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Voltando para Casa em grande estilo

As coisas iam muito bem para todos na Paramount por causa do sucesso de Jornada nas Estrelas III. As negociações para um quarto filme foram bastante fáceis, mesmo com as mudanças ocorridas no "staff" do estúdio. Nimoy gozava de muitos privilégios assim como Harve Bennett. Muitos risos, tapinhas nas costa, almoços e jantares ajudavam a estabelecer o ritmo de trabalho para acertar o roteiro do filme, que deveria ser uma história leve, pois as coisas já tinham ficado difíceis para a tripulação da Enterprise nos filmes anteriores.

Nicholas Meyer voltou para ajudar por causa do tempo curto de preparação e propôs algo que já tinha feito em " Um Século em Quarenta e Três Minutos": fazer uma volta ao tempo para resolver algum problema de outra época. Harve Bennett também concordou porque gostava de " A Cidade à Beira da Eternidade", da série televisiva. Até Gene Roddenberry achou uma boa, embora tivesse a sua idéia sobre o assassinato de JFK deixada de lado mais uma vez pela produção. Seus memorandos foram mandados à rodo para Bennett, que resolveu acatar e comentar só o que ele achava bom, ignorando o resto.

A proposta de fazer uma história leve e divertida mas que tivesse um bom ensinamento foi extremamente bem sucedida em todos os sentidos pois em meados da década de 80 o mundo já estava mobilizado em função dos desastres ecológicos causados por desequilíbrios promovidos pelo homem. Nimoy aproveitou bem esses ganchos contando ainda com a simpatia do público em colcoar as estrelas da Frota Estelar no seu cotidiano.

Nimoy foi influenciado pela leitura de um livro que apontava para o 
extermínio de milhares de espécies no século XX por causa do desequilíbrio ambiental. Por isso, propôs que o problema a ser resolvido tivesse a ver com a extinção de baleias corcundas outrora contactadas por seres alienígenas que retornaram ao século XXIII para saber como eles estavam. Com a ajuda de "experts ", um biólogo marinho, um cientista especialista em comunicações interestelares bolou a sonda que vemos na abertura do filme. A já renegada tripulação da Enterprise teria que voltar ao nosso tempo para salvar a Terra no seu século, mas precisaria de gente que colaborasse. 

Eddie Murphy se ofereceu para fazer um professor aloprado que entenderia do assunto mas era muito ridicularizado por todos pelo fato de acreditar em vida extraterrestre. Ele já era um estouro de bilheteria na Paramount e trekker de carteirinha, mas acharam melhor deixar separados dois grandes sucessos do estúdio para não comprometer muito, caso o filme não fosse bem sucedido. Parece que um pouco dessas idéias ajudaram Murphy em "O Professor Aloprado" em duas edições na tela grande muito tempo depois.

Os outros atores aderiram rapidamente e buscavam ver seus personagens mais desenvolvidos, o que de fato aconteceu, com exceção de Sulu. Haveria uma cena em que ele conheceria um garoto nas ruas de S. Francisco, que depois de algum papo, descobriria que ele era o seu bisavô. Mas a mãe e o irmão do ator mirim atropelaram o seu desempenho e atrapalharam tanto que a cena foi cortada, para desespero de George Takei. Algumas outras coisas não deram certo. Houve uma certa dose de "fogueira das vaidades" entre Nimoy e Bennett, disputando o controle sobre o filme, causando ranhuras no seu relacionamento. Mas quase tudo rolou às mil maravilhas, até mesmo nas cenas de rua em S. Francisco, sem que os pedestres soubessem que estavam num filme, pelo menos no início, até que a multidão começasse a se aglomerar em volta.

Um crédito deve ser dado à ILM porque as baleias eram marionetes e modelos artificiais bastante convincentes. Apenas em 10% das cenas apareceram baleias verdadeiras com imagens de arquivo. "Tudo o que peço é uma nave e uma estrela para me guiar", repetiu Kirk ao receber a comissão da nova NCC1701-A, Enterprise citando J. Masnfield quando voltava de fato para "casa" na quarta edição de suas aventuras. Ele já tinha sido promovido, processado, condenado, rebaixado mas cumpriu a sua missão com a ajuda de seus amigos mais uma vez. Não faltou a boa e velha coragem, heroísmo, etc, para superar as dificuldades das situações anteriores e da ameaça planetária de um novo alienígena totalmente desconhecido. 



