Sarek de Vulcano, filho de Skon, neto de Solkar, pai de Spock. Este é um dos personagens marcantes da saga de Jornada nas Estrelas, até mesmo mais do que alguns do elenco da Série Clássica e dos spin-offs da franquia ao longo dos anos.

Mark Lenard é o ator que interpreta este personagem com tanta competência. Ele já tinha personificado um comandante Romulano na “nave rômula” (sim, eu assisti ao episódio pela primeira vez com a antiga dublagem da AIC-SP, em que nave Romulana ainda era "rômula"!), antagonizando com Kirk em "Balance of Terror", episódio considerado por isso mesmo um dos melhores em toda a série.

Lenard retornou em "Journey to Babel", na pele do grande Sarek, onde vimos seu relacionamento tortuoso, conflitante e respeitoso com o seu filho teimoso que abraçou a carreira na Frota Estelar. Na Nova Geração ele apareceu em um episódio com seu nome, desempenhando uma missão como embaixador da Federação, onde manifestou uma debilidade física, a síndrome de Bendii.

O interessante nesta história foi a ajuda de Picard a Sarek, estabelecendo um elo mental com o Vulcano. Isso foi aproveitado em "Unification, Part I", quando, de novo, nosso magnífico embaixador se encontra triste e amargurado com a doença que o levaria à morte. Isso sem contar, é claro, com a última briga com seu filho, já também embaixador, Spock, disposto a tentar uma unificação de seu planeta com os Romulanos à revelia da Federação. Nunca mais pudemos ver Sarek pontificando em outra série, porque o ator adoeceu e faleceu (vítima de câncer) anos depois. Acho que ele teria merecido se envolver com os contratempos de Deep Space Nine e Voyager. 

Na produção de Jornada para o cinema, Lenard interpretou um dos Klingons que foram mostrados sendo atingidos pela nave de V'Ger. A surpresa aqui estava menos no ator e mais na então revolucionária maquiagem, com aquela "tartaruga" na cabeça. Nas outras vezes, Lenard interpretou Sarek, com exceção do quinto e embaraçoso filme. Nesse caso, um jovem Sarek demonstra certo desprezo pelo fato de seu filho Spock ter nascido com características humanas, conforme foi registrado na sua memória, instigada pelo meio-irmão Sybok. Mas, como esse filme é considerado anátema, não podemos levar essas coisas em consideração. De todo modo, foi a única vez que o personagem teve a sua interpretação realizada por outro ator, Jonathan Simpson. Foi hilário, mas, não teve nada a ver com o Homer.

As participações de Sarek foram bem mais incisivas e interessantes nos outros momentos. No terceiro e quarto filmes, ele teve bem mais destaque por causa da sua preocupação em "ressuscitar" seu filho, lançado morto no planeta Genesis. Vale lembrar aqui a chamada que ele deu em Kirk, cobrando uma forma de resgatar o corpo de Spock para levá-lo ao monte Seleya e deixá-lo aos cuidados dos sacerdotes na cerimônia do "fal-tor-pan".

Em outros filmes, as melhores cenas são as da sua defesa dos então rebeldes da Frota Estelar, liderados por Kirk. Outra boa aparição foi em seu diálogo com Spock em "Jornada IV", depois do julgamento e da condenação desse capitão herói que tem mania de pôr os outros numa barca furada. Este é o momento onde Sarek revela o seu orgulho pelo trabalho de Spock e seus companheiros, admitindo seu equívoco no passado de ter sido contra o ingresso do filho na Frota Estelar.

Penso que é lamentável o fato de seu papel ter ficado reduzido a poucos diálogos com o presidente da Federação em "Jornada VI". Como era o último filme de Kirk e sua turma, Sarek poderia participar mais. Ele estava lá batendo palmas na Conferência de Khitomer, mas não foi o suficiente. Concordo que é meio injusto falar depois da casa pronta, mas gostaria de ter visto mais a participação desse que é o primeiro grande Vulcano na preferência da população de todos os quadrantes da galáxia. Nas versões da Nova Geração já não daria pra fazer grande coisa porque não tinha muito a ver. Também Lenard já não estava disponível para o papel e a trama não ajudava.

Apesar de tudo, Sarek se estabeleceu como um elo sólido entre as duas séries criadas por Roddenberry, tanto na televisão quanto no cinema. É isto que conta pra dedicarmos a ele nossas maiores homenagens, sem esquecer o fato de que isso se deve, mais do que tudo, à qualidade do ator que o interpretou.

Vida longa e próspera, Mark.

Cláudio Silveira escreve regularmente sobre os filmes com exclusividade para o Trek Brasilis