TNG 5×15: Power Play

Episódio meio manjado sobre possessão se arrasta sem entregar nada de novo

Sinopse

Data estelar: : 45571.2

Um sinal subespacial de socorro que parece estar sendo emitido por uma nave da Frota Estelar leva a Enterprise a uma lua aparentemente desabitada, orbitando Mab-Bu VI. A última presença registrada da Frota na área foi da USS Essex, desaparecida no local há dois séculos. Embora as chances de que a tripulação perdida ainda estivesse viva fossem mínimas, Troi sente que há vida na lua.

Uma tempestade magnética impede o teletransporte para a superfície, de modo que Riker, Troi e Data tentam pousar com uma nave auxiliar. A nave acaba não suportando a tempestade e se choca contra a superfície. Riker quebra o braço e as comunicações com a Enterprise são perdidas. Troi continua sentindo formas de vida, e agora ela descreve como algo poderoso, se aproximando junto de uma nuvem da tempestade. Enquanto isso, na Enterprise, O’Brien é voluntário para arriscar sua vida e se transportar para a superfície, a fim de resgatar os outros. Enquanto ele tenta montar o equipamento que permitirá ao grupo avançado deixar a lua, a nuvem envolve os tripulantes e estranhos glóbulos de energia invadem os corpos de todos, exceto Riker.

A tentativa acaba tendo sucesso, e o grupo avançado retorna à Enterprise. De volta, Data, Troi e O’Brien insistem que a Enterprise conduza uma busca sistemática na região polar da lua – uma ideia que Riker, Picard e o resto da tripulação consideram absurda. Quando Riker questiona os motivos do trio, eles se rebelam violentamente.

O grupo faz reféns no bar panorâmico, o que obriga Picard a dar atenção às suas exigências – ou seja, enviar a Enterprise para o polo lunar. Enquanto isso, a dra. Crusher especula que Riker não tenha sido afetado como os outros três em razão de sua lesão no braço, que teria repelido a força que está dominando O’Brien, Troi e Data. Mais tarde, essas entidades se revelam quando Troi, a líder do trio amotinado, se identifica como o capitão Bryce Shumar, da nave estelar Essex.

Troi explica que os espíritos da tripulação da Essex foram aprisionados nas correntes magnéticas que envolvem a lua quando a nave desapareceu, dois séculos atrás. Ao transportar com segurança seus restos mortais de volta à Terra, Picard os libertaria de seu aprisionamento espiritual.

O comportamento violento dos três, entretanto, faz com que Picard desconfie das verdadeiras intenções do grupo. Ao mesmo tempo, Crusher especula que, ao induzir uma grande quantidade de dor aos corpos dos três, seria possível obter o mesmo efeito que impediu Riker de ser tomado. Geordi e Ro começam a trabalhar, desenvolvendo um meio de dar um choque nos três, mas, quando a tentativa é realizada, Data acaba escapando. O androide então ameaça matar todos na sala, e Picard concorda em ajudá-los incondicionalmente.

Conforme eles se aproximam do polo lunar, Riker lembra o trio de que os mesmos problemas que os impediram de se transportar para a superfície antes iriam continuar. O’Brien diz que pode sobrepujar as dificuldades, e os três partem para a área de carga 4, com três reféns, incluindo Picard.

Ao chegar na área de carga, Troi revela que seu povo na verdade é um grupo de condenados, e a lua é uma colônia penal, de onde ela pretende escapar usando os corpos de tripulantes da Enterprise. Picard revela que irá abrir a comporta da área de carga e matar a todos na sala, incluindo a si mesmo, antes de arriscar a vida do resto de sua tripulação. Sem qualquer outra escolha, os espíritos deixam a Enterprise e retornam à lua, e Troi, Data e O’Brien voltam ao normal.

Comentários

“Power Play” é basicamente uma história de terror sobre possessão e a ameaça a reféns. Trata-se de um tema explorado com alguma frequência desde a Série Clássica, a começar pelo episódio “The Lights of Zetar”, que ficou longe de ser uma obra-prima. “Power Play”  segue a mesma linha e obtém os mesmos resultados. Não chega a estar longe de ser um remake daquele episódio.

A diferença básica, que joga em favor do episódio de A Nova Geração, é que não conhecemos a natureza da possessão. Seriam de fato os espíritos dos tripulantes da Essex, após 200 anos de insanidade induzida pela ausência de corpos físicos? Ou criaturas alienígenas de outra natureza, se apropriando das identidades dos humanos mortos há dois séculos?

O desenrolar dessa premissa é conduzido com razoável dose de tensão, emoção e suspense, de modo a torná-lo melhor que seu equivalente temático clássico.

Mais uma vez os roteiristas recaem sobre um erro recorrente em A Nova Geração: eles tratam Data como um equivalente humano. Se os espíritos são expulsos do corpo por uma substância química produzida quando há dor, não parece haver qualquer equivalência entre o mecanismo que poderia tirar o espírito de dentro de Data e o dos tripulantes humanos (o andróide não pode sentir dor, nem tem bioquímica similar à humana). Usa-se uma desculpa muito esfarrapada para incluir Data no mesmo saco dos outros.

Felizmente, esse remendo na história não é crucial para seu desenvolvimento, uma vez que Data acaba escapando da rajada que iria infligir dor aos tripulantes afetados. Mesmo assim, essa antropomorfização excessiva do andróide acaba por tirar a característica mais interessante dele – justamente a sua não humanidade, do ponto de vista biológico. Um ponto a menos para sua caracterização.

