ESPECIAL: Episódio final de Voyager em revista

Comentários principais:

A coisa mais certa, que posso dizer, sobre este segmento final de Voyager, é que: a quarta encarnação de Jornada nas Estrelas, “morreu como viveu”. “Endgame” representa perfeitamente as virtudes e defeitos que marcaram toda a produção da série. Não oferecerei uma justificativa formal desta afirmação (o que levaria um gigantesco artigo em 8 partes sobre toda a série, que talvez um dia eu vá até escrever, mas não hoje), por acreditar que a leitura das próximas linhas possa elucidar, de forma indireta, o meu descontentamento com o episódio e a série.

Provavelmente a primeira coisa que um espectador vai dizer, após a sua primeira experiência com o episódio, é: “Caramba, eu acho que já vi isto em algum lugar!”. A trama principal do episódio é de fato derivada do episódio “Timeless” (da quinta temporada da série, o seu centésimo e mais popular episódio), que por sua vez já era uma variação de um dispositivo de trama utilizado anteriormente em Jornada. Porém, o que realmente irrita, são as incontáveis similaridades de “Endgame” com o episódio final da Nova Geração, “All Good Things” (um dos mais populares daquela série e que deu a Brannon Braga, um prêmio Hugo e uma nominação ao prêmio Emmy). As similaridades são tão numerosas que aparentemente o citado “All Good Things” foi utilizado como um modelo formal para “Endgame”. Isto é algo tão na cara que eu reservei uma parte específica deste ‘review’ só para tratar destas similaridades. Assumindo a falta de originalidade, continuemos com a análise do episódio.

Antes de chegarmos no núcleo do episódio, a figura da almirante Janeway, gostaria de colocar a minha hipótese básica de trabalho quanto a viagens temporais(de forma bastante resumida é claro): “Um viajante temporal, volta sempre para o passado de um universo paralelo, nunca para o dele próprio”. Eu gosto desta hipótese pois ela elimina a maioria dos paradoxos associados (o “paradoxo do avô” para citar um exemplo óbvio) e também por que ela oferece uma maior ressonância dramática, pois os viajantes sempre acham que estão modificando os seus próprios universos mas estão modificando sim um universo paralelo, tornando-os figuras extremamente trágicas.

Então, sob o meu ponto de vista, a almirante Janeway é um elemento de um futuro de um universo paralelo, universo que CONTINUOU a existir, mesmo com todos os eventos narrados no episódio, e no qual, o seu desaparecimento permanece, como disse “aquele” Tuvok, “um mistério”.

É cômico (além de ser uma “caixa de vermes” gigantesca) como um figurão da Frota Estelar têm acesso aos meios para fazer a lambança que a almirante faz no episódio. O fato de toda aquela tecnologia do futuro acabar na terra é simplesmente ridículo.

(Onde andará a “polícia temporal” da Federação do século XXIX nestas horas?)

(Eu ainda acho arbitrário a almirante trazer supertorpedos e armadura mas não algum tipo de propulsão transdobra.)

É irônico que Voyager, uma série que produziu um episódio (“Year Of Hell” da quarta temporada) sobre o quanto é infrutífera uma obsessão em mudar o passado, tenha, em seu episódio final, a sua protagonista tentando e conseguindo fazer isto.

(Isto é também verdadeiro para “Timeless”, na figura de Harry Kim. Mas aquele episódio teve resultados tão mais satisfatórios que o presente “Endgame”, que isto acaba não importando tanto.)

(É aparentemente arbitrário, e mesmo arrogante, o fato da almirante escolher, exatamente sete anos da missão da Voyager no Quadrante Delta como um “ponto de equilibrío” entre o estabelecimento dos relacionamentos da tripulação E a sobrevivência dos membros desta mesma tripulação.)

Com os meios e as motivações, por trás da missão da almirante Janeway, soando de forma tão arbitrária e não sincera, uma apreciação mais afetuosa do episódio se torna difícil. Essencialmente o episódio segue com o piloto automático ligado, percorrendo ponto a ponto de uma trama mecânica, derivada e previsível

As cenas do futuro (do universo alternativo), especialmente os primeiros 15 minutos do episódio, contém os seus melhores momentos. Tal futuro me parece interessante por que nele temos: presentes e ausentes ; tragédias e redenções ; alegria e dor. Um cenário com o qual eu posso definitivamente simpatizar, algo que definitivamente parece com a vida. Isto nos faz pensar: Será que os eventos em “nosso” universo, que a almirante Janeway desencadeou, irão produzir um futuro similar? Será que existirão outras (ou as mesmas) tragédias pessoais para esta tripulação no “nosso” futuro?

(Outra coisa que observei é que os personagens parecem ter neste futuro um elo muito mais forte entre eles do que no presente. Mais um motivo para eu gostar mais das citadas cenas.)

A impressão final é a de que a Voyager voltou para casa não pelos méritos de sua tripulação ou pelos esforços do pessoal do projeto “Pathfinder” mas sim por que uma viajante temporal apareceu na frente da Voyager e ofereceu “tecnologia mágica” com a qual seus tripulantes puderam “aleijar” os Borgs E voltar ao lar.

(O fato da tripulação não ter realmente que escolher entre voltar pra casa e arrasar com os Borgs é lamentável. Este tipo de situação é que produz real drama mas os roteiristas tomaram COMO SEMPRE o caminho mais fácil.)

O mais difícil de engolir é que o único “pagamento dramático” oferecido para a realização de duas tarefas tão hercúleas e simultâneas, tenha sido apenas a morte da almirante Janeway, que óbviamente era uma clara “comida de verme” desde o momento que partiu em sua missão. Tudo termina “certinho e bonitinho”, o espectador se sente enganado por causa disto.

Estas são as idéias gerais, não entrarei em detalhes mais finos da trama pois a dita cuja simplesmente não merece o esforço.

(Mais um fato importante é que o episódio perde muito em andamento, quando a almirante Janeway chega ao presente, dissolvendo a estrutura de narrativa presente/futuro.)