TNG 1×01: Encounter at Farpoint

Piloto para nova série é manifesto do criador em favor da espécie humana

Sinopse

Data estelar: 41153.7

O capitão Jean-Luc Picard é enviado para investigar a misteriosa e quase milagrosa estação Longínqua (Farpoint, no original), na viagem inaugural da nave estelar USS Enterprise NCC-1701-D. A base alienígena está situada em um planeta cuja localização é considerada vital aos interesses da Federação.

No caminho, Picard e seus comandados são abordados por um ente todo-poderoso. Autodenominado Q, ele acha que a humanidade já foi longe demais em sua exploração pelo espaço e está disposto a impedir que a “contaminação” se espalhe ainda mais. Com esse objetivo, ele instala um tribunal, emulando uma corte do horror pós-atômico da Terra do século 21. Lá, Q é o juiz, e Picard e sua tripulação – representantes dessa humanidade que ele considera bárbara – são os réus.

Por sugestão de Picard, Q permite que eles provem o valor da raça humana completando sua missão na Estação Longínqua. Intrigado, Q concorda. E uma investigação revela que a tal base nunca existiu; era meramente uma forma de vida capturada pelos alienígenas locais, os bandis, que tinha a singular propriedade de materializar o complexo.

A Enterprise liberta a criatura, usando seus bancos feiser para “alimentá-la”, e Q reconhece a vitória dos humanos no desafio. Mas promete que este não terá sido o último encontro entre ele e Picard.

Comentários

Durante vários anos durante a década de 1980, Gene Roddenberry protestou contra o caráter militar que a Frota Estelar estava ganhando na série de filmes para o cinema envolvendo os personagens da Série Clássica. Quando a Paramount o convidou para produzir uma nova série baseada no universo de Jornada nas Estrelas, Gene agarrou a oportunidade com unhas e dentes a fim de levar a franquia novamente ao que ele considerava ser o rumo certo.

No episódio-piloto duplo de A Nova Geração, “Encounter at Farpoint”, Gene tentou trazer de volta o seu idealismo, propondo o conceito de que o ser humano está em constante transformação e, na maioria das vezes, para melhor. Gene decidiu que a humanidade do século 24 não seria violenta como o foram seus ancestrais, mas estaria sempre buscando uma maneira de resolver os problemas pacificamente.

Ao encontrar a entidade Q, a tripulação da recém-comissionada USS Enterprise (NCC 1701-D) é por várias vezes tentada a usar de violência. No entanto, em nenhum momento a solução é buscada por métodos agressivos. Quando a Enterprise dispara torpedos fotônicos, não tem como meta destruir ou danificar o perseguidor, mas sim cegá-lo para que a seção disco pudesse escapar ilesa. Quando a nave aciona seus bancos feiser, não busca destruir, mas sim alimentar a criatura com a energia necessária para que ela pudesse voltar ao espaço.

Assim, mais do que a história de Q julgando a raça humana, “Encounter at Farpoint” é um manifesto de Gene Roddenberry a favor da humanidade. Curiosamente, foi um “envelope” que ele concebeu em razão de uma necessidade: a Paramount queria que o piloto tivesse 90 minutos.

Em sua versão original, antes dessa decisão, o episódio concebido por D.C. Fontana conteria apenas a história envolvendo a estação e o casal de criaturas espaciais. Após a decisão do estúdio, e depois que Fontana se disse incapaz de “esticar” a história para a nova duração exigida, Roddenberry criou o “envelope” de Q – e isso é o que dá sentido e importância à trama.

Além de transmitir o ideal do Grande Pássaro da Galáxia, o episódio tem como objetivo apresentar os novos elementos da série incorporados em A Nova Geração. Assim, vemos a primeira aparição do holodeck, notamos que a nova Enterprise pode se separar em duas seções, conhecemos os seus limites de velocidade e temos um primeiro contato com os personagens.

Como piloto, o episódio funciona bem, embora apresente alguns defeitos. Olhando especificamente para o enredo, como uma introdução para a série, até que serve. Mas não é nenhuma obra-prima. O que é bom não é original (Q lembra muito Trelane, de “The Squire of Gothos”, da Série Clássica), e o que é original não é bom (o drama da estação está longe de ser especial).

Os personagens regulares estão muito estereotipados e chegam a ser ridículos em alguns momentos. Temos o capitão ranzinza, o corajoso primeiro oficial, a esquentadinha chefe de segurança, o androide, o cara com o visor, a sensitiva, a doutora e seu filhinho espertinho e o klingon brucutu.

Muito pouco, para que a série atingisse o seu potencial total. Os personagens têm momentos terríveis, como o que o tenente Worf quase arromba a tela principal da ponte com seu feiser quando Q nela aparece. O episódio se salva neste quesito por apresentar um personagem que, embora não fosse particularmente original ou parte do elenco principal, para a maioria dos fãs, é como se fosse: o impagável Q.

Os aspectos técnicos da produção são o ponto alto do episódio. Os efeitos especiais são muito bons, os novos cenários para a Enterprise, a música, tudo se encaixa perfeitamente. Só os cenários que fazem a área externa do planeta ficam devendo.

