Publicado como artigo de
Especiais em janeiro de 2003



 









 


Esperando "Nêmesis"

Por Fernando Rodrigues

Os fãs brasileiros já puderam conferir pela primeira vez a mais nova (e provavelmente última) aventura da Nova Geração nos cinemas. "Nêmesis" (isso mesmo, nada de Jornada nas Estrelas no título) chegou às terras tupiniquins após um desempenho medíocre nos EUA – a pior bilheteria de todos os filmes e, ao mesmo tempo, o filme de maior custo.

A crítica especializada se dividiu entre considerá-lo um dos melhores filmes de Jornada e um dos piores. Muito se especulou a respeito da má bilheteria, sugerindo até que o público americano estivesse cansado da franquia, após mais de 15 anos de exibição ininterrupta de episódios na telinha.

O julgamento final cabe aos fãs. Mas vamos antes fazer um pequeno resumo dos fatores envolvidos na produção deste que pode ser o último filme de Jornada em muitos anos.


O Fator “Insurreição”


1998. Apenas dois anos após o estrondoso sucesso de “Primeiro Contato”, os fãs mais uma vez podiam assistir a Picard e Cia. nas telas cinematográficas. “Insurreição” foi produzido com uma grande responsabilidade a cumprir – provar que A Nova Geração podia, efetivamente, ser uma franquia lucrativa nas telonas, e ao mesmo tempo conseguir repetir o sucesso de crítica que seu antecessor obtivera.

Tudo por causa de “Generations”. O filme de 1994, que marcou a estréia da Nova Geração nos cinemas, conseguiu um desempenho modesto, considerando o frisson que a série causava, então, na televisão. A bilheteria final nos EUA, US$ 75.671.125, o colocava poucos milhares de dólares acima de “Jornada nas Estrelas VI”, na inglória posição de terceira pior bilheteria da franquia, até então. Mais do que isso, muitos fãs e críticos reclamaram que o filme se parecia demais com um “episódio estendido” da série, e carecia de um impacto maior nas telonas. Outros reclamaram da morte de Kirk. Outros, ainda, que Kirk e Picard deveriam ter juntados forças a bordo de uma nave, e não em um planeta. O filme conseguiu se pagar e deu lucro, mas não causou nenhum furor. A Nova Geração precisava provar que tinha cacife para segurar um filme.

Dois anos depois, “Primeiro Contato” deixou com um sorriso nos lábios todas as partes interessadas – público, fãs, elenco, produtores, estúdio. O filme se tornou um estrondoso sucesso de público (a segunda maior bilheteria de um filme de Jornada) e de crítica, que se encantou com o tom sombrio da mais nova aventura de Picard. Mais aliviado, Rick Berman, o “Poderoso Chefão” de Jornada, imediatamente deu início à produção do nono filme, convicto de que venceria a maldição dos filmes ímpares.

Convocou, então, àquele considerado como o maior responsável pelo sucesso da Nova Geração após sua terceira temporada, Michael Piller, para cuidar do roteiro. A idéia geral, então, após a aventura sombria que fora “Primeiro Contato”, era buscar um resultado mais leve e divertido. Nas entrevistas da época, Berman afirmava que este novo filme seguiria o estilo adotado por “Jornada nas Estrelas IV” e, em momentos de maior empolgação, afirmava ser ainda melhor. O apoio do estúdio veio na forma de um generoso orçamento, US$ 58 milhões, até então o maior da franquia. A maior parte deste orçamento acabou nos bolsos de Patrick Stewart (que conseguiu um crédito de “Produtor Associado” para justificar seu cachê), e Brent Spiner.

A estréia do filme, porém, provou o contrário. “Insurreição” conseguiu uma bilheteria ainda pior que a de "Generations", tendo custado muito mais. Nos EUA, arrecadou US$ 70.187.658, o bastante para cobrir os custos de produção, mas ainda assim a segunda pior bilheteria trekker, perdendo apenas para o infame “Jornada nas Estrelas V”.