Um contraponto interessante para a falta de desenvolvimento dos personagens é o estabelecimento de interessantes itens de continuidade dentro da cronologia de Jornada nas Estrelas. Fala-se aqui da nave USS Essex, da classe Daedalus, que operou em nome da Frota Estelar e da Federação 172 anos antes do episódio, ou seja, na segunda metade do século 22.

Existem muitos dados interessantes sobre a Daedalus (inclusive de seu design, predecessor às naves da classe Constitution, como a Enterprise NCC-1701), mas eles são em geral não canônicos (nunca apareceram em nenhum episódio). O máximo que se pode dizer em favor da classe Daedalus é que Benjamin Sisko, em Deep Space Nine, tinha um modelo em seu escritório do que se diz ser uma nave dessa classe. O modelo na verdade foi criado para inclusão no livro Star Trek Chronology, de Michael Okuda e Denise Okuda, e acabou virando peça de decoração. Em Strange New Worlds, chegamos a ver uma ilustração da própria Essex a bordo da Enterprise – algo que nunca tivemos a chance de ver neste episódio.

Do ponto de vista técnico, “Power Play” não oferece nem destaques grandiosos nem muitos deslizes. Tirando a sequência que mostra a nave auxiliar na turbulência (que é exagerada demais para se manter inteiramente convincente), o episódio é bem realizado como de costume. Mas nada disso compensa o fato de que a história é chata e desinteressante, e a ação idem, tornando-o um dos pontos mais baixos da quinta temporada.

Avaliação

Citações

“Someone’s down there… alive.”
(Alguém está lá embaixo… vivo.)
Deanna Troi

Trivia

  • O episódio teve vários nomes provisórios, como “The Invaders”, “Terror in Ten-Forward” e “Feeling Poorly”. O título escolhido, por sua vez, “Power Play”, chegou a ser um título provisório do episódio “This Side of Paradise”, da Série Clássica.
  • Vários freelancers, dentre eles o ex-showrunner Maurice Hurley, chegaram a trabalhar no argumento do episódio, antes que ele fosse passado a Brannon Braga e Herbert J. Wright para roteirização.
  • Braga relembrou assim o trabalho: “Da primeira vez que eu o escrevi, pensei, bottle show: bar panorâmico, Picard e Troi falam. Mike Piller disse, não tenha medo de escrever cenas de sete ou oito páginas com Picard e Troi. Eu disse, ‘ok, Mike, não terei’. Jesus! Sete ou oito páginas? Eu tive dificuldade para escrever e quando o entreguei, Piller disse que sentiu que havíamos levado o mais longe que podíamos e não devíamos produzi-lo. Se ele tivesse sido produzido como eu o escrevi, o episódio teria sido um pouco familiar demais como um episódio de reféns. Então o que aconteceu é que Herb Wright tinha acabado de entrar e Mike disse, precisamos de sangue novo, e demos ao Herb. Juntos bolamos a virada em que eles dizem ser fantasmas e acho que isso foi o que trouxe o nível do episódio para cima e deu uma dimensão de mistério e surpresas de que precisava.”
  • A nave auxiliar Campbell foi uma homenagem ao escritor de ficção científica John W. Campbell.
  • “Power Play” foi filmado entre 27 de novembro e 11 de dezembro de 1991, nos galpões 8, 9 e 16 da Paramount.
  • Para o diretor David Livingston, o mais divertido do episódio foi “pegar três de nossos personagens contínuos e fazê-los interpretar algo inteiramente diferente”. Ele revelou que os personagens, quando possuídos, ganharam outros nomes informais no set: Marina era Slash, Brent era Buzz, e Colm era Slugger.
  • Brent Spiner teve uma única preocupação: fazer com que seu personagem não ficasse parecido com Lore, o irmão mau de Data. Na avaliação dele, deu certo.
  • Este foi um dos raros episódios a usar uma grua durante as filmagens, a exemplo de “The Child”, que abriu a segunda temporada da série.
  • As filmagens no galpão 16, o “planet hell”, foram especialmente difíceis, com os ventiladores e areia voando para todo lado. Em dado momento, Marina Sirtis precisou sair, tomar banho e refazer toda a maquiagem antes de voltar a filmar. Aliás, Sirtis teve outro grande problema, quando decidiu não usar uma dublê para a cena em que o grupo avançado é atirado ao chão. Ela foi a única ali a não ter dublê e quebrou o cóccix. E o pior: nem dá para notar quem é dublê e quem não é na tomada.
  • O episódio remasterizado em alta definição acabou com 1min41s de material em vídeo, porque os negativos das cenas não foram encontrados.
  • Brannon Braga gostou do resultado final. “Acabou sendo um grande episódio de ação. Para mim, foi um sopro de ar fresco. Ele era despretensioso. Em vez de explorar algum tema ou ideia, era só ação e disparos de feiser. O que você vai fazer, negar isso e dizer que não é divertido?”
  • O showrunner Michael Piller viu de forma diferente. “‘Power Play’ teve a distinção de ser um dos episódios melhor dirigidos na temporada, mas apenas me deixou irritado, porque era vazio. […] Tivemos enorme dificuldade em fazer o episódio funcionar e torná-lo interessante por cinco atos.”

Ficha Técnica

História de Paul Ruben e Maurice Hurley
Roteiro de Rene Balcer e Herbert J. Wright & Brannon Braga
Dirigido por David Livingston

Exibido em 24 de fevereiro de 1992

Título em português: “Jogo de Poder”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Rosalind Chao como Keiko O’Brien
Colm Meaney como Miles O’Brien
Michelle Forbes como Ro Laren
Ryan Reid como técnico do transporte
Majel Barrett
como voz do computador

Enquete

TS Poll - Loading poll ...

Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

Episódio anterior | Próximo episódio