Enterprise
Temporada 2

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Segmento mais uma vez aposta em
isolamento de Trip Tucker

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Sinopse:

Trip está testando o novo sistema de piloto automático do shuttlepod em torno de um planeta gigante com nada menos que 62 luas -- um excelente teste para o novo equipamento. Mas o tour tem um fim abrupto quando a nave é atacada por um outro veículo alienígena. O shuttlepod acaba se aproximando de uma das luas e os sistemas da nave sofrem uma falha geral. Trip é obrigado a fazer um pouso de emergência.

Enquanto isso, na Enterprise, Malcolm está monitorando o progresso de Trip. Assim que eles perdem contato com o engenheiro, Malcolm relata que detectou troca de tiros entre duas naves, que agora sumiram dos sensores. Archer decide organizar uma busca sistemática das 62 luas para procurar Trip, mas os planos são interrompidos quando a Enterprise é contatada por uma nave alienígena. Segundo T'Pol, são Arkonianos, uma raça volátil e violenta que os Vulcanos encontraram há um século, mas com que foram incapazes de estabelecer relações diplomáticas.

O capitão Arkoniano, Khata'n Zshaar, ordena que a Enterprise deixe o sistema imediatamente. Archer informa que está à procura de um oficial perdido, após uma confrontação com uma nave auxiliar Arkoniana. Ao descobrir que o oficial Arkoniano que atacou Trip também está perdido, Archer consegue convencer Zshaar a trabalhar em conjunto com a Enterprise para procurá-los.

Na superfície da lua, Trip inicia as tentativas de reparos no trasceptor do shuttlepod, a fim de restabelecer contato com a Enterprise. A temperatura é bem fria, mas tolerável. Entretanto, a paz logo iria abandoná-lo, quando o oficial Arkoniano acidentado faz um ataque-surpresa ao engenheiro. Trip não sai ferido, mas o alienígena rouba seu transceptor.

Na tentativa de recuperá-lo, Trip vai até onde o Arkoniano está acampando e prepara uma distração, a fim de poder recuperar o equipamento. Mas o engenheiro não consegue trabalhar em tempo, o que o obriga a confrontar o alienígena num combate corpo-a-corpo. Ele acaba rendido pelo Arkoniano, que coloca Trip para trabalhar forçosamente no conserto do transceptor.

Depois de algum trabalho, os dois conseguem estabelecer uma certa comunicação. Trip aprende o nome do alienígena, Zho'Kaan. Mas, determinado a escapar, o engenheiro consegue mais uma vez entrar em combate com ele, desta vez vencendo-o. Ele leva o prisioneiro para perto de seu shuttlepod, onde começa a trabalhar com seu transceptor e uma fonte de energia retirada da nave Arkoniana. Trip acredita que as duas peças podem funcionar corretamente, se acopladas.

A tentativa tem sucesso e o transceptor volta a operar. Trip tenta mandar uma mensagem para a Enterprise, mas a interferência causada pelos minerais da lua (os mesmos que causaram a falha geral dos sistemas do shuttlepod pouco antes do pouso forçado) impede a transmissão limpa do sinal. Trip decide que precisa levar o transceptor até o alto de uma montanha, onde a interferência será menor. Para levar o equipamento, ele precisa da ajuda de Zho'Kaan. E os dois precisam trabalhar rápido -- está para amanhecer e a temperatura começa a ficar quente demais para que os dois sobrevivam (na Enterprise, T'Pol constata que ela pode chegar até a 170 graus Celsius durante o dia).

Após alguma briga, os dois finalmente se acertam e colaboram para levar o transceptor para um lugar mais alto. Lá eles tentam novamente mandar uma mensagem, que acaba sendo respondida pela Enterprise. Zho'Kaan já está quase morrendo desidratado, e Trip informa ao capitão que o shuttlepod não irá funcionar para resgatá-lo, em razão dos minérios na superfície. Archer diz que vai trazê-los via teletransporte, mas Phlox adverte que Zho'Kaan não sobreviveria ao processo, dada sua condição médica delicada.

