A Nova Geração
Temporada 5

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Conclusão de guerra Klingon distribui
brilhantismo entre os personagens

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Sinopse:

Data Estelar: 45020.4.

No fim do ano passado, Worf abandonou a Frota Estelar para se juntar ao exército do novo chanceler do Império Klingon, Gowron. Facções que não aceitaram a vitória de Gowron no Alto Conselho iniciaram uma guerra civil, sob o comando das irmãs Duras. Apesar de entender a posição de Worf, Picard se recusa a envolver a Enterprise diretamente em um conflito interno Klingon.

Por outro lado, o capitão decide interceder junto à Frota Estelar para montar um bloqueio na fronteira do Império Klingon com o Império Romulano, a fim de evitar que os Romulanos interferissem na guerra civil, ajudando os exércitos das irmãs Duras a sobrepujar Gowron.

Após convencer a Federação de sua proposta, Picard monta uma frota de 40 naves para colocar em prática o bloqueio. Alguns de seus oficiais seniores foram designados para outras naves. Riker e Geordi foram assumir o comando da USS Excalibur. Data recebeu o comando da USS Sutherland.

Durante os conflitos em na capital Klingon, Worf é sequestrado por guerreiros sob o comando de Lursa e B'Etor. Enquanto isso, as duas irmãs continuam a tratar da guerra com uma comandante Romulana chamada Sela, que guarda grande semelhança com a falecida oficial da Frota Estelar Tasha Yar. Ela está discutindo com os Klingons rebeldes como pretendem tomar o controle do Império quando é informada da intervenção da Federação, ao enviar sua frota de naves para a fronteira.

Na esperança de convencer Picard a desistir do bloqueio, Sela faz uma visita surpresa ao capitão. Picard fica intrigado quando a Romulana diz ser a filha de Tasha Yar, mas Guinan mais tarde o convence de que Sela fala a verdade. A El-Auriana insiste em dizer que de algum modo se lembra de Picard enviando Tasha para uma Enterprise de outra época (a NCC 1701-C), 23 anos no passado. Por causa disso, Guinan afirma, Picard é responsável direto pelo nascimento de Sela. 

Picard pede um encontro com a Romulana, que o pressiona para saber a estratégia da Frota Estelar e dá a ele 14 horas para recuar ou ser atacado por forças Romulanas. O capitão não revela nada e procura descobrir mais sobre o passado de Sela. Quando a Romulana confirma a história de Guinan, Picard percebe que ela realmente é a filha de Tasha Yar. Enquanto isso, Worf é levado às irmãs Duras, que tentam convencê-lo a juntar-se a elas, casando-se com B'Etor. O Klingon recusa. 

Com o prazo dado por Sela se esgotando, Picard decide que o único modo de evitar uma guerra com os Romulanos é expor seu envolvimento na guerra civil Klingon. Ele convence Gowron a lançar um ataque maciço contra as forças da família Duras, para que os rebeldes requisitassem a ajuda Romulana.

Ao serem detectados entrando no espaço Klingon, graças à eficiente atuação do comandante Data a bordo da Sutherland, os Romulanos desistem de apoiar Lursa e B'Etor, que eventualmente acabam derrotadas. Gowron é finalmente estabelecido como o líder do Alto Conselho, e Worf decide retornar à Frota, servindo a bordo da Enterprise.

 

Comentários:

Se a primeira parte de "Redemption" foi totalmente voltada para Worf, sua continuação ofereceu tarefas interessantes para vários personagens. Picard, em seu confronto com Sela, Data, em sua disputa com o tenente-comandante Hobson para se provar um oficial apto a comandar, e, claro, Worf, descobrindo que ser Klingon não é apenas ter rugas na testa, são os maiores beneficiados.

Obviamente, a diluição da atenção dada a cada personagem diminui um pouco a análise psicológica que se faz de cada um deles, resultando um episódio menos intenso que sua primeira parte. Por outro lado, o roteiro extremamente desenvolto de Ronald Moore consegue suprir quase que totalmente essa deficiência. O episódio não perde o ritmo por um instante sequer --não há realmente tempo para ir buscar alguma coisa na geladeira entre uma cena e outra--, fornecendo uma história épica nos 45 minutos disponíveis.

Uma forma mais estatística de aferir a complexidade da trama é ver a quantidade de personagens neste episódio --e não se trata de uma porção de figurantes. Há muita gente importante para a história: Toral, Lursa, B'Etor, Kurn, Gowron, Sela, Hobson e Guinan são só os exemplos mais proeminentes. De qualquer modo, é um esforço digno dos grandes escritores manter toda essa gente ocupada em menos de uma hora.

Além disso, a história consegue provar mais uma coisa: histórias de viagem no tempo não necessariamente exigem um botão "reset" ao final! Desenvolvendo as consequências do episódio "Yesterday's Enterprise", da terceira temporada, Ron Moore consegue, com brilhantismo, empacotar uma subtrama complexa e que, ainda assim, pode ser entendida por quem não tinha testemunhado, dois anos atrás, a ida de Tasha à Enterprise-C. Esta é a maior prova de que a continuidade não necessariamente é uma pedra no sapato dos roteiristas. Quando respeitada e bem utilizada, pode se tornar uma fonte inesgotável de desenvolvimentos para a série.

