Publicado originalmente
em 2002


Jornada nas Estrelas VI
A Terra Desconhecida

STAR TREK VI - THE UNDISCOVERED COUNTRY


 









 

Por Luiz Felipe do Vale Tavares

O Filme

Após o desastre que foi "Jornada nas Estrelas V", a vida da tripulação da Série Clássica no cinema parecia ter sido enterrada de vez.

Para salvar a tripulação, nada melhor do que utilizar um tema atual adaptado no contexto de Jornada nas Estrelas (na época, o fim da URSS e da Guerra Fria), trazer um diretor de confiança (Nicholas Meyer, que também dirigiu o fantástico segundo filme, "A Ira de Khan") e um roteiro de qualidade escrito pelo próprio diretor e por Leonard Nimoy.

Após um acidente que resultou na destruição de uma lua onde ocorria a exploração de recursos necessários à subsistência do povo Klingon, estatísticas mostram que o Império deles está com dos dias contados. Diante desse acontecimento, a Federação conclui que chegou a hora de terminar anos de conflitos com os Klingons e propor um plano de mútua cooperação.

A Enterprise é enviada para uma missão diplomática para escoltar o Chanceler Klingon para a Terra, onde será assinado um tratado visando o fim da guerra. Entretanto, durante a viagem, o Chanceler é assassinado e Kirk e McCoy são acusados e condenados à prisão perpétua. 

Desde o segundo filme não víamos interpretações tão afiadas do elenco. Todo mundo está perfeito e tem participações memoráveis.

Finalmente temos também um vilão que presta. Chang é um personagem interessante; um guerreiro Klingon a procura de mais alguns anos de glória, consciente de que o tratado de paz pode descaracterizar a cultura de seu povo e, além de tudo, amante de Shakespeare. Parece estranho essa última característica, mas funciona perfeitamente no filme. 

A propósito, por falar em coisas estranhas, temos nesse filme alguns dos diálogos mais esquisitos de toda a série. Por exemplo, vindo de Spock : "Há um velho provérbio Vulcano, somente Nixon pode ir à China" (?). Outro, dessa vez vindo de um dos Klingons: "Só se pode apreciar Shakespeare após lê-lo no original, em Klingon". Quem será que escreveu essas pérolas? 

Quanto aos efeitos especiais, nesse setor o filme não brilha e nem desaponta. O melhor fica por conta das ondas de choque provenientes da explosão de Praxis. Os demais efeitos são convincentes e funcionam perfeitamente.

Pelo menos dessa vez eu não tive que esconder meu rosto de vergonha, como acontecia nos efeitos, ou melhor, defeitos especiais de "Jornada nas Estrelas V"

Após longos meses de inércia da parte da Paramount, finalmente temos o prosseguimento do lançamento dos filmes de Jornada em DVD aqui no Brasil. 

Imagem

Tem prós e contras. Mas vamos começar pelos prós para evitar desânimos antecipados. A imagem é substancialmente melhor do que a do "Generations". A imagem é mais estável, tem melhor nitidez e melhor definição de cores.

Agora os contras.

Assim como no DVD do "Generations", a Paramount decidiu não gastar muito dinheiro e usou de novo uma master antigo utilizado no LaserDisc. Como resultado temos uma imagem muito melhor do que a da fita VHS, porém aquém dos padrões de qualidade que se pode esperar de um DVD. 

Em muitas cenas, principalmente em lugares escuros, a imagem fica muito granulada e perde a definição. O filme é apresentado no formato widescreen na proporção aproximada de 2.35:1.

Tendo sido utilizado o master para LaserDisc, a imagem é widescreen, porém não anamórfica. Por isso, mesmo quem já tem uma televisão widescreen 16:9 vai ter que assistir com as faixas pretas em cima e abaixo da imagem. 

Um fato curioso e prejudicial na imagem desse DVD é que a imagem se encontra erguida do centro da tela, ou seja, a faixa preta embaixo da imagem é maior do que a localizada em cima. O motivo é simples. Quando esse filme foi lançado em LaserDisc, a Paramount quis usar legendas bem grandes nas cenas de diálogo Klingon. Mas, sendo grandes, elas invadiam o campo de imagem do filme. Para contornar esse problema a imagem foi levantada um pouco em relação ao centro da tela. Como esse DVD foi feito a partir do master do LaserDisc, a "brilhante" solução da Paramount aqui se encontra presente e inutilmente ainda por cima.

No caso do LaserDisc a legenda é gravada junto com imagem, não podendo ser desligada. Nos DVDs, as legendas se encontram em arquivos gráficos e o aparelho as sobrepõe sobre a imagem do filme. Como a Paramount usou legendas com fontes menores no DVD, a imagem não precisava ter sido erguida. Vejam abaixo uma cena do filme. Notem que as barras pretas de cima são menores que as de baixo, e as legendas são de tamanho normal. Mesmo que a imagem fosse centralizada, que é o correto, as legendas não invadiriam o campo de imagem. 

Outro fato curioso é que quem assistiu esse filme inúmeras vezes em VHS, no formato tela-cheia, vai perceber que a imagem do DVD, mesmo sendo widescreen, tem menos informações embaixo e em cima da imagem e mais informações nas laterais. O motivo é simples também. "Jornada nas Estrelas VI" foi filmado no formato Super-35, onde a imagem é capturada em uma película de quadros bem grandes. A vantagem é que esse formato viabiliza inúmeras possibilidades de enquadramento sem perda considerável de informações. O filme depois pode ser formatado para tela-cheia ou widescreen de modo que ambos os formatos propiciem um bom enquadramento sem grandes perdas.

