Rick Sternbach: projetista do século 24

Por Salvador Nogueira  

Rick Sternbach já cria o visual de Jornada nas Estrelas desde 1979, quando ele entrou para o departamento de arte durante a produção de "Jornada nas Estrelas - O Filme". Desde então, trabalhando em A Nova Geração e em Voyager, o designer criou incontáveis naves, equipamentos e alienígenas. Algumas de suas criações se tornaram bastante populares, como a USS Voyager e o Delta Flyer. Agora, após a conclusão de Voyager, Sternbach está deixando o franchise. "Não por minha decisão", diz. Enquanto empacotava suas coisas de seu escritório na Paramount, Rick concordou em responder a algumas de nossas perguntas. Suas respostas cobrem o atual estado de Jornada, o final de Voyager, a decisão dos produtores da nova série de deixá-lo para trás e seus novos projetos, entre outras coisas.


 









 

Galeria:
"Conheça mais do trabalho de Rick Sternbach"


Conceito inicial para os Borgs


Nave Vulcana de "Unification"


Primeiro conceito para a Voyager


A Voyager e uma nave auxiliar


Detalhe do disco defletor(Voyager)


A nave Delta Flyer (Voyager)

 

 

 

 

 

 

 

 
Trek Brasilis - Seu primeiro envolvimento com o franchise foi em 1979, em "Jornada nas Estrelas - O Filme". Como você se envolveu com o projeto e o que você fez naquele filme?

Rick Sternbach - Eu encontrei o designer de produção Joe Jennings no fim de 1977, quando "O Filme" ainda era a segunda série de TV de Jornada em desenvolvimento, e, embora não houvesse uma vaga disponível para o projeto, eu deixei um cartão e um currículo para trás. Em abril de 1978, logo antes de o filme ser anunciado, Joe me ligou e perguntou se eu gostaria de vir a bordo. Naturalmente, eu disse sim. Eu fiz um bom número de rascunhos de cenário, layouts gráficos de painéis de controle e de sinalização do interior da nave e alguns designs de equipamento durante um período de cerca de oito meses.


TB - É verdade que quando você ouviu sobre uma nova série de Jornada você imediatamente ligou para Gene Roddenberry para trabalhar nela? Por que você estava tão ansioso para estar em Jornada novamente?

Sternbach - Eu estava em uma auto-estrada quando ouvi a notícia no rádio, e imediatamente parei em um posto de gasolina e liguei para o escritório de Gene. Susan Sackett, a assistente de Gene, me garantiu que as coisas estavam andando e que eventualmente eles iriam querer ver meu trabalho. Jornada nas Estrelas sempre foi uma combinação intrigante de personagens interessantes, histórias de ficção científica e designs de equipamento espacial, e tudo isso me atraía.


TB - Junto com Michael Okuda, Andrew Probert, Herman Zimmerman e outros, você desenvolveu o estilo visual de Jornada pelos últimos 15 anos. Parece que cada um de vocês tem sua própria especialidade. Como as tarefas de design são divididas entre vocês?

Sternbach - Um ilustrador de filmes e televisão como eu tipicamente tem a tarefa de criar desenhos que não são normalmente vistos na tela, mas são usados para criar outros elementos que são vistos, como cenários, equipamentos e veículos. Um artista cênico como Mike tipicamente faz arte que é vista diretamente no cenário, e o designer da produção supervisiona o departamento de arte.


TB - John Eaves, Herman Zimmerman e Michael Okuda já estão confirmados para estar na próxima série de Jornada, e você está deixando o franchise. Você pretendia sair? Rick Berman e Brannon Braga deram alguma razão para não escolhê-lo?

