A Nova Geração
Temporada 4

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

Extras:

Referências
culturais

MANCHETE DO EPISÓDIO
Grandes atuações e roteiro brilhante
suportam análise sobre autoritarismo

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Sinopse:

Data Estelar: 44769.2.

Uma explosão ocorre nos motores de dobra da Enterprise e um oficial Klingon que está a bordo da nave em um programa de intercâmbio é suspeito de ter causado o desastre, ao fornecer aos Romulanos os esquemas do motor.

Uma investigação é iniciada, e a almirante Norah Satie, renomada por expor uma conspiração alienígena contra a Frota Estelar, deixa sua aposentadoria para ajudar. Com base em evidências levantadas por Worf, Satie rapidamente extrai uma confissão do Klingon, J'Ddan, sobre sua participação no contrabando de diagramas para os Romulanos, mas ele continua a negar responsabilidade pela explosão.

O auxiliar Betazóide de Satie, Sabin, confirma que J'Ddan está falando a verdade, o que leva a almirante a acreditar que há um outro conspirador a bordo da nave.

Enquanto ela interroga vários membros da tripulação com quem J'Ddan teve contato, na esperança de encontrar o outro sabotador, Sabin usa seus poderes Betazóides para detectar que um tripulante, Simon Tarses, está mentindo. Ele conclui que trata-se do homem procurado. Satie insiste que Picard restrinja os movimentos de Tarses a bordo, mas o capitão recusa a fazê-lo sem evidências mais substanciais de que o rapaz de fato esteve envolvido na explosão.

Data e Geordi continuam a estudar o motor acidentado e acabam por concluir que a explosão foi um acidente, mas Satie permanece acreditando que Tarses é um traidor. Após forçar Tarses a confessar que ele é de fato parte Romulano, a almirante pede a ajuda de Worf para conduzir uma abrangente investigação das atividades do tripulante e de seus colegas. Picard começa a ficar cada vez mais desconfortável com a investigação e decide ir conversar com Tarses pessoalmente.

Um diálogo com o abalado mas leal tripulante convence Picard de sua inocência, e o capitão pede a Satie que interrompa a investigação. Satie não só se recusa como diz a Picard que a investigação irá aumentar, e que a Frota Estelar está mandando um almirante para observar.

Irada pela relutância do capitão de colaborar com as investigações, Satie convoca Picard para ser interrogado, como um possível traidor, em uma audiência observada pelo almirante da Frota. Durante o interrogatório, Picard faz um singelo pedido a ela para que desista daquela "caça às bruxas", lembrando frases sobre liberdade feitas pelo pai de Satie, um respeitado juíz da Federação. Consumida pela obsessão de achar o traidor, Satie se revolta com Picard por citar seu pai e então parte para acusações diretas contra o capitão.

Satie começa a relembrar algumas das experiências passadas de Picard para ilustrar a idéia de que ele pode ser um traidor. Conforme suas acusações vazias tornam-se mais e mais agressivas, a sala cheia de expectadores está em silêncio, chocada, e o almirante deixa a audiência, em total desaprovação. Logo depois há um recesso, e Worf informa seu capitão de que o almirante encerrou as investigações e Satie já deixou a nave. Worf pede desculpas por ter ajudado a almirante aposentada a continuar sua perseguição, e Picard o perdoa, explicando que o preço da liberdade é a constante vigilância.

 

Comentários:

"The Drumhead" é um episódio que dependeu totalmente dos atores e do roteiro para se sustentar. Felizmente, nenhum dos dois decepcionou, transformando o que poderia ser uma história tediosa em uma bela peça dramática.

Usando o desenrolar das investigações, o episódio mostra o quanto é fácil chegarmos ao abuso de autoridade. O que começa como uma razoável e necessária investigação termina como um tribunal que beirava os métodos da Inquisição.

Julgamentos com platéia, tom agressivo, confissões induzidas, estratégias mentirosas --tudo é considerado válido por Satie e seus colegas na hora de "extrair" a verdade de um suspeito. Uma vez que a almirante teve a certeza de que Tarses era um comparsa de J'Ddan, não mediu esforços para enquadrá-lo.

Picard foi o verdadeiro fio condutor da história. Ele soube mostrar qual a posição ética e quais os limites a serem respeitados pelos procedimentos judiciais. É um discurso politicamente correto? É, como é um padrão em quase todos os episódios de A Nova Geração. Mas não é esse estereótipo que faz dele errado.

Esse episódio fala mais alto especialmente aos interessados em Direito e Legislação. Até onde um advogado pode e deve ir para incriminar um acusado? As respostas estão todas lá, personificadas na razão de Picard. Ele soube quando uma investigação era necessária e também soube quando parar.

Satie, em sua obsessão por encontrar pêlo em casca de ovo, acabou perdendo totalmente a compostura, em sua atitude desesperada de atirar acusações a quem quer que entrasse em sua frente. Sua agressividade traz o momento mais tocante do episódio, quando Picard é obrigado a confrontar as conseqüências de sua assimilação pelos Borgs, que causaram a morte de 11 mil oficiais da Frota Estelar e a destruição de 39 naves.

