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Universo paralelo

Star Trek Early Voyages, nº 15 – abril de 1998
32 páginas
"Now and Then"

História: Dan Abnett e Ian Edginton
Desenhista: Patrick Zircher
Arte-final: Steve Moncuse
Cor: Marie Javins
Letras: Janice Chiang & The Human Touch
Editora: Bobbie Chase
Editor interino: Bob Harras

Material produzido por Salvador Nogueira para o Trek Brasilis

 

Data Estelar: 9522.0
Data Terrestre: desconhecida

Sinopse:

A Enterprise está enfrentando as naves Klingons lideradas pelo general Chang, mas as chances não estão boas. O piloto Sulu morre durante o conflito e poucas opções se abrem para Pike, quando a Excelsior chega para ajudar. Inferiorizados, os Klingons batem retirada. A capitã Robbins, ex-Número Um de Pike, abre frequências de saudação e comunica suas ordens de escoltar a Enterprise de volta ao espaço da Federação.

Somente quando Pike explica a situação, mostrando a presença da ordenança Colt, é que Robbins decide deixar seu antigo capitão prosseguir para Algol II, onde eles esperam restaurar a linha do tempo original, devolvendo a jovem a sua época de origem.

Enquanto Pike e Kirk finalmente fazem as pazes, após anos de conflito, Colt e Tyler se despedem. Saavik descobre que há uma base Klingon instalada em Algol II, razão pela qual Chang estava patrulhando o setor com tanto cuidado. A princípio, Pike quer liderar o grupo de descida que acompanhará Colt à superfície, mas Kirk o convence de permanecer a bordo de sua nave, enquanto ele e sua tripulação levam Colt ao Poço dos Amanhãs, onde eles esperam enviá-la de volta a 2254.

Chegando à superfície, o Poço se manifesta como uma entidade viva e comunica que está disposto a transportar Colt de volta ao passado, caso ela queira mergulhar por ele. A alferes toma coragem e pula. Enquanto isso, Kirk e seus comandados são obrigados a enfrentar os Klingons na superfície. Inferiorizados, eles disputam uma batalha perdida. Scotty morre, e esse provavelmente será o fim de todos os outros.

Em órbita de Algol, a Enterprise está agonizando do mesmo modo. Cercado por forças Klingons, só resta a Pike ordenar que todos abandonem a nave. Mas essa realidade não dura muito mais, pois, com a chegada de Colt à época de onde partiu, essa linha temporal alternativa foi excluída.

A alferes prepara um relato detalhado para Pike, mas o fenômeno que a transportou para o futuro em primeiro lugar nunca voltou a acontecer. Agora sim a história vai se desenrolar como deveria, para tristeza de Pike, que observa seu futuro devastador pela pequena esfera coletada em Algol.

Comentários

Como era de se esperar, essa saga de quatro edições em uma realidade alternativa só poderia terminar com um gigantesco "reset button". Felizmente, cientes disso, Edginton e Abnett fizeram um esforço tremendo para fazer o percurso o mais divertido possível, para compensar pelo fim previsível.

O esforço deu resultado. Como lidavam com uma linha do tempo que iria ser extinta ao final da história, eles não hesitaram em adicionar detalhes e referências interessantes, que agradam o leitor. É divertido ver Pike falando a Kirk, em um contexto totalmente diferente, sobre o fato de às vezes "a necessidade de um sobrepujar as necessidades de muitos", um eco interessante de "Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan".

Logo na sequência do diálogo, temos Kirk falando: "Suponho que a situação esteja difícil e as chances estejam contra nós". A resposta imediata de Pike: "Você poderia dizer isso". A sequência é uma citação literal do diálogo entre Kirk e Picard, em "Generations". A cena não é só legal por seu próprio conteúdo e senso de familiaridade, mas também por traçar um paralelo entre Pike e Picard, dois capitães que parecem mesmo muito aparentados em termos de comportamento e forma de pensar. Uma boa reflexão, transmitida por uma quantidade mínima de diálogo.

Além disso, os roteiristas não desperdiçaram a chance imperdível de matar tantos personagens quantos pudessem. As duas mortes que aparecem com mais intensidade são as de Sulu, a bordo da Enterprise, e de Scotty, na superfície do planeta. Esta última é ainda melhor que a primeira, com o engenheiro levando um golpe de bat'leth pelas costas, diante de um perplexo Kirk. Realmente muito bem executada.

Chang também adiciona carisma à história, mantendo seu costume de citar Shakespeare o tempo todo, e dando a entender, de forma não muito sutil, que ele tem uma dívida de vingança para com o capitão Pike. Essas poucas cenas tornaram o general um arquiinimigo muito mais efetivo para Pike aqui do que para Kirk em "Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida", embora nunca cheguemos de fato a descobrir o que Pike fez para Chang nessa linha do tempo alternativa.

A conclusão da história, com Pike vislumbrando seu próprio futuro na esfera de Argol, imobilizado em uma cadeira de rodas, como visto em "The Menagerie", da Série Clássica, é simplesmente genial. Poucas vezes em quadrinhos de Jornada houve uma conclusão tão sombria e impactante para uma história com final feliz. Fica aquele sabor agridoce à história que deixa o "reset button" com um sabor diferente do normal. Embora a "História" vá seguir como deveria ser, o que supostamente é algo bom, para o protagonista de Early Voyages, trata-se do fim de sua carreira --embora ainda vá levar anos para isso acontecer. Relembrar isso no último quadrinho foi um golpe de mestre.

Graficamente, a edição é bastante rica, embora Zircher não tenha tido o mesmo cuidado na hora de desenhar a Enterprise-A que teve quando trabalhou com a Enterprise clássica de Pike. Entretanto, há dois momentos verdadeiramente especiais. Um deles, já citado, é o quadrinho final. O outro é a passagem de Colt pelo Poço dos Amanhãs, retratado com várias imagens de Picard, Odo, Worf, Riker, o Spock do universo do Espelho, Borgs e a Deep Space Nine. Arte maravilhosa.

Após quatro edições e um delírio temporal de Abnett e Edginton que em muito se assemelhou a "Yesterday's Enterprise", finalmente voltamos à primeira metade do século 23. Infelizmente, não por muito tempo...