Sternbach - Eu não estou saindo por minha decisão. Eu já tinha ouvido que Eaves estava sendo colocado para trabalhar nos designs da Série V antes de fecharmos o departamento de arte de Voyager, e eu simplesmente esperei para ouvir se eu seria requisitado para o novo programa enquanto concluía o trabalho em "Endgame". Quando o pedido não veio, eu terminei de empacotar minhas coisas e decidi passar a outros projetos. Ninguém do escritório de produção ou de outro departamento de arte fez algum contato comigo sobre a nova série, a favor ou contra, o que é decepcionante apenas pelo senso de falta de profissionalismo da parte deles. Outros membros da equipe também relataram experiências semelhantes. Tecnicamente falando, entretanto, eu havia sido contratado para a última temporada de Voyager, e a companhia não tinha realmente nenhuma obrigação de fazer nada além do que eles fizeram.


TB - Até onde sabemos, a nova série será uma pré-sequência, em uma nova Enterprise. Você sabe de algo a respeito que possa nos contar?

Sternbach - Não tenho nenhum pista além do que todos estamos lendo na internet.


TB - Você poderia falar um pouco sobre as dificuldades que você antecipa para criar um visual que precede a série original de Jornada? Como você lidaria com elas?

Sternbach - Eu não caracterizaria o trabalho de design como tendo alguma dificuldade. Para mim, seria simplesmente uma questão de encontrar a época envolvida, pegar todos os dados fornecidos pelo designer de produção, pelos roteiristas e pelos produtores, e costurar o equipamento e os veículos necessários a se encaixar nos requisitos. Já sabemos que a época é pré-Clássica, então as decisões só teriam de ser feitas sobre as capacidades dos veículos, os painéis e os controles, pilotagem, armas etc. Eu trabalharia em uma evolução definida do design; ou seja, mostrar elementos reconhecíveis do equipamento que vimos na Série Clássica e do que poderíamos ter hoje, e criar uma síntese. Resta saber se eles vão mesmo fazer isso.


TB - Após passar 15 anos criando equipamentos, naves e cenários para Jornada, é difícil manter as coisas parecendo novas? Como você resolve isso?

Sternbach - Não é tão difícil criar novas aparências se você entende o material com que está começando. É um pouco uma questão de balancear, entre inventar algo muito, muito novo que talvez seja um pouco radical demais e inidentificável, e algo que parece bastante com as velhas coisas que já vimos. Alguns dos melhores designs deveriam te remeter, ao menos subconscientemente, a algo anterior.


TB - Seu último trabalho em Jornada foi para o finale de Voyager. O que os fãs podem esperar, de um ponto de vista visual? Muitos efeitos especiais? Muitas naves novas? Cenários? Alienígenas?

Sternbach - Eu não vi tudo que está sendo feito para o trabalho de CGI [imagens geradas por computador], mas contribuí com alguns designs de veículos da Frota Estelar e alguns ítens Borgs. Claro, haverá muitos novos efeitos visuais; o roteiro certamente fala sobre algumas empolgantes sequências de ação espacial. Sobre novos cenários e alienígenas, haverá alguns novos, outros que já vimos.




TB - Algumas pessoas acham que Jornada está descendo a ladeira desde o fim de A Nova Geração. Como você vê o atual estado do franchise e as perspectivas para o próximo filme e a próxima série?

Sternbach - Eu realmente não sei qual é a batida dos fãs ou da audiência em geral quando se fala em Jornada, mas eu imagino que o franchise vai continuar enquanto o estúdio for capaz de fazer dinheiro com ele, e isso deve acontecer enquanto os roteiros forem originais e os valores de produção permanecerem altos. 


TB - Quanta interferência existe sobre seu trabalho de Rick Berman e dos outros produtores? Eles dão direções limitantes para os designs ou você tem um grande escopo para trabalhar?

Sternbach - Como mencionei em minhas lembranças para o Startrek.com, eu tive uma incrível liberdade em meus designs de naves e equipamentos, com apenas notas ocasionais dos produtores sobre algo que eles gostariam de ver feito, e então eu trabalhava um novo desenho com as mudanças requisitadas.


TB - Você tem um design específico do qual você realmente se orgulha?

Sternbach - Tenho de dizer que a Voyager foi a nave mais divertida de trabalhar, com o cruzador de ataque Klingon, o Delta Flyer e o orbitador marciano Ares IV sendo uma mistura de veículos bem-sucedidos.


TB - E sobre um decepcionante?

