A Nova Geração
Temporada 5

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Execução magistral faz de high concept
um dos melhores episódios da série

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Sinopse:

Data Estelar: 45652.1.

Enquanto jogava pôquer com Riker, Data e Worf, uma estranha sensação de déjà vu ajuda Beverly a pagar o blefe de Will. Ele então é chamada à enfermaria para examinar Geordi, que está sofrendo de tonturas. Quando ela vai para a cama, naquela noite, é assombrada por estranhas vozes em seus aposentos. A nave continua a mapear a Expansão Typhon, uma região do espaço previamente inexplorada, até que um campo de distorção subitamente flutua, os sistemas principais de propulsão entream em colapso, e a Enterprise é atirada em um alerta vermelho, em curso de colisão com uma velha nave, que apareceu do nada. Riker recomenda a descompressão do hangar de naves auxiliares, mas Picard segue o conselho de Data e usa o raio trator para alterar a trajetória da outra nave. Infelizmente, essa opção fracassa, a nave colide, explode e é totalmente destruída.

Mais tarde, Riker, Data, Worf e Beverly estão jogando cartas novamente, e tanto Riker quanto Beverly percebem que sabem o que vai acontecer depois. Beverly é novamente chamada à enfermaria, quando ela e Geordi experimentam sensação de déjà vu. Quando ouve as vozes em seu quarto, ela imediatamente vai até Picard e conta que algo estranho está acontecendo. Ele decide ordenar a execução de um diagnóstico. Na manhã seguinte, enquanto discutem os resultados da pesquisa, a nave antiga novamente aparece, e mais uma vez a Enterprise é destruída.

O jogo de cartas está novamente acontecendo, mas dessa vez todos os jogadores percebem que sabem as cartas que virão. Beverly antecipa que será chamada à enfermaria, e quando Geordi novamente se diz com tonturas, ela vai a Picard e repete sua exposição de que algo estranho está ocorrendo. Ela ouve as vozes em seu quarto, mas dessa vez as registra em seu tricorder. A gravação é estudada, e Data conclui que as estranhas vozes são as de toda a tripulação.

Beverly e Geordi percebem que estão presos em um laço de causalidade --uma dobra temporal que faz com que eles repitam indefinidamente o mesmo fragmento de tempo. Esse fenômeno está causando as tonturas de Geordi, e Data descobre que ele também explica as vozes gravada, que seriam "ecos" de um loop anterior. Ele separa certos diálogos na gravação que indicam que a Enterprise sofreu um colisão com outra nave, explodiu e ficou presa na dobra temporal. Percebendo que o que quer que façam para evitar a colisão será provavelmente o mesmo que já fizeram antes, Data decide que a única esperança é enviar uma mensagem deliberada ao próximo laço. Eles se preparam para enviar a mensagem, o alerta vermelho soa novamente, e a nave é destruída. 

Outro jogo de cartas se inicia, mas desta vez, as cartas são diferentes, com várias aparições do número três. Coisas continuam a acontecer apontando o três, e o número é visto em todo lugar sem razão aparente. Além dessa diferença, todo o resto acontece como antes. Quando o alerta vermelho começa, Picard escolhe o conselho de Data sobre o de Riker. No último minuto, entretanto, Data nota os três pininhos no uniforme do primeiro-oficial e, percebendo que "três" foi a mensagem que teria enviado a si mesmo do loop anterior, ele põe em curso a idéia de Riker e evita a colisão.

A tripulação é contatada pela outra nave, a USS Bozeman, que acredita ainda estar em 2278. A Enterprise contata o Comando da Frota Estelar, que avisa que Picard e sua tripulação passaram 17 dias no laço temporal. A Bozeman ficou presa por 90 anos.

 

Comentários:

"Cause and Effect" é um episódio de simplicidade ímpar. Uma sequência de eventos que se repete vez após vez, após uma conclusão catastrófica. O objetivo da tripulação tem de ser escapar do laço temporal. Simples assim.

A simplicidade da história, entretanto, se paga nos detalhes. Quanto mais modesto é um enredo, mais importante se torna o modo pelo qual ele é executado. Neste episódio, a execução é tudo. O mérito, portanto, pelo grande sucesso do segmento vai para o diretor, no caso Jonathan Frakes, e para os atores, que souberam interpretar realisticamente a infindável sequência de eventos, sempre iguais, mas sutilmente diferentes.

A variação das câmeras é tudo. Frakes busca alguns ângulos pouco usuais para causar a sensação de repetição, mas ainda assim diferenciando a cena de sua análoga de loops anteriores. Além de transmitir melhor a sensação de que os eventos acontecem várias vezes (e não uma vez só reprisada ad eterno), a troca de ângulos ajuda a não cansar o telespectador com as reprises.

