Saída de Neelix foi maior segredo da temporada

O site da Cinescape andou passando por uma crise, ficando vários dias fora do ar. Agora, reformulado, ele está de volta, e trouxe uma entrevista exclusiva com Kenneth Biller, produtor-executivo da última temporada de Voyager.

Surprendentemente, ele revela que o segredo mais bem guardado não era a história do episódio final, mas o destino de Neelix (Ethan Phillips), no episódio “Homestead”. Em vez de continuar com seus amigos da Voyager, Neelix optou por ajudar uma colônia de Talaxianos e ficar como seu líder.

“Essa foi uma grande decisão”, admite Biller. “Nós muitas vezes dissemos, ‘o que aconteceria se Neelix encontrasse Talaxianos e precisasse tomar uma decisão?’ Eu disse logo no comecinho da temporada que o único meio que eu faria aquela história seria se Neelix saísse. A expectativa da audiência seria que ele vai sofrer com sua decisão e então decidir que a Voyager é sua casa e sua família, e que ele vai ficar na Voyager. Mas era uma história clichê para contar, se essa fosse a conclusão”, disse.

Já que Neelix teria de sair, o episódio foi colocado no fim da sétima temporada. “Ficou claro que era algo que eu gostaria de fazer no finalzinho da temporada”, explica Biller. “Eu tive uma longa conversa com Ethan Phillips sobre isso. Na verdade, eu falei com ele no começo da temporada. Ele estava bastante empolgado com isso. Claro, ele não queria ter de sair da série muito cedo. Eu disse a ele que era um jeito de realmente dar a Neelix uma bela despedida, em vez de ele ser apenas mais um personagem no grande finale, onde ele não teria muito da atenção.”

Embora Phillips soubesse disso, assim como a equipe de escritores, Biller se esforçou muito para manter a saída de Neelix em segredo. “As pessoas sempre perguntavam sobre o segredo envolvendo o finale. Fizemos uma tentativa de segredo maior ainda em torno daquele episodio. Liberamos o roteiro como se terminasse com Neelix dizendo adeus às pessoas no planeta e voltando para a Voyager, o que parecia com o final daquela história se fosse um episódio típico de Jornada. Vimos episódios onde alguém tem um roomance, ou encontra alguém, e alguém diz, ‘Por que você não fica? Você poderia ter uma vida aqui.’ Claro, as pessoas na Voyager diriam, ‘Eu sou um regular nessa série, então eu realmente tenho de voltar para a nave e continuar em frente para que eu possa estar no próximo episódio.”

Cenas foram incluídas, e Neelix acabou saindo ao final de “Homestead”. Mas seu personagem ainda foi visto no finale, conversando com Seven of Nine (Jeri Ryan) por um monitor. Na ocasião, o Talaxiano a aconselhou sobre seus encontros com Chakotay (Robert Beltran).

Por falar nisso, a relação entre Seven e Chakotay apareceu meio abruptamente, em “Endgame”. No episódio anterior a “Homestead”, chamado “Natural Law”, Seven e Chakotay ficaram presos juntos em um planeta primitivo. Nessa hora Biller decidiu em favor do romance no finale, mas escolheu não dar pistas dele ainda.

“Quando decidimos isolá-la com Chakotay, certamente discutimos, ‘Nós queremos dar pista de um romance aqui?'”, explica Biller. “Nós decidimos que não. Não queríamos, por exemplo, repetir a história que já havia sido feita muitos, muitos anos atrás, quando Chakotay ficou isolado com Janeway [Kate Mulgrew]. Se ficasse no subtexto, ótimo.”

No fim das contas, o romance entre Seven e Chakotay foi apenas um pequeno pedaço no finale, que exigiu uma tremenda quantidade de reflexões para criar e escrever. A história para “Endgame” foi creditada a Rick Berman, Brannon Braga e Biller. Biller e Robert Doherty escreveram o roteiro. Biller pediu ajuda ao chefe de Jornada, Berman, e os dois decidiram trazer Braga para ajudar.

“Estava sendo gestado por um longo tempo, desde o começo da temporada”, diz Biller sobre o finale. “Claramente sabíamos que tínhamos de terminar a série de algum jeito. A grande questão era, ‘Eles iam chegar em casa?’ Falamos sobre isso de forma vaga por um longo tempo. Então, quando o Natal passou, eu disse a Rick, ‘Temos realmente de decidir o que queremos fazer. Eu acho que você precisa estar envolvido com isso. Isso não deveria ser umahistória que eu invente sozinho’. Ele disse, “Talvez Brannon devesse estar envolvido também”. Eu disse, “Adoraria ter outro cérebro de Jornada nas Estrelas na sala e ver com o que podemos nos sair.”

Antes da história toda ser concebida, várias idéias diferentes foram atiradas e jogadas na mistura. “Rick corretamente disse, “Não podemos perder de vista o fato de que ele precisa ter uma qualidade épica'”, relembra Biller. “‘Precisa ser grande e precisa ter alguns elementos de nostalgia nele.’ Ele realmente pensol que talvez devesse ter algo que envolvesse viagem no tempo. Então começamos a falar sobre o que ia acontecer.”

“Endgame” começou com uma cena da Voyager voando sobre a ponte Golden Gate. A nave havia retornado para casa, mas o público logo descobriria que está assistindo a uma filmagem feita há dez anos. Os primeiros segundos do episódio pretendiam responder aos telespectadores a questão óbvia.

