeiçoados (como ele) em "Statistical Probabilities" e é "recrutado" (pelo personagem Sloan, vivido por William Sadler) para a SEÇÃO31 em "Inquisition".

Ao lado do crescimento do personagem Nog (que recebe uma promoção de campo a alferes em "Favor The Bold") e da introdução do personagem do almirante Bill Ross (vivido por Barry Jenner e que se apresentaria como o superior imediato de Sisko até o final da série) temos também o primeiro (e grandemente aguardado) beijo entre Odo e Kira em "His Way" (que marca a estréia do personagem do cantor holográfico Vic Fontaine, vivido por James Darren, o Tony da série "The Time Tunnel" de Irwing Allen). Worf recebe Jadzia em matrimônio em "You Are Cordially Invited" só para ultimamente perdê-la em "Tears Of The Prophets".

Infelizmente a temporada também teve alguns sérios problemas. A principal fonte de tais deficiências brota do fato que manter o arco de uma guerra das proporções sugeridas na série exige um grande foco, realmente não dá para esquecer do conflito por muitos episódios sob o risco de perda de credibilidade. Coincidentemente os melhores momentos da série nesta sexta temporada ocorreram em segmentos que enfocavam os seus arcos principais e os piores se deram em episódios literalmente alheios ao material central de DS9 (arco do Dominion e arco do Emissário). Como se este fosse de fato o caminho mais orgânico e natural a ser percorrido.

Em certas ocasiões um segmento até enfocava um dos arcos, mas era incapaz de levar o arco a frente de uma maneira sólida, por vezes até levantando elementos interessantes, mas que não recebiam uma apropriada conseqüência em episódios posteriores. E por último talvez o problema mais grave em que se observa que não somente faltou propósito a série em certos momentos (como discutido acima), mas também a qualidade bruta da escrita se mostrou inferior a das duas temporadas anteriores (apesar de ainda assim termos alguns dos melhores momentos da série nesta sexta temporada).

Talvez uma das causas para tais problemas seja a ausência de Robert Hewitt Wolfe (substituído na equipe de roteiristas pela limitada dupla formada por Bradley Thompson e David Weddle) tanto pela falta do escriba em si quanto pelo desequilíbrio que isto trouxe a equipe (Ira Behr teve que achar um novo parceiro na pessoa de Hans Beimler, por exemplo). Felizmente grande parte de tais deficiências foi identificada e atacada na sétima e última temporada da série.

 

A temporada, episódio a episódio

"A Time to Stand" (****)

A guerra não vai bem para a Federação, o almirante Ross decide autorizar uma arriscada missão em território Cardassiano para destruir um depósito de Ketracel White. A bordo da nave Jem’Hadar, obtida em “The Ship”, partem Sisko, Dax, O’Brien, Bashir, Nog e Garak. Durante a missão Sisko se vê sob fogo amigo e tem que combater a nave Federada para não derrubar o seu próprio disfarce. A missão tem sucesso, mas a explosão do depósito deixa os motores de dobra da nave inoperantes e assim Sisko e cia. terminam há 17 anos em força de impulso de uma base Federada.

A rudimentar trama do episódio não é nem de longe o seu principal atributo. Ele sim faz um ótimo trabalho em estabelecer o tom de uma Federação em guerra, usando brilhantemente os personagens como microcosmo. Bashir não consegue sorrir, Sisko quebra o vidro de uma mesa em um momento de frustração e fala em seguida com seu pai sobre o conflito e como Jake acabou ficando para trás em DS9, na estação Dukat está confortavelmente instalado de volta em seus escritório, Quark comenta que as coisas não estão tão ruins quanto no tempo da Ocupação Cardassiana e Odo decide ordenar a Weyoun que restabeleça um destacamento Bajoriano de segurança no Promenade só para se ver (em contrapartida) fazendo parte do conselho que comanda a estação (junto com Weyoun e Dukat) em seguida e pensando se a sua ordem foi uma boa idéia em primeiro lugar. Uma poderosa cena em que Dukat confessa querer estabelecer um relacionamento com Kira causa choque, nojo e indica o Cardassiano perdendo o contato com a realidade. Em suma, um drama sombrio que captura o espectador e nunca o deixa relaxar, não sobre batalhas em tela, mas sobre as críveis reações dos personagens a uma real situação de guerra. Um clássico da série!

(NOTA: A temporada abre com um arco de seis episódios que culmina com a recuperação da estação pela Federação. Se incluirmos o final da temporada passada em “Call To Arms” em que a estação foi perdida e o prólogo da guerra em “In The Cards” chegamos fácil a um arco continuo com oito episódios. Algo absolutamente inédito para Jornada.)

"Rocks and Shoals" (****)

Mais um clássico episódio, em que Sisko e cia. (dando seqüência aos eventos finais de "A Time To Stand") se vêem acidentados em um planeta onde também caiu um grupo de soldados Jem’Hadar com o seu Vorta à beira da morte. O Vorta não poderá controlar os seus soldados por muito mais tempo, pois o seu suprimento de Ketracel White --droga fundamental para a estabilidade e obediência dos Jem'Hadar-- está acabando. Então o Vorta (de nome Keevan, vivido de forma odiosa e genial por Christopher Shea) oferece a Sisko o plano de ataque dos seus soldados e em troca da ajuda de Sisko em se livrar de seus comandados ele promete um transmissor que pode se reparado por O'Brien para tirar todos os sobreviventes dali. Sisko aceita a oferta, mas ainda tenta dissuadir o líder dos Jem'Hadar (de nome Remata'Klan, vivido brilhantemente por Phil Morris) e buscar uma alternativa. Não conseguindo, devido à nobreza dos Jem'Hadar e sua obediência à "ordem das coisas", os Jem'Hadar acabam por atacar e são exterminados pelo pessoal de Sisko. Quando a poeira abaixa e ninguém mais se mexe chega Keevan, com o transmissor, e diz que se ele tivesse apenas mais algumas ampolas de "White", Sisko e seus homens é que estariam todos mortos estirados no chão. Uma trágica história que faz dos Jem'Hadar (aqui em sua melhor hora em toda a série) criaturas extremamente complexas com as quais podemos de fato simpatizar, um admirável feito do roteirista Ronald D. Moore.