Archer diz que vai trazer Trip a bordo e depois resolver o problema do Arkoniano, mas o engenheiro se recusa. Ele sugere que as naves como a de Zho'Kaan podem ser modificadas de forma a serem protegidas da interferência causada pela composição mineral da lua. Graças à sugestão de Trip, os Arkonianos conseguem enviar uma nave de resgate e levar os dois a bordo da Enterprise.

Lá, Archer informa ao capitão Arkoniano o estado dos sobreviventes e concorda em deixar o sistema imediatamente, como combinado. Embora ele esteja insatisfeito com o primeiro contato com esses alienígenas, T'Pol aponta que ele conseguiu estabelecer melhores relações com eles em um dia do que os Vulcanos em um século. E, na enfermaria, Zho'Kaan diz a Trip que está feliz por não ter conseguido destruir o shuttlepod no primeiro ataque.

 

Comentários:

"Dawn" é mais uma clara tentativa de dar destaque a Trip. Isso não seria nenhum problema, não fosse essa a mesma premissa que movimentou "Precious Cargo", dois episódios atrás. Felizmente, pelo menos esta segunda tentativa é mais bem-sucedida.

Mais uma vez, a originalidade passou longe. O tema de "dois inimigos isolados que precisam trabalhar juntos para sobreviver" é provavelmente uma das coisas mais repetidas na história da indústria do entretenimento. Antes mesmo de o episódio ser exibido, vários fãs apontavam as similaridades com filmes como "Inimigo Meu" ou mesmo com o episódio "The Enemy", de A Nova Geração. Mas o fato é que, quando o enfoque é o personagem, não a história, pouco importa que esta seja repetitiva. O importante é o personagem ter algo a acrescentar ao enredo batido -- daí o sucesso moderado de "Dawn".

Connor Trinneer consegue imprimir a Trip carisma suficiente para levar até mesmo o menos original dos episódios. E desta vez, ao contrário do que aconteceu em "Precious Cargo", Gregg Henry oferece mais como companheiro de cena, permitindo alguma química emergir da relação forçada entre Trip e Zho'Kaan.

As cenas que mostram os dois se confrontando e, posteriormente, se entendendo no planeta são razoavelmente bem-executadas. Mesmo que acabem não adicionando nada aos personagens, a audiência não sofre ou se cansa de ver a ação se desenrolando no planeta. O diálogo, muitas vezes numa situação em que um não entende o que o outro fala, é bastante efetivo, e até as cenas de combate corporal parecem ter sido mais bem ensaiadas e executadas do que de costume -- provavelmente um dos vários traços da competência de Roxann Dawson na direção deixados ao longo do episódio.

Do ponto de vista da consistência da história que permeia essa aventura solo de Trip, podemos dizer que ela é mais furada que um queijo suíço. Para começar, não faz sentido que Trip esteja sozinho testando o shuttlepod -- no mínimo duas pessoas, uma para pilotar a nave em caso de emergência, e outra para monitorar o novo sistema, seriam necessárias. Também é um absurdo que a Enterprise não estivesse monitorando com extremo cuidado as manobras do shuttlepod em seu vôo experimental -- o que certamente daria a localização exata do pouso forçado de Trip logo depois que acontecesse (acabando com o episódio).

Também é esquisito que o shuttlepod não esteja equipado com um tradutor universal portátil no caso de emergências, o que teria poupado todo o esforço de Trip para entender o Arkoniano e sua língua (e, mais uma vez, teria acabado com o episódio). Imaginar que Trip saberia descrever melhor como alterar a nave Arkoniana de modo a torná-la imune aos efeitos dos minérios do planeta do que como modificar seu próprio shuttlepod parece bastante falso. E Archer deixar Trip lá tostando só porque ele não quer abandonar seu amiguinho Arkoniano parece uma bobagem sem fim. E Trip fazer aquele discurso final, como se estivesse à beira da morte, sabendo que seria resgatado em breve também não faz muito sentido. Um ponto negativo também vai para a "falsa encrenca" com o uso do teletransporte. Enfim, não faltam problemas no roteiro concebido por John Shiban.

Claro, ele tem seus pontos altos. É bastante interessante (e começa a responder, de forma sutil, com a Terra vai se tornar uma potência em breve) a noção de que Archer conseguiu melhor desempenho diplomático com os Arkonianos do que os Vulcanos -- traz o conceito de que os Vulcanos sozinhos nunca conseguiriam arregimentar algo do tamanho e do escopo da Federação.

