DSC 1×13: What’s Past is Prologue

Aventura com tons políticos encerra saga do Espelho

Sinopse

Data estelar: 1834.2.

Liberto e a bordo da ISS Charon, Lorca inicia sua ofensiva para derrubar a Imperatriz. Sua primeira ação é soltar seus seguidores, presos num imenso hangar repleto de câmaras da agonia, e procurar o tenente Stamets de seu universo — lá, ele é responsável, entre outras coisas, pela criação de uma arma biológica de destruição em massa. Lorca consegue capturá-lo e faz com que ele ceda a arma, que então é usada para rapidamente assassinar a maior parte da tripulação da Charon. A Imperatriz está sob risco cada vez maior.

Michael ainda é prisioneira de Georgiou. Ela tenta persuadi-la a deixar que se comunique com a Discovery, mas a Imperatriz ainda está decidida a puni-la. Não lhe resta alternativa então senão fugir. Michael escapa dos tiros dos soldados e se esconde pelos tubos Jefferies da nave capitânia do Império Terráqueo. De lá, ela consegue contatar a Discovery e explica que Lorca na verdade é deste universo e se fingiu de oficial da Federação para tomar o comando do motor de esporos e com isso saltar de volta a seu mundo de origem.

Michael sugere que a Discovery fuja e a deixe para trás, mas Saru informa que isso não será possível. Não só porque ele se recusa a deixar sua colega para trás, mas porque Stamets determinou que o reator que dá energia à Charon é baseado em tecnologia micelial: ele extrai sua força da própria rede micelial, que por conta disso está sendo paulatinamente sendo destruída. Se ela morrer, diz Stamets, a devastação levará ao fim da vida em todo o multiverso. A Discovery precisa destruir o reator da Charon a todo custo. Diante disso, Saru e sua tripulação ficam de bolar um plano, e a nave é instruída a vir para a Charon, mas permanecer em dobra, para evitar ser abordada por forças imperiais, até que Michael possa desabilitar os escudos que protegem o reator.

Lorca e Georgiou finalmente se enfrentam na sala do trono, e a Imperatriz só escapa da derrota graças a um transporte de emergência. A partir deste momento, o Stamets-Espelho perde sua função para Lorca e é vaporizado por uma de suas seguidoras, a Landry-Espelho. Georgiou, por sua vez, se esconde na sala em que havia saboreado um guisado de kelpiano com Michael. Seus sinais vitais são ocultados dos sensores internos, mas a oficial da Discovery usa seus instintos para encontrar a Imperatriz.

Reunidas, elas discutem suas respectivas agruras em seus universos, e Michael revela que tem um plano para derrotar Lorca e destruir a Charon. Para isso, terá de baixar os escudos do reator. Georgiou diz que isso só pode ser feito da sala do trono, e então as duas concordam em fazer um plano em que Michael finge entregar a Imperatriz a Lorca — o ex-capitão está ansioso por se reunir com a oficial da Discovery, considerando ser isso parte de seu destino.

Na Discovery, uma reunião da tripulação chega à conclusão de que a única maneira de destruir o reator é colocar todos os esporos remanescentes nos torpedos fotônicos e dispará-los, uma vez que os escudos estejam baixados. De início, imagina-se que a Discovery não vá resistir à explosão, que dirá voltar para casa. Mas Tilly tem uma ideia: a nave poderia “surfar” nas ondas geradas pela explosão micelial, que ativaria o motor de esporos, enquanto Stamets, já recuperado, guiaria a Discovery de volta a seu universo. Stamets conclui que, com o motor de dobra também ativo, a ideia pode funcionar.

Na Charon, Michael leva a Imperatriz até Lorca. Lá, ela precisa render seu feiser, mas persuade seu ex-capitão a permitir fazer uma última comunicação com a Discovery, que finalmente sai de dobra. Lorca se despede de sua antiga tripulação, mas Saru só quer ouvir o que Michael tem a dizer. Ela informa que vai ficar neste universo e que está no lugar onde deveria — código sutil para que Saru saiba que pode iniciar o ataque à Charon. O kelpiano entende na hora do que se trata, e inicia a batalha.

