Revisão Literária: To Reign in Hell, Parte 2

reighinhell.jpgNesta parte de nossa revisão de Star Trek: To Reign in Hell — The Exile of Khan Noonien Singh, vamos acompanhar como Khan está conseguindo bons progressos gerais em instalar a colônia, mas Marla ainda vai comer o pão que Khaless amassou.

Resumo, Segunda Parte

Três meses depois, e a colônia dos transgênicos prospera. Nova Chandigarh foi reforçada, contando com torres, cercas de metal e arame farpado, e inúmeras construções combinando materiais da Botany Bay e fornecidos pela Enterprise; o layout das cabanas segue um padrão de emergência que a Frota costuma utilizar, usando termoconcreto como base, cabanas estas por sugestão de Marla, a agora “consultora residente” em tecnologia do século 23. O grupo também já trabalha em inúmeras atividades de uma colônia, como o cultivo de safras terráqueas com as sementes que eles trouxeram na Botany Bay.

Marla está uma verdadeira cabocla federada: chapeuzinho de palha na cabeça e tricorder na cinta. Uma pistola Colt M1911 também faz parte de seu equipamento, uma das poucas pessoas quem Khan confia portar algumas das armas deles. Ela virou o Rato Rémy da colônia: com o tricorder, analisa as amostras de flora e fauna cetialfacincoanca que os demais procuram, para avaliar o potencial para consumo humano, separando as venenosas das comestíveis. Embora o número possível para consumo não é tão amplo como eles gostariam, ainda assim Marla consegue ter algumas boas amostras possíveis para entrar na dieta deles.

A federada avalia uma amostra trazida por Daniel Katzel, que com Parvati Rao forma o grupo de avaliação deles. É nada menos do que aquelas enguias cetianas, aquela forma de vida indígena de Ceti Alfa V mais conhecida do fandom. Marla diz que aquelas coisas não são venenosas per se, mas ela desaconselha o consumo devido a encontrar uma certa enzima suspeita no organismo.

Durante uma destas avaliações, com a bateria do tricorder acabando, Marla segue para Nova Chandigarh para colocar esta para recarga e instalar uma fresca. Enquanto se dirige para um dos depósitos de material, Marla passa por Zuleika e tem que aturar mais uma das tiradas da mulher. Ela pensa que poderia se queixar para Khan, mas Marla já avaliou faz algum tempo que, se ela fizesse isto, colocaria a colônia ainda mais contra ela — esta altura Marla já está esperta com a situação e aprendeu a não dar bola.

Ela passa por mais alguns colonos ocupados em seus afazeres e avisa o augment em guarda do depósito, Vishwa Patil, que vai retirar algumas baterias. Mas enquanto Marla procurava as baterias no meio do equipamento federado estocado, ela percebe algo errado. Ouve um ruído, e ao chamar por Patil, não tem resposta. Tenta a porta, agora trancada ou obstruída por fora. Fumaça começa a surgir, a temperatura da cabana a subir. Percebendo que está presa no meio de um incêndio, Marla pede por socorro, mas ainda não há resposta, mesmo depois de ela fazer alguns disparos com a pistola para chamar a atenção de alguém. A situação está difícil.

Retornando de mais uma missão de busca-e-destruição contra os felinos que ameaçam a colônia, Khan e suas escoltas percebem primeiro os tiros, e depois a coluna de fumaça no horizonte. Eles colocam seus pulmões geneticamente modificados para trabalhar bem na corrida que iniciam para ver o que aconteceu. Chegando no local, ele encontra um grupo de seus seguidores ao redor daquilo que foi a cabana, reduzida a cinzas pelo fogo e pela tentativa de combate ao incêndio feita pelo seu pessoal.

Khan avalia a situação e tem más notícias: Marla estava na cabana, e ninguém sabe se ela escapou. Um agravante é que Patil informa seu líder que alguém o deixou inconsciente com uma pancada na cabeça com uma pedra, e quando acordou, a cabana estava em plena chama. Khan entra em um modo de lamúria pela sua amada e fúria incessante pelo claro atentado, pois ele está ciente de quão impopular sua mulher era entre a colônia. Exige explicações, mas ninguém ali se mostra útil com informações, o que o deixa ainda mais furioso.

Mas nisto, detritos se movem, e do meio deles, Khan observa sua fênix surgir, com Marla lentamente se levantando, abatida e tossindo. Usando uma máscara de oxigênio, ela se enrolou em um cobertor da Frota Estelar de tecido anti-chamas, e se protegeu durante o incêndio. Khan a abraça, admirado pela engenhosidade dela. Ele pergunta para Marla quem foi o responsável, mas ela afirma que não tem certeza, não estava em posição de ter percebido.

Khan observa a multidão a sua frente, e fita Zuleika Walker com uma expressão preocupada. Sabendo que Zuleika não gostava de Marla em particular, Khan a questiona de bate-pronto, e ela entra em um modo defensivo. Patil e outro colono, Paul Austin (que Khan considera ser meio cupincha de Ericrsson) alertam seu líder que Zuleika havia discutido com Marla logo antes do incidente. Khan ordena ela ser presa em custódia, ainda que ela fortemente clama inocência.