O episódio apresenta bons momentos que enriquecem o cânone de Star Trek, como os detalhes a respeito do horror pós-atômico vivido pela Terra no século 21 e a aparição do almirante Leonard McCoy, unindo assim a Série Clássica e A Nova Geração num mesmo universo, a despeito das marcadas diferenças entre ambas.

Apesar das falhas, temos aqui uma estreia bem-sucedida, dando fôlego inicial para que a série “se encontrasse” mais adiante. Era Gene Roddenberry, mais uma vez, audaciosamente indo aonde ninguém jamais esteve.

Avaliação

Citações

“Lieutenant, do you intend to blast a hole through the viewer?”
(Tenente, está querendo abrir um buraco na tela?)
Picard

“This is a new ship, boy, but she’s got the right name. Now you remember that, you hear?”
“I will, sir.”
“You treat her like a lady, and she’ll always bring you home.”
(Esta é uma nova nave, garoto, mas ela tem o nome certo. Lembre-se disso, ouviu?)
(Lembrarei, senhor.)
(Trate-a como uma dama e ela sempre o trará para casa.)
McCoy e Data

“Just hoping this isn’t the usual way our missions will go, sir.”
“Oh no, Number One, I’m sure most will be much more interesting. Let’s see what’s out there… Engage!”
(Só espero que esse não seja o modo usual de nossas missões, senhor.)
(Ah não, Imediato, estou certo de que a maioria será bem mais interessante. Vamos ver o que há lá fora… Acionar!)
Riker e Picard

Trivia

  • Originalmente, o tripulante congelado por Q se chamaria Graham e não Torres. Troi também seria congelada após correr para socorrer a congelada Tasha Yar.
  • A frase final do episódio, dita por Picard (“Vamos ver o que há lá fora… Acionar!”) foi adicionada apenas na última versão do roteiro. Nessa última versão, uma cena que estava nas versões anteriores ficou de fora: Riker é apresentado a Geordi LaForge e a um alferes animadinho, de nome Sawyer Markhan. Riker ouve por acaso Markhan se referir a Picard com as palavras “o velho burrhog” (algo como um “porco fuçador”, que fica escavando o terreno) enquanto a Enterprise está atrasada.
  • No roteiro, a cena escrita por D.C. Fontana contendo o Almirante McCoy apenas o identificava como “Almirante”, e sua idade era 147 anos, e não 137, como está no episódio. Especula-se que isso foi feito para manter a participação especial de DeForest Kelley em segredo até as filmagens.
  • Para participar do episódio, DeForest fez questão de cobrar como cachê apenas o valor estabelecido com base salarial pelo SAG (Sindicato dos Atores). “Ele poderia ter pedido um bom dinheiro”, disse Bob Justman, um dos produtores desta primeira temporada, “mas não o fez. Isso realmente me marcou. E a cena ficou linda, linda!” DeForest comentou a escolha: “Eu quis apenas o salário mínimo, para agradecer a Gene por tudo de bom que ele fez por mim.”
  • Colm Meaney (O’Brien) não fazia parte do elenco regular nesta primeira temporada e só voltaria a aparecer no episódio “Lonely Among Us”. Foi a partir da segunda temporada que seu personagem passou a aparecer mais, culminando com sua transferência para a série Deep Space Nine, durante o sexto ano de produção de A Nova Geração.
  • Os ferengis são mencionados neste episódio, porém somente serão vistos a partir do terceiro episódio exibido (e sétimo a ser filmado) desta temporada.
  • Uma cena neste episódio-piloto foi filmada no famoso Parque Griffith, em Los Angeles: a do holodeck, onde Riker e um encharcado Wesley Crusher conhecem Data.
  • Parte da enfermaria da nave ave-de-rapina klingon, utilizada dois anos antes em Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock, foi reciclada como parte da parede da sala de Zorn.
  • Uma curiosidade sobre os títulos de abertura: os nomes dos personagens não apareceram junto aos nomes dos atores, como ocorreu durante todo o restante da série.
  • Data refere-se a si mesmo como membro da “Classe da Academia de ’78”, porém no episódio “Conundrum”, do quinto ano, em uma tela do painel principal da ponte pode-se ler claramente que ele se formou em 2345. Nada mais natural, já que o primeiro ano da série acontece durante o ano de 2364.

Ficha Técnica

Escrito por D.C. Fontana & Gene Roddenberry
Dirigido por Corey Allen

Exibido em 28 de setembro de 1987

Título em português: “Encontro em Longínqua”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William T. Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi
Wil Wheaton como Wesley Crusher
Denise Crosby como Natasha “Tasha” Yar

Elenco convidado

John de Lancie como Q
Michael Bell como Zorn
DeForest Kelley como almirante McCoy
Colm Meaney como alferes de comando
Cary-Hiroyuki como Mandarin Bailiff
Timothy Dang como segurança da ponte
David Erskine como vendedor da loja
Evelyn Guerrero como alferes
Chuck Hicks como oficial militar drogado
Jimmy Ortega como tenente Torres

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Edição de Salvador Nogueira
Revisão de Maria Lucia Rácz

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