"O que houve de errado?", todos os fãs perguntaram. E a resposta é simples. “Insurreição” é uma colcha de retalhos que busca repetir situações de sucesso de filmes anteriores – em especial, "Jornada nas Estrelas IV" e "Primeiro Contato" – encaixando-as de forma aleatória em um roteiro ruim. Isso fica claro na necessidade de se incluir batalhas espaciais e explosões no que seria, supostamente, uma comédia, e na tentativa de se fazer humor satirizando e humilhando os próprios personagens da franquia. Passagens infames como a espinha de Worf e a cantoria de Picard, Worf e Data deixavam claro que nada do espírito cômico da Série Clássica fora conseguido no filme.

Pior, a premissa do filme em si é bastante voltada a trekkers, mas não ao público geral. Picard se revolta contra a Frota Estelar. E daí? A audiência está mais do que acostumada a personagens rebeldes e que buscam resolver os problemas sob suas próprias diretrizes. Dirty Harry era assim. Mel Gibson em “Máquina Mortífera” também. Pior, Kirk, Sisko e Janeway também o eram.

Assim, a Paramount errou por acreditar que um filme de Jornada podia fazer sucesso apenas seguindo uma fórmula pré-estabelecida, e ignorou o próprio exemplo que pretendia seguir – "Jornada IV" não possuía vilão, batalhas espaciais e muito menos um capitão dançando mambo.

A grande pergunta, então, é a seguinte: Berman e Cia. conseguiram aprender com este erro? 


Boatos, confusões e desmentidos 

Imediatamente após o lançamento de “Insurreição”, começaram os boatos sobre a produção de um novo filme. Ainda em dezembro de 1998, Rick Berman já declarava em entrevistas que estaria discutindo com o estúdio a realização de um novo filme, enquanto Brent Spiner (Data), alardeava seu desejo de que o filme mostrasse a morte de Data.

A bilheteria, porém, forçou a Paramount a adiar seus planos. Jonathan Frakes, no começo de 1999, declarava que “Patrick Stewart não quer fazer outro filme antes que se passem mais uns três anos e o estúdio sabiamente acredita que nós devemos deixar os novos filmes da série Guerra nas Estrelas serem lançados antes que tornemos a embarcar na Enterprise. Nós queremos ficar fora do caminho deles. Mas vocês sabem que acabaremos voltando.”

Ao mesmo tempo, dois outros fatores importantes aconteciam nas telinhas. Em primeiro lugar, Deep Space Nine chegava ao fim aclamada pela crítica especializada como “a melhor série de Jornada nas Estrelas”, mas desprezada pelo grande público, enquanto Voyager seguia com índices de audiência baixos e críticas e desgosto por parte de fãs e críticos. Muitos começavam a considerar a possibilidade de que a franquia de Jornada estivesse se esgotando, devido a uma exposição excessiva. Outros, que Rick Berman e Cia. já haviam esgotado seu potencial, e que uma nova equipe deveria ser contratada para injetar sangue novo na marca.

Neste ínterim, enquanto um anúncio oficial não surgia, todo o tipo de boatos e especulações agitavam a internet, e mesmo a Paramount. Em junho de 1999, executivos da Paramount alardeavam de que, no novo filme, a série seria “reinventada”, o que levou a muitos fãs a acreditarem que o novo filme seria composto por uma tripulação mista (A Nova Geração + DS9), ou mesmo que um elenco totalmente novo seria convocado. A apreensão dos fãs aumentou quando Rick Berman declarou estar negociando com o estúdio “assunto, personagens e programação” do novo filme. Ao mesmo tempo, estúdio e produtores declaravam que um novo filme não seria lançado antes de 2001. 

Outros boatos surgidos na época diziam que: 

a Enterprise-E se envolveria com habitantes da galáxia de Andrômeda; 
Kirk apareceria no filme; 
Seguindo os eventos mostrados em "Insurreição", Picard investigaria a corrupção no coração da Frota Estelar; 
Patrick Stewart e Brent Spiner estariam conversando com a Paramount para que Rick Berman ficasse de fora da produção do novo filme – este, a Paramount veio a público desmentir. 

Passaria um bom tempo antes de que alguma informação mais concreta fosse dada – isso só aconteceria em meados de 2000. Neste meio tempo, Berman apenas declarava que estava confiante de que seria um filme da Nova Geração, que estava negociando com um roteirista famoso e trekker, e que as críticas de que os filmes da Nova Geração eram muito parecidos com episódios de TV eram ridículas.


