Chapel dá “salto de fé” em intrigante aventura de Korby na busca por imortalidade
Sinopse
Data estelar: 2184.4
Com suporte da Enterprise, Chapel e Korby estão para realizar uma escavação arqueológica em Vadia IX. Batel segue seu tratamento com sucesso, e M’Benga decide designar o alferes Gamble para o grupo de descida. O número de tripulantes na expedição será pequeno, pois este é um planeta sob controle dos m’kroons, sociedade que optou por não entrar na Federação e autorizou apenas uma exploração restrita. O objetivo é estudar uma anomalia magnética detectada lá. A missão será registrada por Beto Ortegas, que recebeu autorização para filmá-la na produção de seu documentário sobre a Frota Estelar.
Korby, Chapel, Gamble, Uhura e Ortegas descem ao planeta com N’Jal, o m’kroon supervisionando a operação. O uso sincronizado do disco defletor da Enterprise com equipamento na superfície estimula a anomalia magnética, o que revela a presença de um gigantesco templo construído em uma parede de pedra. Chapel solicita uma equipe adicional de pesquisa, e Spock e La’An descem para acompanhar o grupo.
O grupo lê símbolos que parecem ser associados a ancestrais da cultura m’krooniana. Korby destaca que essa civilização perdida pode ter atingido a imortalidade, o que Spock reputa como mito. Chapel consegue abrir a porta ao ceder uma gota de sangue para análise por um dispositivo na entrada. Os oito entram e encontram uma câmara vazia, com um pedestal ao centro. O interior bloqueia comunicações externas e teletransporte. Eles também encontram cadáveres – aparentemente de saqueadores, que morreram há séculos de inanição. Spock cogita o retorno à nave, Korby protesta, e a decisão fica a cargo de N’Jal, que gostaria que o estudo prosseguisse. O vulcano aquiesce.
Entre os pertences dos saqueadores, Chapel encontra um tablete e uma cápsula. Gamble a pega e ela explode em sua mão, cegando-o. O alferes é de imediato levado de volta à nave, e M’Benga inicia tratamento para restaurar seus olhos, mas, por algum motivo, o procedimento não funciona. Chapel acredita que eles devem voltar à nave, enquanto Beto Ortegas envia sua câmera a uma sala adjacente. Há uma espécie de estátua no interior, que N’Jal reconhece como vezda – “o mal”. O m’kroon tenta sair correndo do templo, é atingido por um feixe e desintegrado. A equipe especula que a estrutura ativou um protocolo de segurança e eles estão presos lá dentro. Sem alternativas, o grupo decide avançar para a câmara seguinte. Ao atravessar a porta, os seis se veem divididos em duplas, cada uma delas em uma câmara diferente. Mas eles ainda podem manter contato entre si por comunicador.
Chapel e La’An veem a estátua que a câmera de Ortegas registrara. Já as outras duplas, Spock/Korby e Uhura/Ortegas, veem apenas um pedestal e, no lugar da estátua, um poço. A estátua parece emanar um sinal de vida. Mais que isso, as moléculas estão num estado de sobreposição quântica, como se estivessem e não estivessem lá ao mesmo tempo. Na outra sala, Spock usa um dispositivo dos saqueadores para olhar para dentro do poço e percebe milhares de cápsulas como a que atingiu Gamble. Uma delas emerge, e Spock vê nela uma “reação gorn”, similar ao que havia experimentado no elo mental com Batel.
Na Enterprise, M’Benga segue tratando Gamble, que misteriosamente registra morte cerebral, embora siga interagindo como se nada houvesse. No laboratório, Pike se reúne com a equipe de engenharia para decifrar o que era a cápsula. Pelia a reconhece como algo mais antigo do que jamais vira antes. Scott o identifica como uma espécie de armazenador. Na enfermaria, Gamble revela que na verdade está tomado por uma entidade. Batel chega e tem uma resposta “gorn” a ele – os dois travam uma feroz luta corpo a corpo. Gamble foge e M’Benga injeta um tranquilizante em Batel. Num dos corredores da nave, o alferes possuído rende um dos tripulantes com um feiser. M’Benga promete que vai ajudá-lo. Ele se entrega e é levado à detenção.
