Deep Space Nine
Temporada 2

Análise do episódio por
Luiz Castanheira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Episódio não consegue explorar bem
tema pela falta de química e sutileza

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Sinopse:

Data Estelar: 47229.1.


Bashir dita o seu diário, onde informa dos preparativos para a chegada de uma nova cartógrafa estelar, alferes Melora Pazlar. Ela é Elaysiana (a primeira na Frota) e, devido à baixa gravidade do seu planeta natal, Melora se comporta de modo similar a uma pessoa tetraplégica em um ambiente de gravidade padrão da Federação.

Devido à incompatibilidade técnica da tecnologia antigravitacional da Federação com a tecnologia Cardassiana, Bashir fabrica e modifica uma cadeira de rodas e adiciona rampas de acesso em lugares estratégicos da estação, de forma a facilitar a vida da alferes. 

Bashir está claramente entusiasmado com a chegada da alferes e, no caminho para a escotilha de ar, diz a Dax que Melora não aceita (desde os seus dias na Academia) nenhum tratamento especial, como, por exemplo, usar o teletransporte, de forma a facilitar a sua locomoção. Os aposentos de Melora também foram modificados de forma a permitir o desligamento do sistema de gravidade artificial. 

Bashir e Dax chegam à escotilha de ar e encontram Melora vestindo (sobre o uniforme) uma espécie de exo-esqueleto metálico (que facilita a sua locomoção) e uma bengala de madeira. Ela mal os cumprimenta, agradece a cadeira, comenta sobre as modificações feitas nela e de que Sisko designou Dax para acompanhá-la em uma próxima missão com um Explorador no quadrante Gama. Bashir e Dax a acompanham até os seus aposentos e ela se tranca neles, se despedindo bruscamente. 

No bar de Quark, um alienígena de nome Fallit Kot, interrompe uma negociação do Ferengi com um também alienígena Ashrock, para graciosamente informar que veio matá-lo. Quark não vê Kot faz oito anos e aparentemente existem negócios inacabados entre eles.

Sisko, Dax, Bashir e Melora (que chega após o início da conversa) discutem sobre a possibilidade da alferes ser enviada sozinha na missão com o Explorador. Melora se comporta de forma extremamente defensiva, chegando a extremos como dizer a Sisko "...ninguém pode entender até sentar naquela cadeira". Claramente ela prefere trabalhar sozinha, mas Sisko mantém a decisão de enviar Dax e Melora juntas na missão.

Bashir faz uma visita à alferes e intrigado pergunta quem é o homem com ela em uma foto. Ela ignora a pergunta e pede desculpas por seu prévio comportamento. Bashir comenta sua atitude defensiva com todos, e a convida para jantar e, depois de alguma boa conversa, ela aceita ir com ele ao restaurante Klingon.

Quark tenta "amaciar" Kot, mas com resultados incompletos, Kot brinda a "velhos débitos" e olha direto para Quark.

No restaurante Klingon, uma surpreendente Melora pede que o "Chef" troque o prato, falando em Klingon. Bashir conta como tomou a decisão aos dez anos de que iria se tornar um médico e sobre sua abortada carreira de tênis. Ela diz que se divertiu muito.

Dax vai procurar Melora na manhã seguinte e não a encontra em seus aposentos. Dax finalmente a encontra em um corredor próximo a uma área de armazenagem, ela havia caído da cadeira e não conseguia se levantar. Dax a leva para a enfermaria e Bashir trata dela. Depois os dois discutem sobre a interdependência do pessoal na estação.

Bashir fala em uma rudimentar tecnologia surgida 30 anos atrás que visava a adaptação de espécies de baixa gravidade a ambientes como os da Frota Estelar (naquela época sem muito êxito). Se tal tratamento vier a funcionar, ela poderá abandonar completamente a cadeira de rodas, ou equivalente. Ela o convida a entrar em seus aposentos, ela desliga a gravidade artificial e os dois começam a flutuar. Melora diz que o homem na foto é seu irmão e os dois se beijam flutuando em pleno ar.

Finalmente Melora e Dax partem em missão com o Explorador ao quadrante Gama e discutem a bordo o importante tópico: "romance na Frota Estelar".

Quark vai até o escritório de Odo pedir proteção. Odo diz que já sabe da presença de Kot na estação e que ele e Quark estiveram envolvidos em um roubo de um suprimento de cerveja Romulana oito anos atrás e que Quark só não foi preso também por que vendeu o seu cúmplice. Quark obviamente nega tudo. Quando Quark diz que Kot pretende matá-lo, Odo faz graça.

Bashir diz a Melora que ele andou trabalhando naquela antiga tecnologia que ele havia mencionado e aparentemente ele pode obter resultados práticos com ela.