O sofrimento interior do capitão, que até então só tentava trazer Satie de volta à razão, ao ser brutalmente acusado é absurdamente claro e sensibilizador. Ponto para mais uma brilhante atuação de Patrick Stewart.

Satie não era uma pessoa que não era mal-intencionada, mas apenas alguém que havia se perdido em meio à obsessão por eliminar os inimigos da Federação --até os que não existiam de fato. E Picard também mostra isso, ao não se dar ao trabalho de revidar os ataques à almirante. Ele sabe o quão claro está para todos que Satie está desequilibrada, e por isso nunca entra em confronto direto com ela.

Para sustentar uma história como essa, só mesmo com um roteiro brilhante. Até porque não havia nada mais para chamar a atenção da audiência --nem uma nova nave, nem um planeta, nem ação, batalhas, nada. Apenas diálogos e mais diálogos, todos ambientados na Enterprise. Se não é um segmento de incrível valor "televisivo", é uma grande aquisição do ponto de vista da dramaturgia. Quase como teatro na televisão. Produções como essa não são para qualquer um.

 

Citações:

Satie - "Just because there was no sabotage, doesn't mean there isn't a conspiracy on this ship." 
("Só porque não houve sabotagem, não quer dizer que não há uma conspiração nesta nave.")

Picard (citando o juíz Aaron Satie) - "For the first link of chain is forged, the first speech censored, the first thought forbidden, the first freedom denied, chains us all irrevocably."
("Quando o primeiro elo da corrente é forjado, o primeiro discurso censurado, o primeiro pensamento proibido, a primeira liberdade negada, ele nos acorrenta a todos, irrevogavelmente.") 

Picard - "Villains who dwell their moustaches are easy to spot. Those who cloth themselves in good deeds are well camouflaged."
("Vilões que enrolam seus bigodes são fáceis de identificar. Aqueles que se vestem de boas intenções estão bem camuflados.")

Trivia:

"The Drumhead", um episódio barato que foi feito para economizar dinheiro, transformou-se em uma das melhores coisas já produzidas na saga de Jornada nas Estrelas. Sem o apoio de efeitos especiais, e baseado apenas no excelente roteiro escrito por Jeri Taylor, "The Drumhead" foi inspirado em um esboço de Ron Moore chamado "It Can't Happen Here", e traz ecos da investigação de Picard em "Coming of Age", referências a abdução de Picard pelos Borgs em "The Best of Both Worlds", referências também sobre os invasores parasitas de "Conspiracy", sobre o escândalo do espião Romulano Selok "T'Pel" de "Data's Day", e ainda o episódio desenvolve uma boa intriga entre Klingons e Romulanos. Tudo isso com um orçamento US$ 250 mil abaixo do normal!

O episódio é o terceiro da Nova Geração a ser dirigido por Jonathan Frakes, sendo que dois foram nesta temporada ("Reunion" e "The Drumhead") e um na temporada anterior ("The Offspring").

Após 25 anos de Jornada, neste episódio é explicado que a Federação tem uma "Carta Magna", denominada como "Constituição".

A nave que traz a almirante Satie para a Enterprise é a Cochrane, uma nave da classe Oberth, como a USS Grisson, de "Jornada nas Estrelas III", ou a USS Tsiolkovsky, de "The Naked Now". O nome da nave, claro, é uma refência a Zefram Cochrane, criador da dobra espacial. Cochrane já havia sido mencionado no episódio do terceiro ano "Ménage à Troi".

Neste episódio é a vez de Picard agir como advogado, algo que já foi feito por Riker em "Angel One", da primeira temporada, e "The Measure of a Man", do segundo ano.

Aqui descobrimos que Picard assumiu o comando da Enterprise-D na data estelar 41124, sendo que a nave foi comissionada em 40759.5. O primeiro registro no diário do capitão tem a data de 41153.7.

E neste episódio também é citado que a Frota perdeu 39 naves e 11 mil oficiais na batalha de Wolf 359 contra os Borgs, conforme eventos vistos em "The Best of Both Worlds".

A almirante Norah Satie é interpretada pela experiente atriz Jean Simmons. Jean nasceu em 31 de janeiro de 1929, em Londres. Começou sua carreira como atriz aos 14 anos, no filme "Give Us the Moon". Sua interpretação ao lado de Laurence Oivier em "Hamlet" lhe valeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz codjuvante. Em 1985 ela atuou na minissérie de TV "North and Soul", que contava com Jonathan Frakes (Riker) no elenco. Jean Simmons, hoje uma septuagenária, residente em Santa Monica, EUA, diz para quem quer ouvir que sempre foi uma grande fã de Jornada.

 

Ficha técnica:

Escrito por Jeri Taylor
Direção de Jonathan Frakes

Exibido em 29/04/1991
Produção: 095

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi

Elenco convidado:

Jean Simmons como almirante Norah Satie
Bruce French como Sabin Genestra
Spencer Garrett como Simon Tarses
Henry Woronicz como o Klingon J'Ddan
Earl Billings como o almirante Thomas Henry
Ann Shea como Nelle Tore

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