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               Capítulo 
                1 
                O Combustível do Mundo Moderno 
                Conheça 
                a maneira inventada pela Paramount para vender a nova série 
                de Jornada nas Estrelas para a TV americana 
                 
                Em 
                setembro de 1987, após um hiato de mais de 18 anos, era exibido 
                nos Estados Unidos um episódio de uma série de televisão com o 
                título "Jornada nas Estrelas". Para os fãs, a concretização 
                de uma longa espera. Para os executivos da Paramount, a realização 
                de que havia uma forma de se obter lucro produzindo uma série 
                televisiva de ficção científica. 
                 
                A verdade é que só existe um fator determinante na realização 
                do velho anseio dos fãs por novos episódios: dinheiro. Séries 
                de ficção científica até então eram raras, pois envolviam custos 
                bem mais elevados que os de uma série de televisão normal. Normalmente, 
                encontrava-se alternativas que dispensassem o uso de cenários 
                elaborados ou efeitos especiais mirabolantes - séries como "O 
                Homem de Seis Bilhões de Dólares" exemplificam bem esta alternativa. 
                Uma série de "Jornada nas Estrelas", porém, envolve a construção 
                de cenários fixos caros, e uso constante de efeitos especiais. 
                 
                Os custos estimados para cada episódio, estratosféricos, não equilibravam 
                a solicitação dos fãs - e, assim, nunca saía do papel. Uma única 
                vez durante o hiato entre as duas séries cogitou-se seriamente 
                a produção de uma nova série. Em 1977, a Paramount decidiu criar 
                uma nova rede de televisão, e para tanto escolheu, como carro-chefe 
                do novo canal, produzir uma nova série de Jornada nas Estrelas. 
                Para tanto, cancelou a então pré-produção de um filme de Jornada, 
                então na fase de desenvolvimento de roteiro, transformando o projeto 
                em uma série televisiva. Cenários foram construídos, o elenco 
                original, exceto Leonard Nimoy, fora contratado, roteiros foram 
                escritos. Tudo indicava que, desta vez, a Enterprise realmente 
                voltaria a cruzar as telinhas do povo americano. "Jornada 
                nas Estrelas: Fase II", começava a sair do papel. 
                
               
                A alegria dos fãs, porém, não durou muito. Poucos meses depois, 
                a Paramount decidiu que, afinal, não iria lançar uma nova rede 
                de televisão e, portanto, o projeto da Fase II foi cancelado. 
                Tentando recuperar tudo o que investira no projeto, porém, o episódio 
                piloto foi transformado em um roteiro cinematográfico, a ser dirigido 
                por Robert Wise. Assim, o que seria uma nova série televisiva 
                se tornou o pontapé inicial de uma série de filmes. Em 1986, esta 
                série de filmes já havia se tornado um sucesso para a Paramount. 
                Os três primeiros, juntos, arrecadaram quase 240 milhões apenas 
                nos cinemas americanos, tendo custado apenas cerca de 80 milhões. 
                O quarto filme da série, "A Volta Para Casa", estava em 
                produção e a Paramount sentia ter mais um vencedor nas mãos. A 
                pergunta de um milhão de dólares, então, era: será possível encontrar 
                uma forma de capitalizar este sucesso também na televisão? 
                 
                A situação, porém, havia sofrido algumas alterações. O elenco 
                original, agora astros do cinema, dificilmente aceitaria participar 
                de um seriado com salários dentro dos valores previstos pela Paramount. 
                Como já mencionado anteriormente, os elevados custos com cenários 
                e efeitos especiais não permitiriam que os custos com atores ultrapassassem 
                um certo limite. Se Jornada nas Estrelas seria produzida, 
                seria com um elenco novo. Poderia fazer sucesso sem Kirk, Spock 
                e McCoy? Um homem acreditava que sim. O mesmo homem que vinte 
                anos antes fora responsável pela primeira série de Jornada: Gene 
                Roddeberry. 
                 
