Encontrando a luz no fim do túnel

(e não é o trem vindo na direção oposta…)

Você sabe, eu ia originalmente usar esse espaço para mais uma vez malhar e jogar tijolos contra aqueles que atualmente parecem interessados apenas em produzir de roteiros e episódios medianos a cafeteiras e bottons de segunda categoria para o que antes (ou até uns anos atrás) era o franchise mais criativo e chique da indústria do entretenimento norte-americano.

Nomes como Sherry Lansing, Rick Berman, Merri Howard, Paula Block, Brannon Braga e até o esforçado (“pero no mucho”) atual produtor-executivo de Voyager, Ken Biller –pessoas que parecem mais interessadas na embalagem e na renda do produto do que no produto em si.

Eu estava me tornando repetitivo (como o bom jornalista e webmaster deste site veio, em meu socorro, me alertar), mas o pior é que também já estava me cansando. Seja ao ver a primeira metade da nada brilhante sétima e última temporada de Voyager, ou ao ler as fofocas e non-sequiturs dos bastidores através de sites e fontes internacionais, eu realmente estava perdendo o fôlego, minha libido com relação a Jornada nas Estrelas e a tudo relacionado a ela. O pior, nem a Jeri Ryan estava conseguindo chamar minha atenção! Aí sim eu vi que as coisas estavam preocupantes.

Bom, sinceramente, quem me conhece de longa data e sabe de onde vêm os apelidos “algoz dos trekkies” e “Paulo Francis da Sci-Fi” sabe que sempre achei que críticas são importantes. Ironias, cinismos e partidarismos trekkies à parte, o único ponto importante em se criticar Jornada, seus produtores e os fãs (de fundamentalistas trekkies a simples admiradores, nacionais ou não) é um interesse em seu bem-estar. A esperança é apontar os erros e defeitos para os envolvidos melhorem, cresçam e até (gasp!) amadureçam.

São (e foram) tempos difíceis para isso, e eu não tenho certeza se quero me tornar um profeta raivoso (ou pior, um crítico apenas pelo prazer de criticar), gritando as hipocrisias de um assunto tão importante como esse aos ouvidos dos inocentes. Então, decidi que nessa coluna, ao invés de discutir o que está errado com Jornada (ad nauseum), eu vou discutir o que está certo com o franchise. E é por isso que eu decidi falar dos outros colunistas desse site. É por isso que eu decidi falar do Trek Brasilis.

Vamos começar com o ilustre webmaster e “pedra filosofal” desse almirantado todo, Salvador Nogueira. Jornalista da Folha de São Paulo e da revista Sci-Fi News (outro exemplo de amadurecimento e profissionalismo na área, graças a pessoas como Paulo Maffia), Nogueira é um eterno otimista, batalhador e trekker incansável (sim, isso foi um elogio e não houve sarcasmo) que consegue até sorrateiramente colocar matérias sérias sobre Jornada na Folha (alguém viu a foto de Picard num artigo no jornal na semana passada?) e eu realmente não sei onde o homem arranja tanto tempo para tanta coisa –será que existem mais de um dele, como no último filme de ficção do Arnold, aquele dos clones?

(Como co-editor do TrekWeb, colaborador do Flagship e do Section 31 e colunista tanto desse site como do MagicBus, além de ter dois empregos, ou um e meio se você perguntar para minha mulher, bem que eu queria saber o segredo de Mr. Nogueira –seria paixão pelo que faz?)

Mas vamos parar de puxar o saco (afinal todo mundo sabe que eu só puxo o saco de mulher mesmo). O fato é que Mr. Nogueira conseguiu criar um site que a princípio seguia os moldes de sites americanos, como o TrekWeb.com ou o TrekToday, simplesmente traduzindo as notícias postadas nesses sites, dando a princípio leves comentários sobre elas. E já nessa origem me chamou a atenção.

Cansado de ver sites nacionais com muito visual mas péssimo conteúdo (não tenho medo de citar nomes como Orgânias e Paradas Obrigatórias, além de diversos fã-clubes e lojas disfarçados de sites de informação), logo mandei e-mails a esse tal de Nogueira elogiando sua empreitada.