Odo avisa Kot que não permitirá nenhum tipo de violência contra Quark. Kot diz que o que passou, passou. Depois, Odo diz a Quark que não tem razão legal para prender Kot, mas ficará de olho. Odo dá um comunicador a Quark e diz que ele o chame se houver sinal de algum problema.

Bashir ministra o primeiro tratamento em Melora e ela já consegue andar com apenas o auxílio da bengala naquele mesmo dia. Quando o efeito do tratamento começa a passar ele a leva para os seus aposentos. Bashir informa que ela não deve mais desligar a gravidade pois irá confundir o seu sistema motor. Quando ele vai embora, Melora percebe o quanto ela já sente saudade de voar.

Quark chega aos seus aposentos e antes que possa chamar por ajuda é pego em um estrangulamento por Kot. Quark oferece 199 barras de ouro paralatinum por suas vida. Kot fica interessado.

Após completar mais uma sessão do tratamento, Melora pergunta a Bashir a partir de que momento os efeitos serão irreversíveis. Ele diz que dentro de mais alguns dias ela estará totalmente adaptada a um ambiente com gravidade padrão da Federação. Bashir sente que ela está em dúvida se deve realmente ir até o fim com o tratamento.

De volta ao Explorador, Melora conversa com Dax sobre a perspectiva de ganhar total independência com o tratamento, porém se tornar uma estranha entre os de sua espécie. 

Ashrock retorna a Deep Space Nine com o latinum para comprar os anéis de Quark como combinado e se encontra na escotilha de ar com Quark e Kot. Kot fica com o latinum, mas em um movimento não combinado decide ficar com os anéis também. Instaura-se uma confusão e Kot acaba arrastando Quark para uma outra escotilha de ar que vem a ser a mesma escotilha por onde estão entrando Melora e Dax, vindas de sua missão.

Kot faz com que as duas voltem ao Explorador, juntamente com Quark. Quando Dax é forçada a tentar partir com a nave, Sisko aciona um raio trator e prende a nave. Quando Sisko tenta abrir negociações com Kot, ele atira em Melora que cai sem vida. Sisko parte com Bashir e O'Brien no Explorador Rio Grande e logo após libera o outro Explorador.

O Rio Grande atravessa a fenda espacial atrás do Explorador roubado. No interior deste, Melora recupera a consciência e desativa o sistema de gravidade artificial, conseguindo, com sua habilidade na ausência de gravidade, pôr Kot fora de combate. Bashir e Sisko se transportam para encontrar Quark mirando um feiser em Kot.

De volta a DS9 no restaurante Klingon, Melora pergunta a Bashir por que o tiro feiser não a matou. Bashir diz que provavelmente foi um efeito colateral do seu tratamento. Melora agora está decidida a desistir do tratamento por completo.

Bashir está um pouco desapontado. Melora diz que a sua independência custaria a sua alienação em relação aos de sua espécie em especial aos de sua família. Melora agradece por Bashir tê-la ajudado a abrir a porta dos seus aposentos e permitir alguém em sua vida. Eles continuam ali sentados conversando enquanto o "Chef Klingon" canta uma canção de amor.

 

Comentários:


E para os que estavam pensando que "Invasive Procedures" havia sido um "tombo", pensem de novo. "Melora" é o ponto mais baixo desta segunda temporada de Deep Space Nine e um dos mais baixos de toda a série.

O episódio coloca em sua trama principal dois dos pontos mais criticados (com propriedade) da história de Jornada: a total falta de sutileza e espaço para reflexão do espectador, de uma típica "mensagem Trekker da semana" e a arbitrariedade e a total falta de química de mais um "relacionamento Trekker da semana".

Tudo aqui é executado com a sutileza de um estouro de rinocerontes: os comentários iniciais de todos sobre a brava jornada por independência de Melora; um ENORME monólogo de Melora (no escritório de Sisko) sobre os motivos que a fizeram deixar sua terra natal e conhecer o Universo; Melora tomando por ofensa e "pena" qualquer oferta de ajuda; a aproximação de Melora e Bashir, que de tão rápida, e tão inconsistente com o que fora estabelecido, momentos antes, sobre a personagem, chega a ser engraçada; a forma como Bashir acaba "tirando do bolso" um tratamento que poderá fazê-la andar em um ambiente de gravidade normal, uma idéia que é dramaticamente muito óbvia e que não oferece nenhum insight interessante sobre a personagem; uma PAVOROSA discussão sobre relacionamentos entre Melora e Dax no Explorador e a patética cena final em que (por essencialmente razão alguma) Melora chega à "brilhante conclusão" que ninguém é de fato totalmente independente, PELO AMOR DE DEUS!

Ao menos (PELO MENOS ISTO) a história reconhece que o tratamento acabaria por tornar Melora uma estranha entre os seus pares e além disto acaba por dar uma escolha a ela. Mas a cena em que ela toma esta decisão, no Explorador, com Dax, com direito a um estabelecimento de paralelos com a história da "Pequena Sereia" é VERGONHOSA. 