Para ilustrar vejamos abaixo alguns breves exemplos com imagens. Infelizmente não usarei nenhuma imagem comparativa com "Jornada nas Estrelas VI" porque não tenho no momento o filme em tela-cheia para capturar algumas cenas. Usarei em substituição uma imagem do filme "O Exterminador do Futuro 2", também filmado em Super-35; portanto, tudo o que se aplica à imagem desse filme também se aplica ao "Jornada nas Estrelas VI".

No lado esquerdo vemos a imagem da película em Super-35. Note-se como enquadramento é muito grande, capturando todos os detalhes da imagem focalizada. Sendo essa imagem muito grande, um melhor enquadramento é necessário para evitar vazios que não se prestam ao filme. No lado direito superior temos o enquadramento widescreen e no lado direito inferior temos o enquadramento Pan&Scan (tela cheia). Percebemos que a imagem widescreen captura mais informações nas laterais. Podemos ver o bebedouro à direita, imagem essa que está ausente na edição em tela-cheia. Já na imagem em tela-cheia temos mais informações encima e embaixo, tanto que podemos ver o lâmpada no teto e o reflexo da cadeira no chão; na edição em widescreen elas não aparecem. 

Ressalte-se que esses enquadramentos só são possíveis se o filme for filmado em Super-35; e são poucos os filmados nesse padrão. A maioria é filmado em 35mm padrão e, nesse caso, a imagem em tela-cheia só apresenta perdas com relação à imagem widescreen.

Alguns diretores, como James Cameron, só usavam o formato Super-35, pois sabiam que após a exibição nos cinemas o filme seria visto para sempre apenas na televisão. Para evitar que a imagem ficasse prejudicada na conversão para o formato da TV, eles usavam o formato Super-35 para criar a imagem em tela-cheia sem perda de informações. Hoje em dia o formato Super-35 não é mais usado pelo motivo de que os filmes assistidos em casa em widescreen se tornaram a regra (ao menos para DVD), enquanto que os em tela-cheia/Pan&San se tornaram a exceção. Daqui a alguns anos, quando as TVs widescreen dominarem os mercados, o formato Pan&Scan cessará de existir.

Vejamos abaixo uma amostra de "Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato", filmado em simples 35mm, onde vemos claramente a perda de informações na conversão para tela-cheia e os benefícios do formato widescreen. 


Cinema:


Essa é a imagem original filmada em 35mm para exibição no cinema.


Tela-Cheia (Pan&Scan):

Para que a imagem seja acomodada na TV, as laterais têm de ser cortadas. A imagem preenche a totalidade da tela da TV, mas perde-se muito da imagem original. Normalmente a cena é centralizada no ponto mais importante; nesse caso a imagem centraliza-se em Picard, pois é ele quem está falando. A Dra. Crusher e Troi, que já aparecem pouco no filme, aparecem ainda menos na edição em tela cheia. 


Widescreen em uma televisão convencional:

A imagem original projetada para o cinema é integralmente preservada, porém a imagem não ocupará a totalidade da tela da TV convencional. Faixas pretas ocuparão a tela em cima e abaixo da imagem, tão somente porque não há imagem alguma a ser mostrada. A imagem que vemos aqui é a 100% completa, igual a que foi filmada e igual à que foi exibida nos cinemas. 


Widescreen em uma televisão widescreen (16x9):

Utilizando uma televisão widescreen 16x9 e o filme em DVD no formato widescreen anamórfico, a imagem ocupará quase a totalidade da tela, apenas com pequenas faixas pretas em cima e abaixo da imagem. É o padrão das HDTV (TV de alta definição) que chegarão ao mercado mundial em 2003/2004.

Som

Poucas pessoas sabem, mas "Jornada nas Estrelas VI" foi o primeiro filme a utilizar o sistema de som Dolby Digital, onde o áudio é composto por cinco canais independentes criando um ambiente sonoro tridimensional. 

Na época da estréia, esse filme foi exibido com o novo sistema de som em 3 ou 4 cinemas americanos que já tinham protótipos do equipamento necessário. Foi, portanto, um experimento na época.

O sistema de som Dolby Digital só foi utilizado em grande circuito um ano depois, no filme "Batman: O Retorno".

Muitos entusiastas em home theater alegam que "Jurassic Park" foi o primeiro filme exibido com som digital nos cinemas. Essa afirmação é errônea, pois "Jurassic Park" foi o primeiro filme a ser exibido com som DTS, que é também um sistema de som tridimensional, porém de qualidade um pouco superior ao Dolby Digital. O pioneiro em som digital foi mesmo "Jornada nas Estrelas VI".

O áudio desse DVD é o mesmo utilizado no experimento de 1991 e é absolutamente fantástico. É incrível como um excelente sistema de áudio dá nova vida a um filme ao qual já assistimos inúmeras vezes em VHS. Já no início temos a trilha sonora bombátisca fazendo a sala tremer e logo em seguida, com a explosão de Praxis, a casa quase cai. O efeito sonoro das ondas de choque atravessando a sala é de arrepiar.

As legendas estão disponíveis em inglês, português e espanhol.

Extras

Apenas temos dois trailers como extras. O primeiro, um mero "teaser", é maravilhoso. Mostra várias cenas da Série Clássica e dos filmes anteriores sendo projetadas no casco externo da Enterprise.

Ficha Técnica

Extras:
Menu interativo, Seleção de Cena, dois trailers de cinema

Vídeo:
Widescreen (2,35:1)

Áudio:
Inglês (Dolby Digital 5.1 Surround)

Legendas:
Inglês, Português e Espanhol

Ano de produção:
1991

Duração:
113 minutos

Data de Lançamento no Brasil (Região 4)
22/05/2002