Ao mesmo tempo, na estação Deep Space Nine, temos uma história secundária em que Kira começa a se sentir como uma burocrata "Colaboradora" do Dominion e a ver iminente no horizonte o fantasma de uma nova Ocupação Bajoriana. Após o suicídio público da Vedek Yassim (que se enforca em pleno Promenade, tendo para últimas palavras: "O mal tem que ser combatido!"), Kira tem certeza que tem que fazer algo a respeito e inicia um movimento de resistência com Odo. História também brilhante, como a principal, compacto e denso material, muito fiel ao âmago dos personagens envolvidos. A direção extremamente visual de Mike Vejar é brilhante.

"Sons and Daughters" (*)

O filho de Worf, Alexander Rozhenko (agora um adolescente vivido por Marc Worden), decide se alistar no esforço de guerra contra o Dominion e é designado para a nave de Martok, a Rotarran. Uma história que tinha por objetivo reavaliar as decisões passadas de Worf como pai naufraga vergonhosamente, primeiro por que os motivos de Alexander para se tornar um guerreiro nunca são feitos claros (o que seria absolutamente necessário, pois o personagem sempre quis justamente o contrário em suas aparições anteriores em A Nova Geração) e em segundo lugar as demonstrações da falta de habilidade de Alexander para a vida de um guerreiro são exageradas, beirando o completo pastelão (deixando os espectadores a imaginar exatamente como ele conseguiu se alistar em primeiro lugar).

Uma história paralela envolvendo a reaproximação entre Zyial (vinda de Bajor) e Dukat tem mais sorte, ainda assim nada que brilhe no escuro. Dukat parece decidido a reconquistar a filha (que ele deixou para morrer em “By Inferno’s Light”) e também Kira, usando a relação entre elas para conquistar uma depois outra. Uma cena deliciosa é quando Kira recusa um presente de Dukat que fica desapontado só para em seguida, virar o rosto, abrir um largo sorriso e dar o presente a Zyial reconquistando-a Dukat, como sempre, o “herói de sua própria história”.

"Behind the Lines" (***1/2)

Como primeiro ato da célula de resistência de Kira, uma briga fenomenal no bar do Quark entre Cardassianos e soldados Jem’Hadar leva a algumas mortes dos dois lados. Quark (cansado de sua neutralidade) informa a Kira e cia. Que um bêbado Damar deixou escapar que o campo minado que bloqueia a passagem pela fenda espacial está para ser derrubado. Rom se oferece para sabotar tais esforços enquanto Odo lhe dá cobertura. Para piorar as coisas a Fundadora (Salome Jens) chega a estação e Odo acaba formando um “elo” com ela. Kira fica furiosa e ao mesmo tempo apavorada com a perspectiva de “perder” Odo. Odo promete que não vai repetir o gesto, mas já começa a se mostrar indiferente a toda a situação. Odo falha em dar cobertura a Rom, que não completa a missão e é preso. O comissário neste exato momento realizava um novo “Elo” com a Fundadora. Mais tarde diz na cara de Kira com toda a calma que “não pareceu importante”.

A participação ativa de Quark e o iminente desmantelamento do campo minado por parte de Dukat e cia. são excelente preparação para os episódios posteriores. A “Queda de Odo” vista aqui é nada menos que espetacular (Auberjonois e Jens são ótimos juntos em cenas que trazem grande senso de deslumbramento sobre a natureza do “Grande Elo”), ainda que tenha se mostrado “demais” para os roteiristas lidarem posteriormente.

Uma excelente história secundária completa o segmento. Sisko é designado como adjunto do almirante Ross para estabelecer estratégias globais para a guerra. As cenas em que Sisko vê a Defiant partir para uma missão arriscada sob o comando de Dax e depois retornar com sucesso são simplesmente maravilhosas.

"Favor the Bold" (***1/2)

O segmento é em suma um grande posicionamento de peças para a conclusão do arco no episódio seguinte: Sisko convence o comando da Frota Estelar a mobilizar algumas das suas maiores Frotas de naves para retomar DS9 (o principal ponto estratégico do quadrante por ficar na borda da fenda espacial), Odo introduzindo a Fundadora ao “sexo sólido” (!) e ficando assustado por ter passado três dias nos seus aposentos sem perceber, Kira dizendo a Odo que a relação entre os dois está “muito além de um pedido de desculpas” (além de “limpar o chão” com o Damar), Dukat mostrando cada vez a necessidade de ter algum tipo de validação para os seus atos (vendo em Zyial o último refúgio de tal aprovação, por ela ser sua filha e também parte Bajoriana), Quark cada vez mais decidido a ajudar (principalmente agora com a iminente execução de Rom) e até mesmo Morn levando para Sisko a mensagem da iminente queda do campo minado.

Uma cena se destaca em que Sisko (falando ao almirante Ross) afirma seu amor por Bajor e diz que está decidido a estabelecer residência no planeta e viver lá todos os dias que puder. Como uma sólida preparação o segmento funciona como poucos.

"Sacrifice of Angels" (***1/2)

Uma frota de cerca de 600 naves Federadas sob o comando de Sisko a bordo da Defiant se encontram com uma barricada (!?) de naves da aliança do Dominion com o dobro de naves. Sisko usa uma estratégia para furar as linhas inimigas que Dukat na estação planeja usar contra ele e sufocar os seus esforços.

Damar prende Kira, Jake e Leeta junto com Rom. Odo fica sabendo pela Fundadora da próxima execução de Kira e parece despertar do torpor provocado pelo “Elo”. Sisko lidera um grupo de naves que se infiltra nas linhas inimigas, quando a Defiant parece que vai ser esmagada, uma frota de naves Klingons (trazida de última hora por Martok e Worf) começa a atacar o flanco da Frota do Dominion dando a chance da Defiant furar o bloqueio e rumar para a estação. Dukat ordena que nenhuma nave vá atrás dela, a estação é mais do que páreo para a Defiant.