Descontando os recursos precários do século XX, ele teria que tentar reunir de novo pau, pedra e enxofre buscando as saídas possíveis. A sorte também o ajudou porque contou com a ajuda de uma "minhoca da terra" que o interessou mais do que a simples competência profissional. Mas nosso herói-galã tomou um sinal vermelho da Dra. Gillian por estar mais preocupada com a exploração do desconhecido no futuro. Assim, temos Kirk de volta à cadeira da ponte de comando da sua nave deixando definitivamente de ser um burocrata e "fazendo a diferença", conforme diria a Picard muito tempo depois.

Spock ainda meio descompassado pelo retorno do seu "Katra" é levado a se confrontar com a sua metade humana através das lembranças de seu salvamento feito pelos seus ilógicos amigos, da preocupação de sua mãe, Amanda, com o seu estado emocional, dos erros e arrogância dos humanos ao cometer muitos equívocos na história, como o desrespeito às outras formas de vida no planeta, se colocando como superior a elas. A dificuldade dos humanos em lidar com o diferente e desconhecido ainda atrapalhou a ponto de ter que parecer um dos "doidões" dos movimentos de rebeldia estudantil da década de 60 nos EUA vestindo uma túnica branca com uma tira na cabeça. Ainda bem que São Francisco é uma cidade onde o "normal" e o "anormal" convivem democraticamente.



No fim de tudo, Spock alcança o tão difícil reconhecimento de seu pai, Sarek, sobre o seu ingresso na Frota Estelar em vez de ter permanecido na Academia de Ciências de Vulcano. Além disso, Spock cita um belo ditado que serve muito para a realidade dos humanos : "A burocracia é a única constante no Universo ".

McCoy volta a ser o grande bom doutor de sempre salvando Chekov das mãos dos bárbaros do século XX e fazendo milagres como a cena da velhinha no "Mercy's Hospital". Ele ainda arrisca uma discussão filosófica sobre a vida/morte com Spock, mas foi deixado de lado. De todo modo, sempre que pode não deixa de provocar o vulcano com sua ironia e diatribes usuais.

Quando o IBM 386 ainda arrebatava corações e mentes como um símbolo de avanço tecnológico deste século, Scotty já mostrava o seu estranhamento com uma máquina tão obsoleta que precisava de um teclado para funcionar! Este sim teve que juntar pau, pedra e enxofre para dar mais um jeitinho de fazer o seu capitão sorrir mais uma vez, passando a tecnologia de "plexiglass" para um jovem e promissor empresário da Califónia. Mais ainda, ele teve que usar a velha e ineficiente energia nuclear, tida como demonstração máxima de poder e força, para restaurar os cristais de "dilithium" da desgastada ave-de-rapina klingon. "Santo milagre, Batman!".

Uhura conseguiu um pouco mais de espaço atuando com Chekov para "roubar" energia do CNV- 65 Enterprise e conseguir os códigos de comunicação com as baleias. Afinal de contas vimos que "quem não se comunica, se trumbica". (Este é mais um ditado vulcano?).


Sulu e Chekov também apareceram um pouco mais. O primeiro se divertindo com a pilotagem de um "velho" helicóptero Hurley e feliz da vida ao ver como era no passado a sua cidade natal. O segundo é digno de nota porque é responsável por algumas das boas piadas do filme, sendo um russo a bordo de um navio de guerra norte-americano quando ainda se consideravam inimigos mortais, e, também, pela gracinha de querer se autopromover pela suposta falta de memória causada pelo seu acidente a bordo do "Big E".

George e Gracie ajudaram a Federação a sair da mira dos alienígenas e viveram felizes para sempre no século XXIII. Todo o desfecho estava completo, JE estava mais do que nunca consolidado como um grande sucesso cinematográfico, a nave estava bem em cima dos trilho, mas alguém a faria derrapar e capotar a beira da fronteira final...

Cláudio Silveira escreve quinzenalmente sobre os filmes com exclusividade para a Trek Brasilis