No planeta, Uhura tenta tranquilizar Beto Ortegas e contata os demais pelo comunicador. Spock nota um ferimento na mão que não havia reparado antes. Conversando, as três duplas concluem que estão todos na mesma sala, mas cada um num plano dimensional diferente. O vulcano revela a existência de formas de vida nas cápsulas, que os escritos no templo reputam como parasitas. La’An levanta a hipótese de que estão na verdade em uma prisão. As duplas concluem que precisam juntar peças diferentes para reunificar as três realidades. Cada um encaixa uma peça, e os seis voltam a se reunir. Agora tanto a estátua como um novo artefato aparecem para todos. Spock se corta, notando que estão numa dimensão em que efeitos podem preceder causas. Para saírem, ambos terão de atravessar uma porta separada deles por um abismo. Spock conclui que o efeito precede a causa e precisam atravessar pelo vazio para que a ponte surja. Korby rejeita a hipótese. Mas Chapel confia no vulcano e faz a tentativa, que dá certo. Todos finalmente saem da estrutura, e Korby deixa para trás o artefato que surgiu quando eles se reuniram.
Na Enterprise, Pike conversa com Batel, que relata sobre o que sentiu quando esteve sob influência “gorn”. Gamble, mais uma vez tomado pela entidade, foge da detenção, vai à engenharia com um feiser e ameaça a todos, querendo controlar a nave. M’Benga chega e hesita atirar contra ele, mas Pelia não. Uma entidade sai do corpo de Gamble e Scotty a captura em uma cápsula, que então desmaterializa, deixando-a presa no armazenador do teletransporte.
Pike reúne a tripulação, e Pelia reforça a convicção de que estão lidando com seres muito antigos e malévolos. Se algum deles escapar da prisão, será uma grande ameaça. E a forma de vida vezda presa no transporte parece capaz de influenciar os sistemas da nave…
Comentários
“Through the Lens of Time” traz de volta o espírito de ação-aventura e entrega uma história complexa, cativante, misteriosa e que soa fresca para Star Trek, em que pese a “pescaria” de muitos elementos vindos de fora da franquia.
Do ponto de vista mais amplo, o episódio começa a justificar a presença de Roger Korby para além de seu papel como “futuro noivo da Chapel”. Vemos aqui como o cientista já enxerga sua pesquisa de medicina arqueológica como uma busca por imortalidade, algo que ressoa bem com o que sabemos dele por meio de “What Are Little Girls Made Of?”, da Série Clássica. É um elemento de “prequela feita direito”, em que eventos introduzidos retroativamente dão maior e mais profundo sentido ao que, cronologicamente, já sabemos vir depois.
A busca da imortalidade, por sua vez, é um tema ancestral, já retratado muitas vezes na história das religiões, na literatura e no cinema. Aqui, até por combinar o tema a uma pesquisa arqueológica, a óbvia referência é o inesquecível Indiana Jones e a Última Cruzada, filme de 1989 dirigido por Steven Spielberg e estrelado por Harrison Ford e Sean Connery. Vários dos lances do longa-metragem aparecem de forma praticamente idêntica, desde a temática geral da futilidade da busca pela vida eterna até arranjos específicos de cenas, como a necessidade do “salto de fé” para caminhar pelo abismo e atravessar uma ponte invisível e a decisão de deixar para trás o artefato tão cobiçado.
Seria frustrante se fosse mera cópia do filme (até porque não há como fazer melhor que Spielberg), mas esses são apenas alguns elementos, misturados a vários outros, tanto novos como antigos, que dão a este episódio um sabor único e especial.