Quanto à trama secundária envolvendo Quark e um antigo "parceiro de negócios", palavras como "óbvia" e "mecânica" vêm rapidamente a cabeça. A única coisa que se pode recomendar são as cenas com Odo, em especial uma em que ele faz um sorriso "todo especial" quando Quark o informa que Kot planeja matá-lo e em uma outra, onde Odo promete comprar um pedaço de Quark se o pior vier a acontecer como Ferengi. E, como era esperado, os acontecimentos de "Invasive Procedures" não tiveram nenhum impacto no status de Quark em DS9.

Foi interessante conhecer alguns pequenos detalhes sobre o passado de Bashir (o único personagem regular realmente enfocado no episódio), mas a claudicante atuação de El Fadil não conseguiu vender as cenas (românticas ou não) com Melora.

Abundam problemas de trama: 

Melora deveria se sentir em casa em um ambiente com uma gravidade em que ela pudesse andar normalmente, não em um em que ela pudesse voar; 

Bashir (um oficial da Frota Estelar) não deveria sentir nenhum tipo de "senso de novidade" com uma experiência em "Zero-G";

A forma risível e arbitrária de como as duas tramas (TOTALMENTE NÃO-RELACIONADAS) do episódio se conectam ao final, só para satisfazer alguma espécie de "quociente mínimo de falsa encrenca";

O horroroso "deus-ex-machina" no final, que faz Melora "à prova de feiser" como um "efeito colateral" do tratamento; 

A forma "esperta" (para não dizer o contrário) de como Melora consegue pôr Kot a nocaute no Explorador, sem gravidade, ao final do episódio;

E para terminar este martírio:

A direção de Kolbe é falha, para dizer o mínimo. Em particular as três cenas a bordo do Orinoco são vergonhosas de se assistir. As partes envolvendo falta de gravidade, tiveram uma execução MUITO ruim.

O elenco regular esteve em sua maior parte pouco inspirado, Farrell sofreu um bocado com o péssimo material, Auberjonois foi o destaque apesar do mínimo tempo de tela e El Fadil parecia estar com o botão de liga/desliga solto, pois às vezes parecia estar focado no episódio enquanto em outras aparentava estar totalmente alheio a este. 

Ashbrook fez o que pôde com o material recebido. Um ator deveria receber dobrado para reproduzir falas como, "ninguém pode entender até sentar naquela cadeira" e outras similares. Seu melhor momento, e também o melhor momento do episódio, foi a primeira conversa de Melora com o "Chef Klingon". Os demais atores convidados se saíram no nível do "quanto menos falarmos, melhor".

A explicação para a utilização de uma cadeira de rodas convencional e não utilização dos transportes por parte de Melora, foi "OK", mas, DE NOVO, contribuiu para a falta de classe do episódio.

Aparentemente tivemos algum problema de edição (pelo menos) ao final do episódio, em que os diálogos parecem acabar, e a letra da canção Klingon também, e os personagens Melora e Bashir ficam lá olhando um para o outro. Bashir parece um completo Zumbi nesta cena final. PAVOROSO!

"Melora" é uma ABOMINAÇÃO que mistura duas das maiores pragas continuadas da história de Jornada, com uma execução capenga, inúmeras situações embaraçosas de se assistir e mais furos de roteiro do que um queijo suíço de boa qualidade.




Citações

Quark - "Am I missing a choice here, Fallit?"
("Eu estou esquecendo uma escolha, Fallit?")

Melora - "There's nothing worse than half-dead rakht."
("Não há nada pior do que rakht semi-morto.")



Trivia:

int.jpg (476 bytes) Era intenção inicial dos criadores da série, Rick Berman e Michael Piller, ter um personagem regular com exatamente as mesmas características da alferes Melora, mas considerações de ordem prática eliminaram completamente esta idéia. Mas, apesar de tudo, resolveram fazer um episódio solo com um personagem deste tipo.

int.jpg (476 bytes) O escritor da história deste episódio, Evan Carlos Somers, é um paraplégico que utiliza uma cadeira de rodas.

int.jpg (476 bytes) As cenas em que Bashir e Melora flutuam foram feitas com auxílio de cabos, que foram removidos posteriormente da imagem, na pós-produção.

int.jpg (476 bytes) Aqui aparece pela primeira vez o restaurante Klingon no Promenade.


Ficha técnica:

História de Evan Carlos Somers
Roteiro de Evan Carlos Somers e Steven Baum e Michael Piller & James Crocker

Direção de Winrich Kolbe

Exibido em 01/11/1993
Produção: 026

Elenco:

Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O'Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko

Elenco convidado:

Daphne Ashbrook como alferes Melora Pazlar 
Peter Crombie como Fallit Kot 
Don Stark como Ashrock 
Ron Taylor como o "Chef Klingon"

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