Série Clássica
Temporada 2

Análise do episódio por
Carlos Santos



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Simplicidade e bom uso dos Personagens garantem pipoca de primeira

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Sinopse:

Data Estelar: 4307.1.

A USS Enterprise esta em rota para a Base Estelar 6, onde sua tripulação deve gozar de um período de licença, após um período exaustivo de missão, quando recebe uma mensagem truncada, citando a Nave Estelar Intreprid, cuja tripulação é formada somente por Vulcanos. De repente, Spock tem uma surto “empático”. Ele informa a Kirk que sentiu a morte dos quatrocentos vulcanos a bordo da Intrepid. O capitão manda Spock a enfermaria. McCoy, que estava na ponte, o acompanha.

Uhura recebe novo contato da base Estelar 6, informando que o contato com a Intrepid foi interrompido e ordenando que a Enterprise siga para o setor onde a nave estava quando foi perdido contato, com ordens de investigar o seu suposto desaparecimento. A Enterprise muda de curso conforme as ordens, e Chekov completa uma varredura do setor para onde eles estão seguindo, que indica que o mesmo está morto. Spock, na enfermaria, completa os exames, que indicam o seu bem estar físico, e McCoy demonstra-se intrigado com a capacidade do Vulcano de “perceber” as mortes a distância.

Com o primeiro oficial de volta a ponte, a Enterprise aproxima-se do seu destino, e encontra uma estranha área escura no espaço. É lançada uma sonda para recolher informações, e segundos mais tarde, a tripulação ouve um alto som agudo, que causa um forte mal estar em metade da tripulação, inclusive levando alguns a desmaiar. Spock especula que o fenômeno é algum tipo de forma de energia que provavelmente foi responsável pela morte do sistema que e Enterprise se encontra investigando, e também da Intrepid e sua tripulação. Kirk decide chegar mais perto do fenômeno, mas novamente o som forte e agudo que havia afetado a tripulação reaparece, e de novo a tripulação é afetada.

Quando a tripulação se recupera, eles notam que as estrelas parecem ter desaparecido. Spock relata que o ruído que afetou a tripulação foi produzido quando a nave passou por algo similar a uma camada protetora externa, e que a Enterprise está agora cercada por um tipo de campo que esta drenando sua energia mecânica e biológica. McCoy confirma que as leituras dos sinais vitais da tripulação indicam que todos a bordo estão morrendo.


As tentativas de Scotty para recalibrar os motores e e livra da nave da zona escura falham. A Enterprise está cada vez mais dentro da Zona escura, sendo puxada para perto de uma criatura similar a uma ameba gigante. Spock Calcula sua extensão de em cerca de 18.000 Km, e McCoy identifica a criatura simples, uni celular, e que se alimenta de energia. A criatura permanece um mistério, e Spock conclui que os dados fornecidos pelas sondas lançadas pela Enterprise para estudar o fenômeno são insuficientes. Ele e McCoy pensam em mandar uma nave auxiliar tripulada numa tentativa de conseguir mais informações. Tanto Spock quanto McCoy são voluntários para a missão suicida, e Kirk decide por Spock.

Spock assume o comando da nave auxiliar Galileo, atravessa a membrana da criatura, movendo-se em direção ao núcleo da criatura. Spock percebe que a criatura está a ponto de se reproduzir, mas logo depois o contato de áudio com a nave auxiliar se perde, embora dados da criatura continuem a ser transmitidos. Kirk e McCoy decidem que a criatura precisa ser destruída. Kirk acredita que pode destruir a criatura com uma bomba de anti-matéria lançada diretamente no centro do núcleo. Para isto, ele decide levara a Enterprise dentro do núcleo, e lançar a carga à queima roupa. Ao atravessar a membrana interior da criatura, os níveis de força decaem ainda mais, tornando ainda mais difícil a sobrevivência da Enterprise a execução do plano de Kirk.

Com os níveis de força da nave em queda, é lançada uma sonda transportando a bomba com um atraso de sete minutos para detonação, e em seguida executado um curso reverso na tentativa de que a nave atinja o exterior do núcleo antes da detonação da carga. Ao aproximar-se da membrana do núcleo, a nave auxiliar de Spock é detectada, e apesar dos baixos níveis de energia e dos protestos de Scotty, ele decide tentar rebocar a nave com o raio trator, apoiado por Spock. A Energia chega ao fim, poucos segundos e logo depois a carga explode. A criatura é destruída, e tanto a Enterprise quanto a nave auxiliar são libertadas, sobrevivendo a explosão. Spock é resgatado com vida e a nave retoma seu curso inicial rumo a base estelar 6.

