Enterprise
Temporada 2

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Continuidade e bom uso de premissa
sci-fi garantem episódio campeão

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Sinopse:

A Enterprise ainda está se recuperando dos danos sofridos durante o encontro com os Romulanos. Trip e Archer usam um pod de inspeção para verificar os danos no casco e descobrem que seus problemas estão além das possibilidades de reparos e limitam a capacidade da Enterprise de vôo em dobra, isolando-a das bases terrestres mais próximas. Archer decide então, relutantemente, fazer um pedido de socorro para qualquer nave na região.

Enquanto isso, Reed está na enfermaria fazendo fisioterapia para recuperar os movimentos de sua perna, ferida durante o encontro com uma mina Romulana. O tenente é informado por Phlox de que seu tratamento ainda o tiraria do serviço por uma ou duas semanas.

Felizmente, a ajuda vem depressa. Um cargueiro Telarita no alcance das comunicações abre um canal e informa a Enterprise de que há uma estação próxima que pode efetuar os reparos. Sem opção, Archer decide seguir o conselho Telarita e encaminhar a nave para as referidas coordenadas.

Chegando lá, a Enterprise não consegue contatar ninguém na estação, que tem uma atmosfera interior de nitrogênio líquido e temperatura pouco acima do zero absoluto. Archer já está desesperançoso quanto à possibilidade de obter reparos, mas a estação dispara um raio-sonda na direção da Enterprise e milagrosamente começa a se adaptar para receber os tripulantes humanos. Ela alarga sua baía de atracação para que a Enterprise possa se aproximar e troca sua atmosfera por uma de oxigênio-nitrogênio e temperatura ambiente.

A Enterprise atraca e Archer, Trip e T'Pol vão a bordo da estação. Lá eles encontram um ambiente estéril e nenhum ser vivo -- o complexo parece ser todo automático. Uma tela de computador, em inglês, apresenta um relatório completo dos danos da Enterprise, incluindo os do tenente Reed, e sugere que os reparos poderiam ser completados em pouco mais de um dia -- dezenas de vezes menos do que levaria para o trabalho ser feito por tripulações humanas numa base espacial.

Em troca, Archer precisa escolher a forma de pagamento -- uma dentre três opções bastante razoáveis e pouco custosas para a Enterprise. O capitão acaba escolhendo ceder 200 litros de plasma de dobra, mas começa a ficar desconfiado. A estação comunica que os reparos serão iniciados e que todo o pessoal deve ser evacuado das seções danificadas. Enquanto isso, eles podem ocupar a sala de recreações da estação, com mesas equipadas com replicadores.

Archer retorna à nave e está cada vez mais incomodado com a situação -- depois de mais de um ano no espaço, o capitão fica cada vez mais cético quando encontra situações de filantropia alienígena. Mas os reparos continuam conforme o planejado. Enquanto isso, na estação, Trip está intrigado com o poder computacional da estação e quer saber o que a faz "pensar". Ele convence Reed a se infiltrar com ele pelas tubulações para atingir o núcleo do computador da estação. A transgressão entretanto ativa um alarme, e a estação automaticamente transporta os invasores de volta à ponte da Enterprise.

Enquanto isso, Mayweather, em seus aposentos, recebe um chamado aparentemente de Archer, pedindo que o encontre na baía 1. Travis pergunta ao capitão se aquela não é uma das áreas restritas pelos reparos, mas a voz de Archer diz que não mais. O alferes segue as instruções.

De volta ao comando, Archer passa uma reprimenda em Trip e Reed, chegando a ordenar que fiquem ambos restritos a seus alojamentos, quando é interrompido por Phlox, chamando-o com urgência na baía 1. Lá, ele informa o capitão de que Travis está morto, aparentemente atingido por um disparo vindo de um dos painéis na parede, em razão dos reparos sendo ali conduzidos. O capitão está desolado pela morte de Travis e intrigado pelo fato de ele ter desobedecido à ordem de ficar longe das áreas em reparos. Ele pede que Reed investigue os aposentos do piloto, à procura de pistas, mas o tenente não descobre nada.

A evidência acaba vindo de Phlox, enquanto faz a autópsia de Travis. Após ser interrompido por Hoshi, que queria se despedir do colega morto, o doutor descobre que pequenos organismos que faziam parte de uma vacina recentemente inoculados em todos os tripulantes estavam mortos no corpo de Travis, algo que não deveria ter acontecido com a morte do oficial. Phlox imediatamente comunica a Archer sua descoberta, afirmando que o corpo na enfermaria não é Travis, mas uma cópia muito bem feita.