Quark recruta a ajuda de Zyial e consegue livrar Kira e cia. do xadrez. Kira e Rom decidem desabilitar as armas da estação para impedir a detonação das minas no que são ajudados em cima da hora por Odo e a sua força de segurança Bajoriana. Infelizmente Rom desativa as armas um segundo tarde demais. Mesmo com a queda do campo minado e decidido a retardar de qualquer maneira os reforços inimigos vindos do Quadrante Gama, Sisko entra na Fenda Espacial.

Sisko tem uma visão dos Profetas, que não querem deixar que ele cometa suicídio. O capitão acaba por convence-los a ajudar Bajor. Eles decidem ajudar, mas avisam Sisko que ele terá que pagar uma "pena" por causa disto e que ele nunca encontrará paz em Bajor, apesar de "ser de Bajor". Os Profetas fazem desaparecer a Frota do Dominion e fecham a Fenda espacial (que só reabriria com o final da guerra e da série).

A Defiant emerge sozinha da Fenda espacial, para desespero de Dukat. Mais naves da Federação se livram do bloqueio e Weyoum (percebendo que os reforços não virão do Quadrante Gama e com uma estação incapacitada) ordena a retirada das forças do Dominion de DS9 (rumo ao território Cardassiano). Com a segunda perda deste comando e com a morte de sua filha Zyial (que morre pelas mãos de Damar, após ser descoberta a sua traição), ele tem um colapso mental (sendo o único soldado da aliança do Dominion a ficar para trás). Ele devolve a bola de beisebol a Sisko, dizendo que o perdoa (ou seria Zyial?), que retoma finalmente o comando de DS9.

“Sacrifice” funciona como um delicioso thriller de ação (de execução impecável nestes termos e com talvez os melhores efeitos visuais de batalhas espaciais vistos na TV Americana até a época de sua exibição original), mas está muito longe de ser uma coerente conseqüência dramática para o que veio antes. Não é difícil identificar várias conveniências (e outros problemas) de trama na descrição acima (existem de fato ainda outras) e uma extrema falha com relação aos personagens na súbita mudança de atitude de Odo, principalmente por “Behind The Lines” parecer tornar o comissário tão (extremamente) distante de Kira e dos demais.

(O acerto de contas entre Odo e Kira seria reduzido a uma literal “conversa dentro do armário” no episódio seguinte e o assunto posteriormente esquecido.)

Apesar deste grave senão, que acaba sendo talvez o maior problema de todo este arco (ao lado de “Sons And Daughters” praticamente todo, é claro), não deve passar sem registro o que acontece com os personagens de Sisko e Dukat no segmento. É, sobretudo fascinante observar como a ajuda que Sisko pede aos Profetas aqui acaba selando o destino do capitão (e de Dukat), como os próprios deuses de Bajor dizem a ele. Senão vejamos, tal ajuda leva a queda de Dukat no abismo da loucura, que o leva ao papel de Emissário dos Pagh-Wraiths e daí ao confronto definitivo (e mortal) entre os dois no episódio final da série.

"You Are Cordially Invited" (***)

Funciona perfeitamente como um bom "episódio-evento" (o casamento Klingon entre Jadzia e Worf) e os valores de produção não decepcionam (nada mais que isto). A história é aquela "típica história de casamento" que é desmarcado e remarcado seguidamente durante o curso do segmento. Jadzia tem que provar, para a esposa do general (de nome Sirella e vivida por Shannon Cochran), que é digna de entrar para a "Casa de Martok" (da qual Worf agora faz parte). O que ela acaba conseguindo, com alguma dificuldade (especialmente devido ao "gênio forte" dela e de Sirella), após uma conversa com Sisko.

Worf, Martok, Sisko, Bashir, O'Brien e Alexander por sua vez, se envolvem em uma espécie de "despedida de solteiro Klingon", que é obviamente uma sucessão de rituais de dor e sofrimento. Jadzia também teve uma despedida de solteira, com direito a danças tribais e engolidores de fogo. Os votos são bonitos e acabam tendo um interessante "payoff" mais à frente na temporada em "Change of Heart". É ótima a idéia de Bashir e O'Brien golpeando Worf com imensos porretes (somente o som, já sobre os créditos finais).

"Resurrection" (SEM ESTRELAS)

Bem, os "Amigos e Amigas do [falecido] Vedek Bareil" conseguiram finalmente traze-lo de volta a série (ao menos de certa forma). Neste segmento, Mirror-Bareil (Philip Anglim) cruza do "universo do espelho" para o "nosso universo" deixando a major Kira com dificuldades para entender os seus sentimentos. O que poderia ser uma interessante Jornada espiritual de um ladrão para abraçar a religião Bajoriana ou para encontrar redenção de alguma forma, se transforma em um exercício de previsibilidade com a chegada da Intendente (Mirror-Kira) que simplesmente está usando o Mirror-Bareil para roubar um Orb e conseguir uma vantagem tática (prever o futuro) no seu universo (se o Orb iria funcionar ou não nestas condições, isto é desconhecido).

A conclusão é covarde e banal, com o Mirror-Bareil não roubando o Orb, mas voltando ao seu universo com a Intendente. O segmento não modifica nada em nenhum dos dois universos no presente e tampouco no futuro, não é relevante para nenhum arco de história e joga ainda mais para escanteio os assuntos pendentes entre Kira e Odo. Absolutamente lastimável hora de televisão!

"Statistical Probabilities" (***1/2)

Chegam a estação Jack, Lauren, Patrick e Sarina, quatro humanos (usualmente chamados de “Jack Pack” pelos fãs da série) geneticamente aperfeiçoados (e brilhantes) como Bashir, mas sofredores (ao contrário de Bashir) de graves efeitos colaterais devido a tal procedimento, o que os torna clinicamente insanos. Bashir decide dar a eles “algo o que fazer”, sendo a falta de um papel na sociedade algo grave para pessoas como eles. Previsões probabilísticas e projeções sobre a dinâmica da guerra com o Dominion são feitas pelos cinco em um período de dias em comparação aos meses que levariam os especialistas do escritório de inteligência da Frota. Tudo vai bem até eles chegarem a conclusão que a derrota é iminente e a Federação deve se render já e perder “apenas” dois bilhões de vidas no processo...