Sternbach - Bem, tentamos não fazer ferros-velhos, e eu acho que não tenho realmente uma opção para um design de nave ruim. As naves que vimos semana após semana precisam ser bem feitas, e nós recebemos tempo adequado para desenvolvê-las. Alguns dos designs de "nave alienígena da semana" não são exatamente ruins, mas talvez não tenhamos tido tempo em uma agenda de produção de TV para fazer mais com eles.


TB - Além de seu trabalho em Jornada, você teve a chance de trabalhar com Carl Sagan e Ann Druyan na série da PBS "Cosmos". Como foi, para uma pessoa especialmente interessada em ciência como você, trabalhar com o Carl? Qual foi sua impressão dele?

Sternbach - Carl era definitivamente entusiasmado sobre ciência, um grande promotor do artista espacial, e aquele entusiasmo era contagiante. Apesar de como o público possa vê-lo como um "popular astrofísico da TV", nós o conhecemos como um homem devotado a procurar o conhecimento de quem somos, de onde viemos, para onde vamos, e sobre o que o Universo é afinal. 


TB - Qual foi o seu trabalho na "Cosmos"?

Sternbach - Eu fazia parte da equipe de efeitos e arte que basicamente construiu o Universo em dois anos e meio; não é um truque ruim para meros mortais. Eu estava envolvido na construção de modelos planetários, criação de storyboards [sequências de desenhos que indicam movimento, em esquema similar ao usado em histórias em quadrinhos] de sequências de efeitos, pintura de grandes células de animação para tomadas de viagens estelares, construir equipamento de mão, e geralmente planejar e supervisionar muitos dos clipes de efeitos para a série.


TB - Você não apenas trabalhou projetando para Jornada, como também esteve envolvido na produção de manuais técnicos (junto com Michael Okuda) sobre a série. Qual é o sentimento de fazer isso? Você sente que pode dar um uso melhor a alguns trabalhos que, quando chegam à tela, estão lá por apenas alguns segundos, algumas vezes quase invisíveis?

Sternbach - Os manuais certamente me permitiram contar aos leitores coisas sobre o equipamento e os veículos que não tínhamos tempo de contar nos episódios; quarenta e seis minutos de tempo no ar não é muito, então os livros assumiram o papel para os fãs que queriam descobrir mais sobre possíveis backgrounds e detalhes do hardware.


TB - Algum outro manual técnico ou livro de referência no horizonte? Voyager precisa de um... não concorda?

Sternbach - Pelo fato de a Simon & Schuster/Pocket Books ter colocado seu foco de publicação de Jornada principalmente sobre a ficção, é improvável que eu faça algum outro manual técnico para eles. Eu irei, entretanto, continuar a detalhar algumas das minhas naves e discutir questões técnicas gerais de Jornada, não só de Voyager, na revista "Star Trek: The Magazine". 


TB - O que você pretende fazer agora, depois de ter deixado Jornada?

Sternbach - Estou certamente fazendo novos contatos no mundo do cinema e da televisão, na esperança de embarcar em uma nova série de ficção científica. Competição é uma coisa saudável, certo? Também estou trabalhando em alguns projetos de livro sobre exploração espacial para o grande público, particularmente "A Spaceship for Earth", um exame do potencial para vôos regulares para outros planetas do Sistema Solar usando uma série de veículos grandes e reconfiguráveis.


TB - Você participa de convenções de Jornada?

Sternbach - Eu nunca tive tempo para comparecer a muitas nos últimos anos, embora eu já tenha cumprido minha cota de palestras e shows de slides nelas.


TB - Você conhece o Brasil? Gostaria de vir aqui para uma convenção?

Sternbach - Eu cheguei tão perto quanto a Venezuela, durante um cruzeiro de navio, mas esse foi o máximo. Adoraria fazer uma convenção no Brasil contanto que fosse compatível com minhas responsabilidades familiares e profissionais.


TB - Alguma mensagem para os trekkers brasileiros?

Sternbach - Fico contente que estejam por perto! Continuem assistindo!



Entrevista realizada em 2 de maio de 2001.