E de lá para cá muita coisa mudou: o site fez entrevistas exclusivas com atores e pessoal da produção de Jornada (e pelo que sei, mais vem aí) e, mais importante, começou a dar opiniões cada vez mais profundas a abalizadas sobre as notícias que postava, deixando de ser um (bom) clone nacional daqueles sites internacionais e adquirindo sua própria identidade.

E ainda tem mais: reuniu uma equipe de redatores e colunistas que nunca antes havia se visto na comunidade de fãs ou entusiastas de algo no Brasil, seja Jornada, Arquivo-X ou Britney Spears. Um pessoal aberto, inteligente, diferente, não-bitolado e acima de tudo bem-informado.

O completo oposto do estereótipo de fã que se encontra nas convenções e nos documentários da Denise Crosby, que não cansa de escrever bobagens em revistas, sites e outros lugares onde se encontram termos como “warp” e “orelhas pontudas”.

Pessoas como o prolixo e analisador Luiz Castanheira, que se é prolixo e escreve muito a respeito de seus pet peeves, que vão de Deep Space Nine ao produtor Steven Bocho (ou seria David E. Kelley?), é porque é muita paixão e conhecimento para se colocar em poucas linhas.

Cláudio Silveira e Fernando Penteriche vão além do que a imprensa e os escritores americanos revelaram sobre o legado dos filmes de cinema e da Nova Geração, e recheiam suas colunas com um ótimo senso de humor, colocando suas posições críticas de uma maneira tão lúcida que mesmo quando eu discordo (ei, eu sou o cara que se emocionou com a dramaticidade em “Generations” e bateu palmas para o esforço e roteiro original de Bill Shatner em “Jornada V” –vai entender…), eu consigo ver claramente a idéia e a opinião que eles querem passar.

E eu poderia dizer e mesma coisa sobre a divertida e inteligente Lia Matos (não falei que elogiar mulheres interessantes é comigo mesmo?), o safado do Daniel Sasaki (safado porque consegue que eu me interesse em ler suas colunas de Voyager mesmo depois da minha última overdose de crianças Borgs, anomalias e hologramas) e de Eduardo Cope (se você acha que algo com o nome de “Real Trek” é chato e trekkie, leia o ‘Ocaso do Bom Velhinho’). Mas não quero novamente ficar repetitivo (embora em alguns momentos até valha a pena).

Esse pessoal certamente tem as credenciais e o “chuptzpah” para dar aos seus assuntos a justiça necessária. E, rapaz, eles entregam a encomenda.

As colunas são saborosas e informativas. Francamente, de um ponto de vista totalmente egoísta e safado (apesar dos elogios que certos baluartes e anônimos do fandom nacional dirigem a mim, eu sou egoísta e safado às vezes), é ate mais divertido ler as outras colunas do Trek Brasilis e as opiniões de outros fãs (trekkies ou não) em seu Fórum e em outros newsgroups do que escrever meus artigos, aqui ou nos sites americanos, ou até mesmo fazer os meus recentes reviews dos episódios semanalmente exibidos no USA Network no site de variedades MagicBus.com.br (uma tentativa minha e dos webmasters do Magic Bus de introduzir e promover o ressurgimento das quatro encarnações de Jornada na programação Sci-Fi do USA a um público leigo e não-trekkie).

Por isso e muito mais é bom ver que Jornada não só está sofrendo uma revitalização na mídia brasileira (enquanto sofre uma desintregação na norte-americana), mas seu fandom consegue passar toda essa revitalização para nós, através de textos que, ao contrário dos últimos episódios de Voyager (ok, eu não consegui passar sem essa), estão cada vez mais originais e interessantes.

Ao me conectar a esse site, não posso esperar pelas próximas colunas, posts no Fórum ou opiniões do webmaster com relação à polêmica interessante do dia (ei, eu continuo achando que a nova série não será pré-Clássica, mas deixem isso para o mês que vem, ok?).

Com certeza eles não vão me decepcionar –e eu espero que eles não se decepcionem também. Bill Shatner, o mestre da ironia e do bom senso, e que, ao que parece, adora uma boa leitura, ficaria orgulhoso…

Artigo originalmente publicado no conteúdo clássico do Trek Brasilis em 2001.