De Roma para Romulus 

Um roteirista famoso trekker? A Paramount iria, afinal, injetar sangue novo na franquia? Se sim, quem seria este roteirista? Os trekkers do mundo todo coçaram a cabeça, e por incrível que pareça um único nome veio à mente. E este nome era... Joss Whedon, o criador da série “Buffy, a Caça-Vampiros”. Wheadon, então, era um nome em alta, e estava cotado para escrever o roteiro do segundo filme dos X-Men – o que criaria um vínculo entre ele e Patrick Stewart.

O tempo passava, e a Paramount não vinha a público trazer informações mais concretas. Em 5 de julho de 2000, finalmente, era anunciado o nome do roteirista do décimo filme de Jornada – John Logan, aclamado roteirista de filmes como “Gladiador”, “Morcegos” e “RKO 281”. Um novo elemento estava sendo embutido na franquia – seria o bastante?

“John, eu acredito, sabe mais sobre Jornada do que eu. Ele possui todos os episódios em vídeo”, declarou Berman, ao ser inquirido sobre a contratação de Logan. “Nós temos, em minha opinião, o melhor vilão de Jornada desde Khan.”

Com o anúncio do roteirista, a produção do filme em si foi confirmada, inicialmente programando a sua estréia para novembro de 2001. Ao mesmo tempo, informações e mais informações chegavam à tona: o filme seria estrelado pelo elenco da Nova Geração, em sua última aventura, e que no filme haveria uma participação substancial dos... Romulanos. Isso mesmo. Apesar de serem personagens marcantes tanto na Série Clássica quanto na Nova Geração, os Romulanos nunca haviam recebido um papel de destaque nos filmes. Esta era a sua hora. Este vilão citado por Berman seria Romulano?

Pedaço por pedaço, detalhes da trama em construção acabavam vazando para a internet. O primeiro deles mencionava que o filme teria a cloanagem como um dos seus temas. Ao mesmo tempo, os boatos mais absurdos continuavam a circular, incluindo um que garantia que neste filme seria vista a morte de Picard. Outro, que Spock seria o citado grande vilão da trama, boato este que incitou fúria entre os trekker mais fervorosos (“Já não basta terem matado Kirk?”). Outros boatos diziam que o nome do vilão seria Shinzon, um clone de Picard, e que Data encontraria um andróide similar a ele, chamado B-9.

Enquanto isso, o produtor Rick Berman revelou que o ator Brent Spiner, que interpreta o personagem Data nesta série, tem grande participação na elaboração da trama do novo filme: "Brent tem se envolvido bastante com a história deste filme. Ele e John [Logan] sempre quiseram trabalhar juntos em um projeto, e Brent tem mantido uma ótima participação neste processo".

Ao mesmo tempo, algumas declarações da equipe responsável pelo filme começavam a lembrar o histórico de “Insurreição”, tais como o de John Logan, que em meados de 2001 afirmava ter sido fortemente inspirado pelo filme “A Ira de Khan” na construção da trama. "Esperem aí, não haviam dito algo semelhante na produção do 'Insurreição'?" E então... o roteiro do filme chega à internet. Primeiro, através de comentários de pessoas que supostamente o haviam lido. Depois – como havia acontecido no filme anterior – o próprio roteiro acabou sendo disponibilizado.

E este roteiro mostrava que... o filme era muito mais parecido com "Insurreição" do que qualquer outra coisa – o roteiro era uma colcha de retalhos que busca repetir situações de sucesso de filmes anteriores – em especial, "Jornada nas Estrelas II" – encaixando-as de forma aleatória em um roteiro ruim, com tentativas de se fazer humor satirizando e humilhando os próprios personagens da franquia. Passagens infames como a em que Worf é retratado como se estivesse com medo da velocidade na qual Picard dirigia um jipe (!) deixavam isso claro.

Assim, antes mesmo de começaram as filmagens, os fãs começaram a ficar temerosos pelo resultado final. A Paramount, oficialmente, não comentou tal roteiro, mas Patrick Stewart e Michael Dorn foram a público dizer que o roteiro era bom, e que os fãs não deviam acreditar em tudo o que estava sendo comentado. 


Produção – Tentando prender o gênio na garrafa 

Enquanto os fãs estavam temerosos, a Paramount anunciava o nome do diretor do filme, e este também um novato em Jornada: Stuart Baird, responsável pelo mediano “U.S. Marshals”. Sangue novo, mas do tipo certo para Jornada?