 

Comentários:

Baseado em um obvio “High Concept” no caso, a aparição repentina, vinda sabe-se lá de onde, de uma gigantesca Ameba Espacial, este é talvez o segmento mais sem compromisso com nada desta temporada da Série Clássica. Sem grandes pretensões e bem executado ele, consegue prover 50 minutos de agradável entretenimento, sem muito esforço.

 O episodio começa com a percepção por parte de Spock da destruição total da USS Intrepid, uma nave tripulada apenas por Vulcanos, conceito interessante, porém não discutido de forma alguma ao longo do episodio. De qualquer forma, uma vez que conhecemos, através de Spock, o alto grau de profissionalismo e competência Vulcana, tal acontecimento estabelece um adversário com um padrão de força digno de respeito. Um verdadeiro desafio a Enterprise e a sua tripulação quase totalmente de seres humanos. A ligeira menção ao cansaço da tripulação apenas tempera mais um pouco a situação.

O “gigantesco organismo unicelular que ataca a galáxia” não tem tanta importância em termos dramáticos para o segmento, conforme possa parecer. É claro que este será o tema que colocará os eventos em andamento, mas como todos nos sabemos que no fim a Enterprise sobrevirá e que salvara a galáxia mais uma vez, a grande sacada é mostrar como isto acontecerá.

O roteiro faz a aposta correta ao optar por não fabricar explicações pseudo-cientificas chatas e desnecessárias, e analogia com uma Ameba, embora possa parecer pitoresca a principio, deixa claro para toda a audiência que tipo de criatura a Enterprise enfrenta desta vez, isto sem uma palavra de tecno Bubble.

Particularmente o autor não dá nenhuma importância à questão do universo dentro do universo, ou de como a Enterprise age como se fosse um anticorpo defendendo um organismo mais contra o ataque de um vírus ou bactéria nociva, por que tais questões são absolutamente cosméticas.

 Tentar explicar por que a pessoas a bordo estão sendo afetadas pelo organismo externo, ou por que a nave se move a frente com os motores em reversão, por exemplo, gastaria um tempo precioso em questões inúteis, sendo assim, ignorar tais questões é um perfeito exemplo da elegância total que nasce da simplicidade, permitindo de quebra, um gancho para um brilhante momento cômico de Spock e Kirk: (“Esta tentando ser engraçado, senhor Spock ?”).

O roteiro leva a Enterprise mais próxima da “Ameba”, e os problemas aumentam: tripulação caindo pelas tabelas, problemas nas comunicações, drenagem de energia da nave, ingredientes que vão se juntando ao bolo para manter a atenção da audiência.

Desde seu inicio o segmento entra no eixo que o sustentará ate o fim, ou seja, a disputa entre McCoy e Spock, duelo que a esta altura já se tornou um clichê em Jornada. E da química e do antagonismo destes dois personagens que o segmento se nutre até o fim, da relação de amor e ódio que permeia a relação dos dois, que é canalizada de forma a fornecer combustível a proposta dramática da série.

Esta relação aqui assume um contorno ligeiramente diferente do usual, pois é Spock quem se mostra de certa forma fragilizado (ainda que brevemente) pela súbita consciência da morte de seus conterrâneos, ainda de forma não explicada, enquanto McCoy, que sempre o personagem mais tradicionalmente mais apaixonado da série tem uma abordagem mais técnica e impessoal, (para os padrões que nos acostumamos a ver no doutor) ao questionar Spock.

O que realmente importa em “The Immunity Syndrome” é o que acontece no mundo particular destes dois, nada mais. Logo no inicio, como bem nota Spock, não há gentileza nas palavras de McCoy, que talvez naquele momento, fosse bem recebida. Este é o primeiro ato da contenda Spock / McCoy que se seguiria ao longo do episodio, enquanto a Enterprise avança em rumo ao desconhecido.

Em seguida, quando ambos discutem sobre quem ira na missão supostamente suicida, de investigar a criatura, a competição entre os dois torna-se evidente, não só a competição para provar quem é mais capaz tecnicamente, mas a competição pelo posto de melhor amigo de Kirk. Ambos se consideram este melhor amigo, e ambos são conselheiros do capitão, embora representem metodologias opostas.

  Entretanto, ambos se comportam não como inimigos, mas como dois irmãos competindo entre si. Assim como dois irmãos, eles não admitem não só a admiração que tem um pelo outro, mas também o carinho. É claro que por motivos óbvios, este sentimento é mais claro em McCoy, como podemos ver após McCoy fechar a porta do hangar quando o vulcano se dirige à área de lançamento. Por fim, a alegria estampada em McCoy quando ele percebe que Spock está vivo deixa claro é o ingrediente final da questão.

É necessário reconhecer e frisar que Leonard Nimoy e Deforest Kelley trabalham o material recebido com extrema competência, atuando com maestria em cima das características que marcaram os personagens que ambos construíram, emprestando ao segmento uma consistência que somente o roteiro não seria capaz de conseguir sozinho.

