| Leonard
              Nimoy à Procura de Spock  "É
            de longe a melhor coisa que fiz, o melhor lugar de repouso que já
            conheci." 
 
  Esta
            outra citação famosa do livro de Charles Dickens tem a ver tanto
            com o segundo quanto com o terceiro filme, Jornada nas Estrelas III
            - À Procura de Spock. Ele foi a continuação do retumbante sucesso
            de Jornada no cinema e consolidou a vida o projeto, ajudando a
            diminuir as incertezas quanto ao seu futuro. 
 A batalha para fazer a Enterprise navegar mais uma vez foi bem mais
            tranqüila que nos flmes anteriores. Harve Bennett continuou tocando
            a produção porque já tinha mostrado a que veio, mas o grande
            problema era saber quem seria o diretor. Nicholas Meyer não queria
            ser, assim como alguns chefões não o queriam.
 
 Leonard Nimoy aproveitou a oportunidade de ter uma posição favorável
            --pois o filme era sobre a volta de seu personagem-- e a
            "janela" estava aberta para exigir um poquinho mais do que
            o de costume por causa do sucesso anterior.
 
 
  Após
            semanas de negociações, a verdadeira e mais importante cadeira de
            comando da Enterprise estava ocupada por um diretor novato e
            inexperiente, mas muito promissor. 
 Alguns boatos quase impediram que isso acontecesse: Nimoy se
            ofereceu para dirigir o filme e alguns acharam ótimo, mas alguém
            inventou a história de que ele odiava Jornada e não queria saber
            mais disso, fazendo constar uma cláusula no seu contrato anterior
            de que se afastaria para sempre deste trabalho.
 
 Depois de negar veementemente o boato e pressionar o mais que pôde,
            tornou-se o diretor. É claro que, mesmo assim, muita gente ficou
            apreensiva: o elenco, os executivos, Harve Bennett e Gene
            Roddenberry, mas Nimoy mostrava firmeza e competência, fazendo um
            filme bem sucedido artística e comercialmente, com gastos abaixo do
            orçamento inicial.
 
 
  Todo
            mundo gostou do resultado, mas, Gene Roddenberry não deixou de
            reclamar com Bennett por causa da destruição da Enterprise. Ele
            achava que Bennett tramou para substituí-la pela Excelsior, o
            "grande experimento", interferindo de novo em sua obra,
            dessa vez no seu símbolo maior. 
 Desculpas à parte, a esta altura do campeonato, muita gente da
            equipe não dava mais muita bola para o que Roddenberry falava.
 
 O roteiro do filme dá continuidade ao filme anterior, resolvendo a
            trama desencadeada pelo segredo em torno do Projeto Gênese e
            trazendo Spock do mundo dos mortos através da ação intempestiva
            de seus companheiros.
 
 
  O
            tema da amizade e seus limites é posto no filme de maneira
            especial. Afinal de contas, não é todo mundo que sai por aí
            desobedecendo ordens, invadindo manicômios e destruindo sua nave
            para ir a um planeta proibido para resgatar um amigo. Intrepidez é
            isso aí! 
 James Kirk experimenta um sentimento de soliadiedade e união muito
            forte quando conta com a ajuda de seus liderados para pôr seu plano
            em ação. Encorajado por eles e cobrado por Sarek, o pai de Spock,
            ele tenta o absurdo e o impossível.
 
 Ao mesmo tempo que vai audaciosamente em busca de seu objetivo,
            sofre uma perda brutal. O seu filho David morre nas mãos de seus
            maiores inimigos, os klingons. Shatner disse que a reação de Kirk
            ao saber a notícia foi o melhor desempenho de Kirk nas telas,
            apesar das contusões que sofreu para filmar as cenas na ponte de
            comando da nave.
 
 Passar a maior parte da vida navegando estre as estrelas, ignorando
            a existência de seu filho, para depois encontrá-lo, desenvolver um
            relacionamente amigável com ele e perdê-lo por causa da pura
            maldade e desejo de vingança de um membro do Império Klingon é
            demais da conta para alguém, mesmo para uma figura como Kirk.
 
