Janeway vs. Primeira Diretriz, Parte I

Assim que entram para a Academia da Frota, todos os cadetes são introduzidos à Primeira Diretriz, o protocolo primordial da Federação que impede a interferência de seus oficiais no desenvolvimento de outros povos. Os capitães de naves estelares sempre estiveram confortáveis com essa lei, especialmente Jean-Luc Picard, da USS Enterprise.

Quando a USS Voyager foi atirada ao tenebroso quadrante Delta, e quase 25% de sua tripulação passou a ser composta por maquis (como visto em "Repression", do sétimo ano da série), algumas regras e regulamentos tiveram de ser sacrificados para garantir a sobrevivência das 150 pessoas a bordo.

No início da longa jornada para casa, a Kathryn Janeway estava disposta a enfrentar uma viagem de quase 75 anos a fim de não violar os ideais com os quais foi treinada. Entretanto, em diversos momentos, embora não admitisse abertamente, a capitã infringiu a Primeira Diretriz.

Um exemplo clássico disso é a destruição da estação do Guardião, no piloto do seriado, o que deixou a tripulação desamparada a 70 mil anos-luz do quadrante Alfa. Ao disparar contra a estação, Janeway estava protegendo os Ocampas e sua cidade contra a ameaça Kazon. Isso reflete na balança de poder da região, dado o potencial tecnológico da Voyager.

Apenas semanas mais tarde ("Time and Again"), ao descobrir um planeta envolvido em uma catástrofe relacionada à energia polárica, a capitã e Tom Paris alertam os nativos do desastre prestes a ocorrer. 

Já, em "Prime Factors", um dilema surge: os tripulantes encontram os Sikarians, povo que desenvolveu um dispositivo que permitiria o deslocamento da nave 40 mil anos-luz mais perto da Terra. Já que as autoridades não estavam dispostas a dividir o conhecimento devido ao seu próprio "cânon" de leis, a capitã abandonou a idéia. Mas muitos de seus oficiais, maquis ou federados, condenaram a idéia e decidiram obter a tecnologia por meios ilegais. 

Esse ponto da série marca bem a personalidade de Kathryn Janeway no começo de sua viagem. Ela crê e defende cegamente os procedimentos-padrão da Frota, sem ao menos considerar a situação única em que sua pequena nave e tripulação se encontram. No entanto, abre algumas exceções para povos do quadrante Delta.

Em "State of Flux", ela repreende severamente a alferes Seska por negociar tecnologia com os Kazons, em troca de proteção à Voyager. Um replicador de alimentos foi causa de declaração de guerra entre os Kazon-nistrim e a capitã. Será que se os Kazons fossem Ocampas a postura seria a mesma?

Daniel Sasaki é co-editor do Trek Brasilis