 Kirk aqui tem uma participação boa, mas sem marcante, mesmo por que todas as suas ações são estão dentro do que o fã de Jornada já reconhece como procedimento padrão Kirk deste tipo de episodio, mas é importante frisar que Willian Shatner também trabalha de forma consistente com a proposta de seu personagem, e funciona muito bem nas cenas do grande trio. Apenas desta vez o nosso capitão não funciona como elemento principal do grande trio, devido às características do roteiro.

Enfim, este é daqueles episódios despretensiosos que consegue trabalhar bem uma proposta que tem por objetivo apenas divertir. Bom humor, a eterna quebra de braço entre Spock e McCoy, Kirk esbanjando eficiência na ponte da Enterprise, Scott fazendo seus milagres e mais uma vez a galáxia é salva. Objetivo alcançado.

 

 

Citações:

Spock: "I've noticed that about your people, Doctor. You find it easier to understand the death of one than the death of a million.”
("Eu notei isto sobre o seu povo, Doutor. Vocês acham mais fácil entender a morte de um, do que a morte de milhões".)

Kirk: "The boundary layer between what and what?"
("Camada secundaria entre o que e o que?")

Spock: "Between where we were and where we are."
("Entre onde estávamos e onde estamos.")

Kirk: "Are you trying to be funny, Mr. Spock?"
("Esta tentando ser engraçado senhor Spock?")

Spock: "It would never occur to me, Captain."
("Isto nunca me ocorreu, capitão.")

Spock: "Then employ one of your own superstitions: wish me luck."
("Então use uma de suas superstições. Deseje-me sorte.")

Spock: "... and tell Doctor McCoy, he should have wished me luck."
("... e diga ao doutor que ele devia ter me desejado sorte.")

McCoy: "Shut up, Spock, we're rescuing you!"
("Cale-se Spock, estamos salvando você!")

Spock: "Why, thank you, Captain McCoy."
("Obrigado, capitão McCoy.")

 

Trivia:

Apesar de a informação ter sido omitida no episodio, o nome do capitão da USS Intrepid era Satak.

A U.S.S. Intrepid – (NCC-1631) já havia sido anteriormente citada em “Court Martial”.

A nave auxiliar “Galileo” reaparece neste episodio.

Os efeitos óticos da Ameba espacial foram criados por Frank Van Der Veer. Entre os trabalhos que tiveram a sua participação Conan the Barbarian (1982) Clash of the Titans (1981) 1941 (1979) Logan's Run (1976) Flash Gordon (1980) Star Wars (1977)The Towering Inferno (1974) Orca (1977) King Kong (1976).

A citação de Spock ao “sentir” a morte da tripulação da Intrepid é muito similar a de Obi Wan Kenobi quande este sente a destruição de Alderaan em Star Wars - A New Hope.

É repetido o artifício da “Bomba de Anti-matéria”, usado no episodio anterior, “Obession”.

O episodio de A Nova Geração “Where Silence Has Lease” (2 ° temporada) trata uma situação semelhante a deste segmento da Série Clássica. Entretanto, entretanto tal fato foi ignorado pelos roteiristas. A Enterprise “D” encontra um fenômeno no espaço, muito similar ao encontrado pela tripulação de Kirk, que os sensores da nave não podem penetrar. Quando Picard pergunta a Data se algo similar já havia sido encontrado por uma nave Estelar antes, a resposta é não.

John Winston participou da Série Clássica como tenente Kyle em onze episódios, porém este é o único onde ele aparece com um uniforme Dourado. John Winston esteve presente em Jornada nas Estrelas II, também como Kyle, agora promovido a comandante.

Anos mais marte o autor da historia, Robert Sabaroff, voltaria a trabalhar em Jornada nas Estrelas. Ele escreveu para A Nova Geração os episódios “Home Soil” e “Conspiracy” ambos da primeira temporada da série.

Este é o último episodio em que Kirk usa a sua túnica verde.

Este é o primeiro final de episodio com o logo da Paramount em vez do logo de "Desilu", após a produtora ter sido vendida.

 

Ficha técnica:

Escrito por Robert Sabaroff
Direção de Joseph Pevney
Música de Sol Kaplan e Fred Steiner
Exibido em 19 de janeiro de 1968
Produção: 48

Elenco:

William Shatner
como James Tiberius Kirk
Leonard Nimoy
como Spock
DeForest Kelley
como Leonard H. McCoy
Nichelle Nichols como Uhura
George Takei como Hikaru Sulu



Elenco convidado:

John Winston como Tenente Kyle
Eddie Paskey
como Leslie (não creditado)
William Blackburn
como Hadley (não creditado)
Frank da Vinci
como Brent (não creditado)

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