O episódio apresenta com clareza a partir deste ponto a megalomania que brota naturalmente de tais pessoas geneticamente aperfeiçoadas e do por que a população teme-las e haver leis regulando as práticas ligadas a sua criação. Bashir é pego na intenção de socializa-los e na própria arrogância partilhada pelo quinteto, não percebe isto até quase ser tarde demais, até quase Jack passar informações confidenciais para Weyoum e Damar (em missão diplomática na estação) de forma a permitir uma “vitória rápida do Dominion que pouparia centenas de milhões de vidas”. Sarina acaba avisando Bashir que impede que isto ocorra em cima da hora, ficando Jack com cara de tolo por perceber não ter conseguido levar em conta nem as lealdades de alguém que ele conhece há anos.

Toca em aspectos interessantes da sociedade Federada, oferece uma visão alternativa da guerra e acaba resgatando diversos temas de Jornada Clássica, apesar de ficar a dúvida sobre a sanidade mental de quem deixou material confidencial sobre uma guerra terrível como esta nas mãos de um bando de malucos.

"The Magnificent Ferengi" (***)

Esta (com as devidas desculpas antecipadas ao falecido Akira Kurosawa) "Versão Ferengi para 'Os Sete Samurais' " (TM), tem uma das mais absurdas histórias de toda a série, que acaba funcionando milagrosamente (e inexplicavelmente) como um boa e agradável hora de televisão. Vejamos a (?!) história: o Dominion rapta (por motivos desconhecidos e aparentemente inexplicáveis) Ishka (a mãe de Quark e Rom); Zek (o grande Nagus Ferengi e namorado de Ishka) oferece uma boa recompensa para quem conseguir libertar a sua amada; Quark monta uma "equipe de resgate" formada por Rom, Nog, Leck (um espécie de assassino de aluguel atrapalhado), Gaila (primo de Quark, visto em "Business As Usual" da quinta temporada) e (claro) Brunt (que oferece a sua nave na esperança de conseguir algum favor junto ao Nagus), os quais somados a Ishka dão os tais "sete Ferengis"; Quark convence a Frota e ao Dominion a fazer uma "troca de prisioneiros", Keevan (o odioso Vorta de "Rocks And Shoals") pela mãe de Quark e a troca de prisioneiros se dará em Empok Nor (a estação gêmea e abandonada de DS9 vista em "Empok Nor" da quinta temporada) sob os auspícios do Vorta Yelgrun (vivido por Iggy Pop e O AUTOR NÃO ESTÁ BRINCANDO QUANTO A ISTO!). Tal absurdo se encerra com Keevan morto (com o cadáver animado por estimuladores neurais - no melhor estilo do filme "Weekend at Bernie's" - continuamente dando de cara em uma parede ao final do episódio), Ishka recuperada e Yelgrun como prisioneiro da Federação. Nada disto faz algum sentido, mas esta é a história e só de escrevê-la já são dadas boas risadas.

"Waltz" (***1/2)

A nave estelar que transporta Sisko e Dukat, rumando para o julgamento do Cardassiano, é atacada pelos Jem’Hadar. Dukat consegue pilotar uma nave auxiliar e salvar a vida do capitão Federado, este com graves queimaduras e um braço com múltiplas fraturas. Dukat ativa um transmissor com um sinal de socorro genérico, e começa a conversar com Sisko a espera do resgate e à medida que seus demônios interiores afloram (ele tem visões que tomam forma de Weyoun, Damar e Kira), a real face do Cardassiano se mostra para Sisko.

O cenário é incrivelmente simples, mas tanto o texto cheio de nuances de detalhes de Ron Moore, a direção criativa de Auberjonois e as performances excepcionais de Alaimo e Brooks são de uma complexidade admirável. Talvez entrar na mente de alguém como Dukat seja uma coisa abominável para a maioria das pessoas (mesmo ficar perto dele já seja temerário para muitos). Talvez mais repulsivo ainda seja perceber encontrar alguma qualidade redentora em um homem que admite o ódio que o Cardassiano admite aqui. E fascinante simplificar um personagem tão complexo e ainda assim presenciar tão complexa exibição.

Ao final, Dukat consegue escapar jurando vingança contra o povo que um dia oprimiu. Sisko jura, custe o que custar, não deixar Dukat ferir Bajor novamente. Ambos seguiram o caminho de tais escolhas até o seu amargo fim.

"Who Mourns for Morn?" (**)

"Who Mourns for Morn?" Tinha tudo para se tornar um clássico, começando pelo título bem sacado e o memorial do personagem Morn, logo em seu início (com direito a um absurdo discurso de Quark). Depois deriva em todos os clichês possíveis das histórias de "Gangs de ladrões que se reúnem depois de muito tempo para recuperar o produto de um antigo e último roubo" (começam a aparecer os antigos comparsas de Morn na estação procurando por ele e sempre dando desculpas esfarrapadas, obviamente querendo saber onde Morn - que obviamente não está morto - escondeu o produto "perdido" do roubo, tudo muito transparente e óbvio, exceto para o Quark talvez); sem muita energia, sem muitas surpresas, previsível a maior parte do tempo. Um episódio fraco, na melhor das hipóteses.

(Mark Allan Shephard SEMPRE "interpretou" Morn, mascote oficial de DS9, que nunca pronunciou uma palavra em cena -- apesar de ter a fama de falastrão fora dela -- daí sempre recebendo como um extra, apesar do esforço envolvido devido a complexa maquiagem do personagem. O nome "Morn" vem do nome "Norm" de um personagem da série de comédia "Cheers", que era justamente ambientada em um bar.)

"Far Beyond the Stars" (****)

Quando a força de vontade de Sisko começa a falhar frente à devastação trazida pela guerra, o capitão sofre uma espécie de desmaio, e os Profetas lhe enviam uma visão em que ele é um escritor negro de ficção científica dos anos 1950 de nome Benny Russell que quer escrever, pasmem, Deep Space Nine. Os atores de DS9, sem maquiagem, povoam o cenário do Harlem onde se passa a história. Os personagens vividos pelos atores de Kira (uma escritora que finge ser um homem devido ao preconceito no meio), Bashir (também escritor e seu marido), O’Brien (um escritor perito em histórias de robôs), Quark (um escritor com aparentes conexões comunistas), Dax (a secretária linda e burra), Martok (o desenhista) e Odo (o editor) trabalham na mesma revista (“Incredible Tales”) que Benny. O personagem do ator de Nog trabalha em uma banca de jornal, o de Worf é um jogador de beisebol, a personagem da atriz de Kasidy Yates trabalha em um restaurante e é a namorada de Benny, o personagem do ator de Jake (que não é filho de Benny) é um pequeno trambiqueiro, os personagens dos atores de Weyoum e Dukat são dois policiais racistas e o personagem do ator do pai de Sisko (Joseph Sisko) é um pastor das ruas.