Justamente pelos sutis diferenciais entre cada uma das repetições, algumas repetições aparentemente inevitáveis tornam-se ainda mais pronunciáveis. O exemplo mais consistente e marcante é o de Beverly derrubando seu copo (embora Gates McFadden faça uma força sobre-humana para quebrá-lo em uma das vezes, no que é provavelmente a mais tomada do episódio, em razão da falta de realismo).

Também é muito bem feito o clímax da história. Embora o "três" já se pronuncie claramente desde o início como a mensagem vinda do loop anterior, seu conteúdo é tão cifrado que consegue manter o telespectador no escuro até o último momento. Melhor ainda, a cena que revela a significação da mensagem é executada de maneira perfeita. Além de dar a impressão que será novamente inevitável a colisão, ela permite que o telespectador faça a descoberta que irá salvar a Enterprise junto de Data. Em vez de uma explicação patética do andróide, o que tiraria totalmente o clímax da cena, temos apenas um zoom na gola de Riker. Movimento brilhante.

Do ponto de vista lógico, os saltos temporais transcorrem com razoável tranquilidade, sem nenhum paradoxo insolúvel pela frente. A única coisa que incomoda em qualquer episódio envolvendo viagem no tempo é a falta de critério para o processo. Não consigo entender como a Enterprise pode ficar repetindo o mesmo trecho do tempo infinitas vezes enquanto o resto do Universo segue em frente. Mas o bonito de segmentos desse tipo é justamente isso: a coisa é tão especulativa que nem é preciso ficar pensando muito sobre potenciais explicações ou qualquer falta de coerência.

Ou seja, um prato cheio para Brannon Braga, que acertou em cheio desta vez. Além de possuir diálogos interessantes e bem escritos, o roteirista conseguiu fazer excepcional uso de um "high concept" potencialmente tedioso. Mais uma vez, ao roteirista cabe apenas o mérito da idéia --a qualidade do produto final recai totalmente sobre a produção.

Os efeitos visuais cumprem bem o seu papel, especialmente no momento da colisão das naves. Somente a explosão da Enterprise-D deixa a desejar, deixando transparecer que trata-se ali de um modelo, e não uma espaçonave de verdade.

 

Citações:

Riker - "Sometimes I wonder if he's stacking the deck."
("Algumas vezes penso se ele não está arrumando o baralho.")
Data - "I assure you, commander, the cards are sufficiently randomized."
("Eu garanto, comandante, que as cartas estão em ordem suficientemente aleatória.")
Worf - "I hope so."
("Espero que sim.")
Data - "8, Ace, Queen, the dealer receives a 4."
("8, Ás, Dama, o distribuidor recebe um quatro.")
Worf - "No Bet."
("Sem aposta.")
Data - "10, 7, no help there. Pair of ladies for the doctor. Dealer receives a 9."
("10, 7, não ajuda aí. Par de damas para a doutora. Distribuidor recebe um 9.")

Trivia:

Kelsey Grammer, o ator principal da famosa série americana "Frasier", faz uma participação neste episódio como o capitão Morgan Bateson, da USS Bozeman. Grammer também trabalhou na série igualmente famosa "Cheers", que contava ainda com Kirstie Alley, a Saavik de "Jornada nas Estrelas II", no elenco. Na cena final do episódio, quando o capitão Bateson aparece na ponte de comando da Bozeman, a idéia inicial seria de colocar Kirstie Alley como Saavik ao seu lado, como a primeira-oficial da nave. Mas a agenda da atriz, que estrela atualmente sua própria série, "Veronica's Closet", estava cheia, não foi possível realizar o encontro.

Originalmente o plano dos produtores seria de ter como a USS Bozeman uma nave da classe Constitution, a mesma da Enterprise da Série Clássica. Porém os gastos para fazer uma nova maquete, cenários e figurinos como os da série original seriam muito caros e outra boa idéia para o episódio não pôde ser realizada.

Ao final de tudo, a USS Bozeman é uma versão da USS Reliant de "Jornada nas Estrelas II". Mas, ao contrário da Reliant, que era da classe Miranda, a Bozeman é da classe Soyuz. Soyuz, para quem não sabe, é o principal veículo espacial de transporte humano dos russos, já em operação há mais de duas décadas.

"Cause and Effect" consta na lista dos 25 melhores episódios da Nova Geração de todos os tempos.

Este foi o quarto episódio da série dirigido por Jonathan Frakes, o William T. Riker. O próximo episódio com sua direção será "The Quality of Life", da sexta temporada.

Michelle Forbes está de volta como a alferes Ro Laren neste episódio. Sua última participação havia sido em "Power Play". Michelle voltará a aparecer no episódio "The Next Phase", ainda nesta temporada.

 

Ficha técnica:

Escrito por Brannon Braga
Direção de Jonathan Frakes

Exibido em 23/03/1992
Produção: 118

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi

Elenco convidado:

Michelle Forbes como alferes Ro Laren
Patti Yasutake como enferemeira Alyssa Ogawa
Kelsey Grammer como capitão Morgan Bateson

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