O elenco principal assinava seus contratos, e os personagens adicionais iam ganhando rostos: o ator britânico Tom Hardy era contratado para interpretar Shinzon, o vilão do filme. A idade e nacionalidade do ator sugeriam que afinal Picard encontraria seu clone. Outros nomes incluíam Dina Meyer no papel de uma capitã Romulana, Ron Perlman e Steven Culp.

   

Com o elenco a bordo, as filmagens começaram em 26 de novembro de 2001. As primeiras cenas apresentavam Picard, Worf e Data envolvidos em alguma atividade no deserto – cena que estava incluída no roteiro divulgado na internet!

Participações espaciais eram então confirmadas. Wil Wheaton (Wesley Crusher) propagandeou em seu site que faria uma participação especial no filme, e boatos sugeriam que Guinan (Whoopi Goldberg) também seria vista.

Ao mesmo tempo, os atores começavam a tecer seus primeiros comentários. LeVar Burton comentava que “É bom estar de volta. Não fizemos um filme de Jornada em três anos, e é bom voltar e reencontrar nossos amigos trekkers. Acho que o objetivo destes filmes é simplesmente reunir todo mundo, e desta vez nós estamos fazendo isso em grande estilo.”

As filmagens continuavam, e o diretor Baird encontrava algumas dificuldades inesperadas. Marina Sirtis explica: “É diferente, porque [Stuart Baird] quer fazer aos coisas ao seu modo, e nós ficamos o tempo todo dizendo ‘Sabe, não poderíamos fazer isso, porque na série…’ e é difícil para ele, porque ele está abordando como se este fosse o primeiro filme de Jornada a ser feito. Nós estamos tendo de nos comprometer em não necessariamente nos refereciar no que havíamos feito antes, mas deixar ele nos dizer ‘Faça como se você estivesse fazendo pela primeira vez’. Nós batemos cabeça algumas vezes, porque dizemos ‘Isto é a história’, e Stuart respondia, ‘Bom, eu realmente não me importo com a história. Estou encarando isso como o primeiro filme de Jornada produzido'. Talvez ele tenha razão, porque talvez haja pessoas que assistam este filme sem nunca ter assistido Jornada antes."

"Eu havia assistido a alguns episódios alguns anos atrás na Inglaterra, e assisti um ou dois filmes. Mas de forma alguma eu poderia ser chamado de trekkie”, declarou Baird. “Eu li o roteiro, e pensei que era um bom roteiro, um roteiro muito bom, e que talvez um outro ponto de vista, de uma pessoa nova lá, poderia adicionar uma nova dimensão ou uma nova perspectiva à história. A história era boa, e eu me considero um contador de histórias, então estou tratando como um filme comum, exceto pelo fato de existir um grande acompanhamento. Então tenho de ser cuidadoso em seguir algumas regras básicas. Claro, Rick Berman e o elenco me conduziram na direção correta se eu me afastava do rumo muito violentamente." 

Sobre os atores convidados, Berman declarava, durante as filmagens, que Tom Hardy é "... extraordinário. Eu acho que poderemos nos gabar de tê-lo conseguido antes que se tornasse um astro.”

“Eu acho que os Remans são os melhores alienígenas que Michael Westmore jamais produziu”, declarava Patrick Stewart, “e estou incluindo os Borgs ao dizer isso. Ele trouxe uma raça alienígena à vida de forma totalmente convincente. Eles são marcantes e sinistros de uma forma totalmente diferente dos Borgs."

"Estou arrebatado com o quanto as tomadas estão boas. Estamos pegando um material memorável", disse Rick Berman. "Parece com um filme grande. E vai ser o filme mais assustador que já fizemos. Há alguns momentos de real terror que nunca vimos antes em Jornada nas Estrelas. Meu sentimento sobre esse filme é de que vai ser violentamente bem-sucedido. Estou contente com a qualidade do trabalho que estamos pegando, começando com o escritor John Logan até o que eu vi de Stuart Baird dirigindo no cenário hoje à noite."

Antes que as filmagens chegassem ao fim, um novo boato circulou a internet: o de que Ashley Judd (“Beijos que Matam”), faria uma ponta no filma como a esposa de Wesley.