Aproveitando-se da deixa, Michael e Georgiou enfrentam em combate corpo a corpo Lorca e seus defensores. Uma longa luta se segue, em que Lorca deseja apenas imobilizar Michael, mas não matá-la. Acaba que ele é morto pela Imperatriz.

A Discovery se prepara para seu ataque final contra a Charon, enquanto Georgiou segue acuada, com a sala do trono prestes a ser invadida por mais seguidores de Lorca. Ela diz que ficará para trás para morrer onde é o seu lugar. Michael se teletransporta para a Discovery, mas não consegue aceitar a morte de Georgiou em outro universo — e assim se agarra à Imperatriz, envolvendo-a no feixe de transporte.

Saru ordena o disparo contra o reator, e a Discovery consegue escapar no último instante, surfando na onda micelial. Stamets precisa operar o milagre de navegá-la pelo multiverso até seu local de origem, o que ele consegue ouvindo a voz de Culber, que o instrui a procurar a clareira na floresta. A Discovery está de volta a seu universo, mas nove meses depois de ter saído.

Sinais da Federação não são detectados, e uma atualização do mapa da guerra sugere que o Império Klingon venceu o conflito.

Comentários

“What’s Past is Prologue” encerra a incursão pelo universo do Espelho em uma aventura frenética e bem executada, ainda que não esteja entre os episódios mais brilhantes desta temporada.

Lorca revela sua verdadeira persona e vemos a materialização de algo que já era dito pelos produtores de Discovery desde antes da estreia: seguindo na melhor veia de Jornada nas Estrelas, a série se propõe a fazer crítica social, voltada para os tempos em que vivemos.

E vivemos em tempos estranhos, em que o nacionalismo, a xenofobia e o discurso populista parecem ganhar cada vez mais espaço. Com o universo do Espelho, foi possível contrapor os valores de inclusão, diversidade e globalização, que estão na base da Federação Unida de Planetas, e os valores de agressão, violência e segregação do Império Terráqueo.

A principal lição a ser tirada é que ambas as realidades vivem mais próximas do que se imagina, tornando a transição de uma para outra natural e sutil — como o sucesso de Michael em viver a vida de sua contraparte do Espelho e o sucesso de Lorca em viver como um federado por quase um ano atestam.

O discurso de Lorca em particular pode ser considerado tudo menos exagerado. Ele remete, é claro, a Donald Trump, o presidente americano que se elegeu prometendo “fazer o Império glorioso de novo”, mas não só a ele. O roteirista Ted Sullivan também pinça alguns outros políticos americanos do passado, como Ronald Reagan, que defendia “a paz por meio da força”, ao rejeitar a estratégia MAD (sigla inglesa para destruição mútua assegurada) como maneira de lidar com a Guerra Fria.

Ou seja, longe de ser raso e gratuito, temos aí um bom apanhado de ideias que são para lá de realistas — elas já se manifestaram em nosso universo no passado e andam particularmente na moda no presente. Como disse Sullivan, “nós vivemos hoje no universo do Espelho”.

O episódio propõe essa discussão sem ser impositivo ou forçado; o discurso de Lorca é perfeitamente consistente com o que se espera de um aspirante ao trono no Império Terráqueo. E Jason Isaacs dá o seu melhor encarnando o vilão que estava escondendo de nós desde o início. Uma pena que tudo termine com a morte do personagem, mas ainda assim foi uma jornada que valeu a pena ser feita.

O contraste entre Império e Federação se faz muito claro também nos dois ambientes em que o episódio se desenrola. Saru, a bordo da Discovery, tem seu melhor momento como capitão interino, galvanizando o potencial de sua tripulação para que trabalhem juntos e encontrem uma solução contra um “cenário sem vitória possível”. É a união preconizada por Star Trek, manifesta no enredo.

Já a bordo da Charon, a desunião conduz a história, numa disputa desenfreada por poder, com muitas batalhas de feiser e lutas corpo a corpo, todas bem executadas. E finalmente os talentos de Michelle “O Tigre e o Dragão” Yeoh são explorados na série.