E todas as trocas entre Trip e Zho'Kaan parecem bastante realistas, uma vez que você aceita os furos inerentes à história. Vale ressaltar que Gregg Henry conseguiu mais que ser um parceiro à altura de Trinneer e seu Trip; o ator convidado trouxe uma atuação e um comportamento bastante alienígenas a seu personagem -- o que é muito raro nos em geral extremamente antropomórficos alienígenas de Jornada nas Estrelas. O gesto de "afirmativo" com a cabeça, por exemplo, ajuda um bocado a criar essa noção "alienígena", assim como a dificuldade em pronunciar o nome de Trip e as palavras em inglês.

A maquiagem inspirada também ajuda a criar o aspecto alienígena dos Arkonianos. Não é exatamente revolucionária, mas melhor do que a média dos alienígenas da semana. E a introdução do "cuspe curativo" também é extremamente efetiva para adicionar diferenças interessantes ao rol dos Arkonianos.

Em compensação, o tratamento dado ao cenário deixou a desejar. Faz muito tempo que não víamos o "Planet Hell" tão mal-tratado e tão pouco convincente. Aquelas rochas de papel machê não ajudam muito a criar o ambiente de lua escaldante, nem mesmo com as espetaculares tomadas panorâmicas geradas por computador com o nascer dos três (ou quatro?) sóis do sistema.

Numa nota interessante, vale a pena dizer que o roteirista John Shiban aposta no isolamento como forma de desenvolver os personagens. Em seu primeiro roteiro, "Minefield", ele isola Archer e Malcolm no casco da Enterprise; agora ele isola Trip em uma lua, com um alienígena agressivo. Talvez seja preciso informá-lo de que desenvolvimento de personagens exige mais do que simplesmente escrever 40 minutos de roteiro para ele, tirando os demais da trama. Porque é exatamente isso que ele faz aqui.

O objetivo inicial não é atingido: não aprendemos uma vírgula a mais de Trip com seu isolamento -- é o mesmo velho e bom engenheiro do Sul que já conhecíamos. A sorte de Shiban é que Trinneer é extremamente talentoso, e que seu roteiro, apesar de raso no trabalho com os personagens, é divertido o suficiente para não entediar o telespectador.

 

Citações:

Archer - "We’ll scan every moon -- even it we have to do it with binoculars!"
("Vamos rastrear cada lua -- mesmo que tenhamos de fazer com binóculos!")

Tucker - "If you can understand anything I am saying to you, I want you to listen very carefully. Mary had a little lamb, its fleece was white as snow..."
("Se você pode entender algo do que estou dizendo, eu quero que preste muita atenção. Mary tinha um carneirinho, sua lã era branca como a neve...") 

Tucker - "I can’t fix this. It’s a lost cause. Maybe if you vomit on it it’ll fix itself!"
("Não posso consertar isso. É uma causa perdida. Talvez se você vomitar nele, ele se conserte sozinho!") 

T’Pol - "You have managed to establish better relations in a day than the Vulcans have in a century."
("Você conseguiu estabelecer melhores relações num dia do que os Vulcanos o fizeram num século.")


Trivia:

int.jpg (476 bytes) As filmagens começaram no dia 4 de novembro de 2002 e duraram sete dias. A maioria das cenas foi filmada nos cenários representando a superfície da lua.

int.jpg (476 bytes) Zho'Kaan se chamava Sha'Khana numa das primeiras versões do roteiro.

int.jpg (476 bytes) Gregg Henry já havia interpretado Gallatin, em "Jornada nas Estrelas: Insurreição". Brad Greenquist interpretou Demmas em "Warlord" (Voyager) e Krit em "Who Mourns for Morn?" (Deep Space Nine).



Ficha técnica:

Escrito por John Shiban
Direção de Roxann Dawson

Exibido em
08/01/2003

Produção: 039

Elenco:

Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T'Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie 'Trip' Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato

Elenco convidado:

Gregg Henry como Zho'Kaan 
Brad Greenquist como Khata'n Zshaar

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