Entre os antigos estão as ideias de parasitas, entidades que possuem corpos e criaturas malévolas muito antigas – todas já muito exploradas no cinema, na literatura e na mitologia, de forma que o que há de novo aqui é o revestimento sci-fi dado a elas. Surge, a partir deste episódio, uma nova ameaça galáctica: os vezdas, sobre os quais até agora muito pouco sabemos, mas que, apesar disso, parecem estar claramente envolvidos em uma trama mais ampla. Como se não bastasse o discurso melodramático de Pelia ao final (seguido por uma piada, para colocar alguma dúvida), terminamos o segmento dando uma olhada na tela do teletransporte da enfermaria, dando sinais claros de que o vezda contido lá vai aprontar das suas, mesmo desmaterializado e incorporado ao armazenador.
A premissa dos vezdas como entidades malignas e muito antigas lembra um pouco os shadows, da série Babylon 5, de J. Michael Straczynski, e entidades não corpóreas contidas em receptáculos não são novidades em Star Trek, vistas notoriamente em “Return to Tomorrow”, da Série Clássica (que de jeito algum pode receber o crédito pelo conceito, já que objetos impregnados por forças ou entes sobrenaturais em muito antecede até mesmo a invenção da escrita). Episódios de possessão, por sinal, abundam na franquia.
O que parece ser mais inovador no segmento é a construção de um mistério multidimensional, em que os tripulantes, divididos em duplas, dividem o mesmo espaço, mas em múltiplas dimensões. Seriam épocas diferentes? Seriam planos existenciais diferentes? Não está claro, e nem sequer temos a convicção de que em algum momento ficará mais claro, mas é um elemento da trama que ajuda a manter o interesse, enquanto nos perguntamos como nossos heróis vão escapar daquela armadilha ancestral.
A retrocausalidade é outro elemento sci-fi interessante colocado na mistura, não só dando subsídios para Spock resolver o enigma, mas também permitindo desenvolvimento de personagens, quando vemos Chapel ter de decidir se confia mais no vulcano ou no novo namorado. Que se registre: na hora do “vamos ver”, ela foi com a convicção de Spock.
Ethan Peck, por sinal, traz pela primeira vez nesta temporada o ethos do Spock que conheceríamos na Série Clássica. Notoriamente frio, ele ergueu uma barreira para se proteger emocionalmente da frustração romântica com Chapel, e parece ter dado o primeiro passo para se tornar verdadeiramente o personagem que encontraríamos mais tarde. Cillian O’Sullivan também tem destaque com seu Roger Korby, trazendo a fagulha destinada a se tornar a loucura que selaria seu destino mais adiante. Chapel e La’An protagonizam uma cena divertida em que discutem suas situações com Spock, e tanto Jess Bush quanto Christina Chong conseguem caminhar bem na posição estranha em que foram colocadas, combinando de forma efetiva e na dose certa maturidade e desconforto.
A volta de Carol Kane e sua Pelia foi importante e oportuna, aportando não só sua longeva perspectiva lanthanita como diversão acima da média, derivada de sua dramaticidade para aparecer no documentário de Beto Ortegas – que por sua vez continua em seu flerte inocente com Uhura.
Um papel particularmente difícil ficou para Chris Myers, com seu alferes Gamble que, depois de algumas aparições rápidas, aqui surge “marcado para morrer”, numa situação que ressoa dramaticamente em M’Benga, interpretado de forma competente por Babs Olusanmokun. É uma repetição do arco Uhura-Hemmer, da primeira temporada, invertendo os papéis de mentor e mentorado. Do elenco principal, Pike e Una são os que menos aparecem, ao lado de Erica Ortegas.
Ao mesmo tempo em que a série dá ao menos alguma continuidade emocional a seu elenco principal, agora abre um novo caminho, com a introdução de uma ameaça que parece estar envolvida em um arco maior para a temporada. É um passo a mais na serialização para Strange New Worlds, embora ainda preservando a natureza episódica de cada segmento.
Os vezdas oferecem oportunidades intrigantes e se entrelaçam aqui com os gorns, representados por meio das reações de Batel (agora reforçada com DNA gorn) e de Spock (que ainda tem um resquício de Batel por conta do elo mental feito em “Shuttle to Kenfori”). Com isso, “Through the Lens of Time” traz, além de uma ótima aventura, muito bem realizada em tela, uma perspectiva atraente para o futuro próximo da série.