O capitão então convoca Reed e Trip para saber o que eles descobriram ao invadir a área restrita da estação. Os dois falam que aprenderam muito pouco, pois foram transportados a alguns metros de atingir o núcleo do computador. Archer pergunta a Reed se ele conseguiria desativar o alarme que os transportou para fora, e o oficial de armamentos diz que sim.

Os dois e T'Pol então voltam à estação, enquanto Trip vai entregar o pagamento -- os 200 litros de plasma de dobra. O engenheiro tenta enrolar ao máximo a conclusão do negócio, reclamando dos serviços da estação, enquanto Reed volta a ativar o alarme e é teletransportado para a ponte. Mas dessa vez Archer e T'Pol estão com ele e usam suas pistolas de fase para desativar o sistema.

A dupla então invade o núcleo do computador, descobrindo toda a verdade -- o sistema todo é alimentado pelas mentes de diversos alienígenas, conectados em rede e ampliando a capacidade computacional da estação. Travis foi a última aquisição da estação, mas os demais estão por muito tempo lá para serem salvos. Archer e T'Pol levam Travis dali, embora a estação ameace danificar a Enterprise.

Trip deixa lá os 200 litros de plasma, mas com uma surpresa -- um explosivo acoplado por Reed aos contêineres. Archer e T'Pol estão de volta com Travis e Malcolm aciona o explosivo, fazendo com que toda a estação comece a entrar em colapso. Com a ajuda de torpedos para livrar a nave dos braços mecânicos da estação, a Enterprise consegue fugir. Mas nem toda a destruição proporcionada pela explosão foi capaz de terminar com a estação, que, depois que a Enterprise partiu, iniciou o processo de auto-reparação.

 

Comentários:

"Dead Stop" é o primeiro episódio da segunda temporada que realmente sobrevive às expectativas. Isso porque ele alia três elementos vencedores de forma bastante convincente. O primeiro deles é a continuidade -- o fato de a Enterprise ter sido seriamente no episódio anterior e ainda precisar de reparos nesse é digno de nota. O segundo é a premissa da série -- lembrar constantemente o fato de que essa nave é a primeira da Terra a estar realmente "lá fora" e de que ela depende de seus próprios meios para garantir sua sobrevivência. O terceiro é fazer bom uso de um belo tema para um episódio de ficção científica.

É incrível como não é preciso soluções mirabolantes para fazer um episódio de Enterprise brilhar. Basta seguir a lógica da própria série para descobrir onde estão as fontes da sua força. Tome por exemplo o comecinho do episódio, em que Archer e Trip estão verificando os danos no casco da nave. Quando o engenheiro revela ao capitão que eles não têm a menor chance de fazer os reparos e seguir viagem, ou mesmo voltar à Terra, Archer se vê numa posição absolutamente singular para um protagonista de Jornada nas Estrelas: ele é obrigado a enviar um pedido de socorro.

Ao longo de todas as séries da franquia, cansamos de ver os oficiais da Frota Estelar respondendo a pedidos de socorro de outras naves. Mas foi muito raro vermos a principal nave daquela série pedindo ajuda. E certamente nunca vimos algo nessas circunstâncias. Nas raras ocasiões em que Picard ou Kirk pediam socorro, eles sempre tinham a quem chamar: seja o Comando da Frota Estelar, ou uma nave amiga nas redondezas. Aqui Archer precisa enviar um pedido de socorro geral, a qualquer nave na região. Depois de mais de um ano sofrendo no espaço, vemos toda a angústia do capitão em dar essa ordem -- poderia muito bem aparecer uma nave Suliban ou Klingon pronta para dar o golpe de misericórdia na Enterprise, em vez de ajudá-la.

E de onde veio tudo isso? Do uso correto, coerente e responsável da premissa da série. E os parabéns vão todos para Mike Sussman e Phyllis Strong, os roteiristas.

Também há de se parabenizar o excelente uso da continuidade aplicado aqui. É um grande alívio vermos que os danos na Enterprise não sumiram por mágica depois de "Minefield", e é melhor ainda quando vemos que mesmo Malcolm Reed não está recuperado de seu encontro com a mina Romulana. De quebra, temos referências no episódio ao piloto "Broken Bow" e ao episódio "Fight or Flight", mostrando que a dupla de roteiristas sabe mesmo sobre o que está escrevendo. E para completar, mais uma referência Telarita (que devem dar as caras ainda nesta temporada), algo que Sussman e Strong já haviam experimentado em "Civilization", da temporada passada.

Para completar a festa, a idéia por trás de uma estéril estação automatizada que usa cérebros para alimentar seu sistema de "computação" é, embora não original, muito interessante. Ela já havia sido explorada antes, mas com total incompetência, no clássico trash da série original "Spock's Brain". Mas só aqui, em "Dead Stop", o conceito recebe o tratamento que merece.