Um desenho estilizado da perspectiva do espectador da estação DS9, chama a atenção de Benny que escreve uma história sobre a mesma e o seu capitão negro. Seu editor diz que não pode publicar uma história com um herói negro e lhe passa outra tarefa lhe prometendo uma capa. Benny começa a ter flashes dele se vendo como Sisko e acha que está enlouquecendo, mas mesmo contra todo o bom senso, ele escreve mais seis histórias sobre DS9. Seu editor fica furioso, mas acaba aceitando a idéia do restante da equipe de fazer a primeira história um sonho de um menino negro e seguir a partir daí. Benny concorda e aguarda o dia da publicação da edição com sua história da estação espacial.

Ele sai para comemorar com sua namorada e mais tarde ao ouvir um tiro ele corre temendo o pior e perguntando o que houve, ele vê “Jake” morto, tendo sido atingido pela polícia ao ser pego tentando roubar um carro. Ao agredir um dos dois policiais, ele é massacrado por ambos (cujas imagens acabam sendo misturadas em cena com a dos reais Weyoum e Dukat). Algum tempo depois, ainda se recuperando da épica surra, ele aguarda na redação com os demais colegas seu editor com a nova edição da revista. “Odo” anuncia que o dono da revista ordenou a destruição de todo o número e antes que os protestos sobre isto aumentassem entre os empregados, ele também anunciou que Benny estava demitido. Benny não consegue mais se controlar e tem um colapso nervoso, dizendo que eles podem nega-lo o quanto quiserem, mas não podem negar Ben Sisko, a sua idéia, pois “não se pode destruir uma idéia”. Benny parte em uma ambulância para uma instituição, ele acorda e percebe ao seu lado o pastor, que já havia aparecido para ele nas ruas e dito que ele devia “escrever as palavras”. Ele se vê com o uniforme de Sisko e “estrelas em dobra” na janela traseira da ambulância, como em uma nave estelar. “O sonho e o sonhador” reponde o pastor a pergunta de Benny sobre quem ele é. Sisko finalmente acorda na enfermaria para felicidade dos seus amigos e familiares.

Impecavelmente produzido e dirigido pelo próprio Avery Brooks, o segmento tem grande valor de entretenimento pela total quebra de formato e ousadia somente, seu enfoque sobre o racismo é perspicaz e, na maior parte do tempo, bastante sutil. Mas não se resume a isto. Infelizmente muitos vêem a significância de “Far Beyond The Stars” simplesmente como um conto sobre o racismo. Na realidade o segmento tem um significado mais simples e provavelmente mais abrangente do que este. Como apresentado em sua resolução, ele é sobre manter os nossos sonhos vivos e “lutar a boa luta”, até o final. Partindo do pressuposto que se uma idéia foi concebida, ela não pode destruída, ela passa a existir por si só de alguma maneira. O segmento é uma homenagem a todos os “Benny Russell” que sonharam o nosso mundo e nos inspiraram a sonhar um futuro, sonhar, quem sabe, com “tempos que valerão a pena serem vividos”. A cena final é talvez a mais mágica de todas as Jornadas em que Sisko olha o espaço ao longe e no lugar da sua imagem vemos a de Benny. Sisko não pode evitar pensar se DS9 (e todo o seu universo ficcional) não seria simplesmente fruto da imaginação de Benny ao invés do contrário. A algo tão tocante neste “infinito círculo de reflexos entre um sonho e um sonhador”, que qualquer comentário parece incompleto ao tentar descreve-lo.

"One Little Ship" (***)

Este segmento, que poderia ser facilmente descrito em uma tacada só como: "Querido [Worf], eu encolhi o Explorador". Tem provavelmente a história MAIS ABSURDA de toda a série e talvez de toda a história de Jornada Nas Estrelas. A Defiant envia, mantendo uma trava de raio trator, o Explorador Rubicon para o interior de uma anomalia gravitacional (cujas propriedades de fato reduzem as dimensões da nave auxiliar). Atacada pelos Jem'Hadar, a Defiant é abordada, o raio trator se rompe e o Rubicon (com Jadzia, O'Brien e Bashir a bordo), voltando da anomalia por um caminho diferente do que seguiu para entrar, permanece miniaturizado (miniaturizado no melhor "estilo Terra de Gigantes"). Daí a história se torna como Jadzia e Cia. vão levar o explorador para o interior da Defiant e ajudar Sisko e Cia. a retomar a nave do comando dos soldados do Dominion.

O episódio funciona por não se levar a sério em nenhum momento (isso seria a sua completa ruína, em virtude da sua premissa inicial, que é, aliás, ridicularizada pelos próprios personagens na primeira cena) e dos absolutamente EXCEPCIONAIS efeitos visuais. Este episódio merece ser assistido nem que seja só pra presenciar a mágica que o mestre Gary Hutzel consegue fazer com modelos! Um bom episódio que costuma deixar um inexplicável sorriso na boca dos fãs.