Avaliação
Citações
“There is evil in this universe, as sure as there is good. As sure as there is matter, as sure as there is light. I know… that being was ancient. Malevolent. The desire to malign, to pervert… and consume, given corporeal form. If any of those things ever escape that well down there… God help us all. … You want one for the camera?”
(Há o mal neste universo, tanto quanto há o bem. Tanto quanto há matéria, tanto quanto há luz. Eu sei… Aquele ser era antigo. Malévolo. O desejo de malignizar, perverter… e consumir, dado forma corpórea. Se alguma daquelas coisas escapar daquele poço lá embaixo… Deus nos ajude. … Você quer uma para a câmera?)
Pelia
Trivia
- A editora de histórias Onitra Johnson assina seu quarto episódio na série, e seu segundo na terceira temporada, depois de “Shuttle to Kenfori”. Seu parceiro de escrita aqui é o coprodutor executivo Davy Perez, que também assina o segundo na temporada, depois de “Hegemony, Part II”, e sexto ao todo.
- A diretora Andi Armaganian volta a Strange New Worlds depois de ter dirigido “Lift Us Where Suffering Cannot Reach”, da primeira temporada.
- O título do episódio remete a uma citação de C.S. Lewis, no romance O Grande Abismo (1945), indicando como o tempo é o que permite a compreensão de conceitos complexos. “O tempo é a própria lente através da qual se vê – pequena e clara, como homens vendo pelo lado errado de um telescópio – algo que seria de outro modo muito grande para se ver por inteiro.” No livro, ele reflete sobre as concepções cristãs de vida após a morte, o que parece ressoar com o episódio.
- Gamble diz estar há seis meses na Enterprise, o que permite concluir que este episódio se passa três meses depois de “Wedding Bell Blues”. A série parece abrir mais lapsos de tempo entre os episódios para cobrir até o fim da quinta (e última) temporada todo o período até o início da missão de cinco anos comandada por James T. Kirk.
- Vadia IX foi mencionado anteriormente por Korby em “Wedding Bell Blues”. E a mesma carta estelar que mostra o sistema Vadia agora coloca Cestus bem na fronteira do espaço gorn.
- Beto Ortegas recebeu permissão para filmar as missões da Enterprise do Escritório de Relações Públicas da Frota Estelar.
- Uhura pergunta a Beto se ele está com medo de El Cucuy, um mítico bicho-papão da cultura hispânica.
- Spock cita Alice no País das Maravilhas ao dizer: “Cada vez mais e mais curioso.”
- O “salto de fé” de Chapel no vazio é obviamente uma homenagem a Indiana Jones e a Última Cruzada (1989), de Steven Spielberg.
- A fala de Chapel sobre precisarem de um grupo de descida maior é uma referência a Tubarão (1975), outro filme de Spielberg, em que Brody diz: “Você vai precisar de um barco maior”.
- Scotty aqui usa o truque de “transportar para lugar algum”, mesma estratégia que ele usaria depois para se salvar após a queda da USS Jenolen, ficando décadas preso no armazenador do transporte, até ser resgatado pela Enterprise-D em “Relics”, da sexta temporada de A Nova Geração.
Ficha Técnica
Escrito por Onitra Johnson & Davy Perez
Dirigido por Andi Argamanian
Exibido em 7 de agosto de 2025
Título em português: “Através da Lente do Tempo”
Elenco
Anson Mount como Christopher Pike
Ethan Peck como Spock
Jess Bush como Christine Chapel
Christina Chong como La’An Noonien-Singh
Celia Rose Gooding como Nyota Uhura
Melissa Navia como Erica Ortegas
Babs Olusanmokun como Joseph M’Benga
Martin Quinn como Montgomery Scott}
Rebecca Romijn como Una Chin-Riley
Elenco convidado
Cillian O’Sullivan como Roger Korby
Melanie Scrofano como Marie Batel
Dan Jeannotte como George Samuel Kirk
Mynor Luken como Beto Ortegas
Chris Myers como Dana Gamble
Carol Kane como Pelia
David MacInnis como Rex
Ish Morris como N’Jal
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Edição de Maria Lucia Rácz
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