 A outra grande perda é a sua nave, em função dos mesmos klingons.
            Isso esgota quase todas as possibilidades de continuar lutando com
            suas próprias forças. Embora more numa bela casa de frente para a
            baía de San Francisco, não fosse o resgate bem sucedido de seu
            amigo, nosso querido herói teria caído de vez no fundo do mar.
            Parece que, com essa, ele aprendeu o significado de um velho ditado
            (vulcano ?!) que diz: "Rapadura é doce, mas não é mole, não".
 
 
  Pela
            primeira e única vez, Spock rescita o mote de Kirk sobre a missão
            da Enterprise no início do filme, mas, infelizmente, não nos
            mostrou se e o que tem do lado de lá da morte. Pelo menos fez com
            que nós saibamos sobre a dureza de crescer rapidamente sem uma
            namorada e os amigos pore perto. 
 A sua experiência de se formar um adulto em poucas horas por causa
            do efeito mutante do planeta Gênese é muito dramática para apenas
            duas horas de fita. O aspecto mais explícito são as passagens pelo
            "pon farr", o acasalamento vulcano. Saavik quebrou um galhão
            se tornando a sua companheira, o que nos faz pensar na possibilidade
            não-explorada de um futuro casamento.
 
 Até porque, sendo ela vulcana e, para muitos, meio romulana (apesar
            da intenção do roteiro, não foi explicitado nas filmagens), já
            daria um bom motivo para fazer Spock sair atrás da unificação com
            os romulanos, conforme vimos na Nova Geração.
 
 E olha que Saavik já andava meio chateada com a afirmação de Kirk
            no funeral de Spock, dizendo ser ele a alma mais humana que seu
            capitão já havia encontrado por aí.
 
 Depois de ter sido levado a Vulcano para retomar o seu
            "katra" num ritual místico tradicional, reconhece e
            reune-se aos seus amigos de jornada. Este ritual pode soar meio
            esquisito para um povo que adota a lógica como princípio
            fundamental de sua cultura, mas devemos nos lembrar, que, para os
            vulcanos , "sempre há possibilidades". É lógico!
 
 
  McCoy
            tem uma participação maior ainda que nos outros filmes por ter
            guardado o "katra" de seu amigo em sua mente. Ele vive a
            experiência de ser duas pessoas ao mesmo tempo e por isso é dado
            como louco. Antes de ser internado pela segurança da Frota Estelar,
            tenta armar um jeito de ir ao planeta Gênese, sem sucesso. 
 É o plano de Kirk e da tripulação que se concretiza. A ajuda dos
            outros é fundamental para isso. Assim é que Sulu está ótimo
            dando uma de "karateca" no gorila da segurança e Uhura
            fez mais do que abrir as saudações de sempre ao fechar um cadete
            fedelho no armário de um posto de teletransporte.
 
 Scotty fez mais um de seus "milagres", sabotando os
            motores da Excelsior e consertando a Enterprise em tempo recorde.
            Chekov desta vez teve uma participação menor, mas voltaria a
            brilhar no próximo filme.
 
 
  Vocês
            sabem o nome do comandante klingon?! Nem eu consegui descobrir até
            hoje! Ele foi interpretadado pelo então não tão famoso
            Christopher Lloyd com todas as caras e bocas comuns aos klingons,
            bancando o babaca com sua nave roubada e abandonado num planeta
            quase totalmente destruído. Nada que um bom klingon não mereça
            para testar a sua honra de guerreiro. 
 A participação de uma atriz como Judith Anderson no papel da
            sacerdotisa vulcana deu uma boa imagem de seriedade e dignidade do
            filme.
 
 À Procura de Spock teve efeitos visuais interessantes e bem
            colocados para o seu orçamento. Não comprometeu o
            "franchise", faturou 76 milhões e se tornou uma boa ponte
            de ligação entre dois grandes sucessos de Jornada no cinema.
            Valeu, Nimoy!
 Cláudio
            Silveira escreve quinzenalmente sobre os filmes com
            exclusividade para a Trek Brasilis
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