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Universo paralelo

Palavras do autor
Entrevista com Dan Abnett, criador e roteirista

Material produzido por Salvador Nogueira para o Trek Brasilis

Dan Abnett, 37, é um escritor britânico que vive e trabalha em Maidstone, uma cidade no sudeste da Inglaterra. Ele já trabalha como roteirista free-lancer há 16 anos, e a maior parte de seu trabalho ocorreu nos quadrinhos. Escreveu desde revistas infantis (Bananas de Pijamas) a infanto-juvenis (Caça-Fantasmas, Thundercats), passando pelos quadrinhos mainstream (Batman, Superman, Homem de Ferro, X-Men, Aquaman, Conan) e fechando com humor (Johnny Bravo, Scooby Doo).

Em 1996, conforme a Marvel iniciava o planejamento de sua linha de quadrinhos de Jornada, Dan acabou envolvido com a criação de dois dos títulos regulares, "Star Trek Unlimited", que contava histórias da Série Clássica e da Nova Geração, e "Early Voyages". Nessa tentativa de resgatar o legado da revista protagonizada por Pike e cia., o Trek Brasilis foi atrás de Abnett para ouvir o que ele tinha a dizer. Leia a entrevista.

 

Trek Brasilis - Conheci seu trabalho pelas revistas "Unlimited" e "Early Voyages". Dos vários títulos publicados pela Marvel naquela época, eu sentia que os dois eram os que mais capturavam o espírito de Jornada nas Estrelas. Você é um fã de Jornada? Era já naquela época?

Dan Abnett - Sim, e sim, embora eu tenha ficado surpreso em descobrir o quanto eu não conhecia quando fui trabalhar nisso. Houve muito trabalho de pesquisa e esforço para que não cometêssemos nenhum erro.

TB - Esses foram seus primeiros trabalhos ligados a Jornada?

Abnett - Sim, as primeiras edições de "Early Voyages" e "Unlimited" foram escritas simultaneamente, acredito.

TB - Jornada teve seus bons e maus momentos no mundo dos quadrinhos. A primeira fase da Marvel, por exemplo, era terrível. A DC, especialmente com Peter David e Howard Weinstein, era muito boa, e eu gostei muito dos novos títulos da Marvel antes de seu cancelamento. Agora temos a Wildstorm. Como você vê a evolução de Jornada nos quadrinhos ao longo dos anos?

Abnett - Você mesmo disse, como a série, teve seus bons e maus momentos. Acho que os quadrinhos ficam melhores quando são guiados fortemente por personagens e continuidade -- o trabalho de Peter David estabeleceu o padrão de qualidade, penso eu. Obviamente, algumas vezes os quadrinhos precisam mostrar aventuras mais "genéricas". É aí que ele se perde, na minha opinião.

TB - Vamos mergulhar um pouco mais nos títulos que você trabalhou durante os tempos da Marvel, "Unlimited" e "Early Voyages". O primeiro era bimestral e o segundo, mensal. Você esteve à frente dos estágios iniciais de desenvolvimento desses projetos? Poderia descrever o processo que permitiu a criação desses títulos?

Abnett - Tendo adquirido a licença, a Marvel determinou a linha que queria, então, por exemplo, o conteúdo e o formato de "Unlimited" foram estabelecidos. Ian [Edginton, parceiro de Abnett nos dois projetos] e eu fomos selecionados como escritores para a linha [de Jornada] e voamos para Nova York para encontrar com os editores da Marvel, da Paramount e os outros escritores, incluindo Chris Claremont. Lá nós gastamos o tempo jogando idéias de um lado para o outro. Ian e eu recebemos basicamente o trabalho de escrever "Unlimited", com o qual estávamos felizes, e então a mensal "Early Voyages" foi discutida. Ian e eu já havíamos sugerido uma idéia para algo como aquilo, então veio para nós também. Acho que dissemos as coisas certas.

TB - Esses dois títulos eram bem diferentes um do outro. Enquanto o primeiro lidava com a Série Clássica e A Nova Geração em sua forma final, "Early Voyages" tinha apenas "The Cage" para se basear. Quais foram as diferentes abordagens criativas nesses dois projetos e os diferentes níveis de restrição impostos pela Paramount durante o desenvolvimento de histórias para as revistas?

