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"Anomaly" funciona, dentro da sua proposta. Um sólido segmento de ação, orientado a enredo, com um enfoque adequado às circunstâncias apresentadas na terceira temporada da série. Temos um episódio bastante consistente no uso dos personagens --e ao mesmo tempo ousado.

Quem mais ganha com isso é o capitão Archer. Definitivamente, ficaram para trás os tempos de bom moço e respeitador das regras. Scott Bakula conseguiu transmitir adequadamente o dilema pessoal pelo qual passava seu personagem, ao decidir sobre torturar ou não o pirata capturado. E a partir de agora está claro que Archer só tem olhos para sua missão --salvar o planeta Terra.

Sua decisão de romper com a ética e colocar o Osaariano na comporta de ar só surge ao descobrir que os alienígenas possuem informações importantes sobre os Xindis. O momento em que a balança pende para esse lado, ao perceber que pode conseguir dados cruciais para sua missão, é muito bem retratado e explica graficamente o que ele havia dito a Trip ao entrar na Extensão Délfica, "faremos o que for necessário".

Mas, tirando esse aspecto do episódio, todo o resto é totalmente orientado a enredo, e os outros personagens, embora dentro de seus papéis, só precisam "ler as falas" e manter a história caminhando. Aliás, o maior problema nesse sentido vem com o nosso pirata capturado, que parece ter assistido às últimas duas temporadas de Enterprise antes de dar seus pitacos. De onde ele tirou a idéia de que Archer era "civilizado demais" para chutar o balde e cumprir suas ameaças? O que ele sabia sobre os humanos, antes desse encontro? Fico me perguntando se ele iria dizer à mesma coisa a um capitão Klingon...

Falando da história em si, Michael Sussman é o roteirista de Enterprise que mais entende do aspecto "terror e espanto" que a ficção científica pode trazer. Seus episódios normalmente são os que trazem os conceitos mais ousados, capazes de propelir histórias de forma eficiente, no melhor estilo dos segmentos orientados a enredo. É dele o excelente "Dead Stop", da temporada anterior, em que a Enterprise encontra uma estação de reparos alienígena que é muito mais ameaçadora do que parece. E desta vez, num lance semelhante, a NX-01 encontra uma "Estrela da Morte" com 19 km de diâmetro.

Toda a concepção desse artefato alienígena é interessante e apresenta uma intrigante história, que não é esclarecida pelo episódio. Segundo pudemos constatar, os Osaarianos são de fora da Extensão Délfica. Portanto, não deviam estar há centenas de anos por lá. Em compensação, a esfera gigantesca tinha mil anos de idade, embora elementos do casco tivessem características Osaarianas. Afinal, quem construiu aquele troço, com tão poderoso dispositivo de camuflagem? Foram os Osaarianos? Foi uma outra espécie, saqueada pelos Osaarianos? Foi uma espécie perdida, que há muito deixou de existir? Ninguém fica sabendo disso ao longo do episódio, o que oferece não só a possibilidade de desenvolver esse tema mais adiante, mas também tem o agradável efeito de não entregar todas as respostas ao final do episódio, um dos maiores defeitos de Jornada nas Estrelas enquanto obra de ficção científica.

Perguntas para um futuro episódio: Será que há outras esferas como essa em outras partes da Extensão Délfica? Elas têm mesmo relação com as anomalias da região, conforme T'Pol sugeriu? Têm algo a ver com os Xindi? Mistéééério...

Os efeitos especiais são, como de costume, impressionantes. As sequências dentro da nave alienígena atacada, com a falta de gravidade e os corpos boiando no ar, são perfeitas. O mesmo se pode dizer das sequências de batalhas e da aparição da "Estrela da Morte". Verdade seja dita: não há nenhuma produção televisiva hoje que possa se equiparar aos padrões de Enterprise. E quando os roteiros ajudam, fica muito fácil produzir episódios vencedores.

Embora ainda não tenhamos visto tudo que a Extensão Délfica pode oferecer, "Anomaly" é uma boa forma de começar a destrinchar os enigmas que esperam Archer ao longo desta terceira temporada.