                 Roddenberry 
                estava praticamente afastado da franquia desde o lançamento do 
                primeiro filme. Os conflitos em que se envolvera durante a produção 
                motivaram a Paramount a gentilmente colocá-lo como consultor, 
                deixando a produção dos filmes a cargo de Harve Bennett. Sem poder 
                afetar de modo algum a direção que a franquia tomava, Roddenberry 
                magoou-se, e via seu projeto se afastar do que considerava, então, 
                a sua visão de um futuro otimista para a humanidade. A concepção 
                de uma série totalmente nova, com um elenco novo, era a sua oportunidade 
                de não apenas se envolver novamente com a franquia, mas de fazê-la 
                como acreditava que deveria ser. Para os executivos da Paramount, 
                porém, a questão principal ainda era dinheiro. Cada episódio da 
                nova série teria um custo estimado de US$ 1 milhão. Na época, 
                todas as quatro redes de exibição americanas - NBC, CBS, ABC e 
                FOX - estavam interessadas na exibição do programa, mas exigiam 
                que o contrato inicial estipulasse apenas o episódio piloto e 
                treze episódios, e a continuidade de temporada ficaria condicionada 
                ao retorno em audiência destes primeiros episódios. 
                 
                Como estas redes pagariam por cada episódio menos que seu custo 
                total (prática normal nos EUA), e com a Paramount vendo que o 
                lucro viria apenas quando a série fosse vendida para syndication, 
                um contrato de apenas treze episódios era insuficiente para se 
                assumir o risco. O mercado de syndication, porém, já se 
                mostrara extremamente vantajoso para Jornada. Na década 
                de 70, a exibição dos episódios da série original de Jornada deu 
                início ao sucesso da franquia. Neste processo, emissoras independentes 
                ao longo do país compram episódios e programas já exibidos pelas 
                grandes emissoras para exibição em seu grade.  
                 
                Na década de 80, os programas originalmente produzidos para syndication 
                eram principalmente game-shows exibidos à tarde, desenhos para 
                crianças ou produções realistas exibidas tarde da noite. Para 
                a Paramount, a exibição de sua nova série diretamente em syndication 
                parecia a melhor opção. Porém, os contratos normais para a venda 
                de séries em syndication previam pacotes de 69 episódios - desta 
                vez, um número grande demais para o estúdio. Parecia que 
                a produção se encontrava em um beco sem saída. Até que a Paramount 
                criou uma proposta nova, extremamente ousada. Ofereceu sua série 
                totalmente nova, com valores de produção dignos das grandes emissoras, 
                do seguinte modo: uma temporada completa com 26 episódios custaria 
                aos exibidores... nada. Para os exibidores, existiam até então 
                dois modos para comprar programas. O primeiro, cada estação faz 
                um pagamento em dinheiro ao vendedor, baseado no tamanho da audiência 
                local e nos índices de audiência estimados de cada episódio, usualmente 
                divididos em categorias demográficas. Durante a exibição, a estação 
                vende espaços publicitários para os intervalos, esperando recuperar 
                o que gastou na compra do programa. No segundo modo, o exibidor 
                paga uma taxa menor ao vendedor, concedendo a este último, porém, 
                alguns minutos de espaço publicitário. O vendedor então negocia 
                diretamente com os patrocinadores diretamente a exibição de propaganda 
                neste minutos. Para sua nova série porém, a Paramount criou uma 
                sistemática totalmente nova. Nesta nova metodologia, os exibidores 
                não pagariam ao estúdio centavo algum pela aquisição do 
                programa. A Paramount, porém, teria direito a sete minutos de 
                espaço publicitário para seus patrocinadores, e os exibidores 
                teriam o tempo restante para seus próprios patrocinadores - cerca 
                de cinco minutos.  
                 
                Deste modo, os exibidores conseguiriam lucrar com a exibição da 
                série sem investir absolutamente nada. Para conquistar definitivamente 
                os exibidores, a Paramount criou ainda mais uma condição. Se a 
                nova série não tivesse o sucesso necessário para garantir uma 
                segunda temporada, o exibidor poderia exibir também os episódios 
                da série clássica nas mesmas condições do acordo, ou seja, sem 
                pagar nada para ela. Era uma proposta de alto risco para o estúdio. 
                Se desse errado, seria um prejuízo de cerca de 30 milhões de dólares. 
                Se funcionasse, porém, a Paramount conseguiria entrar com sua 
                nova série diretamente no lucrativo mercado de syndication. 
                Os exibidores, porém, que não corriam risco nenhum, gostaram de 
                idéia, e assinaram os contratos. Com a exibição garantida nos 
                termos que lhe eram mais interessantes, a Paramount deu o sinal 
                verde para a produção de sua nova série. Jornada nas Estrelas 
                iria mais uma vez invadir o universo televisivo. 
                
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