"Honor Among Thieves" (***)

O’Brien recebe a missão de se infiltrar no Sindicato Orion (organização citada em “The Ascent” e “Simple Investigation” da quinta temporada) a serviço da inteligência da Frota. O chefe acaba fazendo amizade com Bilby (Nick Tate) que hipoteca sua palavra para colocar Miles “na família”. O’Brien confirma que o Dominion pretende usar o pequeno grupo de Bilby para provar intriga dentro do governo Klingon através de um atentado a embaixada local. Os Klingons são avisados e aguardam para massacrar os mafiosos. O’Brien, entretanto desenvolveu um grande afeto por Bilby, um homem de família assim como ele, apesar dos crimes. Ele avisa Bilby que fica chocado. Se ele for ao atentado ele está morto, se ele não for, a traição de O’Brien virá a tona e ele também estará morto (por ter empenhado a palavra pelo chefe), assim como toda a sua família. Ele decide preservar a vida dos seus e vai ao encontro da morte, pedindo que O’Brien tome conta do seu gato, Chester. Uma premissa muito pouco original, mas que rende belos dividendos dramáticos graças as excepcionais atuações de Meaney e Tate, que tornam reais todas as cenas e como realmente genuína a amizade que cresceu entre os seus personagens. Um belo drama.

"Change of Heart" (***)

Dax e Worf são enviados em uma missão para se encontrarem com um Cardassiano que quer desertar e conseguir asilo Federado, tendo como peça de barganha os nomes das personalidades do quadrante Alfa que foram substituídas por Fundadores. Importantíssima informação estratégica. Dax se fere na selva e é em última instância deixada na selva por Worf para morrer enquanto o Klingon vai para encontrar o informante. Porém Worf muda de idéia a caminho e acaba por voltar para salvar a sua esposa, deixando o Cardassiano para a morte certa nas mãos das autoridades do seu governo.

A história aqui é muito simples e recheada de momentos pra lá de mundanos, se deve admitir, mas o que diz em última instância, em uma bela cena de conclusão com Sisko, é bastante válido. Worf diz finalmente entender o sentido dos seus votos de casamento em “You Are Cordially Invited” e mostra realmente que ama Jadzia (pela primeira vez na série a relação dos dois parece de fato fazer sentido). A ausência de uma corte marcial por motivos de segurança e a certeza de que Worf nunca vai ser promovido a uma posição de comando devido as suas ações são bastante adequadas dadas as circunstâncias.

(Apesar dos mencionados méritos do segmento é uma pena que um assunto que deveria ser tão importante como o dos Fundadores infiltrados no seio da Aliança Federada tenha se tornado tão secundário para a série.)

"Wrongs Darker Than Death or Night" (*)

No dia do aniversário de sua falecida mãe, Kira Meru, a major Kira Nerys recebe uma mensagem de Dukat dizendo que ele e Meru foram amantes nos tempos da Ocupação, algo no que Kira não consegue acreditar. Decidida a descobrir a verdade, ela convence Sisko a permitir a utilização do Orb do tempo, que a envia ao passado e onde descobre que de fato sua mãe (ao contrário da história contada por seu pai) foi “recrutada” como uma espécie de odalisca, para o harém dos militares Cardassianos em troca de melhores condições de vida para o seu marido, uma pequena Nerys com os seus três anos e seus dois irmãos de colo. Nerys também é recrutada como “acompanhante” estacionada em Terok Nor, sob o comando de Dukat. Meru fica fascinada com o relativo luxo de sua vida na estação e se torna uma presa fácil para o charmoso Dukat que a acolhe como sua amante oficial. Kira não tolera muito tempo esta situação e acaba se envolvendo com a resistência daquela época que lhe dá uma missão de colocar uma bomba nos aposentos de Dukat para amtar o Cardassiano (e a sua mãe no processo). Nerys muda de opinião no último momento e acaba salvando Meru (e por tabela Dukat) da explosão. Apesar disto, de volta ao presente, Nerys diz a Sisko ser incapaz de perdoar a sua mãe.

O dispositivo de trama que coloca esta história em movimento também acaba com qualquer tentativa dramática do mesmo. Se Nerys está recebendo somente visões (ou recriações) do passado e não vai poder altera-lo apesar de sua aparente interação com o mesmo, então a história está estruturada do jeito mais inócuo e pouco criativo possível, pois simplesmente história não pode ser de Kira, por que ela não é fato parte dela. Se de fato Kira podia mudar o passado (possibilidade que parece que ela nega de saída), então só podemos admitir que os religiosos Bajorianos, Sisko e talvez os próprios Profetas sejam todos loucos em permitir tal coisa em primeiro lugar. Um fatal erro que leva imediatamente o segmento para o poço da completa e total indiferença. Lamentável!

"Inquisition" (***1/2)

Sloan (um estelar William Sadler) e seus ajudantes da “corregedoria da Frota Estelar” chegam a DS9 para checar uma recente brecha na segurança. Seus métodos a princípio são severos, porém aparentemente legítimos, mas uma crescente fixação do agente em Bashir começa a trazer um senso de inquietação no ar. Sloan começa a utilizar eventos passados da vida de Bashir (em um absurdo show de continuidade do roteiro) para construir uma complexa e verossímil acusação contra Julian. Ele diz que o doutor é na realidade um espião programado pelo Dominion e (pior) que não sabe que foi programado, se tornando um espião perfeito. A acusações de Sloan vão se tornando tão convincentes que mesmo a tripulação de DS9 começa ter problemas em acreditar na falsidade das mesmas, justo quando sloan decide levar Bashir da estação, ele é transportado a bordo de uma nave do Dominion comandada por Weyoum que de fato confirma que ele é um espião, Bashir acha que o Vorta e Sloan estão conspirando juntos, mas antes de explorar tal teoria ele é “salvo” pela Defiant só para ser jogado dentro do xadrez a espera de transferência, sua culpa parece inequívoca. Eis que Bashir percebe a ausência de uma séria contusão em O’Brien, o que denuncia a irrealidade da situação.

Neste momento termina a simulação mostrada em tela até aquele momento e surge o interior de um holodeck. Sloan e os seus homens são na realidade membros de uma organização clandestina dentro da Federação, referida somente como SEÇÃO31. Sloan abduziu Bashir para testar suas habilidades e lealdades para a Federação e avisa ao doutor que ele passou e pode receber uma missão a qualquer momento, o que deixa Bashir chocado com o descaramento. Ao final, após o doutor voltar a estação, Sisko diz que o comando da Frota não nega nem confirma a existência de tal agenda, ao mesmo tempo em que apura que existia de fato uma divisão com tal nome na carta original de compromissos da Federação, mas nenhuma confirmação além disto. O capitão aconselha Bashir a aceitar a tal “missão” se ele vier para que eles possam saber mais tal organização.

