Voyager
Temporada 3

Análise do episódio por
Daniel Sasaki



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Tentativa de enfoque em Harry acaba
rendendo outra história fraca

Episódio anterior   |   Próximo episódio

Sinopse:

Data Estelar: 50732.4.

Durante um encontro entre a USS Voyager e uma nave Nasari, Kim anuncia que os alienígenas estão prestes a abrir fogo. Ele então ativa os escudos e dispara feisers, iniciando uma batalha indesejável. Quando as duas naves escapam do confronto, Janeway reprime Kim, que diz apenas saber que os Nasari representavam uma ameaça, apesar de seu comportamento sutil. A capitã suspende o alferes do trabalho até investigar as razões por trás desse pressentimento. Na mesma noite, Kim fica surpreso com a aparição de marcas alienígenas em seu rosto.

O Doutor não encontra explicações para as marcas ou para a alteração na química do sangue de Harry. Tuvok, no entanto, consegue confirmar que os Nasari estavam mesmo prestes a atacar a Voyager e a capitã pergunta ao alferes como ele sabia. Ele não consegue responder, mas nota que essa região do espaço parece estranhamente familiar. Kim leva a tripulação ao planeta Taresia, cuja população é constituída predominantemente por mulheres. Uma representante do lugar dá as boas-vindas

Os Taresianos explicam que Kim foi concebido no planeta deles, mas seu embrião foi implantado em uma mulher da Terra, a fim de trazer uma nova infusão de material genético para a raça. Quando adultos, Taresianos como Kim são movidos por instinto a voltar para casa. As mulheres dizem que os Nasari atiraram na Voyager porque detectaram a presença do alferes a bordo. Os Nasari odeiam os Taresianos e estavam tentando impedir Kim de voltar. Mais tarde, Janeway se encontra com os Nasari, que dizem não ter aversão alguma à Voyager - mas que atacarão a nave se Kim retornar.

Enquanto Kim comparece à cerimônia de casamento de Taymon, um outro homem que veio de longe, o Doutor informa Janeway que Harry não nasceu com DNA Taresiano; o material foi deliberadamente implantado durante uma missão avançada. Aparentemente, os Taresianos querem fazer com que ele sinta que pertence àquele mundo. Mas Kim decide que quer retornar para a nave. Quando tenta ir embora, as mulheres Taresianas tentam impedi-lo. Ele corre até o quarto de Taymon para pedir ajuda, mas o encontra morto. Kim percebe que os homens Taresianos não partem voluntariamente; eles são mortos depois que as mulheres extraem material genético suficiente para conceber crianças. A tripulação consegue transportá-lo a bordo e fugir, enquanto os Nasari trocam tiros com os Taresianos.

 

Comentários:

Por onde começar a análise de "Favorite Son"? Esta é uma pergunta complicada de se responder. Talvez, comparando-o a "Threshold", da temporada anterior. O episódio pode facilmente ser colocado entre os mais fracos da série. Porém, o pior não é chegar a esta constatação, mas perceber que é uma das poucas tentativas de desenvolver Harry Kim. Isto é grave, levando em conta que o personagem é um dos mais negligenciados em Voyager.

A intenção aqui não é começar uma seção "bashing" da série, mas é realmente difícil discriminar pontos positivos na história dessa semana. Sobre o roteiro em si, nem há muito o que comentar.

A primeira coisa que chama a atenção é a falta de originalidade. Parece que os roteiristas tentaram usar para Kim em Voyager a mesma história que inventaram para Odo em Deep Space Nine. A diferença é que aqui essa história não tem pé nem cabeça, nem bases de sustentação. Qual a lógica ou a de as Taresianas colocarem um embrião no útero de uma mulher a 70.000 anos-luz de distância? E, o mais importante, como fizeram isso?

É no mínimo hilário que a capitã não tenha se lembrado de perguntar como aquele povo viajou até o quadrante Alfa. É também estranho como os roteiristas insistem no velho lema "voltar para casa" em situações irrelevantes, ignorando a  premissa original da série em episódios-chave. "Favorite Son" parece com tudo -- apresenta clichês e idéias mostradas até na Série Clássica --, mas não é um episódio apropriado a Voyager.