Adicionalmente, alguns personagens recebem um tratamento bastante digno. Os destaques vão para a amizade de Trip e Reed (é impressionante como a química entre Trinneer e Keating cresce a cada novo episódio), novamente bem colocada e explorada, e para o capitão Archer, que mostra também não ter esquecido do episódio anterior, quando pega o "certinho" Reed em um ato de flagrante insubordinação.

Os demais personagens recebem o tratamento usual, que não valoriza nem deprecia, à exceção do coitado de sempre, Travis Mayweather. A função do piloto de Enterprise no episódio é fundamental: ele se torna o primeiro "camisa vermelha" da série. E o que é pior, está na cara que ele não havia mesmo morrido, ou que seria trazido de volta ao final, de algum modo. Isso tira totalmente o impacto da morte do alferes dentro do episódio, além de impedir que ele tenha alguma participação importante, ou mesmo algum diálogo minimamente representativo. Pobre Mayweather, usado como "elemento de trama", em vez de "personagem". Alguma coisa realmente está muito errada com a forma com que os produtores estão lidando com ele.

O final do episódio, com o "Resgate do Soldado Mayweather", também foi um pouco problemático. Primeiro, soou um pouco esquisito Archer nem parar para pensar na hora de decidir por tentar salvar outros alienígenas conectados à estação. É verdade que T'Pol diz que eles provavelmente não teriam salvação, mas Archer não mostra nenhuma dúvida ou remorso em ir direto a Mayweather e largar os demais lá, intocados. Ademais, a fuga de T'Pol, Archer e Mayweather da estação foi meio rápida demais, considerando que foi feita sem a ajuda de um teletransporte.

Essa última crítica, entretanto, deve ser aliviada pelo fato de que ajudou muito a ditar o ritmo frenético do clímax do episódio -- a Enterprise tentando escapar da estação, que estava "furiosa" com a devolução involuntária de Mayweather.

A sequência final (assim como o episódio como um todo) conta com espetaculares efeitos especiais, que sem dúvida figuram entre os melhores feitos para a série. E a direção de Roxann Dawson, com algumas tomadas excepcionais (como a em que Archer se revolta com o computador de bordo da estação), valorizou bastante a produção, dando vida e personalidade ao cenário aparentemente estéril do complexo automatizado.

No fim, apesar de algumas pequenas rusgas, "Dead Stop" é um excelente episódio, tanto conceitualmente quanto por valor de entretenimento, e deve acabar figurando entre os melhores da temporada.

 

Citações:

Phlox - "It's unethical to cause a patient harm. I can inflict as much pain as I like."
("É anti-ético causar mal um paciente. Eu posso infligir quanta dor eu quiser.")

Estação - "Your inquiry was not recognized."
("Sua pergunta não foi reconhecida.")

Tucker - "We're explorers. Where's your spirit of adventure?"
("Somos exploradores. Onde está seu espírito de aventura?")
Reed - "I left it in a Romulan mine field."
("Eu o deixei num campo minado Romulano.")

Archer - "You've made it clear that you think discipline aboard Enterprise has gotten a little too lax -- I'm beginning to agree with you."
("Você deixou claro que pensa que a disciplina a bordo da Enterprise ficou um pouco frouxa demais -- começo a concordar com você.")


Trivia:

int.jpg (476 bytes) "É um episódio incrível", diz John Billingsley. "Tem essa estação espacial que é usada para reparos e estamos desesperadamente procurando alguém que nos ajude a consertar a nave, porque estamos muito longe de qualquer instalação conhecida. Chegamos e ela parece ser computadorizada e ela concorda em consertar a nave. Parece estar fazendo um trabalho memorável e pedindo muito pouco em troca. E então, é claro, há uma reviravolta misteriosa quando percebemos que algo sinistro está acontecendo!"

int.jpg (476 bytes) A diretora, mais uma vez, foi Roxann Dawson. "Acabei de terminar outro episódio de Enterprise", disse. "Foi sensacional trabalhar nele! Nossa gangue faz um acordo com uma estação de reparos automatizada, que nós descobrimos que tem uma mente próprio. O conceito era ótimo." Dawson gostou tanto que foi ela mesma quem forneceu a voz à estação.

int.jpg (476 bytes) As filmagens começaram em 9 de agosto de 2002 e foram concluídas em 20 de agosto. Cenas adicionais foram gravadas em 19 de setembro. Embora esse tenha sido o quinto episódio a ser filmado na temporada, foi o quarto a ser exibido, por ser uma continuação direta de "Minefield".


Ficha técnica:

Escrito por Michael Sussman & Phyllis Strong
Direção de Roxann Dawson

Exibido em
09/10/2002

Produção: 031

Elenco:

Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T'Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie 'Trip' Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato

Elenco convidado:

Roxann Dawson como voz da estação (não-creditada)

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