Abnett - Embora tenhamos tentado, conforme foi caminhando, fazer coisas diferentes com "Unlimited" (como o crossover de Kirk e Picard), aquele era basicamente um formato para aventuras auto-contidas para manter os fãs da série original e da Nova Geração felizes. "Early Voyages" era a real atração, e o trabalho mais difícil. Tivemos de retroprojetar a tripulação e a continuidade a partir do que sabíamos, e criar um plano de jogo para uma série contínua. "Early Voyages" era muito mais como escrever uma telenovela, colocado assim. E isso era o que a Paramount queria, então tivemos muito mais liberdade do que com "Unlimited".

TB - Quão preocupados estavam você e Ian Edginton sobre a manutenção da coerência com a história estabelecida de Jornada?

Abnett - Muito, mas estávamos confiantes de que podíamos fazer direito. Acho que a execução de "Early Voyages" teve uma cara bem Roddenberry. Claro, nós tínhamos um "orçamento maior"! (risos)

TB - Qual era seu plano original para as duas séries, caso tivessem durado mais?

Abnett - "Unlimited" não tinha um "plano" per se... estávamos apenas trabalhando para produzir mais histórias sólidas e empolgantes na mesma linha. "Early Voyages" tinha uma história inteira e arcos de personagem que nunca chegamos a desenvolver: Pike isolado com os Klingons, tendo um contínuo e secreto relacionamento com a fêmea Klingon... oh, muita coisa em que estávamos apenas chegando.

TB - A Marvel passou por momentos difíceis naquela época. Quanto vocês lutaram contra o cancelamento de "Early Voyages"?

Abnett - Muito, mas estava fora das nossas mãos.

TB - Como foi o processo de desenvolver os personagens regulares de "Early Voyages" que não apareceram em "The Cage"?

Abnett - Tivemos cuidado de complementar os personagens que tínhamos. Então trabalhamos como se estivéssemos criando personagens e escalando elenco para uma nova série de Jornada. Queríamos sete personagens principais, mais recorrentes interessantes, que poderiam gerar uma interessante dinâmica de grupo. E os personagens já estavam metade escalados, então parte da equação já havia sido escrita para nós. Espero que tenhamos acertado o resto.

TB - A inclusão de Kirk e sua tripulação como uma história de universo-espelho/viagem no tempo em "Early Voyages" foi parte de uma estratégia para alavancar as vendas e salvar o título do cancelamento?

Abnett - Na verdade, não. Não deve ter prejudicado, é claro. Mas Ian e eu apenas tivemos a idéia e adoramos. Jornada vive fazendo flashbacks para eras anteriores. Esse era um flashforward. Eu adorei aquela história.

TB - Quando você ficou sabendo do cancelamento dos títulos de Jornada da Marvel?

Abnett - No dia em que aconteceu, eu acho. Eu parei de escrever na metade de uma edição. Acontece desse jeito.

TB - A pergunta que todo fã precisa fazer após ler a última edição de "Early Voyages": como termina a história?

Abnett - Com Pike perdido, presumido morto, mas na verdade isolado com os Klingons... por cerca de um ano! A Número Um fica no comando da Enterprise, há o retorno de Pike sua lenta reintegração... muito mais coisas que não consigo me lembrar agora...

TB - Você é basicamente um roteirista de quadrinhos de ficção que desenvolveu vários projetos de Jornada. Como você se sente sobre o desafio de trazer Jornada aos quadrinhos, comparado a desenvolver um projeto completamente novo?

Abnett - Foi incrivelmente divertido e estou feliz de ter tido a chance. Foi muito mais dinâmico e cheio de propósito do que projetos auto-gerados: sabíamos onde estávamos mirando.

TB - Ian Edginton ainda é um parceiro seu?

Abnett - De tempos em tempos, ainda é. A última coisa que escrevemos juntos foi "Planeta dos Macacos" para a Dark Horse Comics.

TB - Sobre seus projetos não ligados a Jornada, gostaria de destacar algum como um grande trabalho?

Abnett - Normalmente é o que eu acabei de escrever. Esta semana, foi a edição nove de "Legion of Superheroes", uma novela chamada "The Guns of Tanith", e uma tira de Sinister Dexter chamada "Deaky Pobar, we hardly knew ye". Semana que vem, algo diferente!