Ao término das filmagens, um fato que já está se tornando rotineiro para a equipe de A Nova Geração repetiu-se. A cadeira de Picard na ponte da Enterprise foi roubada, pela terceira vez desde 1994. 


Otimismo 

Com o término das filmagens e início a pós-produção, a Paramount iniciou a campanha de marketing do filme. Um slogan foi escolhido, “A Jornada Final de uma Geração tem Início”, aludindo ao fato de este ser o último filme de Picard e Cia. Ao mesmo tempo, um primeiro teaser foi preparado para exibição. 

Este teaser, ao contrário dos produzidos para os filmes anteriores, não trazia nenhuma cena reciclada dos outros filmes, e nem mesmo a trilha sonora era repetida, numa demonstração do interesse da Paramount no sucesso do filme. A exibição para os fãs começou a injetar uma onda de otimismo: talvez o filme, afinal, fosse realmente bom! Jerry Goldsmisth foi novamente contratado para compor a trilha sonora, se tornando seu quinto para Jornada e terceiro em seguida. 

Um segundo trailer, basicamente uma versão estendida do primeiro, animou ainda mais os fãs. E então o elenco e a equipe começaram a vir a público para dar suas impressões do resultado final. 

"Acho que é possível que haja mais para esperar e para se empolgar em 'Nêmesis' do que em qualquer de nossos filmes anteriores, incluindo o favorito de todos, 'Primeiro Contato'", disse Patrick Stewart. "Acho que conseguimos a mistura certa, em termos de uma história forte. Há duas histórias correndo lado a lado, interconectando-se em momentos diferentes", continua. "Temos uma base de ação bem forte também, o que significa que as cenas de diálogo foram quebradas com seqüências realmente bem efetivas de ação. Tem romance --na verdade, é provavelmente o filme mais sexy que já fizemos em certos aspectos, embora infelizmente nada disso me envolva. Tem um aspecto psicológico também, que é interessante e tem potencial. E há surpresas --o tipo de surpresa que, quando estamos filmando, ficamos lambendo os beiços de pensar em como essas coisas vão surpreender as pessoas. Também é um filme muito emocional. Eu acho que os que não são fãs de carteirinha e não sabem tudo sobre a história da Nova Geração vão achá-lo bem intenso. Eu acho que é mais emocional do que qualquer coisa que tenhamos feitos na telona antes. E porque temos pela primeira vez tanto um diretor como um escritor que não são pessoas de Jornada, eu acho que há uma perspectiva de novidade nele. John Logan é um dos melhores escritores trabalhando em Hollywood hoje, e também é um fã de Jornada --um grande fã de Jornada. E, claro, Stuart Baird é um editor e diretor muito prestigiado."

"Quando eu o assisti pela última vez, eu estava junto com um punhado de pessoas que ficaram com lágrimas nos olhos nos momentos finais da fita. Mesmo meu agente -- que é um homem bastante sofisticado -- pegou em meu braço em uma dada hora e perguntou se 'eu' iria morrer no final.", conclui Stewart.

"Eu acho que 'Nemesis' vai ser realmente bom, e eu dificilmente digo esse tipo de coisa", afirmava Brent Spiner, que normalmente é contido em seus comentários. "Temos um diretor que realmente sabe filmar ação. Temos um maravilhoso diretor de fotografia [Jeff Kimball, que trabalhou em 'Missão Impossível II'] que também sabe como filmar ação. Das cenas que eu vi, meus colegas atores estão tendo performances maravilhosas. Então do que não gostar?"

Michael Dorn, porém, não ficou muito contente. "Worf não está muito em 'Nêmesis'. Normalmente ele tem as suas cenas de luta. Ele tem uma ou duas cenas em que ele realmente está fazendo coisas de Worf. Nesse filme não há nada disso. Há muita coisa acontecendo [em geral], e eu acho que as cenas do tipo Worf simplesmente não serviram a esse segmento particular de nossa série."