Se a inserção de Sela no universo de Jornada foi primorosa, sua interpretação já não foi à altura. Apática como sempre, Denise Crosby não consegue imprimir ao personagem todo o potencial que existe nele. Que tipo de conflito interno existe na comandante que, quando criança, foi responsável direta pela morte de sua mãe? Nunca saberemos. O que vemos é um maniqueísmo exagerado.

Seria muito mais interessante se tivéssemos a chance de ver uma Sela mais dividida entre a sua lealdade para os Romulanos e uma curiosidade para saber como era sua mãe. E olha que Picard deu todas as chances, durante sua reunião com Sela, para que Denise Crosby imprimisse em sua atuação alguma sutil dualidade a respeito da humanidade. Faltou atriz à altura da tarefa.

Esse problema não está limitado a "Redemption". Infelizmente, esses ângulos mais complexos de Sela nunca foram abordados, mantendo um padrão totalmente raso para as motivações da personagem. Ela voltaria ainda em "Unification", também do quinto ano, mas com exatamente o mesmo estilo. Se Sela não tivesse sido inserida em episódios tão memoráveis, provavelmente nem seria lembrada com estima pelos fãs.

As sequências de Data a bordo da Sutherland compõem a sequência mais divertida do episódio. Cenas de diálogo afiado, como a do "pedido negado", ou a em que o andróide recrimina as atitudes de seu primeiro-oficial para depois ordená-lo a fazer as mesmas coisas, ou a clássica sequência em que Data expõe os Romulanos, seguida pelo reconhecimento de Hobson, ao chamá-lo enfaticamente de "capitão", fornecem combustível para manter a audiência ainda mais à vontade com a "humanidade" de Data.

A jornada também é muito produtiva para Worf. Colocá-lo no seio da cultura Klingon foi um modo extremamente eficiente de mostrar o impacto que os humanos tiveram sobre ele. Em "The Enemy", do terceiro ano, Worf dá um grande passo, ao mostrar à audiência que ele não está limitado pelos valores humanos. Aqui, ele mostra que também não está totalmente comprometido com o modo de vida Klingon, apesar da profunda admiração por sua herança.

A soma desses dois episódios faz com que Worf rompa de vez a barreira dos personagens rasos e se transforme em um personagem complexo, capaz de comportamentos menos previsíveis. A representação visual disso, na cena em que ele se recusa a matar Toral e pede a Picard para voltar a servir na Enterprise, é extremamente eficiente, lembrando muito o final de "Sins of the Father", também do terceiro ano.

A direção de David Carson está à altura do brilhante roteiro de Moore. Os efeitos especiais também dão sua contribuição: é a primeira vez que vemos uma frota de naves da Federação a caminho de uma missão (já havíamos visto uma frota de naves, em frangalhos, após a batalha de Wolf 359, em "The Best of Both Worlds, Part II"). A cena é uma pequena prévia do que veríamos sistematicamente em Deep Space Nine a partir do terceiro ano --frotas inteiras com centenas de naves em confronto direto!

O episódio também não deve nada aos demais episódios com temática Klingon em termos visuais. Os incríveis cenários e as bonitas pinturas do planeta capital do Império estão lá. Uma recriminação fica apenas para os cenários do interior das naves Romulanas. É impressão minha ou os cenários Romulanos são sempre improvisos sem graça com base em rearranjo de outros cenários?

 

Citações:

Hobson - "By the same token, I don't think an android is a good choice for a captain."
("Pelo mesmo princípio, não acho que um andróide seja uma boa escolha para ser capitão.")
Data - "I understand your concerns. Request denied."
("Entendo suas preocupações. Pedido negado.")

Kurn - "It's the Klingon way!"
("É o modo Klingon!")
Worf - "I know. But it is not my way."
("Eu sei. Mas não é o meu modo.")

Trivia:

Segundo Michael Piller, a história de "Redemption" seria usada como o episódio final da terceira temporada, porém a idéia do episódio "The Best of Both Worlds" fez com que os Klingons fossem atrasados em um ano.

O diretor deste episódio foi David Carson, mais conhecido como o diretor de "Jornada nas Estrelas - Generations". Além de "Redemption", Carson dirigiu quatro episódios da Nova Geração, entre eles o clássico "Yesterday's Enterprise", que também conta com a participação de Denise Crosby.

A nave que Data comanda neste episódio é a USS Sutherland, registro número NCC 72015, da classe Nebula. A primeira aparição de uma nave desta classe ocorreu no episódio "The Wounded". A nave de Riker neste episódio é a USS Excalibur, da classe Ambassador, a mesma da Enterprise-C.

Após "Redemption", Gowron voltará no episódio "Rightful Heir", da sexta temporada. Kurn voltaria apenas em Deep Space Nine.

 

Ficha técnica:

Escrito por Ronald D. Moore
Direção de David Carson

Exibido em 23/09/1991
Produção: 101

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi

Elenco convidado:

Nicholas Kepros como general Movar
J.D. Cullum como Toral
Denise Crosby como Sela
Michael G. Hagerty como capitão Larg
Tony Todd como Kurn
Robert O'Reilly como Gowron
Colm Meaney como tenente Miles Edward O'Brien
Fran Bennett como almirante Shanthi
Timothy Carhart como tenente-comandante Christopher Hobson
Jordan Lund como Kulge
Stephen James Carver como navegador da Hegh'ta
Clifton Jones como alferes Craig
Barbara March como Lursa
Gwynyth Walsh como B'Etor
Whoopi Goldberg como Guinan

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