Guia de episódios

STAR TREK III:
THE SEARCH FOR SPOCK

1984



 









 


       Sinopse comentada
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       Citações
       Efeitos Especiais
       Trilha Sonora
       Trivia
       Ficha Técnica
       O DVD

       A Morte Tornada
      
Chance de Vida

 



"Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock" foi concebido com uma diretriz bastante específica -- trazer de volta o Vulcano mais amado da galáxia. Apesar de essa volta não ter sido planejada em detalhes a priori, os elementos deixados por "A Ira de Khan" formavam um amálgama impressionante de pistas sobre como seria possível trazer Spock de volta ao mundo dos vivos.

Por conta disso, e pelo acomodamento natural causado pelo sucesso estrondoso de público e crítica gerado pelo segundo filme da série, a concepção dos detalhes da trama acabou sendo conduzida de forma bastante burocrática. Aliás, todos os processos e as etapas de realização do filme parecem estar sofrendo desse espírito burocrático.

"Precisamos trazer Spock de volta? Muito bem, temos de fazer isso, isso e isso. Vamos lá." Esse parece o tom que sublinhou o modo de produção do novo filme. A história rapidamente nasceu das mãos de Harve Bennett e Leonard Nimoy, e nenhum dos dois parecia muito disposto a revisitar cada aspecto da trama e corrigir os problemas.

Nimoy estava mais preocupado com sua mais recente vitória, que o levava direto à cadeira de diretor. Bennett, por sua vez, ao fracassar na tentativa de trazer Nicholas Meyer mais uma vez a bordo, decidiu tratar a ressurreição de Spock como um embaraço pelo qual ele deveria mesmo passar e voltou todas as suas preocupações para a continuação da série, o que desembocou na única parte da trama que parece realmente ter algum fundo dramático: a "morte" da Enterprise e a introdução da Excelsior.

Levando em conta esses fatores, é até de surpreender que "Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock" tenha ficado interessante, apesar dos problemas. Infinitamente mais modesto em seu escopo que "Jornada II", esteve novo filme apenas "fazia o que lhe mandavam" -- trazia Spock de volta.

Por sorte, o planeta Genesis oferece uma forma convincente de ressuscitar o corpo de Spock. Já a cena incluída durante o final da produção de "A Ira de Khan", com o Vulcano fazendo um elo mental com McCoy, serviu como gancho perfeito para recuperar sua alma.

Temos um cenário que permite dar um novo e interessante tratamento ao relacionamento Spock e McCoy. Apesar de sempre reclamar de seu colega frio e calculista, McCoy mostra neste filme o quanto sua ligação com o Vulcano é forte e o quanto os dois, a seu modo, são grandes amigos. Tudo isso sempre foi muito óbvio desde a série original, mas é sempre interessante vermos esse aspecto tratado de forma direta, como acontece aqui.

Novamente temos um filme que diz que nem tudo são flores no universo de Jornada. Kirk recupera seu melhor amigo, mas perde seu filho e sua nave. A troca tem um peso enorme sobre o então almirante, e Shatner a faz sentir, no que provavelmente é a melhor de suas atuações no quesito drama.

A química entre os personagens continua sendo o forte, e temos bons momentos para Scotty e pelo menos uma boa cena para Uhura e outra para Sulu. Chekov é o mais prejudicado pelo roteiro, sendo basicamente esquecido ao longo da história.

Os problemas que o filme traz são incômodos do ponto de vista técnico, mas são todos perdoáveis aos olhos da audiência. Afinal de contas, sejamos honestos, a única coisa que não poderia faltar no filme é a ressurreição de Spock (evento que, por sua vez, é o catalisador de quase todos os furos que vemos no roteiro).

Nimoy se mostra cauteloso na direção, o que ao mesmo tempo reflete sua inexperiência atrás das câmeras e mostra o tom burocrático da produção. Não fosse pelo incêndio que quase arruinou o cenário do planeta Genesis pouco antes de terminarem as filmagens, poucos perceberiam que um novo filme de Jornada nas Estrelas estava terminando de ser rodado na Paramount Pictures.

Apesar desse tom discreto e pouco ousado, "Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock" tem importância fundamental na saga cinematográfica da série, por três razões memoráveis. A primeira é de ordem financeira. Fica provado que, se você gastar pouco, pode até fazer um filme medíocre que, ainda assim, terá uma excelente margem de lucro.

A segunda é a volta do amigo ausente. Os fãs não conseguiriam, ao menos naquele momento da história da franquia, uma Jornada nas Estrelas sem Spock. Era condição sine qua non para a continuação da série de filmes e, de um jeito ou de outro, ela foi plenamente contemplada pela premissa de "À Procura de Spock", de forma razoavelmente convicente (ainda que perdida em conveniências, quando olhamos mais de perto).

A terceira, e mais importante, é que criou-se a partir de "Jornada nas Estrelas III" um forte senso de continuidade à série de cinema. O mesmo efeito seria obtido no filme seguinte, gerando uma trilogia de eventos interligados e dando uma outra dimensão aos longa-metragens. Já não era mais uma série de episódios, mas um arco em andamento, envolvendo grandes reviravoltas (a nave e um dos principais personagens da série são perdidos irremediavelmente e depois recuperados) e ocorrências de importância crucial (embates diplomáticos entre Klingons e federados e a potencial destruição da Terra) no universo fictício.

Só por propiciar esse senso de continuação, "À Procura de Spock" já conseguiu fazer mais do que qualquer um dos filmes de A Nova Geração, que, por melhores ou piores que fossem, nunca conseguiram transportar para a telona a sensação de que estávamos vendo mais do que um episódio isolado das aventuras da Enterprise.

Que venha "A Volta Para Casa"!