“Todo mundo estará lá se perguntando, ‘A Voyager volta para casa?'”, diz Biller. “Alguém, não consigo lembrar quem, disse, ‘E se a víssemos chegar em casa nos primeiros 20 segundos e dispensássemos a questão?’ Neste ponto, não tínhamos exatamente certeza de onde a história iria. Ela se voltou para si mesma, e ainda se tornou a questão central do episódio. Nesse primeira linha do tempo que vemos, ela chegou em casa, mas isso não significa que nossos personagens irão escolher fazer isso.”

Levou muitos anos mais para Janeway levar a nave de volta à Terra, a um alto custo. Agora uma almirante, Janeway quis voltar no tempo e trazer a nave mais cedo, usando um conduíte transwarp dos Borgs.

“Começamos a pensar sobre uma Janeway obcecada”, diz Biller. “Sempre soubemos que queríamos uma grande batalha final com os Borgs, porque os Borgs foram o nêmesis. A história foi desenvolvida após várias semanas de longas discussões.”

Surpreendemente, no estágio de desenvolvimento da história, os escritores não haviam decidido se a Voyager chegaria em casa na linha do tempo definitiva. A tripulação iria destruir o Borg conduíte em vez de usá-lo para voltar para casa.

“Vou te contar que por um longo período durante essas discussões, tínhamos feito a decisão de que não levaríamos a nave de volta para casa”, revela Biller. “Eu disse que o episódio seria sobre o que realmente é o tema da série, que é perguntar a questão, ‘O que significa ‘casa’?’ Essas pessoas já estão em casa? Se elas estão em casa, essa obsessão de voltar para casa é discutível de algum modo? Isso não deveria ser sobre abraçar a jornada, porque Voyager é sobre a jornada?’ Essa se tornou a grande temática do episódio. Por várias semanas de desenvolvimento da história, foi nossa intenção não voltar para casa, terminar o episódio de um modo que ninguém esperava. Eles vão explodir essa coisa Borg, fazer um belo favor para a humanidade, e apenas vão seguir em frente. A nave iria apenas sair de cena.”

Entretanto, o grupo decidiu que talvez os fãs não ficassem feliz com isso como o finale da série.

“Começamos a falar sobre isso mais. Entramos nos detalhes da história, e começamos a sentir que talvez estivéssemos trapaceando a audiência, que estava esperando e esperando e esperando por esse grande momento. Talvez possamos construir uma história em que continuemos mantendo-os tentando adivinhar. Para que eles vão chegar em casa; parece que não. Poderíamos ter o nosso bolo e comê-lo também, o que é algo que a capitã Janeway diz à almirante? Poderíamos negociar um terrível estrago para os Borgs e ainda chegar em casa? Eu acho que queríamos esse momento, a felicidade de quando eles finalmente chegassem lá. Então no final das contas decidimos que iríamos levá-los para casa.”

No fim, Biller não poderia estar mais feliz com a história que eles criaram. “Em última análise, não poderíamos satisfazer todo mundo. Tínhamos que criar uma história que achássemos que fosse tocante. O que eu realmente gostei sobre ele é que tinha história importante para cada um dos personagens, embora fosse claramente uma história para a Janeway. Eu achei que Kate esteve ótima nele, fazendo os dois papéis.”

Claro, após a exibição do episódio, os fãs debateram os efeitos da viagem no tempo de Janeway. O que aconteceu à outra linha do tempo? E sobre a tecnologia futura que a almirante trouxe do passado?

“Felizmente, eu tive apenas de escrever o final de duas horas”, ri Biller. “Eu não tinha que escrever uma nova temporada inteira. Claramente, se a série fosse continuar, ou se houvesse algo mais tarde para fazer com VOyager, sim, eles chegaram em casa com tecnologia do futuro. Quem sabe o que acontece depois disso?”

O fato de que a próxima série de Jornada, Enterprise, se passa antes da série original significou que Biller sabia que as consequências de seu finale em Voyager provavelmente não seriam exploradas logo.

“A sensação que tínhamos da nova série era que simplesmente essas coisas não seriam abordadas logo no mundo de Jornada”, diz Biller. “Esses caras estavam indo para trás e fazendo uma série de uma época anterior.”

Por enquanto, não há planos imediatos para uma volta da Voyager, em qualquer formato, como um filme de cinema. “Ninguém me pediu para fazer mais nada com a tripulação da Voyager”, diz Biller. “Eu não acho que haja algum plano específico. Eu certamente acho que seria um erro presumir que você nunca verá esses personagens de novo, porque certamente Jornada nas Estrelas é um valioso franchise para a Paramount. Eles podem decidir em algum momento que querem fazer um filme com eles, ou que querer fazer um filme de televisão com eles. Um ou mais personagens poderiam aparecer em outra entidade de Jornada. Mas eu posso dizer que, nesse momento, nenhum trabalho tem sido feito nesse sentido.”

Entretanto, há um rumor de que um personagem de Voyager faria uma ponta no próximo filme de Jornada. No que diz respeito a Biller, o produtor-executivo não sabe se continuará seu envolvimento com futuras séries de Jornada.

“Não tenho certeza se estarei envolvido com a nova série”, diz. “Houve algumas discussões sobre isso nos dois lados. Eu recebi um par de diferentes acordos de desenvolvimento em estúdios diferentes, para criar novas séries. Estou tentando descobrir o que quero fazer.”

Biller passou sete anos em Voyager como roteirista, produtor, produtor-executivo e também diretor de dois episódios.