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              roteiro de Jornada nas Estrelas I  O primeiro filme de Jornada trata de
              apresentar novas aventuras da tripulação da Enterprise dando
              continuidade à missão que deveria ter sido de cinco anos na
              televisão. 
 Para tentar fazer algo aceitável, razoavelmente sério e ao mesmo
              tempo atraente ao público e aos fãs tradicionais, houve uma
              combinação do episódio "The Changeling" com a
              proposta de roteiro "The God Thing" e mais o que
              apareceu ao longo do tempo com as pressões da equipe de produção.
 
 O enredo é, em si, atraente. A sonda V'ger numa máquina
              descomunal vem para a Terra em busca do seu criador, sem ter de idéia
              de como e por que surgiu. Dá pra associar com a condição
              humana, que procura existir e conhecer o mundo em que vive, mas não
              tem muita clareza de por que e como está aqui, ou quem é seu
              criador.
 
 Tirando as respostas religiosas, o que pode ser dito pelo próprio
              conhecimento da humanidade é variado e diverso, mas insuficiente.
              Aqui já se aplica a "infinita diversidade em infinitas
              combinações" dos Vulcanos.
 
 A atitude de Spock frente à entidade desconhecida é diferente da
              de Kirk. Spock está muito mais preocupado em saber sobre a sua
              natureza e a vastidão do conhecimento que ela acumulou na sua
              viagem, ao passo que Kirk se preocupa mais em conhecer a criatura
              para livrar a humanidade da ameaça de destruição.
 
 Não poderia ser de outro modo, pois Spock é o cientista que
              virou soldado e Kirk é o soldado heróico, que tem uma missão
              científica e diplomática. O estilo de um completa o do outro
              para o bom andamento da missão da Frota Estelar e da proteção
              aos interesses da Federação.
 
 O fato de Spock estar mais fascinado com a inteligência e o saber
              da sonda/máquina/criatura fez Shatner associa-la à assimilação
              de Spock pelos Borgs em seu livro "O Retorno do Capitão
              Kirk", publicado no Brasil pela 67 Editora.
 
 No filme, não ficamos sabendo quem seria a civilização tecnológica
              que ampliou os poderes da sonda da NASA Voyager 6. Quando a série
              Jornada nas Estrelas - A Nova Geração apresentou os Borgs,
              muitos especularam se eles eram os responsáveis pelo fato.
 
 Daí pra frente não houve nenhuma alusão a isto em qualquer episódio
              ou filme. Como os livros não são canonizados, ou seja, não são
              aceitos como a história "oficial" de Jornada, por terem
              mais liberdade criativa, foi sopa no mel pra associar Spock e
              V'ger com os irmãozinhos da Seven of Nine, de Jornada nas
              Estrelas - Voyager.
 
 Um futuro e possível par romântico foi apresentado no filme
              através da navegadora delta Ilia e o imediato Willard Decker. É
              insinuado que eles tiveram algum relacionamento no passado, o que
              ajudou na resolução da trama, quando a tenente Ilia,
              transformada em sonda de V'ger, reencontra o seu criador através
              do código enviado pelo comandante Decker. Daí em frente foi a
              união biocibernética total, se transformando no maior orgasmo do
              quadrante!!!
 
 Com o lançamento de A Nova Geração, este tipo de relacionamento
              amoroso serviu de modelo para o comandante Riker e a conselheira
              Troi.
 
 Para não desviar do chavão da maioria dos filmes de ficção
              científica, a história mostra a ameaça à Terra de uma criatura
              misteriosa e poderosa. Dá tão certo este argumento que os outros
              filmes da turma da Frota Estelar tiveram a mesma experiência,
              conforme vemos em "A Volta para Casa" e "Primeiro
              Contato".
 
 É sempre aquele argumento velho e requentado da nossa mania de
              perseguição galática, como se algum povo alienígena
              inteligente se importasse com um tipo de criatura desprezível
              como nós. Porém, confesso, é difícil deixar de abordar o tema,
              já que o filme é feito, visto e pago por humanos.
 
 E lá vamos nós, com uma xaropada de tomadas do novo modelo da
              Enterprise, conduzida com a ajuda dos coadjuvantes sem muita coisa
              pra fazer, a não ser o de sempre. O destaque vai para a tenente
              Uhura e o seu penteado "black power" e a promoção de
              Chapel a médica. Isto não funcionou muito bem e deixou o Dr
              McCoy espremido entre a sua adorável rabugice, as implicâncias
              com Spock e o aconselhamento ao amigo Kirk.
 
 Ah! É claro, tem também Bjo Trimble e a então senhora Shatner
              como figurantes e Mark Lenard (Sarek, na série) com uma pequena
              participação debaixo da máscara tipo cabeça de tartaruga
              altamente inovadora dos Klingons; ficou tão boa que dura até
              hoje.
 
 Enfim, o filme pode ser ruim, mas, nem tanto. Dá pra aturar em
              comparação com "Jornada nas Estrelas V - A Última
              Fronteira", o lanterninha na preferência "trekker"
              em todos os quadrantes.
 Claudio
              Silveira escreve quinzenalmente sobre os filmes com
              exclusividade para a Trek Brasilis 
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