Antes de Babylon 5: Straczynski e Star Trek

capa_001Em 1993, foi exibido nas TVs americanas o episódio-piloto de uma nova série de ficção-científica. Este episódio se destacava, entre outros motivos, por apresentar uma premissa baseada em uma estação espacial, e não em uma nave, como muitas de suas predecessoras. A série cativou um seleto grupo de fãs, bastante dedicados à série, que a consideram superior àquela outra série de estação espacial.

Não, não estou falando de Star Trek: Deep Space Nine. Estou falando de Babylon 5.Criada por J. Michael Straczynski, Babylon 5 foi um marco na ficção-científica televisiva. Principalmente ao longo de sua exibição, mas até hoje, muitos fãs consideram que Straczynski foi plagiado pela Paramount, uma vez que ele já havia proposto a série para o estúdio em 1989. O próprio Straczynski chegou a declarar publicamente que considera sim que os executivos da Paramount tenham influenciado Rick Berman e Michael Piller (os criadores de DS9) a situar a nova série em uma estação espacial, de modo a competir com a vindoura Babylon 5. De fato, Babylon 5 foi aprovada para produção pela Warner em novembro de 1991, enquanto DS9 foi aprovada em janeiro de 1992 – dois meses depois, portanto. Se, por um lado, Straczynski chegou a listar diversas similiaridades entre as séries, também declarou não acreditar que Berman e Piller tenham tido qualquer contato prévio com a premissa de B5.

Plágio ou não, os fãs de Babylon 5 sempre se ressentiram desta concorrência com DS9, sempre acusando o suposto plágio. Eu mesmo conheço fãs ferrenhos da série que inclusive se recusam a consumir qualquer produto ligado a Star Trek em função disso. O que a maioria dos fãs desconhece – seja de Star Trek, seja de B5 – é que Straczynski já colaborou com Star Trek.

O ano era 1991, quando comemoramos os 25 anos da franquia. Em fevereiro, chegava às bancas a edição número 16 da revista em quadrinhos Star Trek da DC Comics, que em geral mostrava as aventuras da tripulação da Enterprise após os eventos de Star Trek V, mas ocasionalmente trazia histórias passadas ao longo da missão original de 5 anos. Foi o caso desta edição 16, escrita por ninguém menos que J. Michael Straczynski.

Na trama, intitulada Worldsinger, a Enterprise chega a um planeta em seus estágios finais de destruição. A civilização que ali existia, num total de cinco bilhões de habitantes, fora realocada para outro planeta, num esforço hercúleo da Federação ao longo de três anos. Ao chegar ao planeta, a Enterprise não espera encontrar nenhum habitante. Mas é surpreendida, porém, ao detectar uma forma de vida. Ao descer à superfície, Kirk, Spock e McCoy são contatado telepaticamente pelo alienígena. Trata-se de um “Worldsinger”, que treinou a sua vida inteira para escutar a interpretar a “canção do planeta”.

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O alienígena consegue entender, por meio de seu contato telepático com o planeta, toda a história dali e da civilização que ali existira, milhões de anos retratados na canção. E está ali, justamente, para ouvir a canção final do planeta, que em poucas horas se destruirá. O problema é que ele pretende morrer junto com o planeta.
Kirk, Spock e McCoy, porém, não pretendem permitir que o alienígena cometa suicídio, e tentam por diversas formas convencê-lo a sair. O esforço, porém, é em vão. Numa última tentativa, Kirk decide acompanhá-lo até os últimos instantes do planeta, enviando Spock e McCoy de volta para a nave.

Ao notar a morte do planeta, o alienígena pede, uma vez mais, para que Kirk parta, e permita que ele morra com o planeta. Kirk se recusa, e finalmente consegue convencê-lo a deixar o planeta com a Enterprise. A nave, então, o leva a um novo planeta, Ramedes III, onde o Worldsinger descobre um novo sentido para sua existência – conhecer a canção deste novo mundo.

É uma trama simples, mas muito poética, e faz jus a tudo o que conhecemos de Star Trek, e de Kirk em particular. Straczynski é conhecido por ser um grande roteirista (ele mesmo escreveu quase a totalidade dos episódios de Babylon 5), e fez um belo trabalho nesta edição especial da revista.

Curioso que, dois anos depois, ele seria o criador de Babylon 5, e também criaria este cisma entre fãs de ficção-científica. Mas, na sua breve passagem pela franquia de Star Trek, nos deixou este belo e poético conto.