O otimismo quanto ao desempenho chegou a um nível tal que Rick Berman, antes mesmo da estréia do filme, confirmou que teremos novos filmes de Jornada (independente da performance de "Nêmesis" nas bilheterias), apesar de não esclarecer em nada o formato futuro a ser adotado e nem se "Nêmesis" é de fato o último com a tripulação de A Nova Geração

Mais próximo à estréia do filme, os primeiros comentários da crítica especializada começaram a surgir. O "New York Times" disse em seu review que o filme continua com o tradicional "otimismo dos anos 60" da fraquia. O crítico Stephen Holden começa seu texto pedindo uma pequena salva de palmas para a boa, velha e confiável Jornada nas Estrelas e continua dizendo que o novo segmento traz o que a série tem de melhor. O crítico também ficou impressionado com a batalha final do filme. O jornal da costa oeste "Los Angeles Times", através de seu crítico Kenneth Turan disse que "sempre resistente e confiável a equipe da USS Enterprise nunca hesitou em seguir em frente sem se importar com os obstáculos e, no novo Jornada nas Estrelas, 'Nêmesis', mais uma vez se aventura em território inexplorado". 



O "Chicago Tribune" deu ao filme 2 1/2 estrelas (sendo 4 o máximo) e disse que é facilmente superior ao anterior, "Insurreição". O crítico do periódico gostou da relação pai e filho de Picard e seu clone Shinzon e elogiou a atuação de ambos. Ainda disse que o filme tem a carga emocional muito próxima de "Jornada nas Estrelas II - A Ira de Khan" e teceu elogios aos efeitos especiais e sequências de ação. 


Anti-clímax 

Em 13 de dezembro de 2002, após uma abstinência de quatro anos, um novo filme de Jornada estreava, sob a expectativa dos fãs e do estúdio. E seu desempenho na estréia foi... decepcionante.

"Nêmesis" levou um mês para ultrapassar a marca dos 40 milhões de dólares nos Estados Unidos, mas isso não foi fácil. Até agora, o décimo filme de Jornada teve um retorno de US$ 42.836.840, o que reduz as chances de alcançar a marca dos 50 milhões dentro dos Estados Unidos. Isso confirmaria as expectativas de que este seja o filme trekker de menor arrecadação de todos os tempos, perdendo até mesmo para o fraco "Jornada nas Estrelas V - A Última Fronteira", que em 1989 conseguiu apenas US$ 52 milhões.

Com o término da onda de otimismo, e um pé calçudo na realidade, Rick Berman admitiu que o futuro dos filmes da franquia é incerto. "Não há meio de dizer o que aconteceu", disse Berman. "Estou convencido de que fizemos um filme muito bom, e também estou convencido de que o filme foi promovido adequadamente. Eu achei os trailers e os comerciais de TV todos excelentes. É fácil pôr a culpa nessas coisas, mas eu não acho que possamos neste caso. Eu acho que a competição de outros filmes pode ter tido alguma responsabilidade, mas não posso estar certo disso também. É muito, muito difícil dizer." 

O produtor está desapontado. "Claro, você quer que um filme vá bem", ele disse. "Você trabalha por um bom tempo, e você trabalha por um bom tempo, e se não vai bem não é legal." 

Berman conclui dizendo que não sabe qual será o futuro para a franquia de filmes de Jornada. "Há uma teoria de que passou muito tempo [entre 'Insurreição' e 'Nêmesis']. Há outra teoria de que não passou tempo suficiente. Eu, junto com o pessoal da Paramount, preciso de alguns meses de perspectiva pensando sobre isso para então decidir sobre qual é a melhor coisa a fazer a seguir. Eu não acho que isso seja como cair de um cavalo, e você quer saltar logo de volta para ele. Mas veremos." 

Patrick Stewart disse que está decepcionado com a resposta dos fãs ao novo episódio da franquia espacial. Ele esperava que os trekkers comparecessem com mais freqüência ao cinema para ver o décimo episódio de Jornada. "Eu acreditava que haveria uma reação mais positiva ao tema do nosso filme. Talvez isso seja porque o mundo real se tornou perigoso demais para nós", disse. E aí aproveitou para soltar uma farpa para a concorrência: "A Terra-Média ou Hogwarts parecem bem mais atrativos e mais reconfortantes nos dias de hoje". 


"Nêmesis": fracasso de bilheteria merecido, ou um bom filme que passou despercebido do grande público? Confira a resposta na série de artigos que o Trek Brasilis publicou sobre o filme. E faça sua própria análise em nosso Fórum.