Mais tarde, Khan decide impor a pena de banimento a Zuleika. Embora preferiria uma pena capital, ele não quer arriscar baixar a moral do grupo como um todo. Marla, contudo, está muito incomodada com a decisão. Ela avalia que eles não tem como terem certeza de que teria sido realmente Zuleika a culpada, mas Khan se mostra confiante na sua avaliação e pede para Marla não questionar seu julgamento.

Durante a “cerimônia” de banimento, nos portões de Nova Chandigarh, Zuleika se esgoela de lamúria pedindo para Khan reconsiderar, e nisto ela tem uma defesa inesperada: Marla se coloca no meio da coisa e diz que, se Khan quer correr o risco de banir alguém que pode vir a ser inocente, vai a estar banindo também. Khan, Zuleika, os seguranças ali e os demais fazem expressões de incredulidade que beira o cômico — a moça parece que gosta de bancar a exilada. Khan sobe nas tamancas por tamanha insolência contra sua autoridade bem na frente de toda a colônia, e ele não arreda o pé, mesmo que isto signifique perder a sua amada para o banimento.

Assim, as duas são fornidas com água, pistolas, víveres básicos e ordem para sumirem dali até o cair do sol. Enquanto caminham pela mata para longe, Zuleika comenta com Marla como é que ela pode colocar o pescoço dela em risco assim por alguém que pode até ter tentado a matar. Marla replica que o caso era puramente circunstancial, e que a sua “decência federada” não iria permitir ela viver com tal possibilidade na consciência.

Entrementes, Khan está incomodado. Por que Zuleika, que além de supermodelo também era uma assassina profissional a seu serviço, teria nocauteado Patil de maneira tão amadora? Esta e outras inconsistências no caso o levam a zanzar pelos destroços da cabana para investigar mais a fundo, questionando novamente Patil. No que ele dá um apertão sério no sujeito (mas dentro do estilo que vimos ele fazer com Chekov antes de usar as enguias) Patil hesita, que é o que basta para Joaquin o render e Khan arrancar uma confissão: foi ele quem tentou matar Marla, pois Patil julga que a reles humana não é digna de Khan e que Marla era uma desvantagem política para seu líder.

Mas Khan a esta altura já nem escuta mais Patil, e deixando de lado as considerações de moral e baixa população da colônia, o esfaqueia mortalmente sem piedade. Ele tem outras preocupações no momento, que é encontrar Marla e Zuleika. Joaquin lembra que ela a desafiou, mas Khan diz a seu amigo que é líder e homem o bastante para saber admitir quando está errado, especialmente frente a clara evidência que ele mesmo providenciou.

Um time de busca liderado por Khan vasculha a floresta por horas a fio até o dia seguinte, e após algum tempo, conseguem atingir o seu objetivo. Marla e Zuleika, depois de enfrentarem toda a selva, foram pegas por uma forte enxurrada das chuvas da época de monções daquela região, e foram arrastadas até o Rio Kaur, lutando pelas próprias vidas. Um admirado Khan encontra Marla ajudando uma ferida Zuleika, ambas encharcadas, cobertas de lama, esgotadas e famintas, mas vivas.

Comentários Gerais

Algo muito valioso que este livro também faz, tal qual o restante desta trilogia, é conseguir deixar as pessoas do grupo de Khan extremamente próximas a nós, mais reais, tangíveis. Estamos começando a os conhecer melhor, com mais detalhes de quem eram e o que faziam, tanto em geral como para a agenda de intenções de Khan durante as Guerras Eugênicas.

De meras figuras de fundo em “Space Seed”, quase tão aliens para nós como os testas-gozadas e outros humanóides de TOS, os geneticamente modificados de Khan se tornam pessoas que podiam ter vivido durante o final do século 20 diretamente ao nosso lado, encontrado na rua, sobre os quais teríamos lido nos jornais. Zuleika podia terminar um assassinato para Khan mas depois estar desfilando em Milão para a Gucci; Daniel Katzel, que era na época desenvolvedor de TI, podia encontrar alguma brecha de segurança no Windows NT 3.51 e postar uma mensagem a respeito na Usenet e em listas de discussão por e-mail, e assim por diante.

A escolha de Greg Cox de ter utilizado os “nossos anos 90”, ao invés de um genérico anos 90 futurista que era distante para Gene Coon e Carey Wilber, foi uma decisão muito acertada. Esta familiaridade cada vez maior com Khan e também com todo o grupo dele torna uma nova visita a “Space Seed” ou a Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan uma experiência razoavelmente diferente, até. A curiosidade sobre os demais, de meramente marginal quando assistimos pela primeira vez o segmento, se torna enorme. Será que aquele ali no fundo é Vishwa Patil? Será que aquele ali saindo da câmara de criogenia da Botany Bay é a Zuleika Walker?

Interessante também será acompanharmos a transição destes rostos agora cada vez mais familiares para o Kingdom Come de Ceti Alfa V, nas próximas partes de To Reign in Hell.