Rivalidade escolar vira solidariedade após ataque a Marte
Sinopse
As jovens Kima e Lil são colegas de classe em San Francisco, na Terra. O dia é 5 de abril – celebração do Primeiro Contato. Antes de irem para a escola, as pré-adolescentes conversam por tela, respectivamente, com sua mãe e seu pai. Ambos trabalham em Marte.
As duas pegam a mesma nave auxiliar escolar, mas há uma rixa entre elas. Lil chuta a mochila da colega, que acaba perdendo a carona para a escola. Quando se reencontram, Kima dá um encontrão em Lil. O revide seguinte vem na forma de um desenho, que Lil faz, caçoando da professora, e envia para o terminal da colega, que perde pontos em classe por isso. Kima tem sua vingança na biblioteca, quando coloca o pé para Lil tropeçar.
As duas estão furiosas uma com a outra, e o que era um atrito vira uma briga de socos na hora do intervalo. As duas tiveram de ser apartadas.
E então veio a tragédia. Um alerta de emergência. Chega a notícia de que Marte está sendo severamente atacado por um grupo de “sintéticos”. Pelo noticiário, transmitido nas telas da escola, sabemos que são estimados 3.000 mortos. O almirante Picard se manifestou sobre a agressão, chamando-a de “devastadora”.
Assustadas diante das perspectiva de perderem os pais em Marte, as duas antigas rivais se dão as mãos, num gesto de apoio e solidariedade.
Comentários
“Children of Mars” é um episódio minimalista a quem coube fazer a reintrodução do século 24 na terceira era televisiva de Jornada nas Estrelas. Trata-se do primeiro vislumbre do futuro de Star Trek: Picard – algo como um prólogo que apresenta um evento “histórico” importante para a trama da série.
Nesse sentido, ele deixa, de propósito, mais provocações que explicações. Quem promoveu o brutal ataque a Marte, ou seja, quem são os tais “sintéticos”? Quando ele aconteceu? Por quê? São perguntas deixadas para a nova série.
Para além dessa função introdutória, trata-se de uma peça bonita que retrata um pouco da vida no Sistema Solar no século 24, pelo olhar das duas protagonistas, duas meninas que moram na Terra e estão separadas dos pais, que trabalham em Marte. A humana Lil está frustrada com a relação paterna, e leva essa frustração para a escola, iniciando as provocações a Kima. A alienígena parece em paz com a mãe distante, mas revida as investidas de Lil, iniciando uma escalada que vai terminar em pancadaria.
Nesse caminho, elas tomam o equivalente de um ônibus escolar nessa época, bem como nos dão o vislumbre de como seria uma escola do futuro. No fundo, são apenas adaptações do que temos hoje, para tornar a história compreensível para nós. O tema do episódio não é este.
O que conta mais mesmo são as emoções. A história é praticamente toda apresentada sem palavras ou diálogos, ao som de “Heroes” – marcando o uso de uma canção como trilha, algo raríssimo em Star Trek, mas totalmente apropriado aqui.
E a mensagem é tocante: como a tragédia pode unir antigos rivais, como é o caso das meninas. Ela apela àquele sentimento humano mais primal de buscar conforto diante do impensável, de abraçar o outro num momento de fragilidade. O famoso “estamos todos no mesmo barco”, constatação singela, simples, mas nem sempre de fácil percepção (sobretudo atualmente, o que faz a história ressoar com nossos tempos).
Em termos de valores de produção, temos belas filmagens em locação, além de efeitos visuais de primeira linha (alguns naturalmente produzidos “na conta” da série Picard). Mas não dá para disfarçar algumas reciclagens para contenção de despesas. Tanto as naves vistas na doca seca em órbita de Marte quanto a nave auxiliar escolar são designs originalmente nascidos de Star Trek: Discovery, que se passa mais de um século antes. Mereciam uma repaginada para se alinharem à estética do século 24, mas nada que prejudique a apreciação do curta. E até que é divertido ver uma nave auxiliar velha, pintada de amarelo, como um ônibus escolar.
No fim das contas, o que fica é o gostinho de quero mais. E, vamos combinar, essa é a tônica de praticamente todos os Short Treks.
Avaliação
Trivia
- Este é o segundo episódio de Short Treks a não se passar no século 23, depois de “Calypso”, e o primeiro sem qualquer conexão com Star Trek: Discovery.
- Associado a Star Trek: Picard, o curta não traz a vinheta de abertura com a USS Discovery. O nome do episódio só é apresentado no final, com a fonte usada para os títulos de A Nova Geração. Também é a primeira produção de Star Trek a se declarar, nos créditos, baseada em A Nova Geração.
- Este é o segundo episódio de Short Treks dirigido por Mark Pellington, depois de “Q&A”.
- Também é o segundo episódio de Short Treks para o ator Robert Verlaque, que aqui faz o diretor vulcano da escola. Antes disso, ele atuou em “The Brightest Star”, como o pai de Saru, Aradar.
- Lil é humana; Kima é alienígena, mas não sabemos de qual espécie.
- O episódio traz pela primeira em vez em tela Patrick Stewart como o almirante Jean-Luc Picard, vestindo um novo uniforme.
- A canção “Heroes” foi composta por David Bowie e lançada em 1977. Mas a versão do episódio é a da voz de Peter Gabriel, lançada em 2010.
Ficha técnica
Escrito por Kirsten Beyer & Jenny Lumet & Alex Kurtzman
Dirigido por Mark Pellington
Exibido em 9/01/2019
Produção: 206
Elenco
Joy Castro como mãe
Andrea Davis como professora
Jason Deline como pai
Ilamaria Ebrahim como Kima
Alex Kell como secretário
Sadie Munrie como Lil
Robert Verlaque como diretor
Dalien World como oficial da Frota Estelar