A trama é excelente, suportando múltiplas assistidas, as caracterizações muito realistas (e contidas) idem e o conceito da SEÇÃO31 absolutamente brilhante, um produto da mente de Ira Behr a respeito da famosa frase de Sisko, “É fácil ser santo no paraíso”, de “The Maquis II”. Behr pensou sobre quem mantém o paraíso na Terra, sobre quem mantém toda a sujeira longe dele. Daí surgiu a idéia da Agência.

"In the Pale Moonlight" (****)

Saibam tudo sobre este clássico episódio aqui.

"His Way" (***)

Vic Fontaine, um cantor holográfico de uma boate ambientada em Las Vegas em 1962, o mais sofisticado programa de entretenimento de Bashir utilizado nas holosuites do Quark's, decide dar lições a Odo sobre como conquistar o coração de Kira Nerys. Este episódio é basicamente uma comédia de situação com muita (boa) música e grande estilo, mas sem muita substância (especialmente se comparado a outros segmentos que tratam do relacionamento do comissário e da major, notadamente "Children Of Time" da quinta temporada e "Chimera" da sétima temporada). Neste episódio rola o primeiro beijo entre Odo e Kira. Destaques para Nana Visitor interpretando "Fever" e a presença do sempre carismático e talentoso James Darren, como Vic Fontaine (que voltaria ao papel no curso da série).

"The Reckoning" (***)

Guiado por uma visão e por misteriosos rompantes, Sisko traz a bordo de DS9 um antigo artefato Bajoriano, que ele próprio destrói posteriormente, libertando um Profeta e um Pagh-Wraith, que tomam os corpos de Kira e Jake respectivamente. No Promenade, uma batalha titânica entre os dois seres (prevista em uma antiga profecia como o evento que marcaria uma nova era de ouro para Bajor em que “não seriam necessários Profetas ou Emissários” e que fatalmente levaria a destruição da estação) é interrompida por uma intervenção inesperada de Kai Winn (Sisko, praticamente o único em uma estação já evacuada, não interveio no conflito por não acreditar que os Profetas deixariam que Jake fosse morto no duelo). O confronto definitivo entre os Profetas e os Pagh-Wraiths havia sido adiado (até onde se sabe) para o final da série.

Embora os valores de produção e a atitude do segmento sejam discutíveis (incluindo efeitos no “melhor estilo Poltergeist”), o transparente melodrama épico que se desenvolve tem uma certa pegada. Temas sobre o Emissário, revisitados por Jake, Kira e o próprio Sisko ajudam ao segmento a ultrapassar algumas (obviamente não todas) de suas limitações conceituais. Apesar da incerteza quanto às motivações do ato final de Winn aqui, as suas atitudes no segmento a colocam perfeitamente no caminho sem retorno que levou a sua derrocada ao final da série.

"Valiant" (***)

A caminho de Ferenginar (a bordo de um explorador), Jake e Nog são atacados por um esquadrão Jem’Hadar e, obrigados a fugir, acabam no lado do Dominion da atual frente de guerra e os dois são salvos no último minuto pela Valiant, uma nave da classe Defiant. A Valiant, operando há oito meses atrás das linhas inimigas, tem como tripulação um bando de cadetes do Red Squad (ver “Homefront” e “Paradise Lost” da quarta temporada) que receberam promoções de campo com a morte dos seus oficiais supervisores (a nave originalmente estava em uma missão de treinamento). A tripulação conta (entre outros) com o “capitão” Tim Watters, a “comandante” Karen Farris e a “chefe” Dorian Collins.

Nog é imediatamente promovido a tenente comandante e a engenheiro chefe e consegue recuperar os motores de dobra da nave. A missão original da Valiant era a de coletar informações sobre um novo supercruzador do Dominion, o que agora eles acabam conseguindo. Só que o “capitão” Watters (que já havia dado indícios de um caráter autodestrutivo se mostrando um viciado em estimulantes) decide que a nave deve ser destruída já ainda em testes e decide (para total incredulidade de Jake) explorar uma falha de projeto (aliás, muito similar à falha de projeto da “Estrela da Morte” em “Star Wars”). O ataque da Valiant não dá resultado e o supercruzador contra-ataca de forma devastadora. Somente Jake, Nog e Collins são salvos pela Defiant que capta o sinal de SOS.

Um episódio bastante incomum, protagonizado pelo menos importante regular e um recorrente, junto com um bando de crianças como convidados (e nem todos estes jovens atores convidados funcionam bem aqui, para dizer o mínimo). Apesar destas particularidades e de alguns excessos nas atitudes dos cadetes, um bom conto a respeito da distinção entre “dever” e “heroísmo” emerge do segmento. Nog (e o seu desejo de ser um importante oficial a todo preço) e Jake (o mais longe possível de um militar na série) servem como ponto e contraponto para tal discussão. Ao final, usando a personagem mais simpática do Red Squad para mostrar que apesar de tudo, ela ainda não conseguia ver o que realmente tinha acontecido foi um grande final.

A direção de Mike Vejar tem algumas falhas, notadamente na montagem de preparação para a batalha que parece mais coisa refugada de alguma paródia Trekker dos “Batutinhas”. Os efeitos visuais, entretanto são excelentes.

"Profit and Lace" (SEM ESTRELAS)

"Profit and Lace", ou melhor, dizendo "DS9 apresenta, o Bartender Quark, como 'Lumba - a Drag Queen Ferengi' ", é talvez o pior episódio da série, vergonhoso e constrangedor.

A sua "assim chamada história" é algo assim: o grande Nagus Zek decide permitir que as mulheres Ferengis possam usar roupas em público e dai participar de negociações e lucrar com isto. Obviamente Zek é imediatamente deposto devido ao seu "ato subversivo" e Brunt é colocado temporariamente em seu lugar. Zek e Ishka vêm a DS9 para pedir ajudar a Quark e Rom, que acham que devem organizar imediatamente um seminário para que Ishka demonstre suas habilidades financeiras em público, algo que deve satisfazer aos membros da F.C.A. Somente um negociador (de nome Nilva) concorda em comparecer (aparentemente ele é o responsável pela "Coca Cola Ferengi"). Nisto Ishka sofre um ataque cardíaco e um transplante (?) e Quark sofre uma operação de mudança de sexo para ocupar o seu lugar emergencialmente (!?) (não se pode julgar Bashir por falta de ecletismo) e vira a "outra conselheira" de Zek, Lumba.