É também um daqueles roteiros bem previsíveis. Todos sabem que a história de Harry ser alienígena não é verdade, e que no final ele estará novamente em seu uniforme amarelo, exatamente como estava no início. Essas coisas só acontecem com Kim mesmo. Nota zero em desenvolvimento. O personagem é totalmente dispensável. Não é difícil imaginar por que a produção inicialmente pensou em cortá-lo da série na transição para a quarta temporada. Dizem as más linguas que Garrett Wang só permaneceu no elenco, pois a revista People o tinha colocado entre os 50 homens mais bonitos da América.

Toda a concepção dos Taresianos mais parece uma tentativa de subestimar a inteligência do espectador, ou um teste de até onde os roteiristas conseguem brincar com ele. A começar pelo planeta eseus habitantes... Alguém teve a idéia que Taresia é um planeta? Ele mais parece em um tipo de hotel dos horrores. A população, restrita a um punhado de mulheres. É até aceitável que, por razões genéticas, a raça seja predominantemente feminina. O que é difícil de engolir é que as Taresianas devotem todos os seus recursos a iludir machos de outras espécies. É também curioso que todas elas sejam lindas, e que tenham que transformar seus homens em múmias para conseguir conceber filhos.

Por incrível que pareça, até o Doutor decepciona no episódio. Como é que, com todos os exames anteriores no registro, ele não confirmou de cara que tudo era uma farsa? O DNA nunca mente. Janeway e cia também deixam a desejar por cair fácil na cilada. Aliás, os roteiristas até poderiam ter aproveitado melhor a capitã na história. Ela aparece como a figura maternal nos sonhos de Harry, mas apenas nos sonhos. Ao invés de tentar recuperar um mero oficial ela poderia ter mostrado um pouco esse lado de mãe, já bem apagado desde o piloto da série.

A decepção final fica por conta da vulnerabilidade da Voyager. Ela é simplesmente a nave com maior potencial bélico da Frota. Como é que apanhou tanto na batalha com os Nasari e, mais tarde, com os Taresianos? E pensar que no futuro estará destruindo cubos Borgs... Uma outra coisa que também incomoda é a sua proporção frente às outras naves do quadrante Delta. A USS Voyager foi projetada para ser uma das menores naves da Frota. Mas, na série, sempre é maior do que as outras... Parece que o quadrante tem uma frota de naves auxiliares armadas até os dentes

 

Citações:

B'Elanna - "Harry, what hapenned to your face"?
("Harry, o que aconteceu com o seu rosto"?)
Harry - "We are still trying to figure that out".
("Ainda estamos tentando descobrir".)

Janeway - "Follow Harry's course. Speed, as fast as we can go".
("Siga o curso do Harry. Velocidade, o mais rápido possível".)

Chakotay - "What's your next trick, Harry? Pull a shuttlecraft out of a hat"?
("Qual o seu próximo truque, Harry? Tirar uma nave auxiliar da cartola"?)

Chakotay - "I guess we are not welcome anymore".
("Acho que não somos mais bem-vindos".)

Tom - "I don't see what's so bad about being you. You're good at your job, everybody likes you".
("Não sei o que é tão ruim em ser você. Você é bom no que faz, todos gostam de você".)

Trivia:

Jeri Taylor: ’Favorite Son’ era uma idéia interessante que em sua concretização acabou parecendo meio boba”.

Deborah May (Lyris) participou de Deep Space Nine como Haneek, no episódio “Sanctuary”, da segunda temporada.

 

Ficha técnica:

Dirigido por Marvin V. Rush
História de Lisa Klink
Exibido em 19/03/1997
Produção: 062

Elenco:

Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B'Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Jennifer Lien como Kes
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Garrett Wang como Harry Kim

Elenco convidado:

Cari Shayne como Eliann
Deborah May como Lyris
Patrick Fabian como Taymon
Kelli Kirkland como Rinna
Kristanna Loken como Malia

Episódio anterior   |   Próximo episódio