A direção de Olatunde Osunsanmi não brilha, mas também não compromete, e tem o mérito de manter o episódio num bom ritmo de forma uniforme. Aliás, parece ser um dos pontos fortes da série como um todo — mesmo quando o enredo não está segurando a onda como deveria, raras vezes a execução deixa a gente coçando a cabeça e pensando se é o caso de ir à cozinha pegar alguma coisa.

A serialização realmente foi a grande marca deste arco do Espelho. Tanto que, a essa altura, parece injusto tentar avaliar individualmente cada um dos episódios. Eles claramente contam uma grande história num telefilme de 3 horas, e desconfio que é assim que deveriam ser assistidos.

E há de se destacar que finalmente Discovery conseguiu apresentar uma surpresa que eu pelo menos não vi nenhum fã sugerir. Muita gente apontou que Voq e Tyler eram a mesma pessoa, muita gente sugeriu que Lorca era do Espelho, muita gente sugeriu que o Imperador seria Georgiou, mas ninguém achou que ela fosse parar no universo principal ao final deste episódio.

O desfecho é eletrizante, com a revelação de que os klingons praticamente venceram a guerra. Certamente os dois episódios finais terão de resolver esta trama, e sabemos pelo cânone que ela não pode terminar com vitória klingon. Resta descobrir então como a Discovery promoverá esta virada e o que isso vai significar para a tapeçaria mais ampla da história de Jornada nas Estrelas.

Avaliação

Citações

“It is well-known that my species has the ability to sense the coming of death. I do not sense it today. I may not have all the answers. However, I do know that I’m surrounded by a team I trust. The finest a captain could ever hope to command. Lorca abused our idealism. Make no mistake. Discovery is no longer Lorca’s. She is ours. And today will be her maiden voyage. We have a duty to perform and we will not accept a no-win scenario. You have your orders. On your way.”
(É bem conhecido que minha espécie tem a habilidade de sentir a chegada da morte. Eu não a sinto hoje. Posso não ter todas as respostas. Entretanto, eu sei que estou cercado por uma equipe em que confio. A melhor que um capitão poderia esperar comandar. Lorca abusou de nossa idelaismo. Não se enganem. A Discovery não é mais de Lorca. Ela é nossa. E hoje será sua primeira viagem. Temos um dever a cumprir e não aceitaremos um cenário sem vitória. Vocês têm suas ordens. Executem-nas.)
Saru

“I was just thinking about everyone who’s ever said that victory felt empty when it was attained. What a bunch of idiots they were.”
(Eu estava pensando sobre todo mundo que já disse que a vitória parece vazia quando obtida. Que bando de idiotas eles eram.)
Lorca

Trivia

    • Mais um episódio de Discovery sem teaser, saltando direto da recapitulação para o primeiro ato.
    • Episódio marca o primeiro uso de um “Diário do Capitão” na série, ainda que feito pelo interino Saru. Até então, o recurso havia sido usado diversas vezes, mas sempre na voz do diário de Michael Burnham.
    • Descobrimos que Lorca saltou entre universos por uma falha do transporte ocasionada por uma tempestade iônica. Esse foi o mesmo modo que levou Kirk e cia. ao universo do Espelho no episódio “Mirror, Mirror”, da série original.
    • O ator Jason Isaacs trabalhou em parceria com o roteirista Ted Sullivan para ajustar o discurso de Lorca.
    • O título do episódio foi extraído de uma citação da peça A Tempestade, de William Shakespeare.
    • Este é o primeiro episódio de Discovery em que Shazad Latif não aparece, seja como Voq ou Tyler.

Ficha Técnica

Escrito por Ted Sullivan
Dirigido por Olatunde Osunsamni

Exibido em 28 de janeiro de 2018

Título em português: “Passado é Prólogo”

Elenco

Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Jason Isaacs como Gabriel Lorca
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Mary Wiseman como Sylvia Tilly

Elenco convidado

Michelle Yeoh como Philippa Georgiou
Rekha Sharma como Ellen Landry
Emily Coutts como Keyla Detmer
Jeremy Crittenden como lorde Eling
Patrick Kwok-Choon como Rhys
Sara Mitich como Airiam
Oyin Oladejo como Joann Owosekun
Ronnie Rowe Jr. como Bryce

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Edição de Mariana Gamberger

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