Obviamente Nilva fica tarado por Lumba, que tenta se esquivar do negociador correndo em torno de uma mesa em uma das mais constrangedoras cenas da história da franquia. Brunt confronta os dois dizendo que "Lumba na realidade é Lumbo" (TM) o que obriga Quark a "mostrar os documentos" a todos os envolvidos, que Nilva atesta serem "suficientemente femininos" para ele. Nilva acaba convencido mesmo sem "fazer amor" com Lumba e o futuro de Zek fica assegurado.

Parece ruim? Acreditem, é muito pior!

"Time's Orphan" (*)

Os O'Brien decidem fazer um piquenique em um planeta conhecido próximo, Molly se afasta dos seus pais e atravessa um portal temporal, vivendo por 10 anos no passado daquele planeta. De volta, com 18 anos e vivida por Michelle Krusiec, ela é incapaz de viver em sociedade. Após muitas tentativas de tentar trazer Molly18 para o convívio social, os O'Brien tomam a dolorosa decisão de leva-la de volta para "casa". De volta ao passado, Molly18 mostra o caminho de volta a Molly8, que volta aos seus pais, o que efetivamente apaga da existência a sua versão mais velha.

Boa parte da premissa do segmento parece largamente arbitrária, notadamente a existência de tal "portal" em um planeta conhecido e com propriedades tão especificas (Por que não tentar examinar o "outro lado" antes de fazer o procedimento do transporte para traze-la de volta? Por que não mandar alguém em primeiro lugar para talvez olhar por ela?). Partindo disto a maior parte das reações dos envolvidos é crível, apesar de dificilmente tocantes, incluindo a decisão final (Meaney trabalha muito bem como sempre, mas ele não é mágico). O dilema moral de eliminar Molly18 em detrimento de Molly8 é tirado das mãos dos O'Brien no final, em uma conclusão que parece indistinguível de um reset-button formal. Uma "fofinha", neutra e inofensiva história secundária envolvendo Dax e Worf cuidando de Kirayoshi completa o segmento. Ao lado de "Resurrection" este é um dos episódios mais "fora de lugar" de toda a temporada.

"The Sound of Her Voice" (**)

Voltando de uma missão a Defiant recebe um pedido de socorro de uma certa capitão Lisa Cusak que se acidentou em uma planeta a dias de distância da posição corrente de Sisko e cia. Cusak corre perigo de vida devido a uma extremamente venenosa atmosfera planetária. Durante a viagem de resgate da Defiant a sua tripulação se reveza ao rádio com Cusak. Ao chegar ao local eles encontram somente os restos mortais de Cusak, na realidade as mensagens da capitão vinham de três anos no passado devido a interferência da radiação nativa daquele corpo celeste.

A idéia do episódio é bastante clara em tentar trazer uma nova perspectiva a estes personagens velhos conhecidos à medida que falam com Cusak, o problema é que infelizmente o material como escrito não é nem um pouco estimulante ou tocante e Cusak nunca se torna alguém com quem a audiência possa realmente se importar (que dirá lamentar pela sua morte). O que finalmente coloca todo o segmento no caminho da mais perfeita indiferença.

A reviravolta do cenário do resgate é mais gratuita do que qualquer outra coisa, principalmente por não ter sido usada à noção do deslocamento temporal implicitamente antes no episódio (exatamente como ninguém a bordo da Defiant simplesmente não pegou a ficha da capitão e “somou dois mais dois” é também um completo mistério). A cena do memorial de Cusak ao final é excessiva em apontar a certa morte de um dos membros da tripulação no episódio seguinte (e curiosamente mesmo assim, com tamanhos exageros, passa longe de ser comovente em qualquer sentido e nível). Uma história secundária envolvendo Quark e Odo, em que o comissário (devendo ao Ferengi por uma ajuda com Kira) deixa Quark concretizar um dos seus infames cambalachos ilegais é mais material neutro e inofensivo.

"Tears of the Prophets" (***1/2)

Sisko recebe a medalha de honra Cristopher Pike das mãos do almirante Ross. Ele é nomeado para liderar a bordo da Defiant o ataque da Frota Aliada (Federação - Império Klingon - Império Romulano) em Chin'toka (uma importante posição em território Cardassiano). O capitão também recebe uma visão dos Profetas que diz que ele não deve deixar DS9, pois algo terrível irá acontecer. Ele ignora o aviso (devido à pressão de Ross) e parte na missão. Dukat liberta um Pagh-Wraith que toma o seu corpo. Ele vai a bordo de Deep Space Nine, fere Jadzia mortalmente e liberta o Pagh-Wraith no Orb da contemplação em exposição no templo da estação. Imediatamente a Fenda espacial se fecha e todos os Orbs se apagam.

Os Profetas se comunicam com Sisko à distância, que percebe a tragédia que acaba de ocorrer na parte culminante de sua missão (que acaba tendo sucesso). De volta a estação, com a perda de Jadzia e o desaparecimento dos Profetas, Sisko está devastado. Ele tira uma licença e volta a Terra com seu filho, levando a sua bola de beisebol com ele, um sinal de que ele não sabia se iria voltar ou não a DS9.

Pelo que faz pelo seu principal personagem, o segmento encerra (apesar dos seus problemas) a temporada com chave de ouro. Sisko é colocado com uma decisão crucial nas mãos e ele falha com os Profetas (e por conseqüência para com Bajor) e também com o seu melhor amigo, algo que ele acaba não conseguindo mais suportar. Toda a preparação por contraste apresentada (Quark e Bashir se lamentando, com direito à deliciosa trilha sonora, com Vic Fontaine, por terem “perdido” Jadzia e o desejo de Worf e Dax de terem filhos, por exemplo), que precede a morte de Jadzia, funciona muito bem. Inclusive as circunstâncias (ou falta de circunstâncias) da morte da Trill.


Luiz Castanheira é editor do Trek Brasilis